O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Relicário de luz — Autores diversos


93


Na viagem terrestre

1 Querida mamãe. Rogo à Infinita Bondade fortalecer-nos.

2 Há quase dez anos, em me comunicando com a senhora, referi-me à nossa grande viagem no mar proceloso das provações terrestres.

3 Dez anos correm sobre o nosso entendimento e a ventania sopra de rijo, arrastando-nos o velho barco dos compromissos espirituais, sobre ondas traiçoeiras e escuras… De quando a quando, agulhas contundentes de rochedos ocultos arrancam pedaços da nau em que viajamos. E creio que ainda não nos afastamos, um só dia, das preces ardentes, em que suplicamos, ao Céu, assistência e socorro para não sermos engolidas pelo abismo aos nossos pés.

4 Não venho, porém, recordar-lhe a viagem redentora para incliná-la ao pranto. Venho, apenas, reafirmar-lhe que Jesus continua no leme da embarcação. Sinto, não distante de nós, o porto da alegria e da segurança. Ouço vozes confortadoras, na praia próxima.

5 Não choremos, pois, naquele ritmo de angústia acelerada que nos marcou as lágrimas do princípio. Encorajemo-nos, adornando a nossa galera castigada pelo temporal. Por muito lhe doam, ainda, as chagas abertas e por muito lhe torturem as vigílias consecutivas e dolorosas, reafirme o seu bom ânimo; e continuemos.

6 Eu sei que há muito navio embandeirado no cais, à maneira de castelos flutuantes que nunca enfrentaram as águas. Sim, não perderam o aspecto festivo com que se enfeitaram pela primeira vez. São jardins imóveis, desfrutando a serenidade ilusória do mundo, porque, na realidade, nunca enfrentaram o mar largo e a grande tormenta …

7 Sabemos também que, na peregrinação, há muitas ilhas, repletas de viajores que se imobilizaram, temendo as ciladas e as vicissitudes da marcha. Começaram a travessia, mas foram vencidos pelo cansaço e repousam sobre a areia movediça dos oásis que florescem na vastidão do imenso mar…

8 Entretanto, mamãe, um dia, as embarcações preguiçosas e os viajantes enganados serão constrangidos aos terríveis temporais das grandes renovações e, chegado esse instante, chorarão a hora perdida, porque, apenas os viajantes desassombrados alcançarão o mundo sublime da paz sem lágrimas.

9 E nós, por nossa vez, atingido o objetivo que nos propomos abordar, exaltaremos o sofrimento como quem agradece a um salvador a bênção do socorro com que se lembrou de nós.

10 Se podemos, desse modo, rogar-lhe alguma coisa, imploramos sua coragem; coragem que compreenda, acima dos próprios desejos, os soberanos desígnios de Deus, dentro da Lei que nos rege.

11 Auxilie-nos, ainda e sempre. Sua aflição é nossa aflição maior.

12 Rendemos graças a Jesus e osculamos suas mãos pela paciência com que a senhora tem aceitado os golpes que nos impelem para diante, mas não se esqueça de que a senhora ainda é a nossa instrutora e nossa amiga, nossa enfermeira e, sobretudo, nossa mãe.

13 Precisamos de sua força, como a criança necessita de arrimo; e contamos com a sua desmedida abnegação em nosso favor.

14 Avancemos. Dentro da noite, brilham estrelas. E a alvorada é sempre nova, multiplicando as bênçãos divinas, em torno de nossos pés.

15 Para que não desfalecesse na jornada, Cristo veio e ensinou-nos. Para que nos conduzíssemos retamente no caminho, o Mestre desceu até nós e revelou-nos o amor infinito.

16 Ah! Sem a manjedoura da simplicidade e do trabalho no começo da luta humana; e sem a cruz do sacrifício e da renunciação no fim da estrada a percorrer, será impossível vencer, na Terra, as teias constringentes da ilusão e os enganos envenenados da morte.

17 Saibamos reerguer a esperança, cada dia, na convicção de que o tempo bem vivido é o infalível condutor da vitória. No cimo da senda, Jesus nos aguarda.

18 Além das trevas, fulgura a ressurreição. Depois da noite transitória, surge o dia eterno.

19 Seja, pois, a fé viva o bordão que nos sustente e busquemos a comunhão com a paz do Senhor, sem descansar.

20 Estamos satisfeitos com o seu estágio de refazimento junto de nossos amigos. A devoção afetiva é um dos tesouros que não são consumidos na Terra.

21 A amizade pura é uma flor que nunca fenece.

22 Meu abraço ao papai.

23 Para todos os nossos, querida mamãe, envio meus afetos e meus votos de bem-estar e, desejando à senhora tudo o que existe de sublime na Criação de Deus, abraça-a, com muito carinho e com muito reconhecimento, a sua


Agar


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir