O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Somos seis — Familiares diversos


SEGUNDA PARTE


Augusto César Netto

Nascimento: São Paulo, 27 de setembro de 1942 — Desencarnação: Praia Grande, 27 de fevereiro de 1968.

Filho de Raul Cezar e Yolanda Cezar.

Irmãs: — Maria Otília Cezar Toscano, casada com o Sr. Walter Toscano. Zuleica Cezar Carvalho, casada com o Dr. Antônio Celso Mesquita Carvalho. Marly Cezar de Almeida, casada com o Dr. Paulo Roberto Bourgogne de Almeida.


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REAPRESENTAÇÃO


Facilmente o leitor identificará no decorrer da leitura deste livro, o estilo próprio dos seus seis autores. Jovens escritores que não vieram de cursos de beletrismo, nem se preocuparam particularmente com o estudo das figuras de expressão literária, de modo a se lançarem como novos candidatos aos troféus e às cadeiras de nossas academias.

Estes jovens, que tão cedo deixaram a Terra, numa idade variável entre 17 e 25 anos, levaram daqui evidentemente o ardor de sua juventude, trazendo de lá, a vontade de contar o que viram aos companheiros e aos pais queridos que não se acostumam à sua ausência, ainda que não estejam ausentes.

Mas, a despeito de sua despretensão em fazer literatura, todos escrevem bem, cada qual carregando a marca inconfundível de sua comunicação pessoal. Assim, em Volquimar, a estrela do grupo, sentimos a filha amorosa, falando simples e de forma elevada com a mãe, do mesmo modo que conversavam quando na Terra. Wilson, o outro estreante, é o marido muito jovem e o filho afetuoso que divide o coração entre a esposa querida e a mãezinha, consolando-as a ambas, numa linguagem clara, como são claras suas posições diante da morte.

Wadyzinho é o jovem amadurecido que aos 17 anos já se dedicava à Causa do Bem, na tarefa de levar as palavras do Mestre aos jovens distantes da compreensão dos valores morais da vida, imersos nos pesadelos induzidos por drogas e vícios outros. Wady, além de filho amoroso, é a doutrina, exposta, aliás, em estilo sóbrio, encorpado, com o uso da adjetivação fácil.

Carlos Alberto, o Tato, é o engenheiro que abdicou temporariamente de sua linguagem pragmática, concisa, em função dos sofrimentos da mãe, inadaptada, ainda, à dor da separação.

Augusto e Jair são diferentes dos outros em termos de comunicação. Lembremos que todos, basicamente, são muito ligados às famílias, filhos carinhosos, cada qual com suas características próprias, idênticas às que apresentavam quando encarnados.

Jair, por exemplo, brincalhão, manuseava a gíria, como Wady os analogismos e as metáforas; cabe aqui o depoimento de uma sua colega dos tempos de escola, a estudante de Antropologia da PUC de Campinas, Renata Manjaterra, que ao ler uma de suas mensagens psicografadas pelo Chico, que seu pai lhe fez chegar às mãos, disse: — “papai, mas esse é mesmo o Jair”.

De fato, em suas mensagens, reconhece-se o Jair em qualquer circunstância; são as frases curtas, entrecortadas, carregadas de pontos e de vírgulas, como se Jair não estivesse escrevendo e sim falando. Sua gíria é, como a do Augusto, até mesmo dicionarizada.

E o Augusto, também usava a gíria, quando encarnado? Conversamos com sua mãe a respeito e D. Yolanda disse que sim, usando-a o Augusto com moderação, e reconhecendo em suas mensagens recebidas por Chico Xavier, expressões habituais, do seu agrado quando entre nós.

A verdade é que falando em gíria ou se expressando em estilo convencional, sente-se no Augusto uma linha de exposição típica, em que o rapaz já mais velho que os outros (hoje estaria com 33 anos) é amoroso e alegre, utilizando-se de construções gramaticais bem próprias.

Particularmente entendemos que houve como que uma divisão de trabalho entre os jovens autores, de modo a atingirem a todas as áreas no campo da divulgação de suas ideias, com uma preferência evidente do Augusto e do Jair pela penetração entre os jovens mais familiarizados com as expressões de gíria. E, reconheçamos, estes jovens são os estudantes, são os rapazes voltados para experiências perigosas com as ervas e as bolinhas e são os outros jovens, ainda na fase dourada da juventude, desligados dos problemas e das cousas, bastante carentes de orientação e esclarecimento.

É inquestionável a penetração dessa técnica que Jair e Augusto trouxeram do Além e que é a técnica também dos jovens daqui: a conversa franca, descontraída, em que as palavras, ou as palas como dizem, surgem ao sabor do próprio diálogo ou do papo informal.


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TEMPO DE PAZ


1 Mamãe, aquele abraço pedindo para nós a bênção de Deus.

2 A felicidade destas horas de paz e amor aos nossos irmãos em Humanidade é um tranquilizante ideal. Digo assim porque as lutas andam ouriçadas. Tomar providência de cá, receber medidas novas de lá. E o negócio é isso aí: trabalho de renovação, caçada de grilos para consertar a máquina.

3 Mãezinha, é tanta areia nas areias da vida que, de qualquer modo, é preciso alcançar o chão e plantar lavoura segura que nos traga, não apenas o pão de cada dia, mas também a paz de que todos necessitamos, a cada hora. Não é preciso falar muito. O coração tem boca e ouvidos em que se nos expressam os sentimentos mais íntimos. Eu penso, você pensa, os nossos pensam. E Deus pensará por nós o que seja melhor.

4 Compreendo as lutas do velho. n Do nosso velho moço, mais forte do que todas as forças que possamos apresentar. Nosso caro Walter e ele acharão o caminho justo. De nosso lado, querida mãezinha, construamos a paz e a união. De qualquer maneira, netos são filhos e genros filhos são. Nora, em nosso caso, já era mesmo, porque de filho casado vocês se livraram em tempo de calma. 5 Nada de desarmonia, porque espinheiro na estrada de hoje rende espinhos e muitos na estrada de amanhã. Jogar as cascas prá lá, é o nosso programa do momento. E continuemos aguardando tempo bom para que a tempestade fique onde está, amenizada por nossas preces.

