O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Tempo e amor — Autores diversos — F. C. Xavier/Clóvis Tavares


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Mensagem (à mulher)

DE MARIA JOÃO DE DEUS

1 Minhas irmãs em Cristo.
Elevo o meu sincero voto à Mãe Excelsa de Jesus para que todos vossos corações experimentem o orvalho de seu amor desvelado e constante.

2 Nós, hoje, estudamos o Evangelho com lágrimas, no labor de nossa tenda humilde. Nossas lágrimas, contudo, não são as do mundo, que varrem as almas, como tempestades de fogo, no torvelinho das paixões. Foram para o nosso espírito a chuva benéfica que fecunda a terra dos sentimentos. 3 Sentimos a união das esperanças em torno do Mestre Divino e recordamos a Sua infinita misericórdia. É o nosso regresso ao Seu aprisco de amor inesgotável; é a ânsia de integração na substância de Sua exemplificação imortal.

4 A igreja doméstica erige-se novamente no íntimo santuário dos nossos corações. As mulheres modernas, nossas pobres irmãs em humanidade, costumam perder-se na imitação falsa dos labores que Deus destinou aos homens, na constituição de seus deveres sagrados.

5 Em todos os lugares, há um apelo criminoso e uma sugestão infeliz para que o coração feminino perca as suas características de ternura. Em toda a parte, falsas ideologias concitam a mulher a realizações desesperadas. Generaliza-se o esquecimento de que a elas foi confiada a missão da vida, que, muitas vezes se executa em silêncio, como o trabalho do Todo-Poderoso, que todas as criaturas parecem ignorar.

6 Todas as edificações grandiosas do mundo pertencem a Deus e, apesar disso, somente os nomes transitórios de homens falíveis surgem na publicidade de cada dia, quando todas as boas dádivas representam uma real dispensação dos céus.

7 Em todos os tempos os homens fizeram as batalhas, destruindo os caminhos da vida, destruindo instituições ou intoxicando patrimônios, porém, a mulher, na excelsitude de sua tarefa, foi sempre a jardineira de Jesus, plantando as flores da vida sobre as devastações dos movimentos destruidores, como a primavera que enfeita de rosas uma casa desprezada, em dolorosas ruínas…

8 Irmãs muito amigas, nos Espaços mais próximos da Terra, também existem colégios de preparação e de amor das almas femininas para a revelação permanente das glórias de Deus. Procuremos saturar o coração da prece e da vigilância Daquela que, em Nazaré, soube esperar os desígnios santos do Céu a Seu respeito.

9 Seu manto constelado de todas as virtudes se abre generosamente para nós como um pálio divino. Saibamos compreendê-la, desde a Manjedoura até o Calvário. Seu exemplo é a luz de todos os séculos para a missionária do Cristo no seu esforço de redenção.

10 Transformemos o lar no templo de cada hora, onde a fé seja um ensino de todos os instantes, a dor um motivo de resgate venturoso, a esperança uma aurora perene e o amor uma fonte daquela Água Viva que dessedenta toda sede do coração.

11 Que outras criaturas frágeis e pobres se façam ao mar revolto das ilusões e das amarguras que lhe são consequentes, que outras desfraldem bandeiras novas na estrada das experimentações inconvenientes e tristes!… Fiquemos nós com Jesus, colocando bem alto o Seu exemplo e o Seu amor.

12 Esta é a pobre lembrança de vossa irmã e serva muito humilde


Maria João de Deus


ANOTAÇÕES


MARIA JOÃO DE DEUS: BREVE NOTÍCIA DE UMA GRANDE ALMA

Maria João de Deus nasceu em S. Luzia do Rio das Velhas, Minas Gerais, filha de uma lavadeira humilde dessa histórica cidade. Nasceu pobre, filha de pobres e honrados pais e nunca pôde receber instrução maior que aquela que os humildes recebem, mormente naquele final do século passado, no interior das Alterosas.

Maria João de Deus — a mãezinha de nosso querido amigo e benfeitor Francisco Cândido Xavier, nosso amado, ternamente amado Chico, o Chico que nos ama a todos e a quem todos amamos…

Nos idos distantes de 1939, 1940… muitas coisas fiquei sabendo a respeito da mãezinha de nosso devotado companheiro. Ouvi-as dos lábios de sua filha mais velha, a carinhosa e inesquecível Bita. E também de outros filhos seus, — José Cândido, Luísa, Carmosina, Maria, Mundico… E ainda, entre lágrimas, do seu querido João Cândido, o papai do Chico…

