O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Ação e reação — André Luiz


12

Dívida agravada

(Sumário)

1. Enquanto outros servidores da instituição por nós passavam, à pressa, com o evidente intuito de auxiliar, o dileto companheiro de Druso desceu a escadaria do templo, em nossa companhia, explicando:

2 — Muitos companheiros de serviço valem-se deste horário para o culto espontâneo do amor fraterno. Ouvem aqui neste locutório os desesperados e os tristes e, tanto quanto lhes é possível, administram-lhes medicação e consolo, não somente os exortando à compreensão e à serenidade, mas também os acompanhando aos Círculos tenebrosos ou à Esfera dos encarnados, para a obra de assistência aos laços afetivos que lhes perturbam o coração.

3 Nesse instante, entramos mais diretamente em contato com os grupos rumorosos. Agora, adaptada nossa visão à sombra reinante, conseguíamos diferençar as figuras lamentáveis e exóticas que nos cercavam, agoniadas… Eram mulheres de duro semblante que a miséria desfigurava e homens de fisionomias torturadas pelo ódio e pela angústia.

4 Dificilmente, de nossa parte, poderíamos avaliar-lhes a idade, segundo o escalão terrestre. O infortúnio deles convertera-os em fantasmas de amargura, quase a irmaná-los integralmente no mesmo tipo de configuração exterior. Muitos mostravam mãos semelhantes a ressequidas garras, e em quase todos o olhar enraivecido ou medroso revelava a dolorosa fulguração da mente que desceu ao poço da loucura.

5 Preces comoventes misturavam-se a clamores sinistros de revolta.

E, vendo, contristados, a multidão em movimentos rudes, ante as portas abertas do santuário tranquilo, perguntamos ao Assistente por que não se acolhia toda ela ao templo hospitaleiro, então quase deserto.

6 Silas, contudo, designando a entrada do edifício que vínhamos de deixar, fixou a portaria radiante que, da forte penumbra, mais se nos afigurava um túnel aberto para a luz, e esclareceu:

— Efetivamente, reportam-se vocês a medida desejável. Entretanto, apenas ingressam no recinto sagrado quantos lhe podem suportar a claridade com o respeito devido. 7 Quase todos os irmãos que se congregam nesta praça trazem mutilações que a perversidade lhes impôs ou são portadores de sentimentos tigrinos que petições comoventes mal encobrem. 8 E, com semelhantes disposições, não resistem ao impacto da claridade dominante, dosada em fotônios específicos a se caracterizarem por determinado teor eletromagnético, indispensável à garantia de nossa casa. 9 Muitos de nossos irmãos, aqui desarvorados, clamam, com a boca, que anseiam pelas vantagens da prece, na intimidade do santuário; no entanto, por dentro, lá estimariam tripudiar sobre o nome sublime de nosso Pai Celeste, no culto à ironia e à blasfêmia. 11 Para que não tumultuem a atmosfera divina que nos cabe oferecer à oração pura e reconfortante, recomendam nossos orientadores que a luz permaneça graduada contra distúrbios e prejuízos, facilmente evitáveis.

12 Hilário, espantado, considerou:

— Significa isso que somente a sincera compunção da alma entrará em sintonia com as forças eletromagnéticas imperantes no recinto…

— Exatamente assim é, — confirmou o interlocutor. — 13 Nossa instituição permanece de braços abertos à provação e ao sofrimento, mas não à rebeldia e ao desespero. De outra sorte, seria condená-la ao aniquilamento e ao descrédito, na região atormentada em que se localiza.


2. Nesse ponto da conversação, fomos interrompidos por dezenas de braços ressequidos a implorarem socorro.

2 Silas fitava-os, compadecido, mas sem deter-se, até que nosso passo foi cortado por apressada mulher, exclamando, ansiosa:

— Assistente Silas! Assistente Silas!…

3 Nosso amigo identificou-a, porque, parando de súbito, estendeu-lhe a destra amiga, murmurando:

— Luísa, a que vens?

Defrontavam-se em ambos a curiosidade e a aflição.

4 A senhora desencarnada, com sinais de irreprimível angústia, gritou sem preâmbulos:

— Socorro!… Socorro!… Minha filha, minha pobre Marina esmorece… Tenho lutado com todas as minhas forças para furtá-la ao suicídio, mas agora me sinto enfraquecida e incapaz…

5 Os soluços sufocaram-lhe a garganta, inibindo-lhe a voz.

— Fala! — Disse o orientador de nossa excursão, em tom imperativo, como se o alarme daquele instante lhe obscurecesse a serenidade mental, imprescindível ao entendimento da nova situação.

