O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Nos domínios da mediunidade — André Luiz


2


O psicoscópio

(Sumário)

1. Tornando ao convívio do Assistente, na noite imediata, dele recebemos o acolhimento gentil da véspera.

— Creio haver traçado o nosso programa, — falou, paternal.

2 Finda a ligeira pausa em que nos registava a atenção, prosseguiu:

— Admito que devamos centralizar nossas observações em reduzido núcleo, onde melhor dispomos do fator qualidade. 3 Temos um grupo de dez companheiros encarnados, com quatro médiuns detentores de faculdades regularmente desenvolvidas é de lastro moral respeitável. Trata-se de pequeno conjunto, a serviço de uma instituição consagrada ao nosso ideal cristianizante. Desse grupo-base ser-nos-á possível alongar apontamentos e coletar anotações que se façam valiosas à nossa tarefa.

4 Fitou-nos com bondade por um instante de silêncio e acrescentou:

— Isso porque vocês pretendem especializar conhecimentos, em torno da mediunidade, apenas no Círculo terrestre, de vez que em nosso campo de ação espiritual o assunto seria muito menos complexo.

5 — Sim, — esclarecemos Hilário e eu, — desejávamos auxiliar, de algum modo, os irmãos encarnados, na execução de serviços em que se mostravam comprometidos. A oportunidade, por esse motivo, surgia diante de nós por verdadeira bênção.

6 Decorridos alguns minutos de entendimento afetuoso, o orientador convidou, solícito:

— Sigamos. Não há tempo a perder.


2. Logo após, muniu-se de pequena pasta e, talvez porque nos percebesse a curiosidade, informou, paciente:

— Temos aqui o nosso psicoscópio, de modo a facilitar-nos exames e estudos, sem o impositivo de acurada concentração mental.

2 Tomei o enigmático volume, chamando a mim o agradável serviço de transportá-lo, notando, então, que na Terra o minúsculo objeto não pesaria senão alguns gramas.

3 Espicaçado tanto quanto eu pela curiosidade, Hilário indagou sem preâmbulos:

— Psicoscópio? Que novo engenho vem a ser esse?

4 — É um aparelho a que intuitivamente se referiu ilustre estudioso da fenomenologia espirítica, em fins do século passado. Destina-se à auscultação da alma, com o poder de definir-lhe as vibrações e com capacidade para efetuar diversas observações em torno da matéria, — esclareceu Áulus, com leve sorriso. 5 — Esperamos esteja, mais tarde, entre os homens. Funciona à base de eletricidade e magnetismo, utilizando-se de elementos radiantes, análogos na essência aos raios gama. É constituído por óculos de estudo, com recursos disponíveis para a microfotografia.

6 E, enquanto demandávamos a cidade terrestre em que nos cabia operar, o mentor continuava explicando:

— Em nosso esforço de supervisão, podemos classificar sem dificuldade as perspectivas desse ou daquele agrupamento de serviços psíquicos que aparecem no mundo. Analisando a psicoscopia de uma personalidade ou de uma equipe de trabalhadores, é possível anotar-lhes as possibilidades e categorizar-lhes a situação. Segundo as radiações que projetam, planejamos a obra que podem realizar no tempo.

7 Meu colega e eu não conseguíamos sopitar a surpresa.

Entre assombrado e receoso, ousou Hilário inquirir:

— Quer isso dizer que qualquer de nós pode ser submetido a exame dessa espécie?

8 — Sem dúvida, — considerou o nosso interlocutor bem-humorado; — decerto que estamos sujeitos às sondagens dos Planos superiores, tanto quanto pesquisamos agora os Planos que se nos situam à retaguarda. 9 Se o espectroscópio permite ao homem perquirir a natureza dos elementos químicos, localizados a enormes distâncias, através da onda luminosa que arrojam de si, com muito mais facilidade identificaremos os valores da individualidade humana pelos raios que emite. 10 A moralidade, o sentimento, a educação e o caráter são claramente perceptíveis, através de ligeira inspeção.


3. — Mas, — indagou Hilário, investigador, — e na hipótese de surgirem elementos arraigados ao mal, numa formação de cooperadores do bem? De posse da ficha psicoscópica, os instrutores espirituais providenciar-lhes-ão a expulsão?

