O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Entre duas vidas — Familiares diversos


11


Sofrimentos mútuos

1 Querida mamãe, peço a sua bênção, agradecendo a Deus estes minutos.

2 Venho pedir sua paz para que eu fique tranquilo. Sei que a sua vinda até aqui é uma viagem de saudade e de aflição.

3 Compreendo, mãezinha. Estamos como num rio grande e revolto. Nadando ansiosamente para chegar a um porto calmo. 4 Digo isso porque os seus sofrimentos mudos são iguais aos meus. Sei que meu pai também chora e as lágrimas dele que não aparecem no rosto caem sobre mim de modo indescritível. E estou entre os dois, lutando igualmente. 5 Com a senhora, porém, eu não sei explicar. A ligação é mais absorvente, mais constante. 6 A sua memória, desde aquela tarde de adeus está procurando, procurando… procurando por mim e eu, embora espacialmente distante, obedeço e obedeço. 7 Seu amor é um ímã que me segura os pensamentos na Terra. Entretanto, mãezinha, a senhora pode me libertar se puder chorar sem revolta. 8 Quem não se queixa no mundo, mãezinha? Quem atravessará a vida, sem nuvens? Acalme-se e aceitemos a Vontade de Deus que é a Lei de Deus. 9 Não pense que sofro outra espécie de angústia senão essa que me vem de sua ternura torturada e de nossa família amorosa e inesquecível.

10 Se me lembrarem tranquilo, estarei seguro de mim. Se me recordarem conformados, a resignação estará comigo.

11 Não julgue que vim para cá fora de tempo. Hoje, sei que o meu tempo terrestre era curto. O coração falhou na hora certa. Sem dúvida que seu filho não esperava a grande separação. A Bondade de Deus não nos permite no mundo saber disso.

12 Na terça-feira, primeiro de junho, estava aflito por saber minhas notas. Lembra-se de que cheguei em casa, na quarta, anunciando ao seu carinho que a minha nota era dez? Entrei para o banho ansioso de novo por saber como ia no Curso Técnico, na quarta-feira que passamos sem qualquer novidade… 13 Mas, em certo momento, senti que meu coração bateu no peito como se fosse uma pedra pesada querendo sair de mim. Gritei chamando a senhora, porque tive medo, mas isso foi um momento só… 14 Depois daquela martelada por dentro, a cabeça não soube senão pensar que um sono pesado vinha!… E que sono! 15 Tudo, depois, aos poucos, me pareceu pesadelo… Sonhava que me achava junto de mim querendo, em vão, levantar-me. Sentia frio e desejava acordar, mas não conseguia. 16 Mesmo no pesadelo, lembrei-me da prece. Orei, mamãe, e pedi a Deus me fizesse entender o que havia. 17 Muito depois, penso eu, despertei sonolento em casa, com a senhora a gemer e a gritar por mim. Nossa boa Salette buscava confortá-la, os amigos pronunciavam palavras de consolo e de fé… 18 Sinceramente, eu nada compreendia. Queria conversar, mas sentia-me fraco e atribuía tudo a um desmaio que eu tivesse sofrido no banheiro… 19 Tudo em meu cérebro era uma névoa densa e embora acordado, parecia-me ainda ligado ao pesadelo de tantas horas de que não conseguira sair… 20 Comecei a ter medo porque a palavra não me vinha e chorei… Ninguém me via e pensei num médico, em algum médico que me amparasse. Só então vi, ao meu lado, a vovó Sylvia a estender-me os braços aconchegantes… 21 Nem pensei fosse ela morta, embora hoje saiba que a morte é ilusão. Falou-me com carinho e bondade. Informou-me que realmente desmaiara e que precisava agora de um socorro reparador. 22 Abraçou-me, com bondade a que não ofereci resistência, e ajudou-me a deitar meu corpo no leito que era tão meu. Orou comigo e passando as mãos em meu rosto, inspirando-me confiança e enxugando-me as lágrimas, me fez finalmente dormir. 23 Quando acordei, estava internado no hospital-escola, onde estou até hoje.

24 Pouco a pouco, entendi tudo e venho agora pedir a sua paciência e conformação.

25 À noite, mãezinha, não chore mais com desespero e desânimo. Deus existe e, um dia, estaremos mais juntos.

26 Pode contemplar meu retrato, visitar-me nas lembranças do túmulo, mas auxilie-me transformando a sua imensa dor em preces de esperança.

27 Ajude papai a compreender tudo isso. Ele é forte, mas sofre sem demonstrar.

28 Salette, ajude-me ainda mais. Você hoje é também mãe. Solange e Marcinho são flores de sua vida. Ampare nossa mãezinha para que ela possa aceitar o que peço.

