O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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O Evangelho por Emmanuel — Volume V — 2ª Parte ©

Textos paralelos de Atos dos apóstolos e Paulo e Estêvão

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Em Antioquia da Pisídia

14 [...] e, indo à sinagoga, num dia de sábado, sentaram-se. 15 Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga enviaram [comunicado] para eles, dizendo: varões, irmãos, se há em vós alguma palavra de exortação para o povo, dizei. 16 Paulo, levantando-se e fazendo sinal com a mão, disse: varões israelitas e os que temem a Deus, ouvi. 17 O Deus deste povo de Israel escolheu os nossos Pais e elevou o povo durante a peregrinação no Egito. E, com braço erguido, o conduziu para fora dele [Egito]. 18 Por um período de quarenta anos, suportou-lhes [os hábitos] no deserto. 19 E, fazendo cair sete nações na terra de Canaã, distribuiu por herança a terra deles, 20 por quatrocentos e cinquenta anos; após estas [coisas], deu-lhes juízes, até o Profeta Samuel. 21 Então pediram um rei, e Deus lhes deu Saul, filho de Kis, varão da tribo de Benjamin, por quarenta anos. 22 Depois de removê-lo, ergueu-lhes Davi para [ser] rei, de quem também disse, testemunhando: encontrei Davi, o filho de Jessé, varão segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade. 23 Da descendência dele, segundo a promessa, Deus conduziu para Israel o Salvador Jesus. 24 Tendo João proclamado [previamente] a Israel, antes da entrada dele, o mergulho do arrependimento. 25 Enquanto João completava a sua carreira, dizia: quem me supondes ser, eu não sou. Todavia, eis que vem depois de mim [aquele] do qual não sou digno de desatar as sandálias dos pés. 26 Varões irmãos, filhos da geração de Abraão, e vós que temeis a Deus, a nós foi enviada a Palavra desta salvação. 27 Pois os habitantes de Jerusalém e as suas autoridades, desconhecendo isto e as vozes dos Profetas que são Lidos todos os sábados, julgando-o, cumpriram [as profecias]; 28 embora não encontrando nenhum motivo [de condenação] à morte, pediram a Pilatos para o eliminarem. 29 Assim que se consumaram todas as [coisas] escritas a respeito dele, descendo-o do madeiro, o colocaram no sepulcro. 30 Deus, porém, o ergueu dentre os mortos. 31 Ele se tornou visível, durante muitos dias, aos que subiram com ele da Galileia para Jerusalém, os quais são testemunhas dele perante o povo. 32 E nós vos evangelizamos a promessa feita aos Pais. 33 Porque esta [promessa] Deus cumpriu [plenamente] para nós, os filhos, erguendo Jesus, como está escrito no segundo Salmo: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. 34 Porque o levantou dos mortos, jamais devendo retornar para a dissolução, assim disse: [Eu] vos darei as [coisas] santas e fiéis de David. 35 Por isso, também diz em outro [Salmo]: não concederás ao teu justo ver [a] dissolução. 36 Pois [bem], tendo Davi servido ao desígnio de Deus, em sua própria geração, adormeceu e foi acrescentado aos seus pais; e viu a dissolução. 37 Aquele, porém, a quem Deus ergueu, não viu a dissolução. 38 Portanto, tomai vós conhecimento que, por meio dele, vos foi anunciado perdão dos pecados e de todas [as coisas] que não pudestes ser justificados na Lei de Moisés. 39 Nele, todo aquele que crê é justificado. 40 Vede, portanto, que não venha sobre vós o que está dito nos Profetas: 41 ó desprezadores, vede! Maravilhai-vos e desfigurai-vos, porque estou realizando uma obra em vossos dias; obra que não crereis se alguém vos descrever. 42 Ao saírem eles, rogaram-lhes fossem faladas essas palavras no sábado seguinte. 43 Dissolvida [a reunião] da sinagoga, muitos dos judeus e dos adoradores prosélitos seguiram Paulo e Barnabé, o quais, falando-lhes, os persuadiam a permanecerem na graça de Deus. 44 No sábado seguinte, quase toda a cidade estava reunida para ouvir a palavra de Deus. 45 Os judeus, porém, vendo as turbas, se encheram de inveja, e contestavam as [coisas] faladas por Paulo, blasfemando. 46 Paulo e Barnabé, falando abertamente, disseram: era necessário falar a palavra de Deus, primeiramente a vós; visto que a repelis e a vós mesmos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para as nações. 47 Pois assim nos ordenou o Senhor: [Eu] te estabeleci para seres luz das nações e salvação até aos confins da terra. 48 Ouvindo [isto], os gentios se alegraram e glorificaram a palavra do Senhor; e creram tantos quantos estavam nomeados para a vida eterna. 49 E a palavra do Senhor se difundia por toda a região. 50 Os judeus incitaram as mulheres adoradoras proeminentes e os principais da cidade, e levantaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do território deles. 51 Eles, sacudindo o pó dos pés sobre eles, foram para Icônio. 52 Os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo. — (Atos 13:14-52)


