O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Ninguém morre — Familiares diversos


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“Já estou começando a reviver”

1 Querida Ondina.
Minha boa filha.
Deus nos abençoe.

2 Estou com a mãe Beatriz e alguns amigos, entre os quais o Carísio e o Joaquim Barbosa, para pedir a você e ao Urbano dizerem à nossa querida Emília que estou melhor.

3 O desgaste do corpo foi muito demorado, mas já estou começando a reviver.

4 Vi o Silvano a me avisar que seguiria viagem no domingo, mas fui proibido de falar no assunto para não assustar sua mãe.

5 Abraço o Nefe e os amigos todos.

6 Agradeço as lembranças e preces com que me auxiliam tanto.
Não posso escrever mais.

7 Recebam, com Emília, com o João, o Ismael, todos os filhos e filhas, o abraço do papai agradecido


João dos Santos Moutinho




MEDIUNIDADE NÃO DÁ PRIVILÉGIO A NINGUÉM


Antes de estudar a mensagem, na realidade um bilhete, do Espírito do Sr. João dos Santos Moutinho “Já estou começando a reviver”, — recebida pelo médium Xavier, no Grupo Espírita da Prece, ao final da reunião pública da noite de 22 de maio de 1982, procuremos transcrever-lhe parte da excelente síntese biográfica que Reformador, de Janeiro de 1982, publicou, estampando-lhe a foto, sob o título “João dos Santos Moutinho sua desencarnação”:


“Às 11 horas do dia 22-11-1981, regressou à espiritualidade João dos Santos Moutinho, residente em Araguari, no Triângulo Mineiro, onde militou, como espírita e médium, durante 55 anos, aproximadamente.

“Nascido em Murça, Portugal, no dia 1º de novembro de 1894, ali viveu e estudou até os 18 anos. Vindo para o Brasil em 1912, residiu algum tempo no Rio de Janeiro, onde se consorciou, em 1917, com D. Emília Marques Moutinho, ainda encarnada.  n O casal teve 9 filhos, entre eles o Sr. João de Jesus Moutinho, Diretor da FEB.

“Em 1925, tendo sido admitido como empregado da antiga Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari, no interior, transferiu-se para esta cidade, onde deveria, obedecendo a programação espiritual, realizar toda a sua tarefa mediúnica, nesta existência. Nessa ocasião, sob a orientação dos Espíritos Vicente de Paulo e Eurípedes Barsanulfo, iniciou um período fecundo de estudo das obras de Kardec, adquiridas diretamente da FEB. Juntou-se, a seguir, a alguns companheiros dedicados à Doutrina para fundarem o Centro Espírita Caridade, onde militou por cerca de 50 anos, e, mais tarde, também nos Centros Jardim de Luz e Caminho da Luz, bem como o Educandário Espírita de Araguari. Os Centros espíritas então funcionavam ali como se constituíssem uma só unidade, dividida em várias Seções, tal era o ideal, o sentimento e a motivação de todos.

(…)

“Com o passar dos anos, os companheiros de sua geração regressaram todos à Espiritualidade, deles passando a dar notícias e a ser também o porta voz.

“Tornou-se conhecido de todos — espíritas ou não — pelo trabalho, respeito e dedicação à Doutrina e aos dons mediúnicos de que fora portador. Médium psicofônico, vidente, auditivo, curador, dedicou sua vida ao trabalho conscientizado, sabendo, como poucos, honrar os talentos que o Senhor lhe confiou, tornando-se credor de outras tarefas que o porvir lhe enviar. Sua existência foi, sem dúvida, exemplo vivo de trabalho e retidão.

“Sabe-se que, presentes ao desenlace, o assistiram muitos Espíritos elevados e que um punhado de companheiros o vieram esperar, com muita alegria, no pórtico da Espiritualidade.

“Seu sepultamento verificou-se no dia 23-11-1981, às 10 horas, num ambiente de muita serenidade, tendo-se ouvido, na ocasião, diversas mensagens de carinho a ele dedicadas por inúmeros companheiros e amigos.

“Rendemos também nossa singela homenagem, rogando ao Mestre que o abençoe e ampare em seus novos caminhos no Plano de Verdade e Luz.”


Esclarecimentos sobre a mensagem:

1 — “Querida Ondina”: Trata-se de D. Ondina Moutinho Vieira, filha, residente em Araguari (Rua Afonso Pena, 538, apto. 401, fone 241-2876).


