O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Conversa firme — Cornélio Pires


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Penas depois da morte

  1 Assunto difícil este,

  Meu caro Gino Salerno,

  Comentarmos de outra vida

  O que existe sobre o inferno.


  2 Em tempos que já se foram,

  Eu também pensava assim:

  O inferno, depois da morte,

  Seria fogo sem fim.


  3 Mais tarde, a luta crescendo,

  Olvidei o mundo antigo

  Mas nunca larguei de todo

  De certo medo a castigo.


  4 Acreditava que a morte

  Depois de nossos fiascos,

  Colocasse à nossa frente,

  Algemas, troncos, carrascos…


  5 Sofrimentos, em verdade,

  Não faltam no Mais Além:

  Impedimentos, prisões

  E adversários do bem.


  6 Espíritos infelizes

  Inventam charcos e dores

  Criando painel imenso

  Das trevas exteriores.


  7 No entanto, por mais abismos

  A que a pessoa se lança,

  A Lei de Deus determina

  Que a ninguém falte esperança.


  8 Tal qual sabemos na Terra,

  Para além da sepultura,

  O que se tem no caminho

  É aquilo que se procura.


  9 A culpa é desequilíbrio

  Sob impulsos insensatos,

  E a mente resguarda, ao vivo,

  A conta de nossos atos.


  10 O inferno, por isto mesmo,

  Seja ele o mais atroz,

  É o conflito dos conflitos

  Que surgem dentro de nós.


  11 Cada qual transporta em si

  — Do mais crente ao mais ateu, —

  O resultado infalível

  De tudo quanto escolheu.


  12 Por simples anotações

  E ensinamentos gerais,

  Recordarei com você

  Vários casos infernais.


  13 Você lembra a sovinice

  Do fazendeiro Adão Noce,

  Desencarnado, agarrou-se

  Aos sofri mentos da posse.


  14 Querendo vingar o filho

  Enlouqueceu Dona França,

  Mas vive depois da morte

  Atarracada à vingança.


  15 Morreu pisando nos outros,

  Nhô Lino do Lumaréu,

  Sem corpo, mora no barro

  Mas pensa que está no Céu.


  16 Finou-se atracado à gula

  O nosso Antonino Lodi;

  Agora, enxerga a comida,

  Que tocá-la mas não pode.


  17 Foi-se a tóxicos violentos,

  Juquita de Dona Altina;

  No Além, anda alucinado,

  Reclamando cocaína.


  18 De tanto excesso em bebida

  Morreu Nhô Nico da Alfafa;

  Hoje, vê tudo o que encontra,

  Sob a forma de garrafa.


  19 Morreu Nhô Juca, usurário

  No Roçado da Moenda;

  Mesmo assim, vive ligado

  Nas porteiras da fazenda.


  20 Ódio e briga? Escute esta:

  Desencarnado, o João Fava

  Foi chamado a proteger

  O genro que detestava.


  21 O assunto é isso, meu caro,

  Sem engano e sem talvez,

  Só se recolhe da morte

  A vida que a gente fez.


  22 Céu, inferno e purgatório,

  Sejam daí ou daqui,

  Cada pessoa carrega

  O que buscou para si.


Cornélio Pires


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