O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas de uma morta — Maria João de Deus


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Nas Esferas vizinhas da Terra

(Sumário)

1. Não são poucos os que na morte presumem o encontro inesperado de uma fonte inesgotável de onisciência e julgam, na sua inércia intelectual, que os Espíritos são criaturas sobrenaturais, cuja zona lúcida já atingiu o zênite do conhecimento.

2 Tais julgamentos são absolutamente falsos não só na sua base como na sua estrutura, porquanto supõem que o Espírito encarnado representa outra individualidade, conferindo à carne determinados poderes, que ela está muito longe de possuir na sua situação de elemento passivo e maleável. A matéria, com o seu complexo atômico, nada mais significa que um revestimento temporário, condição necessária à tangibilidade do ser.

3 Todavia, somente quando as lesões orgânicas, dentro das provações individuais, geram obstáculos ao surto evolutivo da personalidade, tem ela uma zona de influência natural sobre o desenvolvimento moral dos indivíduos.

4 Por exemplo, os loucos (não obsessos), os cegos de nascimento, os que surgem do berço com graves deslizes de ordem corporal; semelhantes Espíritos têm a empecer-lhes o círculo do progresso na atuação do organismo. 5 Mas, na generalidade dos homens, a matéria nada mais é que a veste temporária, que o fenômeno da morte nos faz trocar por outra, diferente em suas expressões estruturais, porém, sempre a mesma base de ordem material, de acordo com as necessidades do novo Plano onde teremos de desenvolver as nossas atividades. 6 É, portanto, natural que o nosso ambiente em grande parte ainda seja caracterizado pelas ideias e concepções da Terra.

7 São inúmeros os que examinam as nossas descrições do Espaço, imbuídos de ideias preconcebidas, incapazes de nos criticar com isenção de ânimo.

8 Contudo, isso não altera a nossa maneira especialíssima de viver aqui. As leis naturais são sempre as mesmas. A ordem, na sua expressão divina não pode ser modificada. 9 Se os núcleos humanos entrassem no torvelinho de uma conflagração universal e se todas as criaturas perdessem a vida em seus excessos, o sol não deixaria de fazer o seu percurso na imensidade, a lua prosseguiria com as suas mudanças, as correntes polares seriam as mesmas, a natureza continuaria criando sob o olhar misericordioso de Deus e as estrelas entre os seus reflexos, sorririam, de longe, para a Terra silenciosa e desabitada. 10 É inútil, portanto, revoltar-se ou sentir incompreensões em face das nossas exposições da vida real. A crítica não destrói as realidades, por mais judiciosas que nos apareça.


A vida em toda a parte


2. Nossa vida aqui é o prolongamento da vida humana. 2 Não existem vazios no Universo. Todas as zonas interplanetárias estão repletas de vida em suas manifestações multiformes. 3 Uma gota d’água encerra um universo infinitesimal onde uma grande humanidade microscópica vive, trabalha e palpita.

4 Se Deus se conserva inatingível ao nosso entendimento atual, porquanto não podemos concebe-lo segundo a nossa individualidade, único índice que possuímos para apreciar os outros, também a Vida como manifestação de sua divindade ainda não é compreendida por nós, em toda a intensidade de suas grandezas multiformes.

5 Aqui, desenrolam-se as nossas atividades, à maneira dos homens, e nessa segunda zona onde me encontro e aguardo oportunidade feliz para reencarnar-me na Terra, apenas o que observo é que os homens são mais aperfeiçoados em seu modo de sentir, considerando-se totalmente eliminada a hipótese de guerras e dizimações de quaisquer obras. Há mais impulso de fraternidade nestes núcleos de seres, onde se agitam os sentimentos humanos em sua generalidade.


As afinidades raciais


3. O amor, a esperança, a tristeza, a fé, a confiança, o caráter, a sinceridade e demais atributos da personalidade humana, aqui estão vivos, palpitantes. 2 Tenho observado porém que apesar de livre do perigo das lutas fratricidas, entre todos existe grande movimento de afinidade racial, parecendo-me que a questão das raças aí na Terra está subordinada a um forte ascendente de natureza espiritual.

