O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Enxugando lágrimas — Familiares diversos


8


Carta de um pai agradecido

Uberaba, 23-10-1971.


1 Querida Lélia, filha querida. Deus nos ampare. Estamos aqui, ao seu lado, e pedimos a continuidade de sua fortaleza e resignação.

2 Quatro anos se passaram, em que tivemos de descer do píncaro da alegria com o enlace de nossa querida Simone n para sofrer a despedida de nosso Alvicto. n

3 Sabemos como foi rude a prova, mas você, minha filha, está no centro do lar, abençoando e sustentando os filhos queridos. Do que você orou, chorou, pediu a Deus e aceitou com humildade, os nossos Amigos da Vida Maior entretecem os recursos que lhe fazem a resistência para continuar.

4 Nosso Alvicto está presente e beija-lhe as mãos. Estimaria escrever, mas ainda não consegue.

5 Só mesmo aqui, no outro lado da vida, é que podemos compreender as dificuldades daqueles que amam, transformados em emoções indizíveis a lhes tomarem todo o ser, diante da situação nova em que desejariam tudo dizer de arranco aos entes queridos que ficaram na Terra, sem possibilidade de fazer isso, de modo a derramar o próprio coração nas palavras. Esperemos.

6 Pede-lhe, o companheiro amigo e dedicado, serenidade e amor em todas as situações, de modo a que os filhos queridos permaneçam em harmonia com os problemas do mundo, que só se consegue solucionar com tempo e paciência. Você nos compreende e isso nos reconforta.

7 Estamos mais fortemente ao lado de nossa Nayá n nestes dias, contando com o amparo de Jesus em nosso favor.

8 A vida, filha, é assim como luz entre dois mundos. O amor nos faz agir na Terra, impulsionados pela falta e pela saudade que nos impõem todos aqueles que nos antecederam na morte, e, no Mundo Espiritual, a mesma saudade e a mesma falta que sentimos dos nossos entes queridos que, ainda na Terra, nos induzem a agir para que estejamos todos na mesma faixa de abençoada união.

9 Reconforte nossos familiares com a sua fé viva e com a sua compreensão. E creia, o seu trabalho de agora é uma luz sempre maior. Nunca se veja intimamente isolada, porque você não está só.

10 Guarde a esperança no coração por luz incessante, e conserve a bendita certeza de que a morte é sempre vida, e vida muito maior e muito mais ampla do que a vida em que permanecemos na Terra enquanto no corpo físico.

11 Para todas as filhas queridas e para o nosso Leônidas, o nosso abraço do coração.

12 E de pensamento ligado à nossa Nayá e saudando a nossa estimada irmã e amiga que nos acompanha fraternalmente, a nossa Maria, com os agradecimento a todos os irmãos que nos possibilitam escrever esta carta, abraça a você, carinhosamente, o pai reconhecido e amigo que não a esquece,


Antenor


DIFICULDADES DAQUELES QUE AMAM


Para que possamos compreender e sentir tanto quanto possível, a carta de Antenor, na qual enfatiza ele seu agradecimento à filha — Sra. Lélia — pela “continuidade de sua fortaleza e resignação”, depois da rude prova por que passou, descendo do píncaro da alegria com o enlace matrimonial da filha para sofrer a despedida do esposo, pelas vias da morte, rogamos vênia ao leitor para transcrever dois trechos da obra Voltei: n

O primeiro deles, extraímos do prefácio da obra, recebido pelo médium Xavier, a 19 de fevereiro de 1948, e o segundo da parte final do capítulo 2 — “À frente da morte” —, com o subtítulo de “Minha Filha!”

“Enquanto no corpo”, — afirma Irmão Jacob ( † ) — “não formulamos a ideia exata do que seja a realidade, além da morte. Ainda mesmo quando o Espiritismo nos ajuda a pensar seriamente no assunto, debalde tentaremos calcular relativamente ao futuro, depois do sepulcro”.

“Os quadros sublimes ou terríveis no plano externo correspondem, de alguma sorte, à nossa expectativa; contudo, os fenômenos morais, dentro de nós, são sempre fortes e inesperados.

“Antes da passagem, tudo me parecia infinitamente simples!”


“Observando-me relegado às próprias obras (por que não confessar?), senti-me sozinho e amedrontei-me. Esforcei-me por gritar, implorando socorro, porém os músculos não mais me obedeceram.

