O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Militares no Além — Autores diversos


ANEXO B


Irmandade da Santa Cruz dos Militares

Guilherme Nunes Ferreira


HISTÓRIA

A maioria dos cariocas que cruza a Rua 1º de Março não imagina que a Igreja da Santa Cruz dos Militares guarda um precioso patrimônio cultural. Ali se encontra um valioso acervo que rememora a sua história, desconhecida para muitos.

Em 1605, naquele local, foi construído por Martim de Sá o Forte de Santa Cruz para proteger a entrada da Baía de Guanabara contra os invasores estrangeiros que ameaçavam constantemente o Rio de Janeiro. A área bem próxima ao Forte era banhada pelo mar. Depois de aterrada, corresponde hoje ao entorno da Praça XV. Com o passar do tempo e com a construção das fortalezas de São João e de Santa Cruz, o Forte perdeu a sua importância no sistema de defesa da Baía de Guanabara, sendo abandonado e destruído pelo mar, cujas ondas arremetiam-se contra as suas muralhas, destruindo-as paulatinamente.

Em 14 de dezembro de 1623, Martim de Sá doou o terreno para que os militares construíssem uma ermida e fundassem a Irmandade que, inicialmente, recebeu o nome de Vera Cruz. A partir da sua criação, a Fraternidade passou a ser sustentada com recursos provenientes das doações dos membros da guarnição colonial portuguesa. Os militares faziam suas contribuições mensalmente. Oficiais superiores doavam cem réis, os subalternos, cinquenta, e os soldados, vinte. Martim de Sá foi eleito seu primeiro provedor.

O objetivo da irmandade era assistir e resguardar o efetivo da guarnição. Isto porque, antes da chegada da família real, em 1808, o Brasil, principalmente o Rio de Janeiro, era relegado a segundo plano. Havia apenas interesse da metrópole na exploração das riquezas naturais, como ouro, prata, pedras preciosas e outros. Nesse cenário, aflorava a necessidade dos militares de um local onde pudessem prestar cultos religiosos, dar sepultura aos mortos, bem como oferecer caridade cristã. Na mesma época, para as viúvas e os órfãos desses militares, foi criado um sistema de assistência social, que perdura até os dias de hoje e é considerado o mais antigo do Brasil.

Em 1716, por meio de uma carta de sesmarias escrita por D. João V tio de D. João VI, foi doado todo o terreno localizado atrás da Igreja, no espaço exato da sua largura, indo até o mar, não importando quantos aterros fossem necessários para que se construísse o casario que deu início ao patrimônio da Irmandade.

Antes da abolição da escravatura, muitos escravos comprados tornavam-se servidores da Igreja e depois ganhavam a liberdade. O Conde D’Eu, que foi provedor da Irmandade por influência da política que era adotada, aderiu, juntamente com a esposa, à causa abolicionista. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil.


CONSTRUÇÃO

Em 1770, uma vez que a ermida estava em precárias condições de conservação, à construção da Igreja atual se iniciou. A obra durou quarenta e um anos, sendo inaugurada em 1811, com a presença do Príncipe Regente. A sua construção foi baseada na Igreja de Géssus, em Roma, dos jesuítas, considerados os soldados de Cristo. Pretendiam os militares, com a execução do projeto, demonstrar semelhança com aqueles.

O Brigadeiro Custódio de Sá e Faria foi o autor do projeto de construção da Capela, cujo interior é de estilo rococó, considerado uma suavização do barroco. Mestre Valentin, um dos grandes escultores da época, realizou para a Igreja da Santa Cruz dos Militares várias obras de arte, como imagens, utensílios de madeira, entalhes e mobiliário. Essas são obras de grande valor que, somadas, constituem um dos maiores tesouros da cidade do Rio de Janeiro.

A fachada da edificação foi a primeira construída em estilo neoclássico no Brasil, destacando-se as suas linhas harmoniosas e em perfeito equilíbrio. Para que não fosse quebrado esse equilíbrio, a torre sineira foi colocada à moda de Braga, ou seja, na parte posterior do prédio, sendo a única igreja com essa característica na capital fluminense. n Outra razão da posição da torre é o fato de que sua fundação teria de aproveitar uma rocha ali existente, pela dificuldade que o terreno arenoso oferecia. Com o passar do tempo, a torre passou a servir de ponto de referência para os navios pescadores, que, ao entrarem na Baía de Guanabara, sabiam que ali era o local exato do mercado de peixes, o qual perdurou até meados de 1987. Apesar de não ser considerada oficialmente a capela da família real, a Santa Cruz dos Militares sempre foi prestigiada com a presença de seus membros, tanto assim que D. João VI foi condecorado com o título de protetor da Irmandade, assim como também, mais tarde, D. Pedro I e D. Pedro II.


MUSEU

Atualmente, a Igreja da Santa Cruz dos Militares possui um museu para guardar e preservar as relíquias acumuladas ao longo de sua história. É um variado acervo, destacando-se os tocheiros do Mestre Valentin, oratório e cálice de ouro do século XVIII, além da cadeira que Duque de Caxias usava em seu gabinete quando exerceu o cargo de provedor, em 1873. Outra relíquia é o órgão pneumático, construído pelos irmãos Bernes e inaugurado em 1934. O instrumento constitui-se de 1.200 tubos, cujos diafragmas foram confeccionados com pele de camelo. Existem somente dois outros órgãos similares a esse fabricados no Brasil.

A Irmandade da Santa Cruz dos Militares completou, recentemente, 382 anos. Ela é a única igreja do Brasil agregada diretamente à Basílica Vaticana, ato este sacramentado em Bula Papal de Pio XI, em 1923. O prédio da Igreja foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1936. O seu atual provedor é o Coronel de Artilharia Carlos Alberto Barcellos.

O Marechal Luiz Alves de Lima e Silva, provedor da Irmandade em 1871, assim definiu sua finalidade: “Os laços da espada nos unem, as lides de guerra nos ligam e os braços da cruz nos abrigam. Irmãos pela cruz e irmãos pela espada, a nossa missão é sagrada — santificar o culto do Divino Lenho e aliviar da miséria as viúvas e filhos dos que seguem a nobre profissão das armas. Eis a justa finalidade da sábia e religiosa instituição denominada Irmandade da Santa Cruz dos Militares.



[1] Nota do Autor: A expressão faz referência à cidade portuguesa de Braga, onde todas as igrejas foram construídas dessa forma.


Nota da Editora: O autor do artigo é natural do Rio de Janeiro. Jornalista, atualmente exerce a função de Relações Públicas da Irmandade da Santa Cruz dos Militares. Imagem disponível em: http://images.google.com.br. Acesso em 28 jan. 2008.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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