O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Doutrina e aplicação — Autores diversos


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Notícias de Bezerra

1 CONTA-SE que Bezerra de Menezes, o denodado apóstolo do Espiritismo no Brasil, após alguns anos de desencarnação, achava-se em praia deserta, meditando tristemente quanto à maioria dos petitórios que lhe eram endereçados do mundo.


2 Em grande número de reuniões consagradas à prece, solicitavam-lhe providências de natureza material.

3 Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe empregos rendosos, negócios lucrativos, alojamentos, proteção a documentários diversos, propriedades e promoções.

4 Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir um doente ou quando trazido à consolação dos infortunados, porém, fora na Terra um médico espírita e um homem de bem, à distância de maiores experiências em atividades comerciais.


5 Por que motivo a convocação indébita de seu nome em processos inconfessáveis? Não era também ele um discípulo do Evangelho, interessado em ascender à maior comunhão com o Senhor? Não procurava aprender igualmente a lutar e renunciar?


6 Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu junto dele o grande Antônio, desencarnado em Pádua, no ano de 1231.

7 O herói admirável da Igreja Católica, nimbado de intensa luz, ouvira-lhe o solilóquio amargo.
Abraçou, com bondade, e convidou a segui-lo.

8 A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto de grande templo.
O santuário, dedicado ao popular taumaturgo, regurgitava de fiéis que se prosternavam, reverentes, diante da primorosa estátua que o representava, sustentando a imagem de Jesus Menino.


9 O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos da assembleia e o seareiro espírita conseguiu anotar as mais estranhas e inoportunas requisições.

10 Suplicava-se a Antônio casa e comida, dinheiro fácil e saliência política, matrimônio e proteção. Não faltava quem lhe implorasse contra outrem perseguição e vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes ocultos.


11 O amigo e benfeitor esboçou um gesto expressivo e falou, bem humorado, ao evangelizador brasileiro:

— Observaste atentamente? As petições são quase sempre as mesmas nos variados campos da fé. 12 Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o hábito de cônego pelo burel dos frades… Ensinei a palavra do Mestre Divino, sufocando os espinhos de minhas próprias imperfeições. 13 Fosse nas seduções da vida secular ou na austeridade do convento, caminhava mantendo pavorosas batalhas comigo mesmo, ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço permaneço até hoje, entretanto, procuram-me através da oração, por meirinho comum ou por advogado casamenteiro…


14 E, por que Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu:

— Nosso problema, no entanto, é o de instruir sem desanimar. Jesus no monte sentiu extrema compaixão pela turba desvairada, alimentando-lhe o corpo e clareando-lhe a alma obscura…


15 Nesse justo momento, surge alguém à cata de Bezerra. Num círculo de oração, organizado na Terra, pediam-lhe indicações para que fosse descoberto um enorme tesouro de aventureiros antigos, desde muito enterrado.

16 Antônio afagou-lhe os ombros e disse benevolente:
— Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto, não te preocuparás com o ouro escondido, mas ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo para a riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o filão do progresso, plantarás entre eles o entendimento e a bondade do Excelso Amigo.


17 Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à luta, compreendendo, por fim, que não bastaria lamentar a atitude dos companheiros invigilantes, mas auxiliá-los com todo amor, consciente de que o Cristo é o Mestre da Humanidade e de que o Evangelho, acima de tudo, é obra de educação.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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