O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Libertação — André Luiz


19


Precioso entendimento

(Sumário)

1. Certo, acreditando haver transmitido a nós outros os ensinamentos que podíamos receber, a nobre mensageira recomendou a Elói trouxesse Margarida àquele plenário amoroso, deixando perceber que pretendia consolidar-lhe o equilíbrio e fortalecer-lhe a resistência.

2 Transcorridos alguns minutos, a esposa de Gabriel, que se convertera em objeto de nossas melhores atenções naqueles dias, desligada do envoltório denso, compareceu no cenáculo.

3 Mostrava passo vacilante e estranho alheamento no olhar, revelando a semi-inconsciência em que se demorava.

Ao que me pareceu, a luz reinante não lhe afetou o olhar.

Caracterizava-se, naquela hora, pelos movimentos impulsivos, caminhando, em nosso meio, qual se fora sonâmbula vulgar.

4 Maquinalmente se asilou nos braços maternos que Matilde lhe oferecia e, tão depressa se acolheu no regaço da benfeitora que a envolvia em doce ternura, reagiu, favoravelmente, contemplando-nos, então, assustadiça. Parecia acordar, pouco a pouco…

5 A protetora, interessada em despertar-lhe alguns centros importantes da vida mental começou a aplicar-lhe passes ao longo do cérebro, operações que não pude compreender tão bem quanto desejava. Reparei, contudo, que Matilde lhe aplicava recursos magnéticos sobre os condutores nervosos do órgão de manifestação do pensamento, tanto quanto ao longo de toda a região do simpático, 6 esclarecendo-me o Instrutor, mais tarde, que o estado natural da alma encarnada pode ser comparado, em maior ou menor grau, à hipnose profunda ou à anestesia temporária, a que desce a mente da criatura através de vibrações mais lentas, peculiares aos Planos inferiores, para fins de evolução, aprimoramento e redenção, no espaço e no tempo.

7 Fenômenos de metabolismo, na organização perispirítica, fizeram-se patentes à nossa observação, porque Margarida expelia, através do tórax e das mãos, fluidos cinzento-escuros, em forma de vapor tenuíssimo, a desfazer-se no vasto oceano de oxigênio comum. Logo após semelhante “operação de limpeza”, as zonas do sistema endocrínico emitiam radiações diamantinas, figurando-se uma constelação de caprichosos contornos a brilhar nas sombras do perispírito, até ali opaco e vulgar.

8 Do peito de Matilde ondas luminosas partiam ininterruptas e tudo nos fazia crer que a tutelada de Gúbio se achava, naquela hora, num banho autêntico de essências divinas.

9 A certa altura do singular processo de despertamento, a jovem senhora abriu desmedidamente os olhos, qual criança espantada, e fixou-nos com expressão de assombro, ensaiando movimentos de recuo e pavor. Mas, em se voltando para o semblante doce e iluminado da benfeitora, aquietou-se, brandamente, como que magnetizada por indefinível amor.

10 Matilde osculou-a, enternecida, e, ao contato daqueles lábios sublimes, Margarida, mostrando-se tocada nos recessos do ser, abraçou-lhe o busto, evidenciando ânsia suprema de integração espiritual.


2. Parecendo desvairada de repentino júbilo, bradou, em lágrimas comoventes:

— Mãe! Querida mãezinha!

2 — Sim, minha filha, sou eu, — disse a interlocutora, afagando-a com extremado afeto; — o amor jamais desaparece! A união das almas vence o tempo e a morte.

3 — Porque me abandonaste? — Inquiriu a esposa de Gabriel, colando-se-lhe ao coração, num transporte de inexprimível ventura.

— Nunca te esqueci, — elucidou a benfeitora, acolhendo-a com mais intensa ternura. — 4 O país da “neblina carnal” muitas vezes parece distanciar-nos uns dos outros; entretanto, sombra alguma conseguirá separar-nos. Nossas aspirações e esperanças se confundem, quais pontos de luz, nas trevas da separação, assim como as estrelas se assemelham a balizas brilhantes no nevoeiro noturno, recordando-nos o infinito e a eternidade.

5 Ao som caricioso daquelas palavras, a ex-obsidiada parecia acordar cada vez mais largamente em nosso Plano.

De olhos ansiosos, fixos na protetora, como que magnetizada por incomensurável afeto, ponderou, entre lágrimas:

— Mãezinha querida, estou cansada e infeliz!