6 Creia. Seu filho agora entende um pouco de confiança em Deus. Já não me vejo tão mocorongo, a ponto de esquecer que estamos nas mãos de Deus.

7 Mamãe, você igualmente hoje sabe comigo a importância da tranquilidade geral. Quando nossa Maria Otília esperava por alguém, tempos atrás, os conflitos surgiram fortes. Presentemente, quando a vemos de novo em grandes esperanças para o futuro, como que as lutas voltaram. 8 Não quero dizer “lutas-destrutivas”, mas “lutas-lições” ou “lutas-bênçãos”. No fundo disso tudo, reconheço a nossa oportunidade de harmonizar e reconstruir. Peço aquele sorriso seu, sempre nosso, tão nosso, e não nos deixemos vencer por tarefas que constituem ocasiões preciosas de serviço na construção da paz e do amor.

9 Continuemos em nossas atividades da hora que passa, amparando os outros, quanto nos seja possível, para que sejamos amparados. Uma fonte tange outra. E as fontes reunidas fazem o grande rio, transformado em força de progresso. 10 Não temos outro modo de seguir adiante, com a segurança precisa. Apoiar os outros é receber apoio maior. Mão que se abre para ajudar é aquela que pode realmente receber. Quanto possível, resguardemos o amor que nos reúne a todos, uns aos outros em casa, e assim nos veremos tranquilos, conquanto as mudanças. n

11 Renatão amigo, n tempo de servir é qualquer tempo e lugar de ajudar em nome de Deus é qualquer um. Há quem ensine o caminho para o Céu, acomodando-se numa poltrona revestida de ouro e há quem faça indicações valiosas, nesse mesmo rumo, escorando-se num cajado de mendigo. 12 O negócio é não se plantar a pessoa em conversa mole, mas sim arrancar-se, cada um de si mesmo, e trabalhar pelo bem dos outros. Arregaçar as mangas e chorar pelos poros, quanto seja necessário, embora muito trabalhador de valia tenha de chorar pela cabeça, esquentando a sede do pensamento com aflição e vigilância pela tranquilidade do próximo.

13 Não se deixe catar pelos fazedores de crás-crás-crás. Trabalhar sim e muito. Quanto às alterações do modo de crer, isso virá com o tempo, desde que o tempo esteja vivo na ação a que nos referimos. Este seu irmão e primo tem sido baratinado por muita experiência até chegar nessa estação de entendimento novo. Ponha serenidade nas ideias e mande tarefas boas prá frente. Mande e se mande que você acabará mandado por Jesus a encargos sempre maiores. Perguntar é bom, mas servir é melhor.

14 Mamãe, distribua meus abraços. Isso não será difícil, porque mãe é mãe sempre. Converse em nosso verdão e em nosso peixeiro com o pessoal, n arranje um assunto de bola e estaremos certos que chegaremos à goleada do amparo a todos na rede da união.

15 Não deixe que lágrimas daqui ou dali venham a fazer fossas no caminho a passar. Deus é quem manda em tudo e nós dois estaremos na torcida do pensamento em prece.

16 Agradeço às nossas irmãs Acácia e Lucy. n Vocês estão firmes. Acompanhamos tudo hoje. Nossa irmã Gina está feliz. É isso aí. Não podemos fazer um irmão paralítico andar de repente, imitando Jesus, mas podemos auxiliá-lo a seguir prá frente sobre rodas. 17 Não conseguimos multiplicar os pães de cinco para cinco mil, qual Jesus, diante da multidão; entretanto, se quisermos poderemos repartir um pão em dois n para suprir as necessidades de um companheiro.

18 Mas isso, vocês todos fazem e sabem muito melhor do que nós, os primos pobres deste lado de Cá. Andamos com vocês e aprendemos. E graças a Deus já estamos aprendendo.

19 Esperamos nosso livro próximo com muito carinho. n Cremos que será possível conversar, por ele, com muitos dos nossos irmãos ainda dependurados no corpo físico. Dependurados não à moda de bolso vazio, mas à feição de plantas preciosas nos xaxins dos nervos, florescendo e frutificando com Jesus para a vida melhor.

20 Agradeço, mamãe, os seus pensamentos convidando seu filho a escrever. Mais do que isso, escrevo em seu coração todos os dias. Todos os dias conversamos e, a todo instante, o nosso amor é mensagem pelo correio das vibrações.

21 Mais uma vez abençoe seu rapaz muito esperançado em dias melhores e, com aquele abraço de fazer o telefone retinir aos gritos num beijo estalado de filho saudoso, sou o seu filho, sempre mais seu e cada vez mais reconhecido.


Augusto

07 de julho de 1975.


O ESQUEMA DA PAZ


Em Tempo de Paz, Augusto volta com força total, preocupado com a estabilidade familiar e dando conselhos com tal minudência de informações que nos chocam a atenção.

Desde o início, surpreendendo as dificuldades do pai e do cunhado nas atividades comerciais conjuntas, tranquiliza a todos, lembrando que “espinheiros na estrada de hoje, rendem espinhos e muitos na estrada de amanhã”.

Vamos colocar na sequência da mensagem as citações que devem ser elucidadas, para maior esclarecimento dessa página do Augusto.


1 — Compreendo as lutas do velho — Augusto comenta as lutas na área dos empreendimentos profissionais, por que passa o genitor. As observações do item 2 dizem respeito à mesma problemática.


2 — Conquanto as mudanças — Augusto já prevê as modificações na estrutura social da firma de que faziam parte o pai, Raul Cezar, o genro Walter Toscano e o primo Roberto Cezar Carlos. Realmente, mais tarde, o Sr. Raul se retiraria da sociedade, dentro do clima de paz e harmonia solicitado pelo próprio Augusto que assim pôde, do Além, intervir no grupo familiar, com o socorro da paz.


