O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Aniceto

(Sumário)

1. Comunicando meus novos propósitos a Tobias, verifiquei a satisfação que lhe transpareceu do olhar.

2 — Fique tranquilo, — disse, bondoso, — você possui a quantidade necessária de horas de trabalho para justificar o pedido. Temos, por nossa vez, grande número de colegas na Comunicação. Não será difícil localizá-lo com instrutores amigos. Conhece o nosso estimado Aniceto?

3 — Não tenho esse prazer.

— É antigo companheiro de serviço, — continuou informando, generoso, — esteve conosco na Regeneração, algum tempo. Em seguida, devotou-se a tarefas sacrificiais no Ministério do Auxílio e, hoje, é instrutor competente na Comunicação, onde vem prestando concurso respeitável. Conversarei, a respeito, com o Ministro Genésio. Não tenha dúvidas. Seu desejo, André, é muito nobre aos nossos olhos.

4 O prestimoso companheiro deixou-me num mar de contentamento indefinível.

Comecei a compreender o valor do trabalho. A amizade de Narcisa e Tobias era tesouro de inapreciável grandeza que o espírito de serviço me havia descortinado ao coração.

5 Novo setor de luta desdobrar-se-ia à minhalma. Não deveria perder a oportunidade. “Nosso Lar” estava cheio de entidades ansiosas por aquisições dessa natureza. Não seria justo entregar-me, de boa vontade, ao novo aprendizado? 6 Além disso, certo da minha volta à carne, em futuro talvez não distante, a providência constituiria realização de profundo interesse ao meu aproveitamento geral.

7 Misteriosa alegria dominava-me todo, sublimada esperança iluminava-me os sentimentos. Aquele desejo ardente de colaborar em benefício dos outros, que Narcisa me acendera no íntimo, parecia encher, agora, a taça vazia do meu coração.

8 Trabalharia, sim. Conheceria a satisfação dos cooperadores anônimos da felicidade alheia. Procuraria a prodigiosa luz da fraternidade, através do serviço às criaturas.

9 À noite, fui procurado por Tobias, sempre generoso, trazendo-me a confortadora aquiescência do Ministro Genésio.

Com sorrisos afetuosos, convidou-me a acompanhá-lo. Conduzir-me-ia à presença de Aniceto, para conversarmos relativamente ao assunto.

10 Emocionadíssimo, procurei a residência da nova personagem que se ligaria fundamente à minha vida espiritual.

11 Aniceto, ao contrário de Tobias, não se consorciara em “Nosso Lar”. Vivia ao lado de cinco amigos que lhe foram discípulos na Terra, em edifício confortável, encravado entre árvores frondosas e tranquilas, que pareciam postas ali para protegerem extenso e maravilhoso roseiral.

12 Recebeu-nos com extrema gentileza, que me causou excelente impressão. Aparentava ele a calma refletida do homem que chegou à idade madura, sem fantasias da mocidade inexperiente. Embora lhe transparecesse muita energia no rosto, revelava o otimismo sadio do coração cheio de ideais sacrossantos. Muito sereno, recebeu todas as alegações do meu benfeitor, dirigindo-me, de quando em vez, olhares amistosos e indagadores.

13 Tobias falou longamente, comentando minha posição de ex-médico no Plano terráqueo, agora em reajustamento de valores no Plano espiritual.

14 Depois de examinar-me com atenção, o orientador aduziu:

— Não há o que embargar, meu prezado Tobias. No entanto, é preciso reconhecer que a solução depende do candidato. Sabe você que estamos aqui na Instituição do Homem Novo.

— André está pronto e disposto, — adiantou o amigo, generosamente.


2. Aniceto fixou em mim o olhar penetrante e advertiu:

— Nosso serviço é variado e rigoroso. O departamento de trabalho, afeto à nossa responsabilidade, aceita somente os cooperadores interessados na descoberta da felicidade de servir. 2 Comprometemo-nos, mutuamente, a calar toda espécie de reclamação. Ninguém exige expressão nominal nas obras úteis realizadas, e todos respondem por qualquer erro cometido. 3 Achamo-nos, aqui, num curso de extinção das velhas vaidades pessoais, trazidas do mundo carnal. Dentro do mecanismo hierárquico de nossas obrigações, interessamo-nos tão somente pelo bem divino. 4 Consideramos que toda possibilidade construtiva vem de nosso Pai e esta convicção nos auxilia a esquecer as exigências descabidas de nossa personalidade inferior.

5 Identificando-me a surpresa, Aniceto esboçou um gesto significativo e continuou:

— Nos trabalhos de emergência, destinados à preparação de colaboradores ativos, tenho um quadro suplementar de auxiliares, constante de cinquenta lugares para aprendizes. No momento, disponho de três vagas. 6 Há intensa atividade de instrução, necessária a servidores que cooperarão em socorros urgentes, na Terra. Orientadores há que se fazem acompanhar, nos serviços da crosta, por todo o pessoal em aprendizado, mas eu adoto processo diferente. 7 Costumo dividir a classe em grupos especializados, de acordo com a profissão familiar aos estudantes, para melhor aproveitamento no preparo e na prática. 8 Tenho, presentemente, um sacerdote católico-romano, um médico, seis engenheiros, quatro professores, quatro enfermeiras, dois pintores, onze irmãs especializadas em trabalhos domésticos e dezoito operários diversos. 9 Em “Nosso Lar”, a ação que nos compete é desdobrada de maneira coletiva; mas, nos dias de aplicação na crosta terrestre, não me faço seguido de todos. 10 Naturalmente, não se negará ao engenheiro, ou ao operário, o ensejo de aquisição de conhecimentos outros, que transcendem a paisagem de realizações que lhes cabem; mas, tais manifestações devem constar do quadro de esforços espontâneos, no tempo vasto que cada qual aufere para descanso e entretenimento. 11 Considerando, pois, o serviço atual, temos interesse em aproveitar as horas no limite máximo, não só em benefício dos que necessitam de nosso concurso fraternal, como também a favor de nós mesmos, no que toca à eficiência.

12 Ponderei, admirado, o curioso processo, enquanto o orientador fazia longa pausa.

Após mergulhar toda a atenção em mim, como se desejasse perceber o efeito de suas palavras, Aniceto continuou:

13 — Este método não visa apenas a criar obrigações para os outros. Aqui, como na Terra, quem alcança a melhor porção, nas aulas e demonstrações, não é propriamente o discípulo e sim o instrutor, que enriquece observações e intensifica experiências. 14 Quando o Ministro Espiridião me chamou a exercer o cargo, aceitei-o sob a condição de não perder tempo na melhoria e educação de mim mesmo. Desse modo, não preciso alongar-me noutras considerações. Creio haver dito o bastante. Se está, portanto, disposto, não posso recusar-me a aceitá-lo.

15 — Compreendo seus nobres programas, — respondi, comovido, — será honra para mim a possibilidade de acompanhá-lo e receber suas determinações de serviço.

16 Aniceto esboçou a expressão fisionômica de quem atinge a solução desejada, e concluiu:

— Pois bem; poderá começar amanhã.

17 E, dirigindo-se a Tobias, acrescentou:

— Encaminhe o nosso amigo, amanhã cedo, ao Centro de Mensageiros. 18 Lá estaremos em estudo ativo e providenciarei para que André seja bonificado pelas tabelas da Comunicação.

Agradecemos, satisfeitos e, logo em seguida a Tobias, despedi-me, alimentando novas esperanças.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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