— Quando a boa luta apenas começa? — Perguntou Matilde, sorrindo.

6 — Sinto-me cercada de inimigos sem entranhas. Devo ser atormentada dia e noite. Noto invencível antagonismo entre meus sentimentos e a realidade humana. O próprio matrimônio, em que eu depositava os mais caros sonhos, não me foi senão escuro livro de desenganos cruéis. Trago meu coração extenuado e oprimido. Frustração e ruína espiritual seguem-me de perto… Por isto, sou um fardo pesado ao esposo dedicado e digno de melhor sorte…

Soluços violentos impediram-na de continuar.

7 A veneranda emissária enxugou-lhe o pranto e falou, bondosa:

— Margarida, viver no corpo terrestre, entendendo os deveres divinos que nos cabem, não é tão fácil, ante a glória infinita que em companhia dele podemos recolher. Todos possuímos culposo pretérito a redimir. 8 É imperioso reconhecer, todavia, que, se a experiência humana pode ser doloroso curso de renunciação pessoal, é também abençoada escola em que o Espírito de boa vontade pode alcançar culminâncias. Para isto, no entanto, é indispensável se abra o coração ao clima interior da bondade e do entendimento. 9 Somos diamantes brutos, revestidos pelo duro cascalho de nossas milenárias imperfeições, localizados pela magnanimidade do Senhor na ourivesaria da Terra. A dor, o obstáculo e o conflito são bem-aventuradas ferramentas de melhoria, funcionando em nosso favor. Que dizer da pedra preciosa que fugisse às mãos do lapidário, do barro que repelisse a influência do oleiro? 10 Modifica as mais íntimas disposições, com referência aos adversários. O inimigo nem sempre é uma consciência agindo deliberadamente no mal. Na maioria das vezes, atende à incompreensão quanto qualquer de nós; procede em determinada linha de pensamento, porque se acredita em roteiro infalível aos próprios olhos, nos lances do trabalho a que se empenhou nos círculos da vida; enfrenta, qual ocorre a nós mesmos, problemas de visão que só o tempo, aliado ao esforço pessoal na execução do bem, conseguirá decidir. O batráquio e a ave caracterizam-se por impulsos diferentes, não obstante filhos do mesmo mundo. É necessário, Margarida, sabermos utilizar o inimigo, nele situando nossa lição benfeitora. 11 A rigor, em vista da nossa posição de inferioridade, seremos adversários naturais da obra dos Anjos, na Esfera menos elevada que atravessamos presentemente; todavia, as Potências Angélicas não nos punem a incapacidade temporária de compreensão ante os serviços divinos que lhes cabem na economia do Universo. Ao invés de condenar-nos, identificam-nos as deficiências compadecidamente e estendem-nos braços fraternos, através de mil recursos invisíveis e indiretos, a fim de que aprendamos a escalar o monte da sublimação, em marcha para os cumes celestes.

12 Verificando-se pequena pausa nas observações maternais, a jovem senhora obtemperou, enlevada:

— Amada mãezinha! Pudessem meus ouvidos guardar sempre a doce música de tuas palavras! Tristemente, antevejo o torvelinho das dificuldades terrenas a que devo retornar. Tudo agora é consolação e esperança; todavia, amanhã serei novamente prisioneira no cárcere físico e caminharei de memória anestesiada, em conflito incessante com os monstros que me assediam!

