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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE I
Módulo II — Ensinos diretos de Jesus

Roteiro 2


Discípulos: sal da terra e luz do mundo


Objetivo: Interpretar, à luz do Espiritismo, a citação evangélica que informa serem os discípulos do Cristo o sal e a luz do mundo.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Jesus afirma que os seus discípulos são o “sal da terra” porque, ao vivenciarem a mensagem cristã em sua plenitude, conseguem dar sabor à vida, temperando-a com os valores das virtudes morais.

  • Afirma, igualmente, o Mestre que os praticantes de seus ensinamentos são a “luz do mundo”, os que afugentam as trevas reinantes. Somente o Evangelho é […] a luz que ilumina, que dá significado à Vida e a valoriza. Richard Simonetti: A voz do monte, p. 62.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • Vós sois o sal da terra; se o sal for insípido, com que se há de salgar? para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador; e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. Mateus, 5.13-16

É interessante observar que este texto está posicionado logo após as bem-aventuranças, levando-nos a interpretar que Jesus, após levantar o ânimo dos caídos, se dirige aos discípulos que o acompanhavam para apontar-lhes responsabilidades e conscientizá-los quanto aos compro­missos que deveriam assumir como seus colaboradores diretos.


Vós sois o sal da terra. Singular analogia. Que relação haverá entre o sal e os discípulos do Senhor? Que pretenderia o Mestre dizer com essas palavras?

Vejamos, segundo abalizada autoridade, o papel que o sal representa em nosso meio:

O sal é um mineral precioso, difusamente espalhado em nosso globo, segundo as necessidades previstas pela Natureza.

Nós o vemos em abundância desde as camadas secas, cristalizadas em certas regiões, até a formidável quantidade que dele se encontra diluída, nessa massa enorme d’água de que se compõem diversos lagos e todos os mares de nosso orbe. A influência que o sal exerce em nosso organismo, para lhe manter o equilíbrio fisiológico, é de capital importância, dependendo de seu indispensável concurso a manutenção de nosso bem-estar físico. Examinado sobre outro aspecto, a Química nos ensina que onde quer que o encontremos, seja na terra ou no mar, ele é sempre o mesmo: inalterado, inalterável. Dotado de qualidades essencialmente conservadoras, mantém-se incorruptível, preservando ainda os corpos que com ele entram em contacto.

Eis aí precisamente o que quer Jesus que sejam seus discípulos: elementos preciosos, de grande utilidade na economia social, tipos de honestidade, incorruptíveis e preservadores da dissolução moral no meio em que se encontrarem. Ele quer, em suma, que seus discípulos se distingam na Esfera espiritual pelos mesmos predicados por que se distingue o sal no plano físico. (5)


2. Interpretação do texto evangélico

  • Vós sois o sal da terra (Mt 5.13).

Na condição de condimento, o sal deve ser utilizado de maneira adequada, de modo balanceado. Se utilizado abaixo da quantidade necessária torna a alimentação insípida, se em doses altas torna a alimentação excessivamente salgada.

Semelhantemente, o aprendiz e o auxiliar dos núcleos espíritas devem agir, junto às pessoas com necessidades ou sofrimentos, de forma comedida, discreta, equilibrada e temperante. A imagem do sal é a de um componente que explicita essa postura no campo do trabalho que nos é disponibilizado pelo Plano Maior. Simboliza o imperativo do equilíbrio, principalmente das emoções, assim como a utilização dos valores morais e intelectuais de que já dispomos com segurança, a fim de que possamos cooperar de modo coerente e eficiente, na tarefa que nos é confiada.

Outro aspecto que o sal sugere é o da conservação, pois o ensino de Jesus deve permanecer inalterável.


Por tudo o que representa, o Evangelho é de aplicação indispensável para dar sabor à existência, tornando-a saudável e feliz. Sem ele a Vida fica insípida; sem atrativos, monótona, tediosa, complicada, ainda que as circunstâncias sejam as mais favoráveis, ainda que a aparência seja magnífica. […] Em verdade, nada na existência terá sabor de felicidade autêntica; nenhuma associação humana, seja no lar, no trabalho, na comunidade, se fará com equilíbrio e proveito; jamais estaremos em paz com a própria consciência, sem uma pitada de Evangelho em tudo o que fizermos, o que significa o empenho de aplicar, de conformidade com as circunstâncias, um pouco de tolerância, um pouco de carinho, um pouco de bondade, um pouco de sacrifício, um pouco de renúncia em favor do semelhante. (2)

  • Ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens (Mt 5.13).

