O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


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D. Pedro II

1 Definitivamente proclamada a independência do Brasil, Ismael  †  leva ao Divino Mestre o relato de todas as conquistas verificadas, solicitando o amparo do seu coração compassivo e misericordioso para a organização política e social da pátria do Evangelho.

2 Corriam os primeiros meses de 1824 e a emancipação do país encontrava-se, mais ou menos consolidada, perante a metrópole portuguesa. As últimas tropas reacionárias já se haviam recolhido à Lisboa, sob a pressão da esquadra brasileira nas águas baianas.

3 No Rio de Janeiro, transbordavam esperanças em todos os corações, mas os estadistas encontravam dificuldades para a organização estatal da terra do Cruzeiro. A Constituição, depois de calorosos debates e após os famosos incidentes dos Andradas, ( † ) ( † ) ( † ) que haviam terminado com a dissolução da Assembleia Constituinte †  e com o exílio desses notáveis brasileiros, só fora aclamada e jurada justamente naquela época, em 25 de Março de 1824. 4 Nesse dia, terminava a mais difícil de todas as etapas da independência e o coração inquieto do primeiro imperador podia gabar-se de haver refletido, muitas vezes, naqueles dias turbulentos, os ditames dos Emissários Invisíveis, que revestiram as suas energias de novas claridades, para o formal desempenho da sua tarefa nos primeiros anos de liberdade da pátria.

5 Recebendo as confidências de Ismael, que apelava para a sua misericórdia infinita, considerou o Senhor a necessidade de polarizar as atividades do Brasil num centro de exemplos e de virtudes, para modelo geral de todos. Chamando Longínus  †  à sua presença, falou com bondade:

— “Longínus, entre as nações do orbe terrestre organizei o Brasil como o coração do mundo. Minha assistência misericordiosa tem velado constantemente pelos seus destinos e, inspirando a Ismael e aos seus companheiros do Infinito, consegui evitar que a pilhagem das nações ricas e poderosas fragmentasse o seu vasto território, cuja configuração geográfica representa o órgão do sentimento no planeta, como um coração que deverá pulsar pela paz indestrutível e pela solidariedade coletiva, no qual a sua evolução terá de dispensar, logicamente, a presença contínua dos meus emissários para a solução dos seus problemas de ordem geral. Bem sabes que os povos têm a sua maioridade, como os indivíduos, e se bem não sejam perdidos de vista por gênios tutelares do mundo espiritual, faz-se mister se lhes outorgue toda a liberdade de ação, a fim de aferirmos o aproveitamento das lições que lhes foram prodigalizadas.

6 “Sente-se o teu coração com a necessária fortaleza para cumprir uma grande missão na pátria do Evangelho?”

— “Senhor, — respondeu Longínus num misto de expectativa angustiosa e de refletida esperança, — bem conheceis o meu elevado propósito de aprender de vossas lições divinas, e de servir à causa das vossas verdades sublimes, na face triste da Terra. Muitas existências de dor tenho voluntariamente experimentado, para gravar no íntimo do meu espírito a compreensão do vosso amor infinito, que eu não pude entender ao pé da cruz dos vossos martírios no Calvário, em razão dos espinhos da vaidade e da impenitência, que sufocavam, naquele tempo a minh’alma… Mas é com indizível alegria, Senhor, que receberei vossa incumbência para trabalhar na terra generosa, onde se encontra a árvore magnânima da vossa inesgotável misericórdia… Seja qual for o gênero de serviços que me forem confiados, receberei as vossas determinações como um sagrado ministério…”

7 — “Pois bem, — redarguiu Jesus com brandura e piedade, — essa missão, se bem cumprida por ti, constituirá a tua última romagem pelo planeta escuro da dor e do esquecimento. A tua tarefa será daquelas que requerem o máximo de renúncias e devotamentos. Serás imperador do Brasil,  †  até que ele atinja a sua perfeita maioridade, como nação. Concentrarás o poder e a autoridade para beneficiar a todos os seus filhos. Não é preciso encarecer aos teus olhos a delicadeza e sublimidade desse mandato, porque os reis terrestres, se bem compenetrados das suas elevadas obrigações diante das leis divinas, sentiriam nas suas coroas efêmeras um peso maior que o das algemas dos forçados… 8 A autoridade, como a riqueza, é um patrimônio terrível para os Espíritos inconscientes dos seus grandes deveres. Dos teus esforços será exigido mais de meio século de lutas e dedicações permanentes. Inspirarei as tuas atividades, mas, considera sempre a responsabilidade que permanecerá nas tuas mãos… Ampara os fracos e os desvalidos, corrige as leis despóticas e inaugura um novo período de progresso moral para o povo localizado nas terras do Cruzeiro. Institui, por toda a parte, o regime do respeito e da paz, no continente, e lembra-te da prudência e da fraternidade que deverá manter o país nas suas relações com as nacionalidades vizinhas. Nas lutas internacionais, guarda a tua espada na bainha e espera o pronunciamento da minha justiça, que surgirá sempre, no momento oportuno. 9 Fisicamente consideradas, todas as nações constituem o patrimônio comum da Humanidade e, se algum dia for o Brasil menosprezado, eu saberei providenciar para que sejam devidamente restabelecidos os princípios da justiça e da fraternidade universal. Procura aliviar os padecimentos daqueles que sofrem nos martírios do cativeiro, e cuja abolição se verificará nos últimos tempos do teu reinado… 10 Tuas lides serão terminadas ao fim deste século, e não deves aguardar a gratidão dos teus contemporâneos; ao fim delas, serás alijado da tua posição por aqueles mesmos a quem proporcionares os elementos de cultura e liberdade. As mãos aduladoras que buscarem a proteção das tuas, voltarão aos teus palácios transitórios, assinando o decreto da tua expulsão do solo abençoado, onde semearás o respeito e a honra, o amor e o dever, com as lágrimas redentoras dos teus sacrifícios; 11 contudo, ampararei teu coração nos angustiosos transes do teu último resgate, no planeta das sombras. Nos dias da amargura final, minha luz descerá sobre os teus cabelos brancos, santificando a tua morte. Guarda as tuas esperanças na minha misericórdia, porque se observares as minhas recomendações, não cairá uma gota de sangue no instante amargo em que experimentares o teu coração igualmente trespassado pelo gládio da ingratidão… A posteridade, porém, saberá descobrir as claridades dos teus passos na terra, para se firmar no roteiro da paz e da missão evangélica do Brasil.”


12 Longínus recebeu, com humildade, a designação de Jesus, implorando o socorro de suas inspirações divinas para a grande tarefa do trono.

Ele nasceria no ramo enfermo da família dos Braganças, mas, todas as enfermidades têm na alma as suas raízes profundas. Se muitas vezes parece permanecer a herança psicológica, é que o sagrado instituto da família, dentro da lei das afinidades, frequentemente se perpetua no infinito do tempo. 13 Os antepassados e seus descendentes, espiritualmente considerados, são, às vezes, as mesmas figuras sob nomes vários, na árvore genealógica, obedecendo aos sábios dispositivos das leis da reencarnação. Foi assim que Longínus preparou a sua volta à Terra, depois de outras existências tecidas de abnegações edificantes em favor da Humanidade, e, no dia 2 de dezembro de 1825, no Rio de Janeiro, nascia de D. Leopoldina,  †  a virtuosa esposa de D. Pedro,  †  aquele que seria no Brasil o grande imperador e que, na expressão dos seus próprios adversários, seria o maior de todos os republicanos de sua pátria.


Humberto de Campos

(Irmão X)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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