13 — Este, filha, — acrescentou Matilde, afetuosa, — é o imperativo da tarefa que te compete realizar. Entretanto, não percas os tesouros do tempo em considerações inúteis. Enche as tuas horas de trabalho salutar com a possível harmonia, fonte de toda a beleza. 14 A inteligência que, de algum modo, já se evadiu das limitações da animalidade, encontra-se no corpo de carne, à maneira do lidador num estádio de provas benfeitoras. Lá dentro, na arena das possibilidades sublimes que a região do nevoeiro oferece, há quem se encaminhe para cima e há quem se dirija para baixo. 15 Não fujas ao óbice valioso na corrida de aperfeiçoamento, nem sorvas o mentiroso elixir da ilusão, apaixonadamente usado por todos os que se deixaram vencer pelas tentações do desânimo, incapazes de aceitar o desafio que o mundo lhes endereça. 16 A vida, para toda alma que triunfa no carreiro áspero, é serviço, movimento, ascensão; e, à rajada de luta que te conduzirá ao píncaro luminoso, não te suponhas sozinha na jornada áspera, outras, aos milhares, suam e sangram, em silêncio. 17 Passam na cena do mundo, sem o afeto de um esposo e sem a bênção de um lar. Não conhecem, como tu, a dádiva de um corpo normal, nem podem guardar os mínimos sonhos que arregimentas no coração feminil. 18 São homens esquecidos e mulheres desamparadas que passam despercebidos e humilhados, do berço ao túmulo. Respiram em regime de tortura moral e seguem, estrada afora, desprotegidos e dilacerados, aos olhos do mundo, abafando os próprios soluços que, se ouvidos, lhes acarretariam implacável punição. 19 Entretanto, apesar do espesso véu de lágrimas que lhes dificulta a marcha, continuam caminhando impávidos, contando com um amanhã, cada vez mais impreciso e distante, que parece ocultar-se, indefinido, nos horizontes sem fim.


3. Margarida, que assinalava enternecidamente a argumentação, rogou, súplice:

— Mãezinha querida, ensina-me a continuar. Desejo honrar a bendita oportunidade que recebi!

2 — Não procures ser atendida em todos os teus desejos, — falou a benfeitora, suavemente, — mas procura servir, fraternalmente, a quantos te reclamem arrimo e braço forte.

3 Ajuda, antes de procurares auxílio.

4 Compreende, sem exigir compreensão imediata.

5 Desculpa os outros, sem desculpar a ti mesma.

6 Ampara, sem a intenção de ser amparada.

7 Dá, sem o propósito de receber.

8 Não persigas o respeito humano que te faça aparecer melhor que és, mas busca, em todo tempo e lugar, a bênção divina na aprovação da própria consciência.

9 Não procures destacada posição, diante dos outros; antes de tudo, aperfeiçoa os teus sentimentos, cada vez mais, sem propaganda de tuas virtudes vacilantes e problemáticas.

10 Age corretamente e esquece as frases vazias ou venenosas da maledicência contumaz.

11 Em te socorrendo das diretrizes alheias, desconfia das palavras que te lisonjeiem a fantasiosa superioridade pessoal ou que te inclinem à dureza de coração.

12 Diante da fartura ou da escassez, recorda o serviço que o Senhor te convocou a realizar e produze o bem em seu nome, onde estiveres.

13 Lembra-te de que a experiência na carne é demasiadamente breve e que a tua cabeça deve permanecer tão cheia de ideais santificantes, quanto as mãos repletas de trabalho salutar.

14 Para que atendas, porém, a semelhante programa, é imprescindível abras o coração ao sol renovador do Sumo Bem.

15 De alma cerrada ao interesse pela felicidade do próximo, jamais encontrarás a própria felicidade.

16 A alegria que improvisares, em torno dos pés alheios, te fará mais rica de júbilo.

17 Na paz que semeares, encontrarás a colheita da paz que desejas.

18 Estes, são princípios da vida radiante.

19 No insulamento, ninguém recolherá a suprema alegria.

20 Para a sabedoria divina, tão infortunado é o pastor que perdeu o rebanho, quanto a ovelha que perdeu o pastor.

21 A desistência de ajudar é tão escura quanto o relaxamento de extraviar-se.

22 O egoísmo conseguirá criar um oásis, mas nunca edificará um continente.

23 É indispensável, Margarida, aprenderes a sair de ti mesma, auscultando a necessidade e a dor daqueles que te cercam.


4. Nesse ínterim, calou-se a voz da protetora e, sentindo-se banhada na infinita luz daqueles momentos inesquecíveis, a esposa de Gabriel indagou, embriagada de ventura:

— Ó Deus! Pai Misericordioso, a que devo atribuir a graça inolvidável desta hora?

2 Matilde, pretendendo talvez imprimir ampla familiaridade à cena a que assistíamos, levantou-se, abraçada à filha espiritual, e, caminhando ao nosso encontro, apresentou-nos a ela, por particulares amigos.