3 — Renatão amigo — É o seu primo Luiz Rotta Filho, apelidado pelos familiares por Renatão, ou Renato. Os conselhos dados pelo Augusto dizem respeito à situação de incerteza por que passava o Renatão, devido a graves conflitos no campo de suas definições religiosas. Nesta mensagem e nas seguintes vamos encontrar esclarecimentos de Augusto ao primo. No desdobramento do tempo, Renato foi tranquilizando-se, aceitando as ponderações de Augusto e hoje é operoso participante do Lar do Amor Cristão, entidade espírita da capital paulista.


4 — Converse em nosso verdão e em nosso peixeiro — Alusão à Sociedade Esportiva Palmeiras e ao Santos Futebol Clube, tradicionais agremiações esportivas de São Paulo.


5 — Nossas irmãs Acácia e Lucy — D. Acácia Maciel Cassanha, já citada em JOVENS NO ALÉM, dirigente do Lar do Amor Cristão. Lucy, é sua irmã, Lucy Maciel dos Santos, também residente em São Paulo.


6 — Se quisermos podemos repartir o pão em dois… — bonita figura, referente à lição de grande profundidade espiritual dada por Chico Xavier, algumas horas antes do Augusto escrever a mensagem. Durante a distribuição de pães a famílias em dificuldade num dos bairros visitados, face à fila que se formara, o pão estava prestes a terminar e o Chico passou a dividir cada pãozinho em dois, para atender a todos. Não houve a multiplicação, mas todos foram beneficiados, numa simbólica manifestação de respeito pelos que anseiam por um gesto de carinho e amizade, ainda que menos referendado por valores materiais.


7 — Esperamos nosso livro com muito carinho referência a Jovens no Além, na época, ainda no prelo.


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FALEI E PENSO QUE FALEI JOIA


1 Mamãe querida! Esta é aquela hora do nosso correio do coração. Começo, como sempre sucede, na prece de paz e reconhecimento com que rogo a Deus nos proteja e nos abençoe.

2 Estou em nossa caravana. Melhor dizendo estamos. Porque a nossa turma está engrossando. Hoje entramos no combinado. Gabrielzinho, o Tato Carlos, o José Roberto e o Nasser, n seguimos todo o roteiro.

3 Agradecemos, querida mamãe, tudo o que fizeram. Parece estranho, mas é afirmação magiclick: aqui também vamos aprendendo e transformando a nós mesmos. Ontem, aquelas corridas de alegria por fora, hoje as caminhadas de alegria por fora e por dentro.

4 Não se preocupe em aumentar o cordão dos braços maternos, porque nós de cá, ampliamos constantemente o grupinho dos filhos reconhecidos. Cada visita aos companheiros tristes é conforto em nós todos. Cada fatia de pão está iluminada pela bênção daqueles benfeitores que nos seguem de Mais Alto. 5 Se seu filho pudesse, inventaria um meio de ajuntar barbaridades de grana para converter a prata em socorro. Por isso, é que me esforço para que o pai tenha forças e para que você receba de Deus novas energias.

6 Aí na Terra, minha querida mãe, falamos tanto em que é preciso trabalhar pelos outros; mas, na maioria dos casos, creio eu, é necessário que a gente se desagarre da armadura física, a fim de entender isso. Enquanto parafusados no esqueleto, caridade é lição difícil de dar, perante os professores desse gibi tão difícil de ser lido. 7 A gente possui e crê que os outros possuem, estamos de boa saúde e esquecemos a tremenda situação dos que caminham mambembes, sacudindo os ossos em trapos de carne. Mas voltando para cá, somos naturalmente chamados a ver — a ver todas as necessidades que dominam os nossos semelhantes.

8 Então, é o momento de largar as nossas mumunhas e mandar personalidades prás cucuias. Sermos nós, seres humanos, filhos de Deus, formando uma só família.

9 Sei, mãezinha. Há quem negue essas verdades, mas apenas se entregam à entração canuda de quem se faz de cego para não enxergar. Panos e antolhos, porém, caem da visão, mais hoje, mais amanhã e o negócio se manda forte prá cima de quem perde tempo e despreza a oportunidade.

10 Ajude, sim, mamãe, quanto puder aos que varam fossas muito maiores do que as nossas. Troque o metal ou o papel chapeludo em bênçãos de amparo aos que caminham na chuva do sofrimento. Sei que meu pai e nossa gente aprovam. Afinal, não estamos desperdiçando glórias, nem dando shows de beneficência.

11 Você sabe. O nosso ajuste é calmo e equilibrado. Um litro de Old Eight transformamos em vários cobertores. Um conserto de carro pela grilagem de uma festa convertemos em remédios para vários doentes. A batida — a outra de mucas e outros viram pães e bolos para muitos companheiros que estão fazendo cruzes na boca. Vinte litros de gasolina para uma excursão desnecessária se arrancam hoje em enxovais para recém-nascidos, sem meios de enfrentar o frio de um leito sem agasalho; um pacote de fumaça cara para nós agora é um fardo de alimento, em benefício daqueles que se reúnem perto de um fogão apagado; e aqueles costumes ricos de seu filho bem-ajambrado são uma enormidade de roupas para tanta pele exposta ao vento.

12 Falei. E penso que falei joia. E disse o que disse para que nós dois, fazendo o balanço, estejamos certos de que não estamos arruinando a família. E pode crer, minha querida mãe, vida de meu coração e luz dos meus dias, que se conseguisse presentemente estar com os tubos, os melhores presentes para oferecer a você seriam estes: estas horas de amor ao próximo em que seu Augusto aprendeu a ver os irmãos que choram, tentando consolá-los; seriam, mamãe, estas noites de oração e de amor em que, com as nossas mãos encontramos os que não têm braços e em que, com a nossa fé, colecionamos as visões dos que se enraízam no desespero e na aflição, agoniados nas provações em que ainda se encontram.

13 Eu sei de suas noites e de seus dias, em que você me procura nos doentes e nos que se reconhecem abandonados. E somo as suas esperanças com as minhas para transformá-las em serviço à nova família que Deus nos concedeu — junto da nossa — a família dos últimos que seguem nas retaguardas da Terra, confiando em Deus e naqueles que se entregam a Deus para compreendê-los e sustentá-los. Sei que meu pai nos compreende, que as minhas irmãs e os meus irmãos que se ligaram a elas e a nós nos entendem e nos aprovam.

