O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Augusto vive — Augusto Cezar Netto


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Mães e crianças

1 Senhora.
Nunca imaginei que, depois de transferido para o Mundo Espiritual, viesse a receber tantos encargos nos setores da opinião, qual se não fosse o rapaz inexperiente que ainda sou. Entretanto, creio que a tarefa do intercâmbio em que me vejo nasceu do serviço de assistência a que me dediquei, logo após a minha liberação do peso físico, por alta bondade dos Instrutores que me admitiram nessa escola de amor ao próximo que Jesus nos legou. Muita gente, com isso, passou a imaginar que eu seria um aprendiz iluminado, quando não passo de um pequeno estudante do bem, experimentando enormes dificuldades consigo mesmo.

2 Posso dizer-lhe, no entanto, que as expressões de sua carta me enterneceram vivamente.
Diz a senhora:
— “Augusto amigo, perdoe se me exponho ao seu entendimento. Acredito, no entanto, que você, habitando hoje na Vida Maior, estará em condições de me auxiliar. Tenho mais de quarenta janeiros, sou casada com um homem digno e possuo dois filhos inteligentes e afetuosos. Entretanto, pratiquei quatro abortos, após a vinda dos filhos que menciono, e agora que conheço as responsabilidades do espírito, em me certificando quanto à sobrevivência da alma, sinto o remorso a espicaçar-me a consciência. Que fazer, meu amigo, a fim de sossegar-me? Poderei, acaso, algo providenciar para, de certa maneira, redimir-me aos próprios olhos?”

3 Creia que as suas palavras me alcançaram o coração.
De imediato, não encontrei comigo argumentação bastante clara a fim de asserenar-lhe os sentimentos.
No entanto, ouvi mentores compreensivos a me informarem que o delito, em si, nasce do conhecimento.

4 A senhora, porém, não sabia que, expulsando os rebentos do seio, estava lesando a própria vida.
Em razão disso, o arrependimento já se lhe ergue no íntimo por pesado tributo regenerativo.

5 Compreendo, no entanto, que o seu coração se veja necessitado de paz e de alegria.
E para arredar o seu processo de angústia, as leis da vida não lhe cerram as portas.
Anule as suas tristezas, afastando as tristezas dos outros.
Lembre os pequeninos desprotegidos nos braços das mães que a provação desarvora.
Eles estão espalhados em toda parte.
Muitos não resistem ao frio das taperas ou das ruínas abandonadas em que nasceram e se apagam na morte, à feição de flores no temporal.

6 Não perca tempo com aflições inúteis.
Se a senhora aprendeu a tecer, confeccione agasalhos para esses anjos na tempestade e, de algum modo, promova o amparo ao seu alcance em favor dos recém-natos que o desconforto de irmãs em prova expõe ao vento da enfermidade e ao golpe da desencarnação prematura.

7 Quaisquer peças de roupa que a senhora talvez haja largado ao mofo, considerando-as imprestáveis, se revestem de imenso valor para todo esse pessoal miúdo e anônimo que as espera.

8 E tem mais.
Recorde as mães sozinhas ou doentes que a penúria devasta, em aguardando os filhinhos na gravidez de sacrifício.
Auxiliemo-las no desempenho da elevada missão da maternidade. Elas precisam de alimento e remédio.

9 Há tempos, em uma de nossas praças de cidade grande, surpreendi este dístico generoso que muito me comoveu:
— “Ajude uma criança a sorrir.”

10 Pois a senhora, com o seu trabalho de benemerência e ternura humana, poderá divulgar este outro:
— “Ajude uma criança a viver.”


Augusto Cezar


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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