O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Diálogo dos vivos — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Consulta sobre o amor

Francisco Cândido Xavier


As páginas de Cornélio Pires, enriquecidas com os seus apontamentos doutrinários, caro Professor, têm motivado interessantes comentários e solicitações. n

Assim é que, em uma de nossas reuniões públicas, tendo O Livro dos Espíritos nos dado para estudo a questão 296, ( † ) e depois das explanações a respeito, por uma de nossas irmãs presentes, o nosso amigo Cornélio respondeu à carta de um companheiro que o consultou acerca do amor no Plano Espiritual, resposta que lhe enviamos desejando vê-la divulgada com os seus comentários.


Nota da Editora — Sugerimos, a propósito, a consulta dos livros anteriores desta série: Chico Xavier Pede Licença, Na Era do Espírito, Astronautas do Além.


PONTO DE VISTA


Cornélio Pires

  1 Recebi o seu pedido,

  Prezado amigo Antenor,

  Você deseja saber

  O que pensamos do amor.


  2 Falarei do amor terrestre,

  Não daquele que conduz

  Nossa vida e pensamento

  Para a união com Jesus.


  3 É verdade que não tenho

  Direito algum que me assista;

  Por isso, exponho a você

  Meu simples ponto de vista.


  4 Conforme acredito hoje,

  Nos pobres estudos meus,

  O amor na totalidade

  É a natureza de Deus.


  5 No entanto, pelo que vejo,

  Quanto ao que sinto e ao que faço,

  O amor é Deus em nós todos…

  Cada qual tem um pedaço.


  6 De tudo, porém, que amamos,

  Até quanto conhecemos,

  Quanto menos possessão

  Maior a porção que temos.


  7 O amor, quando chega, alcança

  Nossa vida rotineira,

  Parecendo o orvalho à noite,

  Quando cai na laranjeira.


  8 Mas é preciso cuidado

  Por dentro do coração.

  Toda afeição caprichosa

  Traz grande perturbação.


   9 Quando a pessoa faz isso,

  Lá se vai a luz do bem:

  Carinho vira paixão

  Que não dá paz a ninguém.


  10 Olhe a história de Quinota:

  Dizia adorar Lineu,

  Porque o moço quis a prima,

  A coitada enlouqueceu.


   11 Delfim perseguindo Joana

  Que, de fato, o não queria,

  Atirou sobre o pai dela

  E acertou Dona Maria.


  12 Joaquim namorava Zélia;

  A paixão nele era fogo…

  Quando viu Zélia doente,

  Colou-se à Tina Diogo.


  13 Antônia clamava sempre

  Que amava Zeca Vilaça,

  Mas Zeca perdeu as pernas

  E Antônia sumiu da praça.


  14 Recorde o que sucedeu

  Com Camilo Felisberto,

  Desprezado por Joaquina,

  Matou-se com tiro certo.


   15 O amor, na Terra, em verdade,

  Pode ter grande aconchego,

  Mas para viver em paz

  Não deve ter muito apego.


  16 O amor, enfim, vem de Deus,

  Mas se em nós vira paixão,

  Parece cousa de louco

  Ou trama de obsessão.


AMOR SEM POSSESSÃO


Irmão Saulo


O desapego é uma constante nas lições dos grandes mestres espirituais. E mesmo na vida terrena as pessoas sensatas e experientes compreendem os perigos do apego amoroso. Todas as escolas de Psicologia denunciam esses perigos e, desde os gregos até nós, os filósofos ensinam que a felicidade depende da nossa capacidade de libertar-nos do apego às coisas e aos seres. O ciúme é sintoma de apego e leva a desequilíbrios perigosos, podendo gerar doenças graves e acarretar crimes nefandos.

Lemos sempre nos jornais a expressão: “Matou por amor”. Mas a verdade é que o amor não mata, pois o amor é vida e não morte. O que mata é o ciúme, o apego amoroso, gerado por sentimentos inferiores de posse exclusivista da pessoa amada. Esses sentimentos são resquícios animais da espécie que racionalmente devemos expulsar de nós, ao invés de racionalmente aumentá-los, como em geral fazemos. Nossa imaginação pode levar os instintos animais a intensidade ameaçadoras, o que jamais ocorre nas espécies animais. Temos de aprender a amar sem apego.

Quando Cornélio escreve que “o amor na totalidade é a natureza de Deus”, ( † ) lembra-nos a afirmação de João, em seu Evangelho: “Deus é amor”. ( † ) E Cornélio tira deste princípio a explicação do antigo mistério da presença de Deus em nós, afirmando: “O amor é Deus em nós todos, cada qual tem um pedaço” ( † ) . A seguir, adverte que quanto menos possessão pusermos no amor, mais amor teremos em nosso coração. É impossível dar-se uma lição tão elevada com palavras mais simples e de maneira mais natural.

Toda a dinâmica da evolução espiritual se esclarece na simplicidade caipira desses versos. Deus está presente em nós pela nossa capacidade de amar, mas enquanto não superarmos o nosso egoísmo, que tudo quer com exclusividade, o amor permanecerá sufocado pela vaidade, o desejo e a ambição. Poderíamos perguntar: mas se o amor é o próprio Deus, por que ele não vence o nosso apego? A resposta é clara: porque amor é liberdade. O amor é Deus chamando-nos para a liberdade, convocando-nos ao desapego por nossa própria compreensão e decisão. Deus não nos ama com apego, mas com liberdade e por isso não quer impor-nos a compreensão do amor que devemos atingir por nós mesmos.


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