“Busquei abrigar-me na prece, mas o poder de coordenação escapava-me.

“Não conseguiria precisar se eu era um homem a morrer ou um náufrago a debater-se em substância desconhecida, sob extenso nevoeiro.

“Naquele intraduzível conflito, lembrei mais insistentemente o dever de orar nas circunstâncias mais duras… Rememorei a passagem evangélica em que Jesus acalma a tempestade, perante os companheiros espavoridos, rogando ao Céu salvação e piedade…

“Forças de auxílio dos nossos protetores espirituais, irmanadas à minha confiança, sustaram as perturbações. Braços vigorosos, não obstante invisíveis para mim, como que me reajustavam no leito. Aflição asfixiante, contudo, oprimia-me o íntimo. Ansiava por libertar-me. Chorava conturbado, jungido ao corpo desfalecente, quando tênue luz se fez perceptível ao meu olhar. Em meio do suor copioso lobriguei minha filha Marta a estender-me os braços. Estava linda como nunca. Intensa alegria transbordava-lhe do semblante calmo. Avançou, carinhosa, enlaçou-me o busto e falou-me, terna, aos ouvidos:

— “Agora, paizinho, é necessário descansar.”

“Tentei movimentar os braços de modo a retribuir-lhe o gesto de amor, mas não pude erguê-los, pareciam guardados sob uma tonelada de chumbo.

“O pranto de júbilo e reconhecimento, porém, correu-me abundante dos olhos. Quem era Marta, naquela hora, para mim? Minha filha ou minha mãe? Difícil responder. Sabia apenas que a presença dela representava o mundo diferente, em nova revelação. E entreguei-me, confiado, aos seus carinhos, experimentando felicidade impossível de descrever.” ( † )


Observemos, agora, para os nomes citados na mensagem, conquanto sejam praticamente todos nossos conhecidos, já que constam dos capítulos anteriores.

1. Simone: Trata-se da Sra. Simone Tereza Cavalcanti Nogueira, filha de Alvicto Osoris Nogueira e de D. Lélia de Amorim Nogueira.


2. Alvicto: O Espírito novamente se refere ao genro Alvicto Osoris Nogueira, nascido aos 8 de agosto de 1914, na Espanha, província de Goiá-Ponte Velha, tendo sido registrado em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, e desencarnado na estrada de Bela Vista, município de Bela Vista, Estado de Goiás, a 22 de outubro de 1967, quatro dias após o casamento de sua filha Simone, em consequência de um acidente automobilístico.

3. Nayá: Trata-se de D. Nayá Siqueira de Amorim, esposa do comunicante e mãe de D. Lélia e do Dr. Leônidas.


Conclusões:

1ª) os Espíritos se reconfortam com a paciência e a compreensão dos familiares ainda no Plano Físico, quando estes, realmente, se esforçam no sentido da conformação, ante os golpes da prova, por mais rude que seja;


2ª) cabe-nos esforçar-nos, ao máximo, no sentido de evitar qualquer impulso tendente à evocação consciente ou inconsciente do ente amado, residente no Mundo Espiritual, já que, às vezes, como no caso de Alvicto, a entidade não consegue escrever, presa de emoção indizível, mesmo decorrido cerca de um lustro após a desencarnação.

De outras vezes, o Espírito, com vistas a não aumentar esse ou aquele complexo de culpa em alguma criatura, ainda vestida do corpo físico, evita caridosamente criar problemas ou complicações. Aqui, como em todos os processos evolutivos, compete-nos aguardar as decisões da Vida Superior.

Busquemos orar em benefício dos que partiram, homenageando-lhes a memória através da prática integral do bem junto à Humanidade Maior;


3ª) finalmente, memorizemos este passo antológico da mensagem:

“A vida, filha, é assim como luz entre dois mundos. O amor nos faz agir na Terra, impulsionados pela falta e pela saudade que nos impõem todos aqueles que nos antecederam na morte, e, no Mundo Espiritual, a mesma saudade e a mesma falta que sentimos dos nossos entes queridos que, ainda na Terra, nos induzem a agir para que estejamos todos na mesma faixa de abençoada união.”


Elias Barbosa



[1] Francisco Cândido Xavier, Irmão Jacob, Voltei, Federação Espírita Brasileira, Rio, 6ª edição. 1975, pp. 11 e 32-33.


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