91 No primeiro sábado de permanência em Antioquia os arautos do Evangelho dirigiram-se à sinagoga local. Ibraim, satisfeitíssimo com a cooperação do novo empregado, dera-lhe duas túnicas usadas, que Paulo e Barnabé envergaram com alegria.

Toda a população “temente a Deus” comprimia-se no recinto. Sentaram-se os dois no local reservado aos visitantes ou desconhecidos. Terminado o estudo e comentários da Lei e dos Profetas, o diretor dos serviços religiosos perguntou-lhes, em voz alta, se desejariam dizer algumas palavras aos presentes.

De pronto, Paulo levantou-se e aceitou o convite.

Dirigiu-se à modesta tribuna em atitude nobre e começou a discorrer sobre a Lei, tomado de eloquência sublime. O auditório, não afeito a raciocínios tão altos, seguia-lhe a palavra fluente como se houvera encontrado um profeta autêntico, a espalhar maravilhas. Os israelitas não cabiam em si de contentes. Quem era aquele homem de quem se poderia orgulhar o próprio Templo de Jerusalém?  †  Em dado momento, contudo, as palavras do orador passaram a ser quase incompreensíveis para todos. Seu verbo sublime anunciava um Messias que já viera ao mundo. Alguns judeus aguçaram os ouvidos. Tratava-se do Cristo Jesus, por intermédio de quem as criaturas deveriam esperar a graça e a verdade da salvação. O ex-doutor observou que numerosas fisionomias mostravam-se contrariadas, mas a maioria escutava-o com indefinível vibração de simpatia. A relação dos feitos de Jesus, sua exemplificação divina, a morte na cruz, arrancavam lágrimas do auditório. O próprio chefe da sinagoga estava profundamente surpreendido…


92 Terminada a longa oração, o novo missionário foi abraçado por grande número de assistentes. Ibraim, que acabava de conhecê-lo sob novo aspecto, cumprimentou-o radiante. Eustáquio, o oleiro que dera trabalho a Barnabé, aproximou-se para as saudações, altamente sensibilizado. Os descontentes, no entanto, não faltaram. O êxito de Paulo contrariou o espírito fariseu da assembleia.

