O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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A viagem

(Sumário)

1. Depois de empregarmos o processo de condução rápida, atravessando imensas distâncias, surgiu uma região menos bela. 2 O firmamento cobrira-se de nuvens espessas e alguma coisa que eu não podia compreender impedia-nos a volição com facilidade. Creio que o mesmo não acontecia ao nosso instrutor, mas Vicente e eu fazíamos enorme esforço para acompanhá-lo.

3 Aniceto percebeu, de pronto, nossos obstáculos e considerou:

— Será conveniente utilizarmos a locomoção. A atmosfera começa a pesar muitíssimo e não devemos andar muito distante de Campo da Paz. 4 Não precisaremos ir até lá; todavia, descansaremos no Posto de Socorro. Encontraremos, ali, os recursos indispensáveis.

— Mas, que é isto? — Perguntei, admirado da profunda modificação ambiente.

5 — Estamos penetrando a Esfera de vibrações mais fortes da mente humana. Achamo-nos a grande distância da Crosta; entretanto, já podemos identificar, desde logo, a influenciação mental da Humanidade encarnada. 6 Grandes lutas desenrolam-se nestes Planos e milhares de irmãos abnegados aqui se votam à missão de ensinar e consolar os que sofrem. Em parte alguma escasseia o amparo divino.

7 Nesse instante, chegáramos ao cume de grande montanha, envolvida em sombra fumarenta. No solo, desenhavam-se trilhas diversas, à maneira de labirintos bem formados. Observando-nos a estranheza, Aniceto falou com otimismo:

— Sigamos!


2. Nesse momento, ó Deus de Bondade! alguma coisa imprevista me felicitava o coração. Contrastando as sombras, raios de luz desprendiam-se intensamente de nossos corpos. 2 Extraordinária comoção apossou-se-me d’alma. Vicente e eu ajoelhamo-nos a um só tempo, banhados em lágrimas, enviando ao Eterno os nossos profundos agradecimentos, em votos de júbilo fervoroso. 3 Estávamos embriagados de ventura. Era a primeira vez que me vestia de luz, luz que se irradiava de todas as células do meu corpo espiritual. 4 Aniceto, que se mantinha de pé, a contemplar-nos com expressão de alegria, falou comovidamente:

— Muito bem, meus amigos! Agradeçamos a Deus os dons de amor, sabedoria e misericórdia. Saibamos manifestar ao Pai o nosso reconhecimento. Quem não sabe agradecer, não sabe receber e, muito menos, pedir.

5 Durante muito tempo, Vicente e eu mantivemo-nos em prece repleta de alegrias e de lágrimas… Em seguida, retomamos a marcha, como se estivéssemos vestidos em sublime luminosidade.


3. As surpresas, no entanto, sucediam-se ininterruptas.

Aquelas vias de comunicação eram muito diversas das que conhecia até ali. Mergulhávamos num clima estranho, onde predominavam o frio e a ausência de luz solar. 2 A topografia era um conjunto de paisagens misteriosas, lembrando filmes fantásticos da cinematografia terrestre. Picos altíssimos semelhavam vigorosas agulhas de treva, desafiando a vastidão. Descíamos sempre, como viajores ladeando escuros precipícios, em país de exotismo ameaçador. 3 Esquisita vegetação subia do solo, de espaço a espaço, entre os grandes abismos. Aves de horripilante aspecto surgiam, medrosas, de quando em quando, enchendo o silêncio de pios angustiados. Rija ventania soprava em todas as direções.

4 Fundamente assombrado, cobrei ânimo e perguntei ao nosso instrutor:

— Que dizeis de tudo isto? Ignorava que houvesse tais regiões entre a Crosta e nossa cidade espiritual. À nossa frente, sinto um mundo novo, que me é totalmente desconhecido… Por quem sois, nobre Aniceto, nada vos pergunto por ociosidade, mas estas terras me surpreendem profundamente.


4. Aniceto, sempre generoso, sorriu docemente e respondeu:

— Todo este mundo que vemos é continuação de nossa Terra. Os olhos humanos veem apenas algumas expressões do vale em que se exercitam para a verdadeira visão espiritual, como nós outros que, observando agora alguma coisa, não estamos igualmente vendo tudo.

2 Este, André, é um domínio diferente. A percepção humana não consegue apreender senão determinado número de vibrações. Comparando as restritas possibilidades humanas com as grandezas do Universo Infinito, os sentidos físicos são muitíssimo limitados. 3 O homem recebe reduzido noticiário do mundo que lhe é moradia. É verdade que tem devassado com a sua ciência problemas formidáveis. A astronomia terrena conhece que o Sol, por medidas aproximadas, é 1.300.000 vezes maior que a Terra e que a estrela Capela é 5.800 vezes maior que o nosso Sol; sabe que Arcturus equivale a milhares de sóis, iguais ao que nos ilumina; está informada de que Canopo corresponde a 8.760 sóis idênticos ao nosso, reunidos; mediu as distâncias entre o nosso planeta e a Lua; acompanha certos fenômenos em Marte, Saturno, Vênus e Júpiter; sonda os milhões de sóis aglomerados na Via-Láctea; conhece as estrelas variáveis, as nebulosas espirais e difusas. 4 E não param as observações humanas na grandeza ilimitada do Macrocosmo. A Ciência vai, igualmente, aos círculos atômicos; analisa a materialização da energia, o movimento dos elétrons, estuda o bombardeio de átomos e esquadrinha corpúsculos diversos. 5 Mas todo esse trabalho, com a colaboração das lunetas de alta potência e dos geradores de milhões de volts, ainda é serviço que apenas identifica os aspectos exteriores da vida. 6 Há, porém, André, outros mundos sutis, dentro dos mundos grosseiros, maravilhosas Esferas que se interpenetram. 7 O olho humano sofre variadas limitações e todas as lentes físicas reunidas não conseguiriam surpreender o campo da alma, que exige o desenvolvimento das faculdades espirituais para tornar-se perceptível. 8 A eletricidade e o magnetismo são duas correntes poderosas que começam a descortinar aos nossos irmãos encarnados alguma coisa dos infinitos potenciais do Invisível, mas ainda é cedo para cogitarmos de êxito completo. 9 Somente ao homem de sentidos espirituais desenvolvidos é possível revelar alguns pormenores das paisagens sob nossos olhos. 10 A maioria das criaturas ligadas à Crosta não entende estas verdades, senão após perderem os laços físicos mais grosseiros. É da lei, que não devemos ver senão o que possamos observar com proveito.

Nessa altura, Aniceto calou-se.


5. Comovido com as instruções, guardei religioso silêncio.

Agora, em meio das sombras, divisava alguns vultos negros, que pareciam fugir apressados, confundindo-se na treva das furnas próximas. Nosso orientador avisou, cauteloso:

2 — Procuremos interromper os efeitos luminosos do nosso corpo espiritual. Bastará que pensem com vigor na necessidade dessa providência. Estamos atravessando extensa zona, a que se acolhem muitos desventurados, e não é justo humilhar os que sofrem com a exibição de nossos bens.

3 Obedecendo ao conselho, verifiquei o efeito imediato. Os fios de luz que me irradiavam do corpo apagaram-se como por encanto. A excursão tornou-se menos agradável. 4 Descíamos, milagrosamente, através dos despenhadeiros de longa extensão. A sombra fizera-se mais densa, a ventania mais lamentosa e impressionante.

5 Após algum tempo de marcha em silêncio, divisamos ao longe um grande castelo iluminado. Aniceto fez um gesto significativo com o indicador e explicou:

— É um dos Postos de Socorro de Campo da Paz.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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