14 Agradeço ao papai e a todos por isso mesmo, porque eles todos nos abençoam, compartilhando-nos as tarefas.

15 Aqui estão nossos amigos Gabrielzinho e Carlos Tato. Fazem deles estas palavras que digo. Para o Gabrielzinho, isso não é tão novidade. Ele é um jovem filósofo. O que nosso Jair Presente n mostra de euforia (palavra difícil para significar bom humor), o nosso Gabrielzinho revela de pensamento profundo. Somos todos irmãos e estamos formando uma pequena comunidade de amigos de Jesus. Uns são mais extrovertidos, outros mais entregues a reexames e revisões por dentro deles mesmos. De qualquer modo, todos estudamos e trabalhamos. 16 De meu lado, sou aquele mesmo seu rapaz penetrando um mundo novo. Admirando tudo o que é bom e pedindo a Deus para fazer-me um portador do bem. Mas estou sempre vidrado em seu coração para não perder a sua companhia.

17 Suas conversações comigo, ouço-as todas. Suas flores me alcançam em forma de perfume. Suas preces me alertam para melhorar a mim. E seus exemplos de trabalho e coragem para fazer o bem representam minha escola. Agradeço ao seu carinho por todas as luzes e alegrias que recebo.

18 Peço a sua assistência para o nosso Renato. n Ele precisa continuar naquele posto de servidor do bem. 19 Caridade é o lugar em que estamos com Deus. Isso é o que tenho aprendido aqui de todos os amigos que me dispensam assistência e atenção. 20 De nossa Maria Otília n não preciso dizer que estamos a postos, fazendo força para que as tarefas em andamento estejam bem. Esperemos em Deus as bênçãos de que necessitamos.

21 Você, mamãe, nos seus pensamentos, lembra a nossa Acácia. n Ela está sustentada por muitos amigos espirituais nas provas que estão passando. Notícias dos amados que estão chegando até nós virão em breve. É difícil falar entre duas vidas, porque o tempo e as dimensões dos acontecimentos são considerados aqui de modo muito diverso. Entreguemo-nos a Deus, confiando sempre no melhor.

22 Veja o que sucedeu. Escreveria um recado e escrevi um relatório. Cousa de rapaz, talvez muito doido, mas seu filho com muito carinho e com muito amor.

23 Termino com aquele plá da saudade: muitos beijos prá você; não me esqueço de nossos compromissos; até logo, até breve. Tchau prá você, mas por trás disso tudo, querida mãezinha, está seu filho, tão sempre-seu que lhe traz o coração inteirinho naquele abraço em que continuamos com meu pai e com todos os nossos, juntos e sempre mais juntos para sempre. Seu filho rico de seu amor, sempre seu


Augusto

18 de agosto de 1975.


SUGESTÕES PRÁTICAS


E falou mesmo… Em sugestões práticas, Augusto mostra-nos várias maneiras de pensarmos no próximo, sem que nos envolvamos em compromissos orçamentários, muitas vezes inacessíveis. A tônica da mensagem é a preocupação com os mais necessitados, “agoniados nas provações em que ainda se encontram”.

Conta-se na mitologia grega que Zeus sofria de contumaz cefaleia. Desanimado, depois de ter tentado de tudo, teve a ideia de pedir a Hefestos que lhe batesse violentamente na cabeça. Após insistentes pedidos de Zeus, Hefestos lhe atendeu a solicitação e milagrosamente, da cabeça do grande Zeus, nasceu Pala Atenéa, a Deusa da Sabedoria, inspiradora da cultura e das artes.

De certa forma, o impacto da morte nos leva a compreensões mais dilatadas da vida, de tal forma que joias nascem de nossos sentimentos sublimados pelo sofrimento e pela saudade. O que Augusto se propõe nessa mensagem é mostrar-nos, com receitas simples, que podemos exercer tanto bem em nossa existência, sem que seja mais tarde necessária a transformação da morte para despertarmos. E suas receitas são práticas, preventivos mesmo, para que vivamos com o bem e pelo bem, sem a necessidade de dolorosas transformações que, como partos de Atenéa, nos descortinem o caminho a seguir.

Os nomes citados por Augusto na mensagem são de modo geral conhecidos, mas para facilitar a identificação, vamos arrolá-los por ordem de aparecimento:


1 — Gabrielzinho — Gabriel Casemiro Espejo, desencarnado em Campinas a 27 de junho de 1974. Filho de Gabriel Espejo Martinez e Irene Casemiro Espejo Martinez.

Tato Carlos — Carlos Alberto, co-autor do livro.

José Roberto — José Roberto Pereira da Silva, já identificado na 1ª mensagem da Volquimar.

Nasser — Nasser Miguel Haddad, filho de Miguel Nasser Haddad e de Shirley Haddad, faleceu com 15 anos no dia 23 de abril de 1974, em acidente de trânsito, na capital paulista.


2 — Jair Presente — co-autor.


3 — Renato — Luiz Rotta Filho, citado na mensagem anterior.


4 — Maria Otília — sua irmã, na época em fase adiantada de gestação.


5 — Lembra a nossa Acácia — a referência se prende ao fato de seu irmão haver falecido naquele dia, em São Paulo, quando D. Acácia já se encontrava em Uberaba. Daí Augusto dizer mais adiante que “notícias dos amados que estão chegando até nós, virão em breve”.


Na mensagem ainda fala Augusto em papel chapeludo, expressão muito usada por ele, segundo a progenitora, quando vivo, entre nós, para referir-se à nota de Cr$ 10,00, já retirada de circulação e que trazia impressa a figura de Santos Dumont, com o seu chapéu de abas largas.


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A VOLTA DO ASTRONAUTA-MIRIM


1 Taí, mamãe! O garotão do Walter chegou joia. Parabéns prá todos, com Walter e Maria Otília na frente do festival.

2 O que custou a vinda desse baby não está contado. Passes prá lá e passes prá cá. E médicos dos dois mundos, garantindo a contagem de regressão do astronauta-mirim. Graças a Deus, o rapaz foi entregue à família, nos altos do Morumbi. Agora é crescer e aparecer, mas aí estão outros quinhentos. Pintar por aí é mais difícil do que desabrochar onde estamos.