6 A infeliz, ajoelhada agora, ergueu os olhos lacrimosos e suplicou:

— Assistente, perdoe-me tanta expressão de infortúnio, mas sou mãe… Minha desventurada filha pretende matar-se esta noite, comprometendo-se, ainda mais, com as trevas da sua consciência!…

7 Silas aconselhou-lhe a volta ao lar terreno, como lhe fosse possível, e, dando-nos as mãos, promoveu a viagem rápida para o objetivo a que devíamos atender.

8 Em caminho, informou:

— Trata-se de companheira da Mansão, reencarnada há quase trinta anos, sob os auspícios de nossa casa. Prestar-lhe-emos o necessário auxílio, ao mesmo tempo que vocês poderão examinar um problema de débito agravado.

9 Notando que o nosso amigo entrara em silêncio, meu colega externou:

— É impressionante observar o número de mulheres em trabalho de oração e assistência nessas paragens…

10 Preocupado qual se achava, nosso generoso companheiro tentou ensaiar um sorriso que lhe não chegou aos lábios, e juntou:

— Grande verdade… Raras esposas e raras mães demandam às regiões felizes sem os doces afetos que acalentam no seio… O imenso amor feminino é uma das forças mais respeitáveis na Criação divina.

11 Todavia, não houve mais tempo para qualquer outra divagação.

Atingíramos no Plano físico pequena moradia constituída de três peças desataviadas e estreitas.

O relógio acusava alguns minutos depois de zero hora.

12 Acompanhando Silas, cuja presença deslocou diversas entidades da sombra que ali se ajuntavam com a manifesta intenção de perturbar, ingressamos num quarto humilde.

Percebemos, sem palavras, que o problema era efetivamente desolador.

13 Junto de jovem senhora agoniada e exausta, uma menina de dois a três anos choramingava, inquieta… Via-se-lhe nos olhos esgazeados e inconscientes o estigma dos que foram marcados por irremediável sofrimento ao nascer.

14 Contudo, através da preocupação indisfarçável de Silas, era fácil reconhecer que a pobre senhora era o caso mais urgente para os nossos cuidados.

A infeliz, de joelhos, beijava sofregamente a pequenina, mostrando a indefinível angústia dos que se despedem para sempre.

15 Logo após, em movimento rápido, tomou de um copo em que se encontrava beberagem cujo teor tóxico não nos deixava qualquer dúvida. Antes, porém, de colá-lo à boca em febre, eis que o Assistente lhe disse em voz segura:

— Como podes pensar na sombra da morte, sem a luz da oração?

16 A desventurada não lhe ouviu a pergunta com os tímpanos de carne, mas a frase de Silas invadiu-lhe a cabeça qual rajada violenta.

Lampejaram-lhe os olhos com novo brilho e o copo tremeu-lhe nas mãos, agora indecisas.

Nosso orientador estendeu-lhe os braços, envolvendo-a em fluidos anestesiantes de carinho e bondade.

17 Marina, pois era ela a irmã para quem aflito coração materno suplicara socorro, dominada de novos pensamentos, recolocou o perigoso recipiente no lugar primitivo e, sob a vigorosa influência do diretor de nossa excursão, levantou-se automaticamente e estirou-se no leito, em prece…

18 — “Deus meu, Pai de Infinita Bondade, — implorou em voz alta, — compadece-te de mim e perdoa-me o fracasso! Não suporto mais… Sem minha presença, meu marido viverá mais tranquilo no leprosário e minha desventurada filhinha encontrará corações caridosos que lhe dispensem amor… Não tenho mais recursos… Estou doente… Nossas contas esmagam-me… Como vencer a enfermidade que me devora, obrigada a costurar sem repouso, entre o marido e a filhinha que me reclamam assistência e ternura?…”

19 Silas administrava-lhe passes magnéticos de prostração e, induzindo-a a ligeiro movimento do braço, fez que ela mesma, num impulso irrefletido, batesse com força no copo fatídico, que rolou no piso do quarto, derramando o líquido letal.

20 Em lágrimas copiosas, a pobre criatura insistiu, desolada:

— Ó Senhor, compadece-te de mim!…

21 Reconhecendo no próprio gesto impensado a manifestação de uma força estranha a entravar-lhe a possibilidade da morte deliberada naquele instante, passou a orar em silêncio, com evidentes sinais de temor e remorso, atitude mental essa que lhe acentuava a passividade e da qual se valeu o Assistente para conduzi-la ao sono provocado.

22 Silas emitiu forte jato de energia fluídica sobre o córtex encefálico dela, e a moça, sem conseguir explicar a si mesma a razão do torpor que lhe invadia o campo nervoso, deixou-se adormecer pesadamente, qual se houvera sorvido violento narcótico.