29 Mãezinha, no bem aos outros teremos o nosso melhor encontro. A senhora que é tão abnegada e tão santa, de agora em diante, pense em mim ao seu lado auxiliando aos filhos necessitados de outras mães que lutam muito mais do que nós.

30 Não posso continuar. É preciso encerrar esta escrita, que muito agradeço a Deus. Vovó Sylvia está comigo e me ajuda.

31 Abraços com muito carinho a meu pai e ao nosso Aparício. A eles e aos outros, todos os nossos que amamos.

32 E pedindo para que o seu amor me abençoe, querida mãezinha, na certeza de que continuarei aqui meus estudos para ser útil à Humanidade e para corresponder à sua confiança e à sua ternura, a contar com o seu apoio e com a sua bênção carinhosa e incessante, beija o seu coração adorado o filho reconhecido que do seu coração querido nunca se afastará.


Ricardo Tadeu


(Uberaba, 15 de janeiro de 1972)


“SEUS SOFRIMENTOS MUDOS SÃO IGUAIS AOS MEUS”


Ricardo Tadeu Richetti nasceu em São Paulo, Capital, a 23 de julho de 1951, e aí desencarnou, a 2 de junho de 1971.

Cursava o segundo Técnico de Contabilidade no Liceu Acadêmico de São Paulo.

Seu título de eleitor nº 386454 — 79 zona — Brás — 79 secção — com data de 28 de julho de 1969, ostenta a assinatura idêntica à da mensagem.

Ricardo Tadeu, segundo a sua genitora, D. Iracy de Oliveira Richetti, e seu pai, Sr. Américo Richetti, entrou para o banheiro, às 17,55 horas de 2 de junho de 1971. A mãezinha chamou-o, alarmada, às 19 horas.

Nenhuma resposta. Em seguida, encontrado inerte, foi levado ao Pronto Socorro. Feita a autópsia. Uma dia e meio de espera. Tudo indicou, ante a observação geral, que a morte de Ricardo Tadeu foi ocasionada por “provável intoxicação por monóxido de carbono”.

Sr. Américo, D. Iracy e D. Salette (irmã única de Ricardo), juntamente com as crianças citadas na mensagem, sobrinhas do comunicante, presentes à reunião, segundo eles próprios, não ofereceram quaisquer pormenores dos motivos que os levavam à Comunhão Espírita Cristã, na noite de 14 de janeiro de 1972.

Aparício, a quem Ricardo se refere, era grande amigo dele e empregado (gerente) do pai.

Na página de Ricardo Tadeu, há um fato que precisa ser destacado, a fim de que possamos compreender a responsabilidade das criaturas que se propõem a servir no campo mediúnico.

Estávamos no Departamento Editorial da Comunhão Espírita Cristã, acabando de datilografar a extensa mensagem, e, entrevistando os familiares presentes à reunião, quando fomos chamados pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Interrompemos as nossas atividades, e nos dirigimos à sede da Comunhão Espírita Cristã.

Chico entregou-nos uma lauda de papel, e nos disse:

— Depois que vocês saíram para datilografar a mensagem, e eu já estava autografando livros aqui, voltou o Espírito da avó de nosso Ricardo Tadeu, D. Sylvia, e me pediu entrasse na sala próxima, que ela queria transmitir ao genro, Sr. Américo, um bilhete. Acedi ao seu convite, e eis aí o bilhete. Se puder, faça-me o favor de juntá-lo à mensagem, datilografando-o também. Ela, D. Sylvia, voltou muito alegre para perto de nosso Tadeu, na Espiritualidade, tão logo transmitiu o recado.

Enquanto datilografava a mensagem e já pensando no livro que seria posteriormente organizado, participamos não somente aos pais de Ricardo, mas à sua irmã, D. Salette Maria Richetti Parisi, que colocaríamos, também, um título na mensagem de D. Sylvia César de Oliveira.

Rogamos, pois, a atenção do leitor amigo, para o bilhete a que resolvemos dar o título de


AVISO DE AVÓ PRUDENTE


1 Américo, meu filho. Deus nos abençoe.

2 Nosso Ricardo está bem, recuperando-se em paz. Não tem a menor ideia de que houvesse qualquer escapamento de gás. 3 Ao sentir-se no colapso que o trouxe, debateu-se, caindo inconsciente até que despertou. Mas estivemos com ele até que pudéssemos retirá-lo para o tratamento preciso.

4 Receba com nossa Iracy todo o amor e toda a gratidão de mãe.


Sylvia


Elias Barbosa


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