2 — “Estou com a Mãe Beatriz”:

a) Beatriz: O Autor Espiritual se refere à sua progenitora, desencarnada em Portugal;

b) Alegria no reencontro: Vindo o Sr. João Moutinho de Portugal para o Brasil, aos dezoito anos de idade, em 1912, obteve até algum tempo depois; respostas de apenas duas cartas suas para a genitora.

Depois disso, suas cartas não mais foram respondidas.

Sem qualquer notícia, posteriormente, dela ou de familiares a seu respeito, ignorava, assim como e quando retornou à Espiritualidade.

E, em vista do amor profundo que sempre lhe consagrou, a falta de notícias e a saudade profunda da mãezinha passaram a constituir motivo de grande pesar, durante toda a sua existência.

Daí uma grande alegria para os que lhe sobrevivem o saber desse reencontro no Mundo Espiritual.

c) Mediunidade não dá privilégio a ninguém: Médium psicofônico, durante mais de cinquenta anos, obtendo e transmitindo notícias de familiares desencarnados para encarnados, no trabalho de consolo e socorro, em que permaneceu a sua mediunidade durante todo esse tempo, jamais recebeu, para si próprio, informes da genitora desenfaixada do corpo físico, evidenciando esse fato que o médium, por ser médium, não goza de privilégio ou quaisquer regalias.


3 — Carísio e Joaquim Barbosa:

a) Adolpho Carlos Carísio: Nasceu em Uberaba, Minas, a 26 de março de 1908, fixando residência em Araguari, a partir de 1925.

Foi construtor e Chefe da Secção de Obras da Prefeitura Municipal de Araguari, cargo no qual se aposentou, há muitos anos.

Participou de muitas atividades de relevo social da comunidade araguarina, dentre outras, as lojas maçônicas “União Araguarina” e “Fenix 56”.

Foi, por quase oito lustros, presidente do Centro Espírita de Caridade, época em que, juntamente com os companheiros do Centro, construiu o Educandário Espírita de Araguari, obra escolar das mais exemplares, que mantém, até hoje, às expensas da Delegacia Regional do Ensino do Estado de Minas Gerais, os cursos de 1º e 2º graus, além do ensino doméstico.

Membro de numerosa família, com vários filhos e familiares militantes na Doutrina Espírita, teve o seu nome, após a desencarnação, ocorrida em Araguari, a 16 de abril de 1978, colocado, mediante lei municipal, numa das avenidas próximas ao Educandário Espírita, como preito de reconhecimento pelos serviços prestados àquela progressista cidade.

b) Joaquim Barbosa: Nasceu no município de Monte Carmelo, Estado de Minas Gerais, a 20 de setembro de 1901, transferindo-se para Araguari, em 1924, onde exerceu atividades ligadas ao comércio, tendo sido nomeado Coletor Estadual, em 1930, cargo que exerceu até a desencarnação.

Prestou relevantes serviços à comunidade araguarina, tendo sido diretor de várias instituições, tais como: Santa Casa de Misericórdia de Araguari; Preventório Eunice Weaver; Loja Maçônica “União Araguarina” e Centro Espírita de Caridade.

Serviu a essas entidades, com devotamento e abnegação, até o último dia de sua permanência no Plano Físico.

Por seu trabalho e méritos, a Administração Municipal, por lei, deu-lhe o nome a uma das ruas de Araguari, onde desencarnou, em 24 de fevereiro de 1961.


4 — Urbano: Sr. Urbano Teodoro Vieira, esposo de D. Ondina, a quem nos referimos no item 1, acima.


5 — “Nossa querida Emília”: D. Emília Marques Rolo, viúva do Sr. João dos Santos Moutinho, e que se encontrava gravemente enferma, vindo a desencarnar, quatro dias após o recebimento da mensagem.


6 — “Vi o Silvano a me avisar que seguiria viagem no domingo.” — Silvano, filho já desencarnado há muitos anos, três dias antes, efetivamente, avisara-o da desencarnação no domingo.

Observação: Na quinta-feira que precedeu o desenlace do Sr. João, sua filha, D. Ondina, em momentos de silêncio, estando a sós com o genitor, no quarto do hospital, teve a atenção voltada para diálogo que o pai começou a manter com os desencarnados (fato costumeiro na vida do médium), ouvindo-lhe escapar da boca o seguinte:

— “… portal da morte? … Portal da Vida!…” A filha, notando que ele estava sendo avisado por entidades espirituais de alguma coisa, levantou-se, aconchegando-se para ouvir o diálogo, quando aconteceu fato importante: de olhos fechados, não vendo que a filha se encontrava perto dele, levantou a mão direita, passando-a ao longo dos lábios, em sinal de silêncio, acrescentando:

— “… cuidado? … porque as paredes têm ouvidos?”