3 Você, Renato, está firme. Isso é que é o fino aí no mundo: largar as dicas embananadas e enfrentar a pedreira do serviço com Jesus.

4 No princípio, aqui estive naquela água. Agora, porém, estou carregando aquela lenha. Coração incrementado na fé e mãos prá jambrar no que se deve fazer. Põe os olhos nas letras e sigamos prá frente. Por trás desses garranchos feitos em teipes de todos os tamanhos, a que chamamos de alfabeto, você descobrirá os pensamentos luminosos de muitos mestres da subida para Deus.

5 Nas horas de entrave, não dê aquelas de vila diogo e tope. Você ganhará sempre o melhor, ficando na luta. É um prazer encontrar a nossa estimada Júlia n ao seu lado nessas conjuminações da verdade e do serviço. Fique tranquila, nossa querida Julinha. O pai lembrado sempre, nosso caro Miranda, n está presente. Naquela base mesmo de quem mira a Terra que ficou na retaguarda e de quem anda prá melhor. Mantenham-se vocês alegres e fortes. É muita luz na forma de bênçãos que estamos recebendo. E precisamos agradecer, agindo na plantação do bem…

6 Mamãe, parabéns prá você. Já sei. Você está na brasa do bem ao próximo. É isso, querida mãezinha, o que realmente fica. As nossas transas nas comunicações continuam iluminadas de esperança. Seu carinho materno é uma lâmpada acesa, clareando o caminho para outras mães e outros pais que procuram os filhos emigrados para cá. Não sei dizer a felicidade que sinto ao ouriçar-me com você no aprendizado das boas obras.

7 Você, mãezinha, fique certa: Prossigo com o papai, olhando as listas. n Participo de suas preces para que a grana possa chegar de modo a que a caridade seja atendida, com aquela cota. Aquela cota do quanto mais, melhor, no mais para Jesus, na pessoa dos que sofrem.

8 Continuemos trabalhando. Sei que não posso ser um agente dos tubos e compreendo que tubular os cabrais para descobrir os nossos irmãos necessitados não é assim tão fácil. Mas seu filho hoje já sabe também orar e é com a prece que nós iremos… para diante, pensando alto e buscando o melhor para os outros.

9 Confiemos. Confiar em Jesus é joia mesmo. Entendo agora que a luz divina parece nascer com novo brilho, onde as mãos do amor ao próximo liquidam com a necessidade e com o sofrimento.

10 Mãezinha, você é meu exemplo. Suba sempre mais, minha estrela, para que a nossa estrada fique mais clara, sempre mais clara. Mãezinha, com a nossa prezada Acácia, agradeço aos irmãos que me proporcionam tanta alegria no Lar, o nosso Lar Cristão. Sou eu o aprendiz, querendo o título de servidor. Permanecemos sempre mais juntos. E digam aos nossos rapazes e às nossas meninas n que o trabalho aqui — os nossos encargos na Comunidade dos Amigos de Jesus — segue dureza.

11 Visitamos antros e muquifos, especialmente para socorrer as vítimas do fumo-de-angola. É uma batalha em que as armas são feitas de paciência e de amor. Creia, no entanto, o nosso pessoal que sacudir os irmãos que chegam por aqui no sono da erva é fogo na jurupoca. Luta enorme em que aprendemos e recebemos dos outros aquilo que a gente supõe esclarecer e dar. Mas tudo segue naquele clima da esperança que não conhece paradas de insucesso e nem vê caminhos para fossas.

12 Somos vários companheiros aqui, mas aquele que mais se preocupa em se fazer presente é o nosso José Roberto. Ele volta a pedir aquela calma de nossa irmã Lucy.

13 Nesta noite, em nosso grupo, n grande grupo, estivemos com todos vocês nas casas felizes de nossos companheiros em aulas abençoadas. Lágrimas santas as que vimos. Dádivas celestes as que foram repartidas. Dinheiro iluminado de amor todo aquele que saiu das mãos de vocês numa distribuição que nos fala muito alto ao espírito. E, sobretudo, as preces que vocês fizeram, falando e sentindo, compreendendo e pensando. Reunidos todos, reconhecemos que nesta noite celebramos a nossa fé numa festa de luz.

14 Mãezinha, abrace o pai por mim. Nessas novas formações ou negócios que vão surgindo, n torcemos para que tudo dê certo. Deus nos ouvirá e confiamos em papai forte e tranquilo, na construção do futuro.

15 Para todos de casa aquele plá de muito carinho, com um abração de rapaz agradecido a todos aqui unidos nas mesmas vibrações de amizade.

16 Hora de até logo é sempre amarga para quem ama; entretanto, mamãe, não conhecemos adeus. Seu filho é seu mesmo. Receba aquele beijo estalado de alegria por ter recebido de Deus a melhor das mães da Terra. Aqui, a lição da humildade que preciso aprender manda que eu diga que os filhos são também corujas e não posso deixar sem registro os meus pensamentos. Mas você, mãezinha, é mesmo a estrela de nosso grupo. Guarde, pois, o coração do seu filho adoidado de felicidade por pertencer-lhe.

17 E ao dizer “falei” quero deixar bem claro que não escrevo tchau, porque em matéria de notícias e carinhos logo tem mais.

18 Aquele abraço do seu

Augusto

22 de setembro de 1975.


COMO NÃO DAR AQUELAS DE VIDA DIOGO


A chegada do astronauta-mirim muito representa para o Augusto particularmente, porque como podemos notar já nas mensagens de JOVENS NO ALÉM, nosso autor muito se preocupava com as gravidezes frustradas de sua irmã Maria Otília, tendo mesmo afirmado numa das mensagens que era o mesmo Espírito quem tentava renascer, através de duas gestações que não se concretizaram. Agora, Augusto desabafa: “o que custou a vinda desse baby não está contado”.

Na sequência, volta a conversar com Renato, então, já longe dos conflitos religiosos em que se viu envolvido, falando, assim, de modo mais tranquilo: “Isso é que é fino, aí no mundo: largar as dicas embananadas e enfrentar a pedreira do serviço com Jesus”.