Quando Maria João de Deus desencarnou, em Pedro Leopoldo, a 29 de setembro de 1915, nosso Chico estava por volta dos cinco anos de idade. Mas, ele se recorda — esplêndida e misteriosa memória mediúnica! — de pormenores a respeito de sua Mãezinha: a dizer-lhe, antes de deixar este mundo, “que iria fazer uma viagem… mas que voltaria”… Entre as lágrimas saudosas e os derradeiros conselhos, palavras entrecortadas pela agonia, a humilde lavadeira só partiu deste mundo quando pôde abençoar o último filho que estava tão longe e tardara a chegar…

O pequenino Chico nunca acreditou, guardando fielmente a palavra materna, nunca pôde acreditar em morte… Não, sua Mãezinha não morrera, embora os outros lho dissessem. Ela estava viajando, viajando para lugar distante, para curar-se da doença que a lançara ao leito doloroso… Mas, voltaria. Voltaria, sim. Ela prometeu voltar…

E voltou… Meses após, após tantas dores para todos da família, dores que são tidas por “infelicidades”, Maria João de Deus voltou…

As infelicidades se transformaram em bem-aventuranças, conforme Jesus Cristo nos ensina no Sermão da Montanha… Nem vale a pena lembrá-las, tão duras, tão amargas, tão diferentes do que podemos imaginar foram elas… Fazem lembrar as palavras dolentes de Leão Tolstói em Ana Karênina: “Todas as família felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira…”

Não se trata aqui de enfatizar a dor, nem de assumir masoquismos. Os sofistas podem entender de retórica ou gramática, mas não entendem o sofrimento humano. E as dores foram grandes, amaríssimas, singulares… Mas, como prometeu Jesus: “a vossa tristeza se converterá em alegria” (João, 16.20), assim aconteceu. E aconteceu como não poderia deixar de acontecer: Maria João de Deus voltou, voltou “da viagem que iria fazer” e trouxe ao seu menino (de cinco anos, meu Deus!) as primeiras florações da mediunidade. Apareceu-lhe. Confortou-o. Iluminou-o… E o adorável menino foi crescendo, após as primícias espirituais de sua mãezinha… A criança foi crescendo e crescendo também os testemunhos da Vida Espiritual, as evidências do Mundo Maior, as realizações da tarefa mediúnica — extraordinária, consoladora, insofismável — a atravessar quase todo este século vinte, de ponta a ponta…

Quando o jovem Chico, já iluminado suficientemente pelas Bênçãos da Imortalidade, pediu à sua mãezinha que “lhe contasse as suas primeiras impressões da vida do outro mundo”, ela lhe prometeu que o faria oportunamente. E, mais uma vez, cumpriu sua palavra, escrevendo pelas mãos do filho querido, para ele e para todos nós, as lições magníficas que são as Cartas de uma morta.




Um dia, eu quis conhecer a terra natal da Amiga querida. E passei por Santa Luzia do Rio das Velhas, embora rapidamente. Pude conhecer também, já em Pedro Leopoldo, a velha casa, o quarto humilde onde Maria João de Deus recebeu nos braços esta dádiva dos Céus, que é Francisco Cândido Xavier. Quantas ternas notícias, quantas confidências carinhosas, diante da casucha humilde!… E que surpresa e contentamento quando o Chico me disse da grande e generosa quota de tempo e de proteção que sua Mãezinha dedica à nossa Escola Jesus Cristo, de que seu filho é Presidente Honorário… E especialmente à Escola de Evangelho Maria João de Deus, filial de nossa Escola, na década de 1940 no antigo Bairro de Bezamat, sob a direção de nossa confreira Cirene Batista, já desencarnada, e atualmente no lar humilde de Coralice Maria Cardoso de Souza, nossa querida Coral

A admirável Mensagem de Maria João de Deus foi recebida na Escola Filial de Bezamat, na tarde de 28 de julho de 1940. Esse texto de profunda beleza espiritual, uma oferenda para sérias reflexões, foi psicografado no quarto e último dia da primeira viagem de Chico a Campos, em visita à Escola Jesus Cristo.

A carinhosa Mensagem fecha com chave de ouro esta antologia de páginas do Mundo Maior, psicografadas em Campos umas, outras dirigidas a confrades campistas e ainda outras ditadas por carinhosos Amigos Espirituais nascidos em Campos… É um florilégio de apenas algumas mensagens, dada a impossibilidade de publicar todas elas, ou um número maior…

Ao nosso valoroso irmão, a quem devemos estas mil outras dádivas do Céu, nosso comovido e intraduzível agradecimento, humildemente em nome de todos, pela palavra pobre de quem mal sabe rogar ao Divino Amigo que o abençoe hoje quanto ontem, agora e para todo o sempre, na Terra e no Céu…

Campos, 14 de julho de 1983.

Clovis Tavares


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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