3 Confraternizadora palestra estabeleceu-se, extinguindo-se a onda de lágrimas que nos visitava, indistintamente, ante a conversação comovedora e inesquecível.

4 Chegou, entretanto, o momento em que a benfeitora se revelou interessada em despedir-se. Antes, porém, cravou o olhar muito lúcido na ex-obsidiada e falou-lhe, resoluta:

5 — Margarida, agora que reténs, tanto quanto possível, regular consciência de ti mesma em nossa Esfera de ação, ouve o apelo que te endereçamos. Não suponhas que te visito pelo simples prazer de consolar-te, o que seria talvez induzir-te ao caminho da despreocupação irresponsável que nunca nos dirige à verdadeira paz. 6 A finalidade divina há de ser, em tudo, a alma de nossa ação. O lavrador que amanha o solo e o socorre com irrigação confortadora, algo espera da sementeira que lhe reclama o esforço diário. O amparo do Alto, direto ou indireto, reservado ou ostensivo, não é apenas mera exibição de poder celestial. 7 Os moradores dos Círculos mais elevados não se arriscariam a descer, sem objetivos de ordem superior, ao domicílio da mente encarnada, assim como os artistas da inteligência não se animariam a movimentar espetáculos de cultura intelectual, sem fins educativos, junto aos irmãos de raciocínios e sentimentos ainda rudimentares ou inferiores. 8 O tempo é valioso, minha filha, e não podemos menoscabá-lo, sem grave prejuízo para nós mesmos.

9 Ante a expressão de surpresa que a tutelada de Gúbio estampava no semblante inquieto, Matilde continuou:

— Em breves anos, voltarei também ao círculo de lutas em que te debates.

10 — Tu? — Gritou Margarida, apalermada, ante a perspectiva de renascimento carnal para o ser iluminado que se mantinha à nossa vista, — porque te seria imposta semelhante pena?

11 — Não te guardes em tamanha incompreensão da lei do trabalho, — ajuntou a mensageira, sorrindo; — a reencarnação nem sempre é simples processo regenerativo, embora, na maioria das vezes, constitua recurso corretivo de Espíritos renitentes na desordem e no crime. 12 A Crosta da Terra é comparável a imenso mar onde a alma operosa encontra valores eternos aceitando os imperativos de serviço que a Bondade Divina nos oferece. 13 Além disso, todos temos doces laços do coração, que se demoram, por muitos séculos, retidos ao fundo do abismo. É indispensável buscar as pérolas perdidas para que o paraíso não permaneça vazio de beleza ao nosso olhar. 14 Depois de Deus, o amor é a força gloriosa que alimenta a vida e move os mundos.


5. A benfeitora fitou a jovem senhora, enlevada, fez pequena pausa e aduziu:

2 — Em razão disto, espero não desconheças a santidade do ministério maternal, na orientação dos Espíritos renascentes. 3 Nossas melhores possibilidades se perdem na “esfera do recomeço”, por falta de braços decididos e conscientes que nos guiem através dos labirintos do mundo. 4 Carinho, quase sempre, não falta no santuário familiar, onde a alma se habilita à recapitulação de valiosa aventura; entretanto, a ternura absoluta é tão nociva quanto a absoluta aspereza. 5 Não ignoras, filha amada, que a entidade mais enobrecida, em retomando o veículo de carne, é compelida a sofrer-lhe os regulamentos. As leis fisiológicas, que dominam na Crosta, não fazem exceção. Impõem-se sobre os justos com o mesmo rigor dentro do qual funcionam para os pecadores. 6 O anjo que desça ao fundo da mina de carvão continuará naturalmente a ser um anjo na vida íntima; entretanto, não escapará ao clima deprimente do subsolo. O esquecimento temporário me acompanhará, nos abafadores das células físicas, mas o êxito desejável somente me felicitará se eu puder contar com a tua orientação robusta e vigilante.


6. Bem sei que, depois, regressando por tua vez ao envoltório que te liga ao Círculo comum da luta terrestre, olvidarás, igualmente, a nossa conversação desta hora. 2 No entanto, a saúde e a harmonia que te inundarão a estrada doravante, n aliadas ao otimismo e à esperança, que persistirão em teu espírito por recordações indeléveis e vagas destes instantes divinos, não te deixarão esquecer de todo.