Como veremos também nas mensagens do Jair, parece-nos neste livro, como no anterior, que ambos, Augusto e Jair, assumiram a responsabilidade da comunicação mais direta com os jovens, através da linguagem simples da gíria, utilizando-se, inclusive, de gírias dicionarizadas, como é o caso de “dar aquelas de vila diogo” e de “fumo-de-angola”, encontradiças no NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO.

Walter, Maria Otília, Renato, Acácia, José Roberto e Lucy são já conhecidos. Júlia e Miranda identificaremos a seguir:


1 — Nossa estimada Júlia — Júlia Miranda Rotta, esposa do Renato, apelido familiar do Luiz Rotta Filho, como já vimos.


2 — Nosso caro Miranda — José Augusto Miranda, pai de Júlia. Revelação importante, pois Chico Xavier nada sabia a respeito da família da esposa do Renato e muito menos que seu pai era desencarnado. José Augusto Miranda faleceu em 10 de junho de 1971, com 58 anos.


Ainda na sequência cronológica podemos citar, para maior clareza, as seguintes observações do Augusto:


3 — Prossigo com o papai olhando as listas quando “vivo”, Augusto efetuava os serviços de escrita do pai, assessorando-o nos misteres de contabilidade e planejamento. Daí dizer que prossegue olhando as listas.


4 — E digam aos nossos rapazes e às nossas meninas… — Augusto se refere às atividades adicionais em suas tarefas, após os jovens do Lar do Amor Cristão organizarem a Mocidade Espírita Augusto Cezar Netto.


5 — Nesta noite em nosso grupo… — Antes da reunião mediúnica o grupo realizou visita a lares necessitados da região, para o indispensável socorro material e espiritual.


6 — Nessas novas formações ou negócios que vão surgindo — Augusto fala dos novos empreendimentos comerciais do pai, após a desvinculação de que tratamos em mensagem anterior.


Em suas primeiras palavras, Augusto diz, na mensagem, que “o rapaz foi entregue à família, nos altos do Morumbi”, em alusão ao Hospital Albert Einstein localizado no Bairro do Morumbi, próximo ao Palácio dos Bandeirantes.


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BALÃO APAGADO


1 E agora vou contar prá vocês como passei além-terra e além-mar para o Além mesmo.

2 O marca-vida dera prego de bate-pronto. Procurei dar um come-de-corpo na violenta e caí pelas tabelas no aguaçal.

3 Estava metido na boca do leão, rebentando peito prá sentar pé, quando percebi que o lampejo dava uma de vagolino e a lata deu com os burros nágua. Por dentro senti a vela derretendo no moringório griloso, até que virei balão apagado na alaraca.

4 Escutei palas e vozeirões da superequipe, mas não consegui bater uma caixa.

5 No começo da mágica, faturei pensadas e acreditei que algum cupincha tivesse feito crocodilagem, me colocando no baratino, porque entrei num sonho de fantástico, vendo capivaras e homens de branco à minha frente. No imaginório birutado a visão continuou e notei que alguns tiras me carregaram para dentro de um belo rodante prá dar uma esticada, sem que eu soubesse prá quê. Aí mergulhei na estirada do sono grosso.

6 Gastei um cacetão de tempo prá dar o eco. Foi aí com muita demora que o clarão apareceu e estava uma vara dando o esbregue, quando enxerguei meu avô botando banca de anfitrionagem. Muito do abilolado, quis bronquear, dando altercação, mas o ponta firme aprochegou-se. Deu dicas com açúcar, paparicando o neto.

7 Falou e disse que eu havia vestido o pijama de parado e me aconselhou um banho de loja nova. Vendo que estava numa bananosa de amargar, caí quente no bué chamando por minha mãe. O amigão me confortou, emplacando minha presença num carango voador e me levou prá dar umas bandas num lugar brilhoso que me fazia pensar em festa. Era uma sala clara e bonita, parecendo um clube muito legal.

8 Minha mãe estava ali numa barra de luz. Outra mãe, com carinho de flor no coração e no nome, abraçava minha mãe e acolheu este filhote aqui. Estava num grupo que começava numa Acácia de Jesus, cercada de outras acácias. Decorei a bandeira: “Lar do Amor Cristão” Desde essa hora sou do grupo.

9 E hoje que estou por dentro das jogadas, aqui estou dando boquinhas para minha mãe e um pique-pique prá todas as acácias e prá todos os companheiros da nossa turma, gritando com toda força: — Oi, gente!

10 Vamos prá frente com Jesus, porque Jesus não para e o nosso supertime é uma parada.


Augusto

03 de novembro de 1975.


O BANHO DE LOJA


Em linguagem diferente, Augusto nos conta como passou para o “Além mesmo”, falando dos últimos momentos de sua permanência na Terra, como encarnado, até a compreensão da realidade irreversível: estava morto.

O avô a que se refere Augusto é o avô paterno Augusto Cezar, falecido em São Paulo há 10 anos e que serviu de anfitrião para o neto em sua passagem para o outro mundo.

Compreendendo que desencarnara, Augusto viu-se numa “bananosa de amargar”, mas seu avô levou-o a uma reunião no Lar do Amor Cristão, entidade espírita da capital, onde encontrou a mãe. Diz Augusto que estava num grupo que começava numa acácia de Jesus, cercada de outras acácias, em poética e carinhosa homenagem à dirigente do grupo. D. Acácia Maciel Cassanha.

Cabe lembrar que D. Yolanda nos contou que um ano e meio após a morte do filho, este transmitiu a ela, através de D. Acácia, expressiva mensagem psicofônica de que D. Yolanda respeitosamente duvidou. Seguindo para Uberaba, poucos dias depois, em visita ao Chico, este, logo após os cumprimentos de praxe, antecipando-se a eventuais comentários, lhe disse: “D. Yolanda, a senhora recebeu uma mensagem do Augusto, através de nossa Acácia…”. O filho, sentindo as dúvidas da mãezinha, disse tudo ao Chico.


