O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Entre a Terra e o Céu — André Luiz


1


Em torno da prece

(Sumário)

1. No Templo do Socorro, n o Ministro Clarêncio comentava a sublimidade da prece, e nós o ouvíamos com a melhor atenção.

2 — Todo desejo, — dizia, convincente, — é manancial de poder. A planta que se eleva para o alto, convertendo a própria energia em fruto que alimenta a vida, é um ser que ansiou por multiplicar-se…

3 — Mas todo petitório reclama quem ouça, — interferiu um dos companheiros. — Quem teria respondido aos rogos, sem palavras, da planta?

4 O venerando orientador respondeu, tranquilo:

— A Lei, como representação de nosso Pai Celestial, manifesta-se a tudo e a todos, através dos múltiplos agentes que a servem. No caso a que nos reportamos, o Sol sustentou o vegetal, conferindo-lhe recursos para alcançar os objetivos que se propunha atingir.

5 E, imprimindo significativa entonação à voz, continuou:

— Em nome de Deus, as criaturas, tanto quanto possível, atendem às criaturas. Assim como possuímos em eletricidade os transformadores de energia para o adequado aproveitamento da força, temos igualmente, em todos os domínios do Universo, os transformadores da bênção, do socorro, do esclarecimento… 6 As correntes centrais da vida partem do Todo-Poderoso e descem a flux, transubstanciadas de maneira infinita. Da luz suprema à treva total, e vice-versa, temos o fluxo e o refluxo do sopro do Criador, através de seres incontáveis, escalonados em todos os tons do instinto, da inteligência, da razão, da humanidade e da angelitude, que modificam a energia divina, de acordo com a graduação do trabalho evolutivo, no meio em que se encontram. 7 Cada degrau da vida está superlotado por milhões de criaturas… O caminho da ascensão espiritual é bem aquela escada milagrosa da visão de Jacob, ( † ) que passava pela Terra e se perdia nos céus… 8 A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina. Desejos banais encontram realização próxima na própria Esfera em que surgem. Impulsos de expressão algo mais nobre são amparados pelas almas que se enobreceram. Ideais e petições de significação profunda na imortalidade remontam às Alturas…

9 O mentor generoso fez pequeno intervalo, como a dar-nos tempo para refletir e acentuou:

— Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de frequência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras. 10 Sabemos que a Humanidade Universal, nos infinitos mundos da grandeza cósmica, está constituída pelas criaturas de Deus, em diversas idades e posições… 11 No Reino Espiritual, compete-nos considerar igualmente os princípios da herança. Cada consciência, à medida que se aperfeiçoa e se santifica, aprimora em si qualidades do Pai Celestial, harmonizando-se, gradativamente, com a Lei. 12 Quanto mais elevada a percentagem dessas qualidades num Espírito, mais amplo é o seu poder de cooperar na execução do Plano Divino, respondendo às solicitações da vida, em nome de Deus, que nos criou a todos para o Infinito Amor e para a Infinita Sabedoria…


2. Quebrando o silêncio que se fizera natural para a nossa reflexão, o irmão Hilário perguntou:

2 — Contudo, como interpretar o ensinamento, quando estivermos à frente de propósitos malignos? Um homem que deseja cometer um crime estará também no serviço da prece?

3 — Abstenhamo-nos de empregar a palavra “prece”, quando se trate do desequilíbrio, — aduziu Clarêncio, bondoso, — digamos “invocação”.

4 E acrescentou:

— Quando alguém nutre o desejo de perpetrar uma falta está invocando forças inferiores e mobilizando recursos pelos quais se responsabilizará. 5 Através dos impulsos infelizes de nossa alma, muitas vezes descemos às desvairadas vibrações da cólera ou do vício e, de semelhante posição, é fácil cairmos no enredado poço do crime, em cujas furnas nos ligamos, de imediato, a certas mentes estagnadas na ignorância, que se fazem instrumentos de nossas baixas realizações ou das quais nos tornamos deploráveis joguetes na sombra. 6 Todas as nossas aspirações movimentam energias para o bem ou para o mal. Por isso mesmo, a direção delas permanece afeta à nossa responsabilidade. 7 Analisemos com cuidado a nossa escolha, em qualquer problema ou situação do caminho que nos é dado percorrer, porquanto o nosso pensamento voará, diante de nós, atraindo e formando a realização que nos propomos atingir e, em qualquer setor da existência, a vida responde, segundo a nossa solicitação. Seremos devedores dela pelo que houvermos recebido.

8 O Ministro sorriu, benevolente, e lembrou:

— Estejamos convictos, porém, de que o mal é sempre um círculo fechado sobre si mesmo, guardando temporariamente aqueles que o criaram, qual se fora um quisto de curta ou longa duração, a dissolver-se, por fim, no bem infinito, à medida que se reeducam as Inteligências que a ele se aglutinam e afeiçoam. O Senhor tolera a desarmonia, a fim de que por intermédio dela mesma se efetue o reajustamento moral dos Espíritos que a sustentam, de vez que o mal reage sobre aqueles que o praticam, auxiliando-os a compreender a excelência e a imortalidade do bem, que é o inamovível fundamento da Lei. 9 Todos somos senhores de nossas criações e, ao mesmo tempo, delas escravos infortunados ou felizes tutelados. Pedimos e obtemos, mas pagaremos por todas as aquisições. A responsabilidade é princípio divino a que ninguém poderá fugir.

10 Nesse instante, uma jovem de semblante calmo penetrou no recinto e, dirigindo-se ao nosso orientador, falou algo aflita:

— Irmão Clarêncio, uma de nossas pupilas do quadro de reencarnações sob suas diretrizes pede socorro com insistência…

— É um apelo individual urgente? — indagou o Ministro, preocupado.

— É assunto inquietante, mas numa prece refratada.

O prestimoso instrutor convidou-nos a acompanhá-lo e seguimo-lo, atentamente.


André Luiz



[1] Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor — Nota do Autor espiritual.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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