O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Mensagens de Inês de Castro — F. C. Xavier / Caio Ramacciotti / Inês de Castro


22


Isabel de Aragão, Chico Xavier e os Idos de 1910

Estamos em meados de 2011 e o centenário de nascimento de Chico Xavier aos poucos vai-se distanciando, ficando conosco os seus revérberos de luz, os Ecos do Centenário, que nos remetem sempre à saudade dos bons tempos de convivência.

Este capítulo é novo e retrata uma das conversas com o Chico, nos idos de 1977, referendada por longo texto que me enviou.

Era noite e falávamos com o agradável testemunho das estrelas do firmamento, no silêncio enigmático da madrugada, e o saudoso amigo contou-me um pouco dos preparativos de sua última reencarnação, ocorrida, como sabemos, a 2 de abril de 1910.

A beleza de suas palavras, a sublime narrativa são comoventes. Nelas sentimos o amor de Chico Xavier por sua mãe, Maria de João de Deus, e a profunda afinidade do médium com Isabel de Aragão. ( † )

Aliás, no capítulo anterior, Isabel de Aragão e Chico Xavier, já podemos ter ideia das ligações de Chico com a rainha santa, quando Isabel o visita, a 10 de julho de 1927, e lhe fala de sua missão de divulgar a doutrina para os povos de língua portuguesa.

Neste capítulo, que recorda o nascimento de Francisco Cândido Xavier, reitero minha gratidão ao amigo, que tanto me sensibilizou com seus relatos sobre Inês de Castro ( † ) e Isabel de Aragão.

Contou-me Chico que, próximo ao seu nascimento, ocorreu no Plano Espiritual importante reunião com Isabel de Aragão e outros elevados Espíritos, a fim de estabelecer seu retorno à Terra.

E, durante os preparativos para sua reencarnação, Chico, com alguns Benfeitores, visitou o lar que o abrigaria, assim descrevendo a emoção do reencontro com a futura mãe:

— De minha parte, pela primeira vez, enxergava a paisagem de Pedro Leopoldo. ( † )

Era bem um vale úmido a vila modesta que pisávamos.

Uma cachoeira de águas claras n parecia cantar no terreno recentemente desbravado, e as linhas da via férrea se me figuravam antenas horizontais do progresso que penetrava pelo verde adentro.

O ribeiro separava o povoado em duas regiões distintas. Do lado norte, de que vínhamos, estava a indústria nascente dos tecidos de algodão, e, para cá do ribeiro, no lado sul, o casario escasso parecia um conjunto de grandes pombais caiados de branco.

A oeste, o sol entrava no poente.

Entrei, com Benfeitores Amigos, numa rua que se abria, como até hoje, à frente da igreja, singela mas já construída em louvor da Mãe de Jesus.

Estacamos à porta de entrada da casa que seria o meu lar. Aguardamos alguns minutos de expectação, quando jovem senhora, em companhia de outras, se destacou para entrar na residência humilde.

Era morena, de baixa estatura, vestindo roupa simples e de sorriso amigo, evidenciando resignação e simplicidade. Os cabelos trançados se lhe enrodilhavam de modo gracioso na cabeça. Despediu-se das companheiras que seguiram à frente e passou por nós sem ver-nos.

Um dos Benfeitores explicou:

— Esta é a nossa irmã tutelada de João de Deus. Em várias existências, brilhou na cultura do mundo e, por várias vezes, se consagrou à religião em casas de fé.

No entanto, em fins do século passado, pediu a maternidade por tarefa primordial, rogando ambiente de extrema carência material, para burilar-se na própria alma.

Tem agora a idade de vinte e seis anos na experiência física, um marido operário, junto de quem é humilde tecelona numa fábrica de tecidos, e já foi mãe de oito filhos, tendo perdido uma filhinha desencarnada em idade tenra e mantendo ainda sete que estão em crescimento.

Chico continuou:

— Uma simpatia profunda me ligou imediatamente àquela mulher humilde e tranquila. Parecia-me rever em roupagem diferente uma irmã querida de quem me afastara sem precisar por quanto tempo. Incapaz de explicar a emoção que me dominava, caí em pranto em que a dor se misturava com a alegria, pois reencontrava uma criatura afetuosa e amiga.

Lembro-me de que não me pude conter e caminhei para ela, envolvendo-a num grande abraço. A senhora sentiu profunda comoção e começou também a chorar, ignorando como explicar a si própria o motivo de tantas lágrimas.

Decorridos instantes, entrou o marido, um homem claro, magro e alto, usando colete antigo sob o paletó comum e, após retirar um boné que trazia na cabeça pintalgada de algodão, perguntou:

— Maria, o que houve, porque chora?

— João — respondeu ela — eu mesma não sei. Estou assim como quem se recorda de alguém que a gente ama e que a morte não mais nos deixa ver…

— Você andou lendo algum romance, falou aquele que iria ser meu pai.

— Não, nada li… É apenas um estado estranho em que entrei…

O dono da casa buscou o interior da moradia, de onde vinham vozes e gritos de crianças, e Maria de João de Deus sentou-se e orou, ali mesmo, na sala estreita, pedindo a Jesus a paz de quem ali estivesse, na condição de alma em saudade e sofrimento.

Penetrei nos recantos da casa, na qual deveria em breve habitar. A pobreza e a simplicidade de tudo faziam-me chorar.

Retornamos à Vida Espiritual e, pouco tempo mais tarde, voltei para que me ligasse a Maria de João de Deus em definitivo.

Foi em 1910, quando tive a obrigação de obedecer a severas disciplinas, para que tudo ocorresse segundo a Vida Maior e não conforme os meus ideais, egoísticos talvez, de felicidade e de amor.

Chico Xavier


Caio Ramacciotti



  [1] [Ver imagens do pequeno açude e da cachoeira onde o Chico viu Emmanuel pela primeira vez e onde costumava meditar. (Imagem 1)  (Imagem 2)]


Texto extraído da 35ª edição desse livro, revisto e ampliado pelo autor.

Abrir