6


O MELHOR PROGRAMA


1 Querida mamãe, abençoe seu filho e receba aquele beijo.

2 Queria contar o que passei nos primeiros dias de meu novo lado de morar e escrevi em homenagem ao nosso Grupo de corações amigos. n

3 Tudo segue bem. Agradecemos as visitas que fizeram. Fomos nós os visitados, nós todos que estamos reunidos aqui com o círculo querido.

4 Peço ao nosso Renato prosseguir, na estrada renovadora em que se acha. Ele e nossa querida Júlia estão com muito amparo do avô Antônio. n

5 Rota certa, isso é que é. Renato, o estudo liberta e o bem ao próximo nos pacifica. Trabalhar sempre com a bênção de Jesus — este é o melhor programa.

6 Nossa querida Pia, n a outra mamãe que temos aqui, vai muito bem e espera escrever muito breve. Os pais do nosso irmão Oscarzinho n estejam tranquilos; o irmão está sempre melhor. Os Paulos n vão bem, com o mais moço deles trabalhando muito pelo outro que veio, há pouco tempo. E que Deus nos abençoe a todos. 7 O nosso querido livro n tem sido motivo para muita alegria nossa. Agradecemos a Jesus por tantas bênçãos.

8 E novamente, querida mãezinha, receba, com meu pai e todos os nossos, todo o coração naquele abraço do seu, sempre seu,


Augusto

03 de novembro de 1975


COMPLEMENTO


Mensagem curta, complemento da anterior, traz, contudo, muitas citações:


1 — Em homenagem ao nosso Grupo de corações amigos — estava presente na reunião em que Augusto escreveu pelo Chico as mensagens Balão Apagado e O Melhor Programa, todo o pessoal do Lar do Amor Cristão que Augusto homenageia com suas palavras de agradecimento.


2 — Avô Antônio — Antônio Rotta, pai de D. Yolanda, desencarnado aos 83 anos, na capital paulista, em 15 de setembro de 1969.


3 — Nossa querida Pia — Mãe de D. Acácia, abnegada batalhadora da Doutrina Espírita a que se dedicou durante 50 anos, Pia Passine Maciel faleceu em São Paulo, aos 70 anos, no dia 23 de julho de 1975.


4 — Oscarzinho — Oscar Secuto Jr., filho de Oscar Secuto e Eunice Secuto, faleceu com 24 anos de idade em São Paulo, no dia 7 de junho de 1975.


5 — Os Paulos — Pai e filho — Paulo Antônio Passini, morreu com 21 anos em 15 de novembro de 1971, em desastre com automóvel no Morumbi. O pai, Paulo Passini, faleceu 4 anos depois, no ano passado, aos 52 anos, vitimado por um infarto do miocárdio.


6 — O nosso querido livro tem… — Referência a Jovens no Além, recém-lançado na época.


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CARTA AO AMIGO ANÔNIMO


1 Mamãe querida, estamos juntos.

2 Corações em prece. Agradecendo a Deus e àqueles benfeitores que o representam junto de nós, auxiliando-nos a dar os passos certos.

3 Não estou vidrado nas recordações do vinte e sete, mas Feverê acabando, Março nunca foi para nós assim tão feliz. Ocasião de trabalho mais, com papo menos.

4 Creia, mamãe. Seu filho está nas melhoradas de posição. Embarquei na mesma canoa, em sua companhia. Larguei, desde muito, a maré mansa e estou arrebimbando malho prá valer. Tenho até receio de repousadas, a não ser estas últimas de Lindoia, onde conseguimos refazer forças.

5 Obrigado, pais queridos, é o que posso dizer. Entendo que me esperam no lápis. Até o nosso amoroso guardião está na jogada. Ouvir o papai falando que contava com mensagens do Augusto quase que me pôs prá desmaio. Desmaio de alegria, por que amor e saudade são os dois lados da mureta.

6 A penosa afinal não conseguiu papar-nos, de vez que estamos de olho na vida. A penosa é aquela dama da sombra cujo nome não preciso dizer. Existem palavras que apenas criam complicações e grudes.. E essa palavra que ficou em penosa é das tais. Deixa a criatura de Deus uma vara e a gente se esbalda uma barbaridade para repor o coração no lugar.

7 Este meu plá é uma lembrança para todos — para o estado maior da família e para os oficiais-mirins que estão crescendo embora ainda sejam pingos de gente.

8 Falamos muito hoje em poluição e etecétera para salvar as crianças especialmente, mas, com a graça de Deus, todos estão esnobando saúde e a tranquilidade possível, se pudermos falar em tranquilidade com tanto apito e tantas confas em qualquer parte do mundo.

9 Mamãe é isso aí: trabalhar para o bem é faturar felicidade. Gosto de vê-la animada prá frente no time. Passar a bola, isto é, interessar a todos ou o maior número de amigos nas partidas é o segredo do sucesso. Continuemos. A grana gasta em servir é o investimento que dá pé.

10 Sei que o papai fica feliz em saber-nos juntos no empreendimento e quanto maior a nossa mesada, mais pão à mesa do socorro fraterno. E isso é joia.

11 O livro tem aumentado a nossa alegria de trabalhar. Muitos companheiros pedem fios. E pelos fios do pensamento a turma segue adiante com maiores possibilidades no caprichado das boas obras. Não acreditava que nossas conversas de rapazes dessem literatura. Pelo menos comigo, o cordel está valendo. 12 As palavras são macetes para a compreensão e sabemos hoje que muitos amigos nas turmas aguardavam algum blá-blá-blá de nosso lado. E a nossa saberença está funcionando. 13 É preciso redescobrir Jesus para nossos tempos. Antigamente, isso era função única dos religiosos. Hoje, porém, os mais prá-cá-de-santos são chamados para aderir. Falar de vida que não morre, tocar na fé em Deus, mostrar que não adianta enrustir a realidade e revelar que continuamos nós mesmos, para lá da penosa, são deveres que nos cabem a todos.

14 Isso é assim, ainda quando os candidatos ao trabalho, de meu nível, não estejam habilitados a segurar uma vela. Apesar de tudo, é necessário fazer luz e prosseguir em caminho.