E silenciou.

Concluiu ela, D. Ondina, que, na verdade, os Espíritos avisavam-no de algo sério, mas com o cuidado necessário para não assustar a ninguém, principalmente a esposa.


7 — Nefe: Nephtaly Guimarães Naves, amigo íntimo, distinto farmacêutico e militante nas tarefas espíritas de Araguari.


8 — “Recebam, com Emília, com o João, o Ismael, todos os filhos e filhas, o abraço cordial do Papai agradecido.”

a) Emília: Esposa já citada, no item 5, acima;

b) João: João de Jesus Moutinho, filho, tarefeiro do Espiritismo, em Brasília, Distrito Federal;

c) Ismael: Ismael Moutinho, também filho, integrante do movimento espírita de Araguari;

d) Todos os filhos e filhas”: Demais filhos: Rosa, Beatriz, Mozart, Odete e Eunice, todos espíritas.




Encerremos, leitor amigo, este capítulo, com o belíssimo depoimento de D. Ondina, a que ela deu o título de “Espiritismo — maravilhosa Doutrina de esclarecimento e consolo”.

Ei-lo:

“Para dizer da gratidão por tudo quanto recebemos de nossa abençoada Doutrina, realmente, não encontraríamos palavras.

“Mormente quando ela é assimilada pela mente, através do estudo, e pelo coração, no trabalho de socorro ao próximo.

“No que concerne à desencarnação de meu progenitor, peço licença para acrescentar o que segue.

“Desde criança, observávamos em nosso pai o hábito constante do estudo da Doutrina (Allan Kardec e nossos Benfeitores Espirituais, através da abençoada mediunidade de nosso querido Chico Xavier, principalmente), aliado ao trabalho constante da mediunidade e do serviço ao semelhante, o que lhe proporcionou natural serenidade, diante do fenômeno da desencarnação, legando aos filhos e amigos, até na última hora, exemplo de equilíbrio cristão.

“Na semana da desencarnação, em certo instante da melhora (das crises de angina e enfartes), ele nos disse, sereno:

“— Minha filha, desta vez, não voltarei mais para a casa.

“E eu, com o propósito de desviar o assunto, lhe disse:

“— O senhor já teve crises piores, papai, no entanto, voltou.

“Mas, ele insistiu:

“— Você se lembra dos casos de desencarnação, acompanhados por André Luiz, e constantes do livros Obreiros da Vida Eterna n Pois está acontecendo comigo fatos semelhantes aos citados naquela obra.

“Acho oportuno, também, narrar o que aconteceu, na manhã de sua desencarnação.

“Estando no quarto hospitalar, dois companheiros que o visitavam para ajudar na transmissão do passe, ainda com lucidez plena, disse a um deles:

“— Valdote, da coleção da Revista Espírita de Kardec, que lhe presenteei, só lhe entreguei 6 volumes, pois estava terminando de estudar (por mais uma vez) os outros exemplares. Procure-os com a minha velha…

“E, havendo o confrade Valdote respondido que pegaria com ele mesmo, depois que saísse do hospital, ouvimos de meu pai a seguinte afirmativa:

“— Não, Valdote, hoje é o dia da minha partida.

“E, virando-se para o meu esposo, Urbano, que estava ao lado, solicitou a este que fizesse a prece.

“Era o fim daquele corpo velho e cansado, aos 87 janeiros de lutas e sacrifícios, e início de uma saudade feita de esperança, porque sabemos que a morte do corpo não significa separação para aqueles que se amam.

“Apesar de nossas convicções de espíritas militantes, a mensagem de nosso pai, pelo nosso Chico, constituiu para todos nós, os familiares e amigos, uma alegria indescritível.

“É por isso que pedimos do fundo de nossa alma, ainda uma vez, mil bênçãos de Luz e Amor, Paz e Saúde ao coração sempre amigo e dedicado do Chico, que tem sido, ao longo de mais de meio século, junto ao sofrimento humano, o representante fiel do Cristo a enxugar lágrimas e lenir dores, consolando e esclarecendo, servindo e amando a todos.

“Que Jesus a todos nos abençoe, sempre.

“(a) Ondina Moutinho Vieira.   

“Araguari (MG), 08 de novembro de 1982.” 


Elias Barbosa



[5] A 26 de maio de 1982, D. Emília veio a desencarnar,em Araguari, Minas, quatro dias após o recebimento da mensagem aqui apresentada. (Elias B.)


[6] Francisco Cândido Xavier, André Luiz, Obreiros da Vida Eterna, Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro, 1ª edição, 1946. (Elias B.)


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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