O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Verdade e amor — Autores diversos


Capítulo 25


Entrevista em Pedro Leopoldo

Entrevista concedida em Pedro Leopoldo (MG), a um jornal de nome ignorado. As três folhas originais foram rubricadas por Chico Xavier e entregues a Vivaldo da Cunha Borges, segundo este informou.


1 - No intercâmbio de tantos anos com os Espíritos amigos cite um episódio que ficou marcado.

— O episódio que mais me impressionou ocorreu comigo e uma criança de cinco janeiros de idade.

Estava eu esperando um ônibus que se aproximava. Precisava descer ao centro da cidade para assinar um documento em cartório. Em minha expectativa de tomar o veículo, vi um menino da idade referida que vinha correndo a grande distância, chamando por mim.

Eu o conhecia, pois era filho de uma senhora ligada às nossas tarefas de assistência. Ela se achava doente e acamada. Supondo que o garoto necessitasse de algo para a mãezinha enferma, não tive outro recurso senão pedir ao motorista do coletivo para esperar-me por alguns instantes. O condutor da máquina me atendeu por mais de dois minutos. Vendo, porém, que a criança gritava meu nome e observando que o pequeno ainda custaria a chegar ao meu encontro, solicitou desculpas e colocou o ônibus em movimento. Fiquei a sós no caminho, porquanto conhecia a senhora mãezinha dele, embora a minha necessidade de ir ao cartório.

A criança chegou, ofegante, onde me achava e abraçou-me. Preocupado, indaguei: “Que aconteceu? Sua mamãe mandou-me algum recado?”. Com grande surpresa para mim o pequeno exclamou: “Não, tio Chico, mamãe está melhor; eu corri de casa até aqui só para pedir ao senhor um beijo”. Abracei-o e fui obrigado a deixar, depois do beijo, a minha obrigação para o dia seguinte.


2 - Sabemos que os trabalhos mediúnicos exigem muita renúncia e sacrifício pessoal em todos os sentidos. Qual é a “receita” para se cumprir uma caminhada de 66 anos ininterruptos a serviço da mediunidade?

— Trabalhar e servir sempre, confiando em Deus.


3 - Existe no país, no momento, uma espécie de pessimismo e desânimo generalizado, o que vem fazendo com que as pessoas desistam de lutar pelos valores nobres cristãos. O que poderia ser feito, por cada um de nós, para reverter esse quadro?

— Na condição de espírita, sou cristão e creio que todo cristão deve agir e servir, com otimismo, em nome de Jesus.


4 - Chico Xavier, estamos vendo, no seio das famílias, uma conturbação muito grande, principalmente em relação a casais, com muitas separações. Qual o conselho que o senhor daria aos casais de modo geral?

— Creio que os serviços de comunicação deviam passar por uma revisão das autoridades competentes, às quais caberia o dever de filtrar os assuntos no mercado das ideias para o público em geral.


5 - Chico Xavier, o que podemos esperar para o mundo, no Terceiro Milênio da Era Cristã que já se aproxima?

— Espero que com a fé em Deus e com a proteção de Jesus todos nós sigamos para uma vida melhor.


6 - O número de adeptos da Doutrina Espírita, no Brasil, segundo pesquisas, vem crescendo muito. A que o senhor creditaria este fato?

— Acredito que todos nós temos sede de paz e de esperança.


7 - O que representa para o senhor a figura de Nosso Senhor Jesus Cristo?

— Acredito que Jesus, em todos os tempos da civilização cristã, é a presença de Deus entre os homens.


8 - Existe fatalidade ou todos nós cumprimos uma missão aqui na Terra?

— Não posso esquecer o livre-arbítrio de que dispomos. A criatura colherá sempre o que ela própria semeou com as atitudes que abraça.


9 - Às vezes assistimos pessoas perderem suas vi das por tamanha imprudência. Isso é destino?

— A meu ver, e reconheço que não possuo a mínima propensão para adivinhar, destino será a soma de nossas ações e pensamentos em nossa vida atual, ou em nossas existências passadas. A esse respeito, imaginemos a importância do livre-arbítrio. Se eu estiver guiando um auto móvel, adotando o processo de mais de 80 quilômetros por horas, na hipótese de alguma ocorrência desastrosa, quem será o culpado? O motor ou eu?


10 - Como o senhor vê o suicídio?

— O suicídio é a pior ofensa a nós mesmos.


11 - A Igreja Católica perde fieis que migram para igrejas protestantes principalmente. Como o senhor analisa esta realidade?

— Não posso entrar no julgamento da conduta alheia. Devo, porém, observar, embora a minha condição de espírita cristão militante, que a Igreja Católica é mãe venerável da civilização brasileira. A História, registrando os primeiros tempos de nosso país, é uma comprovação do que estou dizendo.


12 - Observa-se hoje um vazio crescente entre pais e filhos. Como superar este problema?

— Dizem os analistas que isso é o choque de gerações. Considero, no entanto, que nesse conflito está o problema da educação.


13 - Quais as lembranças mais gratas que o senhor tem de Pedro Leopoldo?

— Tenho as lembranças felizes da infância, da família, da escola e dos amigos. Creio que estas recordações são características de todos aqueles que já ultrapassaram os oitenta janeiros, como me acontece.


14 - O que a Fazenda Modelo representa para o Senhor?

— Uma grande instituição de trabalho e cultura, que não me será lícito esquecer.


15 - Qual a mensagem que o senhor manda para os leitores do nosso jornal?

— Cultivar a oração, trabalhar sempre, respeitar a natureza, proteger as plantas e os animais e servirmos sempre uns aos outros, sem qualquer ideia de compensação.


Chico Xavier


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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