3 Os saxões, os latinos, os árabes, os orientais, os africanos, formam aqui grandes falanges à parte e em locais diferentes uns dos outros. 4 Nos núcleos de suas atividades conservam os costumes que os caracterizavam e é profundamente interessante observarmos de perto como essas imensas colônias espirituais diferem uma das outras, apesar de se encontrarem ligadas pelos mais santos laços da fraternidade e do amor.


Hegemonia de Jesus; a Esfera cheia de sol


4. Muitos dos componentes desses núcleos tão arraigadamente conservam o modo de pensar que possuíam no planeta terráqueo, que raros são os que não relutam em aceitar a hegemonia espiritual de Jesus Cristo, como orientador e guia do orbe que deixamos e ao qual ainda estamos ligados por fortes elos de natureza afetiva, segundo o grau de progresso que já alcançamos.

2 É comum notarmos, então, pregadores do Evangelho do Mestre por toda a parte, esclarecendo as consciências e iluminando os raciocínios. 3 Inúmeras colônias desconhecem ainda a mensagem da Boa Nova, apesar de terem as suas leis de caridade, de fraternidade e de amor, como a Terra as possuía antes do cumprimento das profecias que anunciavam o aparecimento do Senhor.

4 Mas, há sobre todas essas Esferas, falando de oitiva, segundo as explicações que tenho recebido de grandes mestres da Espiritualidade, uma Esfera cheia de sol, de claridade bendita e de belezas inenarráveis, onde promana a fonte que poderemos chamar inspiracional.

5 Do seu centro, dimanam todos os elevados conhecimentos que felicitam as leis humanas e os seus raios são refletidos pelas mentes que estão em correspondência direta com a sua grandeza, em concepções de bondade, de tolerância, de sabedoria e de amor.

6 Assim está explicado porque, muito antes de Cristo, já existiam na Índia grandes pensadores, essencialmente evangélicos nas suas doutrinas, pois a Grécia, o Egito e o Oriente já possuíam as teorias de solidariedade e de fraternidade humana. 7 Dessa Esfera grandiosa, parte o equilíbrio para todas as correntes espirituais entre a Terra e as Esferas que lhe são concêntricas.


Continuação da Terra


5. É desse modo que tenho visto aqui muitas extravagâncias de costumes. Por exemplo, na primeira Esfera, mais apegada à Terra e às suas ilusões, temos muitas organizações à maneira do planeta.

2 São inúmeras as congregações de Espíritos que se dedicam à salvaguarda de seus ideais religiosos sobre o orbe terráqueo. 3 A Igreja romana, por exemplo, tem aí organizações, conventos, irmandades, que defendem os seus erros e, assim, de facção em facção, podereis compreender a imensidade de nossa luta. 4 Nas colônias de antigos remanescentes da África vim conhecer costumes esquisitos, como bailados estranhos, ao som de músicas bizarras que me deram a impressão de fandangos, tão da preferência dos escravos no Brasil.

5 A luta estabelecida não é pequena. A nossa existência é a continuidade da vida material com todas as suas características.

6 Vem daí o nosso contínuo conselho para preparardes uma vida melhor, pela aquisição de virtude e conhecimento. 7 Assim como tenho visitado outros mundos e outros ambientes, cujas belezas constituem um sagrado estímulo para minha vontade de progredir e aprender, igualmente muita coisa lamentável tenho presenciado, optando sempre pela exortação fraterna, a fim de que saibas aproveitar proficuamente o vosso tempo na face do orbe que atualmente habitais.

8 Desejaria dizer-vos algo quanto às manifestações de vida sobre a superfície de Marte, mas temos de contar convosco o tempo, se estamos ao vosso lado, e é assim que observo o adiantamento das horas. Se Deus permitir falarei na próxima semana de outros ensinamentos obtidos por mim nessa Terra distante.

Deus vos dê boa noite e vos abençoe.


Maria João de Deus


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