O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Preparativos

(Sumário)

1. À noite, Aniceto veio ver-nos, começando por dizer:

— Amanhã deveremos partir os três, a serviço nas Esferas da Crosta. 2 Telésforo recomendou-me certas atividades de importância, mas posso atendê-las em particular, proporcionando a ambos uma estação semanal de experiência e serviço.

3 Fiquei radiante. Muita vez regressara ao ninho doméstico, tornara à cidade em que desenvolvera a tarefa última e, todavia, não me detivera no exame das possibilidades extensas do concurso fraternal. 4 De quando em vez, era defrontado por situações difíceis, nas quais velhos conterrâneos encaravam problemas de vulto; entretanto, sentia-me incapaz de auxiliá-los, eficientemente, na solução desejável. Faltava-me técnica espiritual para faze-lo. Não tinha bastante confiança em mim mesmo.

5 Deixando perceber que ouvira meus pensamentos profundos, Aniceto dirigiu-me a palavra de maneira especial, asseverando:

— Você, André, ainda não pôde auxiliar os amigos encarnados porque ainda não adquiriu a devida capacidade para ver. É razoável. 6 Quando na carne, somos muitas vezes inclinados a verificar tão somente os efeitos, sem ponderar as origens. No mendigo, vemos apenas a miséria; no enfermo, somente a ruína física. Faz-se indispensável identificar as causas.

7 Depois de meditar alguns momentos, prosseguiu:

— Procuraremos, contudo, remediar a situação. Amanhã, pela madrugada, você e Vicente apareçam no Gabinete de Auxílio Magnético às Percepções, que fica junto ao Centro de Mensageiros. 8 Darei as providências para que vocês alcancem o necessário melhoramento da visão. Peço-lhes, todavia, receberem semelhante auxílio em prece. Roguem a Deus lhes permita a dilatação do poder visual. Compenetrem-se da grandeza desse dom sublime. E, sobretudo, enviem à Majestade Eterna um pensamento de consagração ao seu amor e aos seus serviços divinos.


2. Não desejo induzi-los a atitudes de fanatismo sem consciência. Não podemos abusar da oração aqui, segundo antigas viciações do sentimento terrestre. 2 No Círculo carnal, costumamos utilizá-la em obediência a delituosos caprichos, suplicando facilidades que surgiriam em detrimento de nossa própria iluminação. 3 Aqui, todavia, André, a oração é compromisso da criatura para com Deus, compromisso de testemunho, esforço e dedicação aos superiores desígnios. 4 Toda prece, entre nós, deve significar, acima de tudo, fidelidade do coração. Quem ora, em nossa condição espiritual, sintoniza a mente com as Esferas mais altas e novas luzes lhe abrilhantam os caminhos.

5 Diante da nobre autoridade de Aniceto, não me atrevi a falar e cheguei mesmo a recear a externação de qualquer pensamento.

Deixou-nos o generoso instrutor com palavras carinhosas de amizade e incentivo.


3. Vicente e eu acalentávamos projetos magníficos. Iríamos, pela primeira vez, cooperar a favor dos encarnados em geral. Nosso repouso noturno foi brevíssimo. Aguardávamos, ansiosamente, a alvorada, a fim de receber o auxílio magnético do Gabinete referido.

2 Poucas vezes orei com a emoção daquela hora. Os esclarecidos técnicos da instituição colocaram-nos, primeiramente, em relação mental direta com eles e, em seguida, submeteram-nos a determinadas aplicações espirituais, que ainda não posso compreender em toda a extensão e transcendência. 3 Observei, contudo, que a colaboração magnética não nos retirava o sentido consciencial, e aproveitei a oportunidade para a oração sincera, que era mais um compromisso de trabalho que ato de súplica, propriamente considerado.

4 Decorrido certo tempo, fomos declarados em liberdade para sair, quando nos prouvesse.

A princípio, nada notei de extraordinário, embora sentisse, dentro do coração, nova coragem e alegria diferente. Experimentava bom ânimo, até então desconhecido. Meus sentidos da visão e da audição pareciam mais límpidos.


4. Aniceto, que se mostrava muito satisfeito, esperava-nos no Centro, marcando a partida para o meio-dia.

Ansioso, aguardei o instante aprazado.

2 Não nos ausentamos de “Nosso Lar”, como os viajores terrestres, geralmente carregados de matalotagens e volumes diversos.

— Aqui, — disse Aniceto jocosamente, — toda a nossa bagagem é a do coração. Na Terra, malas, bolsas, embrulhos; mas, agora, devemos conduzir propósitos, energias, conhecimentos e, acima de tudo, disposição sincera de servir.

3 Alguns companheiros presentes riram-se com gosto.

Nesse instante, nosso orientador fez algumas recomendações. Designou colegas para a chefia de turmas de aprendizado, estabeleceu programas de serviço e notificou que voltaria à colônia, diariamente, por algumas horas, deixando-nos, Vicente e eu, nos serviços da Crosta, em trabalhos e observações que deveriam prolongar-se por toda a semana.

4 Despedimo-nos dos camaradas de luta, repletos de esperança. Era a nossa primeira excursão de aprendizado e cooperação aos semelhantes.

5 Quando nos puséramos a caminho, nosso Instrutor observou:

— Creio que a viagem para vocês será diferente. Certo, estão habituados à passagem livre, mantida por ordem superior para as atividades normais de nossos trabalhos e trânsito dos irmãos esclarecidos, em vésperas de reencarnação.

— Como assim? — Perguntou Vicente, admirado.

5 — Pois não sabia? As regiões inferiores, entre “Nosso Lar” e os Círculos da carne, são tão grandes que uma estrada ampla e bem cuidada requer tanto esforço de conservação, como as importantes rotas terrestres. Por lá, obstáculos físicos; por cá, obstáculos espirituais. 6 As vias de comunicação normais destinam-se a intercâmbio indispensável. Os que se encontram nas tarefas da nossa rotina sagrada precisam livre trânsito e os que se dirigem da Esfera superior à reencarnação devem seguir com a harmonia possível, sem contato direto com as expressões dos Círculos mais baixos. 7 A absorção de elementos inferiores determinaria sérios desequilíbrios no renascimento deles. Há que evitar semelhantes distúrbios. Nós, porém, seguimos numa expedição de aprendizado e experiência. Não devemos, por isso, preferir os caminhos mais fáceis.

8 Identificando-nos a perplexidade, Aniceto concluiu:

— Imaginemos um rio de imensas proporções, separando duas regiões diferentes. Existe o vau que oferece transporte rápido e há passagens diversas através de fundos precipícios.

9 Pela expressão do bondoso instrutor, concluí que ele poderia voltar à colônia quando quisesse, que não encontraria obstáculos de qualquer ordem, em parte alguma, em razão do poder espiritual de que se achava revestido, mas fazia-se peregrino, como nós, por devotamento à missão de ensinar. 10 Vicente e eu não dispúnhamos de expressão vibratória adequada aos grandes feitos. Éramos vulgares, quanto a maioria dos habitantes da nossa cidade espiritual. Possuíamos apenas alguns princípios de volição; contudo, permanecíamos muito distantes do verdadeiro poder. 11 Nunca vira, pois, a energia e a humildade em tão belo consórcio. Aniceto dirigia-nos, firmemente, como orientador de pulso, vigoroso e sábio, mas não vacilava em se fazer igual a nós, a fim de servir como devotado companheiro.

12 Meditando a lição sublime, em pleno impulso volitivo, contemplei as torres de “Nosso Lar”, que iam ficando a distância…


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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