No dia imediato, Antioquia de Pisídia estava empolgada pelo assunto. A tenda de Ibraim e a olaria de Eustáquio foram locais de grandes discussões e entendimentos. Paulo falou, então, das curas que se poderiam fazer em nome do Mestre. Uma velha tia do seu patrão foi curada de enfermidade pertinaz, com a simples imposição das mãos e as preces ao Cristo. Dois filhinhos do oleiro restabeleceram-se com a intervenção de Barnabé. Os dois emissários do Evangelho ganharam logo muito conceito. A gente simples vinha solicitar-lhes orações, cópias dos ensinos de Jesus, enquanto muitos enfermos se restabeleciam. Se o bem estava crescendo, a animosidade contra eles também crescia, da parte dos mais altamente colocados na cidade. Iniciou-se o movimento contrário ao Cristo. Não obstante a continuidade das pregações de Paulo, aumentava, entre os israelitas poderosos, a perseguição, o apodo e a ironia. Os mensageiros da Boa Nova, entretanto, não desanimaram. Confortados pelos mais sinceros, fundaram a igreja na casa de Ibraim. Quando tudo ia bem, eis que o ex-rabino, ainda em consequência das vicissitudes experimentadas na travessia dos pântanos da Panfília, cai gravemente enfermo, preocupando a todos os irmãos. Durante um mês, esteve sob a influência maligna de uma febre devoradora. Barnabé e os novos amigos foram inexcedíveis em cuidados.


93 Explorando o incidente, os inimigos do Evangelho puseram-se em campo, ironizando a situação. Havia mais de três meses que os dois anunciavam o novo Reino, reformavam as noções religiosas do povo, curavam as moléstias mais pertinazes e, por que motivo o poderoso pregador não se curava a si mesmo? Fervilhavam, assim, os ditos mordazes e os conceitos deprimentes.

Os confrades, entretanto, foram de uma dedicação sem limites. Paulo foi tratado com extremos de ternura, no lar de Ibraim, como se houvesse encontrado um novo lar.

Após a convalescença, o desassombrado tecelão voltou mais alvissareiro à pregação das verdades novas.

Observando-lhe a coragem, os elementos judaicos, ralados de despeito, tramaram sua expulsão sem qualquer condescendência. Por vários meses o ex-doutor de Jerusalém lutou contra os golpes do farisaísmo  †  dominante na cidade, mantendo-se superior a calúnias e insultos. Mas, quando revelava seu poder de resolução e firmeza de ânimo, eis que os israelitas descontentes ameaçam Ibraim e Eustáquio com a supressão de regalias e banimento. Os dois antigos habitantes de Antioquia de Pisídia eram acusados como partidários da revolução e da desordem. Altamente comovidos, receberam a notificação de que somente a retirada de Paulo e Barnabé poderia salvá-los do cárcere e da flagelação.


94 Os missionários de Jesus consideram a penosa situação dos amigos e resolvem partir. Ibraim tem os olhos rasos de lágrimas. Eustáquio não consegue esconder o abatimento. Ante as interrogações de Barnabé, o ex-rabino expõe o plano das atividades futuras. Demandariam Icônio.  †  Pregariam ali as verdades de Deus. O discípulo de Simão Pedro aprova sem hesitar. Reunindo os irmãos em noite memorável para quantos lhe viveram as profundas emoções, os mensageiros da Boa Nova se despedem. Por mais de oito meses haviam ensinado o Evangelho. Afrontaram zombarias e apodos, haviam conhecido provações bem amargas. Seus labores estavam sendo premiados pelo mundo com o banimento, como se eles fossem criminosos comuns, mas a igreja do Cristo estava fundada. Paulo falou nisso, quase com orgulho, não obstante as lágrimas que lhe rolavam dos olhos. Os novos discípulos do Mestre não deveriam estranhar as incompreensões do mundo, mesmo porque, o próprio Salvador não escapara à cruz da ignomínia, acrescentando que a palavra “cristão” significava seguidor do Cristo. Para descobrir e conhecer as sublimidades do Reino de Deus era preciso trabalhar e sofrer sem descanso.

A assembleia afetuosa, por sua vez, acolheu as exortações, lavada em lágrimas.


95 Na manhã imediata, munidos de uma carta de recomendação de Eustáquio e carregando vasta provisão de pequeninas lembranças dos companheiros de fé, puseram-se a caminho, intrépidos e felizes.

O percurso excedente a cem quilômetros foi difícil e doloroso, mas os pioneiros não se detiveram na consideração de qualquer obstáculo. […]


Emmanuel



(Paulo e Estêvão, FEB Editora. Segunda parte. Capítulo 4, pp. 315 a 318. Indicadores 91 a 95)


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