15 Mamãe, distribua os meus abraços a todos, do amigão Raul até o Walter Júnior, com os que ainda não nasceram e que virão ao nosso teto.

16 Antes, porém, de terminar, seu filho Augusto tem uma solicitação a fazer. Trata-se de enviar uma carta nesta carta. O destinatário pediu moita. É, no entanto, um bom amigo. Corda-quente e boa pinta. Leu nossas notícias do Além e quer de nós alguma informação a mais sobre pifa e boleta. E no futebol do por aqui não estou na banheira. Lhufas de ensebar as canelas. 17 Devo dar o serviço. Por isso mesmo, posso afirmar a ele e a toda corriola sem pichação e sem bronca para que não se engrupem. Fumete e leite-de-onça não dão pedal.

18 Enquanto os caras estão por aí, resultam em escafeder pela tubulação, cair na horizontal fora do momento caprichado de abotoar o paletó, ouvir os esculachos de deleruscas e samangos, curtir grampeação e outros cambaus. 19 E depois disso, os embalados vão chegando onde estamos, sempre gagás da herva mágica ou caras cheias de mandureba. Então, começam os rolos da marginália de que os indicados levam enormidades de caras para sair. E sair grampeados para novas tentativas de dar os acertos.

20 Com o que digo não quero grilar a cuca de ninguém, mas precisava entregar o papo e falei. Estas notícias seguirão por serviços indiretos e alcançarão o destino.

21 Pode ficar tranquila. Um rapaz considerado morto quando abre o bico não quer bobeira, desde que já esteja lecionado pelos mestres daqui que tiram para nós de letra os ensinamentos da vida.

22 Vamos prá frente que a frente é a chamada. Retrovisor só para consertar a marcha. Lembrar só o que presta.

23 A tia Mafalda está bem e o Renato virou um cidadão de Cristo, dos melhores. Teria até inveja do primo, se estivesse aí antes do tempo de agora. Mas estou feliz. Não parei. Ouvi a campainha da verdade e procurei me alistar.

24 O bando da luz, pois nós temos aqui o nosso bando da luz, está presente. Cada companheiro no instrumento próprio e todos agradecem aos pais e mães, amigos e irmãos presentes pelas escoras que recebemos.

25 Hoje melhor que ontem. Amanhã melhor que hoje. E vamos andando.. As andanças não fazem o coração esquecer. Por isso, querida mamãe, peço um fio em sua dedicação e estalo em sua face querida aquele beijo.

26 Todo o amor e todo o reconhecimento do seu filho, sempre seu, muito seu,


Augusto

1.º de março de 1976.


SOBRE O PIFA E A BOLETA


Inicialmente Augusto passa em revista os assuntos estritamente familiares, atualizando o papo com os pais. Curioso é notar a facilidade com que fala de fatos e ocorrências, ligados à dinâmica doméstica, com a naturalidade de quem acompanha tudo, de tudo sabe. Depois de morto, Augusto mais se integrou à família, vivendo intensamente no ambiente afetivo dos pais, irmãos, cunhados e sobrinhos.

Está aí a contestação evidente às ideias abstrusas sobre a morte; Augusto, como o fazem os outros jovens, diz-nos através de exemplos práticos que ninguém morre e que as lágrimas dos pais saudosos são enxugadas pelos próprios filhos “mortos”.

Assim, na parte primeira da mensagem, acompanhamos a lembrança do “vinte e sete de feverê” data do falecimento de Augusto: anotamos a referência à estação de águas de D. Yolanda em Lindoia, de que também participou: “Tenho até receio de repousadas, a não ser estas últimas de Lindoia, onde conseguimos refazer forças”.

Mais adiante, fala da surpresa com que ouviu o desejo do pai em receber nova mensagem sua, pela pena do Chico Xavier. Surpresa compreensível, pois que apesar de muito amoroso o Sr. Raul Cezar, com seu temperamento reservado, não tinha por hábito exteriorizar através de palavras seus sentimentos e anseios com relação ao filho, como o fez nesta oportunidade, deixando perplexos os familiares e, porque não dizer, o próprio Augusto. Este é um pequeno episódio familiar que também nos surpreende, pois Chico Xavier estava à margem disso tudo…

Após o entendimento em torno da família, matando a saudade, Augusto traz-nos à consideração a análise de um dos mais importantes tópicos de referência à conduta dos jovens. E o faz, atendendo o pedido de um amigo que preferiu não identificar-se, como o leitor pode observar na mensagem.

É quando fala de “pifa e boleta”.

Diz claramente: “Antes, porém, de terminar, seu filho Augusto tem uma solicitação a fazer. Trata-se de enviar uma carta nesta carta. O destinatário pediu moita”.

E daí por diante nos dá um show de gíria e de colocação de um dos mais agudos problemas que atingem a nossa juventude dos dias atuais: o tóxico e o álcool, vícios que andam juntos, na mortificação de valores respeitáveis, com o sepultamento de grandes perspectivas, de alentadas esperanças, fazendo com que jovens, ainda inadaptados aos bancos escolares, na fase dourada de suas vidas, se entreguem à ilusão triste do vício, seguindo por caminhos e atalhos que os distanciam tanto dos compromissos, das afeições mais caras e de si mesmos. Bola branca para Augusto que foi buscar junto a esses jovens a própria linguagem, em que não faltaram os deleruscas e samangos, o leite-de-onça, o fumete e a mandureba…

Estalando na face querida da mãe o beijo da saudade, deixa-nos o valoroso companheiro, a saudade de novas palavras, voltadas para o esclarecimento dos jovens da Terra, com quem sabe conversar, atualizando o diálogo, a ponto de transformar mesmo o antigo “Bando da Lua”, de nossas passadas recordações musicais, no atual “bando de luz”, em que se aglutinaram os jovens do Além, cada qual em seu instrumento próprio, para o recado aos companheiros “vivos” da Terra.

Raul, Walter Júnior, Tia Mafalda e Renato já são nossos conhecidos.


Caio Ramacciotti



Obs.: Para melhor compreensão de algumas expressões utilizadas pelo autor espiritual vide Glossário de gírias.


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