Se o sal for destituído do seu componente ativo, torna-se insosso. No sentido espiritual, a pessoa que se desperta para o Cristo é ativa. Não se abate perante os fracassos e enfrenta com bom ânimo os desafios da vida. Só quem se nutre desta dinâmica incansável consegue atingir as metas delineadas, como nos adverte o Evangelho: “Aquele, que perseverar até o fim será salvo” (Mt, 24.13).


Se o sal se tornasse insípido, isto é, se perdesse as qualidades especiais que o caracterizam, tornar-se-ia de todo imprestável, visto como não se poderia aplicar a outras funções além daquela que lhe é essencialmente própria.

Outro tanto sucede com relação à fé que faz o cristão. Se ela se desnaturar dos predicados que a exornam, tornar-se-á de todo anódina, inválida, inútil.

A religião que não promove o aperfeiçoamento do espírito, que não constrói, e não consolida o caráter do homem, não é religião: é sal insípido que, mais cedo ou mais tarde, cairá fatalmente no desprezo. (7)


Se os discípulos do Cristo são o “sal da terra” não devem se tornar “insípidos”, isto é, corruptíveis ou contaminados pelas influências inferiores que os afastam da vivência do Evangelho.

O legítimo servidor do Senhor, onde quer que se encontre, está sempre orando e vigiando para não cair em tentações.


Não permanece um instante inativo: age sempre. Dá-se a conhecer como as árvores, pelos frutos que produz, isto é, pela ação que exerce. Não se oculta: é uma revelação permanente. Pelo exterior, pode confundir-se com outros minerais; mas, entrando-se em relação com ele, sua essência revela-se pronta e distintamente. Nunca assimila as impurezas de outrem; transmite invariavelmente seu poder purificador. Não se macula ainda que mergulhado na imundície. Sai ileso de todas as provas, vence em toda a linha. Tem uma função determinada, precisa, distinta, inconfundível. No exercício dessa função está todo o seu valor, toda a sua incomparável importância. (6)

  • Vós sois a luz do mundo (Mt 5.14).

Esta afirmativa evidencia, mais uma vez, a proposta educacional. A própria evolução dos seres é um caminho que vai das trevas para a luz.

A luz é o ponto de referência, também, do sistema evolucional que se irradia por todo o universo. No Planeta, é, em nome do Criador, a dispensadora dos recursos da vida. Nos planos mais profundos da alma é o foco clareador da mente em suas nuances de razão e sentimento, garantindo esclareci­mento, segurança e reconforto.

Posicionados como aprendizes de Jesus, os discípulos sinceros serão sempre os elementos refletores, de maior ou menor limpidez, da luz soberana que irradia, em plenitude, do próprio Cristo.

Neste sentido, a questão 622 de O livro dos Espíritos, propõe:


“Confiou Deus a certos homens a missão de revelarem a sua lei?”

Os Espíritos Veneráveis escla­recem: “Indubitavelmente. Em todos os tempos houve homens que tiveram essa missão. São Espíritos superiores, que encarnam com o fim de fazer progredir a Humanidade”. (1)

  • Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte (Mt 5.14).

Diante da multidão sofrida que caminha em sua marcha evolutiva, é importante que aqueles que mais sabem não guardem consigo o conhe­cimento adquirido. Este conhecimento precisa ser espalhado, compartilhado com os irmãos em humanidade. São conquistas grandiosas que não podem ser escondidas ou guardadas egoisticamente.


Iniciados na luz da Revelação Nova, os espiritistas-cristãos possuem patrimônios de entendimento muito acima da compreensão normal dos homens encarnados. Em verdade, sabem que a vida prossegue vitoriosa, além da morte; que se encontram na escola temporária da Terra, em favor da iluminação espiritual que lhes é necessária; […] que toda oportunidade de trabalho no presente é uma bênção dos Poderes Divinos; que ninguém se acha na Crosta do Planeta em excursão de prazeres fáceis, mas, sim, em missão de aperfeiçoamento; […] que a existência na esfera física é abençoada oficina de trabalho, resgate e redenção e que os atos, palavras e pensamentos da criatura produzirão sempre os frutos que lhes dizem respeito, no campo infinito da vida. (9)

  • Nem se acende uma candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa (Mt 5. 15).