2 — Não será preciso. Se a maioria permanece empenhada na extensão do bem, a minoria encarcerada no mal distancia-se do conjunto, pouco a pouco, por ausência de afinidade.

3 — Contudo, — alegou ainda o meu companheiro, — que acontece numa instituição cujo programa elevado se degenera em desequilíbrio, induzindo-nos a reconhecer que a virtude aí não passa de bandeira fictícia, acobertando a ignorância e a perversidade?

4 — Então, nesse caso, — adiantou o interpelado, tolerante, — dispensamos qualquer regime de perseguição ou denúncia. Encarrega-se a vida de colocar-nos no lugar que nos compete.

5 E, sorrindo, ajuntou:

— Os Anjos ou Ministros da Eterna Sabedoria entregam-nos, com segurança, às forjas renovadoras do tempo e da provação. 6 Sabe-se, atualmente, na Terra, que um grama de rádio perde a metade do seu peso em dezesseis séculos e que um ciclotron, trabalhando com projéteis atômicos acelerados a milhões de elétrons-volt, realiza a transmutação dos elementos químicos de imediato. 7 A evolução vagarosa nos milênios ou o choque brusco do sofrimento alteram-nos o panorama mental, aprimorando-lhe os valores.

8 Essas notas arrastavam-nos a divagação noutros campos.

O Assistente revelava brilhante cultura, aliada a extremas facilidades de exposição.

9 Dispunha-me a ensaiar perguntas extra-serviço, mas, adivinhando-nos o intento, Áulus objetou:

— Toda conversação nobre é instrutiva, no entanto, por agora, guardemos o espírito no trabalho a fazer. O êxito não exonera a atenção. Se cairmos numa digressão acerca da química, o horário não nos desculpará.

10 Reajustando-se aos nossos objetivos, Hilário acentuou:

— O psicoscópio, só por si, dá margem a preciosas reflexões. Imaginemos uma sociedade humana que pudesse retratar a vida interior dos seus membros… Isso economizaria grandes quotas de tempo na solução de grandes problemas psicológicos.

— Sim, — anuiu o mentor, cordial, — o futuro reserva prodígios ao senso do homem comum.


4. Havíamos, porém, alcançado o portão de espaçoso edifício que o Assistente nos designou como sendo o santuário que nos competia visitar e servir.

2 — Esta é a casa espírita-cristã onde encontraremos nosso ponto básico de experiências e observações.

Entramos.

3 Atravessado largo recinto, em que estacionavam numerosas entidades menos felizes de nosso Plano, o orientador esclareceu:

— Vemos aqui o salão consagrado aos ensinamentos públicos. Todavia, o núcleo que buscamos jaz situado em reduto íntimo, assim como o coração dentro do corpo.

4 Escoados alguns instantes, penetramos acanhado aposento, onde se congregava reduzida assembleia, em silenciosa concentração mental.

5 — Nossos companheiros, — elucidou o Assistente, — fazem o serviço de harmonização preparatória. Quinze minutos de prece, quando não sejam de palestra ou leitura com elevadas bases morais. 6 Sabem que não devem abordar o mundo espiritual sem a atitude nobre e digna que lhes outorgará a possibilidade de atrair companhias edificantes e, por esse motivo, não comparecem aqui sem trazer ao campo que lhes é invisível as sementes do melhor que possuem.

7 Hilário e eu nos inclinávamos à indagação, contudo, a respeitabilidade do recinto impunha-nos silêncio.

Amigos da nossa Esfera ali se demoravam em oração, compelindo-nos a entranhado recolhimento.


5. O Assistente armou o psicoscópio e, depois de ligeira análise, recomendou-nos a observação.

2 Chegada a minha vez de usá-lo, assombraram-me as peculiaridades do aparelho.

Sem necessidade de esforço mental, notei que todas as expressões de matéria física assumiam diferente aspecto, destacando-se a matéria de nosso Plano.

3 Teto, paredes e objetos de uso corriqueiro revelavam-se formados de correntes de força, a emitirem baça claridade.

4 Detive-me na contemplação dos companheiros encarnados que agora apareciam mais estreitamente associados entre si, pelos vastos círculos radiantes que lhes nimbavam as cabeças de opalino esplendor.

5 Tive a impressão de fixar, em torno do apagado bloco de massa semi-obscura a que se reduzira a mesa, uma coroa de luz solar, formada por dez pontos característicos, salientando-se no centro de cada um deles o semblante espiritual dos amigos em oração.