3 Defende o teu corpo, como quem preserva um recipiente sagrado para o serviço do Senhor e espera-me em tempo breve.

Viveremos mais juntas, na peregrinação meritória.

4 Nos abençoados elos do sangue seremos mãe e filha, de maneira a aprendermos, mais intensamente, a ciência da fraternidade universal.

5 Realmente, Margarida, o meu retorno ser-te-á sacrifício doloroso ao corpo frágil e delicado; todavia, ajuda-me na sementeira renovada para que eu te seja útil na colheita infalível.

6 Não me recebas, nos braços, por boneca mimosa e impassível. Adornos externos nunca trazem felicidade legítima ao coração, e, sim, o caráter edificado e cristalino, base segura de que se expande a boa consciência. 7 A estufa pode alimentar as flores mais lindas da Terra, mas não produz os melhores frutos. A árvore benfeitora não prescindirá do carinho e da assistência constante do pomicultor. É imperioso reconhecer, porém, que somente se fortalecerá sob a temperatura atormentadora da canícula, debaixo de aguaceiros salutares ou aos golpes da ventania forte. 8 A luta e o atrito são bênçãos sublimes, através das quais realizamos a superação de nossos velhos obstáculos. É necessário não menosprezá-los, identificando neles o ensejo bendito de elevação.

9 Compreende-me as necessidades para que eu te possa entender no momento justo. As conveniências humanas são respeitáveis, mas as conveniências espirituais são divinas. Auxilia-me a conquistar equilíbrio nas primeiras, a fim de atender aos imperativos celestiais do Espírito eterno. 10 Logo que me sintas nos braços, não me relegues à garridice e à inutilidade, a pretexto de guardar-me em maternal proteção. Não é com enfeites exteriores que ajudaremos o vegetal precioso a crescer e frutificar, mas, sim, com o esforço perseverante da enxada, com a vigilância na defesa, com o adubo estimulante e com a poda benfeitora. 11 Não me percas de vista, para que o amor e a gratidão a Deus perdurem para sempre em minha memória frágil. Socorre-me em tempo para que eu seja útil, no momento oportuno.

12 Edificados com a lição indireta que se nos administrava, reparamos que Margarida, em copioso pranto, prometia tudo quanto lhe era solicitado.


7. A doce palestra interessava-nos a todos e, por nossa vontade, seria indefinidamente alongada no tempo; porém, Matilde agora revelava no olhar a preocupação de ausentar-se.

2 Dirigiu, ainda, brandas frases de reconforto à filha querida, envolveu-a em operações magnéticas, reajustando-lhe os centros perispiríticos, carinhosamente, e rogou o auxílio de Elói para que a esposa de Gabriel regressasse ao envoltório carnal.

3 Despedindo-se em definitivo, a grande mentora acrescentou algumas recomendações de adeus.

— Margarida, — disse, bondosa, — não te esqueças do reino de beleza que podes improvisar no santuário doméstico.

4 Foge, resoluta, dos perigosos fantasmas do ciúme e da discórdia. Aprende a renunciar, nas questões pequeninas, para recolheres com facilidade a luz que emana do sacrifício. Não comprometas, por bagatelas, o êxito espiritual que a experiência te pode oferecer. 5 Estás livre dos males exteriores, mas ainda te não libertaste dos males próprios. Confia no Divino Poder e não desfaleças, ainda mesmo quando a tempestade te açoite as fibras mais íntimas do coração.

6 Mãe e filha permutaram um abraço cheio de indefinível ternura e, encaminhando-se para Gúbio, a este explicou Matilde, discreta, o trabalho que planejara para as horas seguintes, asseverando que nos esperaria em paisagem próxima.

7 Logo após, agradeceu-nos com extrema gentileza, não nos oferecendo oportunidade de exprimir-lhe o reconhecimento e o júbilo que nos possuíam a alma.

8 Em seguida, ausentou-se, restituindo, naturalmente, ao nosso orientador as forças que lhe subtraíra, em caráter temporário.

9 Gúbio, então, retomou as rédeas do trabalho, notificando que, exceção feita a quatro companheiros que montariam guarda fraterna junto ao lar de Gabriel, deveríamos partir todos, na direção dos Círculos mais altos com escala em um dos “campos de saída” da Esfera carnal. n


André Luiz



[1] No original: “de ora avante”.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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