Jesus compara os seus ensinamentos como a luz que afugenta as trevas.


É a luz que ilumina, que dá significado à Vida e a valoriza, mas, se procurarmos em suas lições apenas conforto e bem-estar para nós, sem compreender o seu apelo maior, convocando-nos à Fraternidade, então sua claridade ficará aprisionada no vaso do egoísmo e de nada valerá, pois, apesar de detê-la continuaremos na escuridão de nossas mazelas. (3)


A luz simboliza o esclarecimento, a orientação, o processo educativo, capazes de nos transformar para melhor, nos libertando do vale de lágrimas e de dores onde, usualmente, estamos relegados.

A candeia deve ser colocada, não debaixo do alqueire, encoberta pela indiferença ou interesse pessoais, mas no velador, para que possa oferecer luz a todos. É óbvio que cada um assimila de acordo com a sua percepção e com o seu piso evolutivo. A plena capacidade de irradiação da luz indica, também, o espírito de solidariedade, amor e cooperação que deve estar presente nas relações humanas.

Neste sentido, os núcleos espíritas vêm oferecendo, ao lado dos programas de estudo, oportunidade de se viver a mensagem cristã com simplicidade e modéstia, “[…] uma vez que o luzir do Evangelho em nós está condicionado à prática do Bem. Por isso, o verdadeiro cristão é alguém cujo comportamento é invariavelmente edificante […]”. (3)

  • Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras (Mt 5.16).

Jesus nos convoca a resplandecer a luz das nossas conquistas evolutivas em benefício dos companheiros de jornada. Saindo do nosso egocen­trismo crônico, estabelecemos, assim, canais de entendimento e compreen­são mútuos.

O vocábulo “resplandeça” possui significativa carga magnética, impri­mindo sentimentos de fé e de esperança, em nós próprios e nas pessoas que nos cercam. O esforço de resplandecer os nossos sentimentos mais puros será sempre percebido e aceito por alguém.


A esse propósito, lembramos a extraordinária figura de Alcione, do livro Renúncia, autoria de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Atingindo estágios angelicais da evolução, eximira-se de voltar à Terra, mas voltou, por iniciativa própria, a fim de ajudar um grupo de tutelados seus. Sua presença em nosso mundo, embora no anonimato de condição humilde, tornou-se tão marcante que todos quantos com ela conviveram foram invariavelmente influenciados por ela. (4)

  • E glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mt 5.16).

O Pai está sempre nos “céus”, isto é, nos planos de vibrações mais elevados. Será sempre honrado e louvado todas as vezes que praticarmos o bem e nos mantivermos fiéis às manifestações de Sua vontade. Os tributos da glorificação, devem, pois, ser encaminhados ao Senhor, que é o legítimo doador, autor e dire­cionador da vida.


Se sentirmos Deus como Nosso Pai, reconheceremos que os nossos irmãos se encontram em toda parte e estaremos dispostos a ajudá-los, a fim de sermos ajudados, mais cedo ou mais tarde. A vida só será realmente bela e gloriosa, na Terra, quando pudermos aceitar por nossa grande família a Humanidade inteira. (8)



 

ANEXO


Citação de Mateus 16.15,16



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: É importante que durante a aula seja dada ênfase à interpretação das palavras “sal” e “luz”, presentes no ensinamento de Jesus.



Referências:

1. KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, questão 622, p. 307.

2. SIMONETTI, Richard. A voz do monte. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Item: O tempero da vida, p. 57-59.

3. Idem - Item: O brilho do bem, p. 62.

4. Idem, ibidem - p. 62-63.

5. VINICIUS. Em tomo do mestre. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Item: O sal da terra, p. 265.

6. Idem, ibidem - p. 266.

7. Idem - Nas pegadas do mestre. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Item: O sal da terra, p. 191.

8. XAVIER, Francisco Cândido. Pai nosso. Pelo Espírito Meimei. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 1 (Pai nosso que estás nos céus), p. 11.

9. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 60 (Que fazeis de especial?), p. 141-142.


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