6 Desse colar de focos dourados alongava-se extensa faixa de luz violeta, que parecia contida numa outra faixa de luz alaranjada, a espraiar-se em tonalidades diversas que, de momento, não pude identificar, de vez que a minha atenção estava presa ao círculo dos rostos fulgurantes, visivelmente unidos entre si, à maneira de dez pequeninos sóis, imanados uns aos outros. 7 Reparei que sobre cada um deles se ostentava uma auréola de raios quase verticais, fulgentes e móveis, quais se fossem diminutas antenas de ouro fumegante. 8 Sobre essas coroas que se particularizavam, de companheiro a companheiro, caíam do Alto abundantes jorros de luminosidade estelar que, tocando as cabeças ali irmanadas, pareciam suaves correntes de força a se transformarem em pétalas microscópicas, que se acendiam e apagavam, em miríades de formas delicadas e caprichosas, gravitando, por momentos, ao redor dos cérebros em que se produziam, quais satélites de vida breve, em torno das fontes vitais que lhes davam origem.

9 Custodiando a assembleia, permaneciam os mentores espirituais presentes, cada qual irradiando a luz que lhe era própria.


6. Admirado, porém, com os irmãos da Esfera física, a se revelarem tão afins, na onda brilhante em que se reuniam, perguntei, entusiástico:

2 — Áulus amigo, os companheiros que visitamos são, porventura, grandes iniciados na revelação divina?

O interpelado estampou um gesto de bom humor e respondeu:

3 — Não. Achamo-nos ainda muito longe de semelhantes apóstolos. Vemo-nos aqui na companhia de quatro irmãs e seis irmãos de boa vontade. 4 Naturalmente, são pessoas comuns. Comem, bebem, vestem-se e apresentam-se na Terra sob o aspecto vulgar de outras criaturas do ramerrão carnal; no entanto, trazem a mente voltada para os ideais superiores da fé ativa, a expressar-se em amor pelos semelhantes. 5 Procuram disciplinar-se, exercitam a renúncia, cultivam a bondade constante e, por intermédio do esforço próprio no bem e no estudo nobremente conduzido, adquiriram elevado teor de radiação mental.

6 Hilário, que utilizara o psicoscópio em primeiro lugar, alegou com o deslumbramento de uma criança espantada:

— Mas, e a luz? A matéria que conhecemos no mundo transfigurou-se. Tudo aqui se converteu em claridade nova! O espetáculo é magnífico!…

7 — Nada de estranheza, — falou o assistente, bondoso, — não sabe você que um homem encarnado é um gerador de força eletromagnética, com uma oscilação por segundo, registrada pelo coração? 8 Ignora, porventura, que todas as substâncias vivas da Terra emitem energias, enquadradas nos domínios das radiações ultravioleta? 9 Em nos reportando aos nossos companheiros, possuímos neles almas regularmente evolutidas, em apreciáveis condições vibratórias pela sincera devoção ao bem, com esquecimento dos seus próprios desejos. 10 Podem, desse modo, projetar raios mentais, em vias de sublimação, assimilando correntes superiores e enriquecendo os raios vitais de que são dínamos comuns.


7 — Raios vitais? — Redarguiu meu colega, faminto de esclarecimento.

2 — Sim, para maior limpidez da definição, chamemos-lhes raios ectoplásmicos, unindo nossos apontamentos à nomenclatura dos espiritistas modernos. 3 Esses raios são peculiares a todos os seres vivos. É com eles que a lagarta, realiza suas complicadas demonstrações de metamorfose e é ainda na base deles que se efetuam todos os processos de materialização mediúnica, porquanto os sensitivos encarnados que os favorecem libertam essas energias com mais facilidade. 4 Todas as criaturas, porém, guardam-nas consigo, emitindo-as em frequência que varia em cada uma, de conformidade com as tarefas que o Plano da Vida lhes assinala.

5 E, otimista, acrescentou:

— O estudo da mediunidade repousa nos alicerces da mente com o seu prodigioso campo de radiações. A ciência dos raios imprimirá, em breve, grande renovação aos setores culturais do mundo. Aguardemos o porvir,

Em seguida, Áulus convidou-nos a inspeção mais direta e acompanhamo-lo, alegremente.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir