O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Alma e Vida — Maria Dolores


28

O caminho do Reino

1 Após a última ceia, ( † ) o discípulo João,
O mais jovem do Grande Apostolado,
Sob forte impressão
De tudo quanto ouvira do Senhor,
2 Tendo Jesus ao lado
Indagou, pensativo:
— “Mestre, é tão grande a luz da esperança
 em que eu vivo,
Que me permito perguntar:
Onde posso encontrar,
Inda mesmo em estudo alto e profundo,
Nas instruções do mundo,
O caminho real para o Reino do Amor?”


3 O Cristo replicou: — “Medita, João,
Asserena teu próprio coração,
Aqui, ali, além, seja onde for,
Segue plantando o bem, a paz, o amor…
4 A vida é um livro aberto
E a própria vida te trará por certo,
Ante as inspirações que vertem das Alturas,
A estrada para o reino que procuras…”


5 Depois do encontro amigo,
Tudo se transformou nas Boas Novas…
O grupo penetrou em grandes provas:
Medo, tristeza, angústia, inquietação, perigo…


6 Jesus fora arredado da enxovia.
Em silêncio e à distância, João seguia
Todas as ocorrências, de hora a hora.
7 Por fim, notou, quase desatinado,
Que o Mestre, portador de tanto bem,
Vinha sendo espancado
Sob as injúrias de Jerusalém.


8 O apóstolo sem paz
Observou que a multidão
Lançava o Cristo na condenação
E absolvia Barrabás…
9 Perplexo anotou que a tantas zombarias
Não formulou Jesus quaisquer respostas…
O Mestre admitira a cruz às costas,
Por entre acusações e gritarias.


10 Depois, ei-lo a seguir fatigado e hesitante…
Tropeçava, suarento.
O cortejo seguia, frio e lento,
A engrossar-se de gente, instante a instante.
11 Para ajudar-lhe a marcha estranha e triste,
Foi trazido até ele o cireneu…
A turba protestou, de dedo em riste,
Jesus, porém, calou-se e nada respondeu…
12 Terminado que foi o duro itinerário,
Alcançara o Senhor o cimo do Calvário…
13 João que a tudo assistia,
Antes de se achegar à bênção de Maria,
Esmagado de dor, surpresa e espanto,
Rememorava em pranto
Todo o amor que Jesus distribuíra…
14 As pregações do lago, ante os céus de safira,
O Sermão da Montanha, à luz da Natureza,
O pão multiplicado, o riso das crianças,
A exaltação das bem-aventuranças,
Os doentes curados, a beleza
Da fé que renascia em tanto rosto
Que a provação cobria em névoa de desgosto…
15 Lembrava os paralíticos reerguidos,
A gratidão de todos os caídos
Que o Mestre levantara para o bem…
16 Como entender, assim, Jerusalém
Que condenava o mensageiro
Da Bondade dos Céus para com o mundo inteiro?


17 Tocado de emoção e sofrimento,
Abeirou-se do Cristo, então tranquilo e atento,
E ponderou: — “Senhor, não posso crer…
Pelo bem que se faz, é preciso morrer?
18 Por haveres plantado a paz e a luz
Deves achar a morte sobre a cruz?
Defende-te, Senhor, fala, protesta,
O teu ensinamento é a força que me resta,
Não me deixes, em dúvida, sozinho!…
19 Mas Jesus, compreendendo o tempo escasso,
Respondeu, transpirando amargura e cansaço:
— “Não te lamentes, João!… Deus vive em nós…”
20 Depois, erguendo a voz,
Disse, fitando o monte em pedra e espinho,
A refletir no olhar a própria dor:
— “Por enquanto, na Terra, este é o caminho,
O caminho real para o Reino do Amor!…”


Maria Dolores


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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