3. O Assistente interrompeu a operação socorrista e falou-nos, bondoso:

— Temos aqui asfixiante problema de conta agravada.

2 E designando a jovem mãe, agora extenuada, continuou:

— Marina veio de nossa Mansão para auxiliar a Jorge e Zilda, dos quais se fizera devedora. 3 No século passado, interpôs-se entre os dois, quando recém-casados, impelindo-os a deploráveis leviandades que lhes valeram angustiosa demência no Plano Espiritual. 4 Depois de longos padecimentos e desajustes, permitiu o Senhor que muitos amigos intercedessem, junto aos Poderes Superiores, para que se lhes recompusesse o destino, e os três renasceram no mesmo quadro social, para o trabalho regenerativo. 5 Marina, a primogênita do lar de nossa irmã Luísa, recebeu a incumbência de tutelar a irmãzinha menor [Zilda], que assim se desenvolveu ao calor de seu fraternal carinho, contudo, quando moças feitas, há alguns anos, eis que, segundo o programa de serviço traçado antes da reencarnação, a jovem Zilda reencontra Jorge e reatam, instintivamente, os elos afetivos do pretérito. Amam-se com fervor e confiam-se ao noivado. 6 Marina, porém, longe de corresponder às promessas esposadas no Mundo Maior, pelas quais lhe cabia amar o mesmo homem, no silêncio da renúncia construtiva, amparando a irmãzinha, outrora espoliada, nas lutas purificadoras que a atualidade lhe ofertaria, passou a maquinar projetos inconfessáveis, tomada de intensa paixão. 7 Completamente cega e surda aos avisos da sua consciência, começou a envolver o noivo da irmã em larga teia de seduções e, atraindo para o seu escuso objetivo o apoio de entidades caprichosas e enfermiças, por intermédio de doentios desejos, passou a hipnotizar o moço, espontaneamente, com o auxílio dos vampiros desencarnados, cuja companhia aliciara sem perceber… 8 E Jorge, inconscientemente dominado, transferiu-se do amor por Zilda à simpatia por Marina, observando que a nova afetividade lhe crescia assustadoramente no íntimo, sem que ele mesmo pudesse controlar-lhe a expansão… 9 Decorridos breves meses, dedicavam-se ambos a encontros ocultos, nos quais se comprometeram um com o outro na maior intimidade… Zilda notou a modificação do rapaz, contudo, procurava desculpar-lhe a indiferença à conta de cansaço no trabalho e dificuldades na vida familiar. 10 Todavia, em faltando apenas duas semanas para a realização do consórcio, surpreende-se a pobrezinha com a inesperada e aflitiva confissão… Jorge expõe-lhe a chaga que lhe excrucia o mundo interior… Não lhe nega admiração e carinho, mas desde muito reconhece que somente Marina deve ser-lhe a companheira no lar. 11 A noiva preterida sufoca o pavoroso desapontamento que a subjuga e, aparentemente, não se revolta. Mas, introvertida e desesperada, consegue na mesma noite do entendimento a dose de formicida com que põe termo à existência física. 12 Alucinada de dor, Zilda desencarnada foi recolhida por nossa irmã Luísa, que já se achava antes dela em nosso mundo, admitida na Mansão pelos méritos maternais. 13 A genitora desditosa rogou o amparo de nossos Maiores. Na posição de mãe, apiedava-se de ambas as jovens, de vez que a filha traidora, aos seus olhos, era mais infeliz que a filha escarnecida, embora esta última houvesse adquirido o grave débito dos suicidas, em seu caso atenuado pela alienação mental em que a moça se vira, sentenciada sem razão a inqualificável abandono… 14 Examinado o assunto, carinhosamente, pelo Ministro Sânzio, que conhecemos pessoalmente, determinou ele que Marina fosse considerada devedora em conta agravada por ela mesma. 15 E, logo após a decisão, providenciou a fim de que Zilda fosse recambiada ao lar para receber aí os cuidados merecidos. 16 Marina furtara-se à renunciação abençoada pela irmã que lhe era credora generosa, mas condenara-se ao sacrifício pela mesma irmãzinha, agora imposta pelo aresto da Lei ao seu convívio, na situação de filha terrivelmente sofredora e imensamente amada. 17 Foi assim que Jorge e Marina, livres, casaram-se, recolhendo da Terra a comunhão afetiva pela qual suspiravam; entretanto, dois anos após o enlace, receberam Zilda em rendado berço, como filhinha estremecida. 18 Mas… desde os primeiros meses do rebento adorado, identificaram-lhe a dolorosa prova. Zilda, hoje chamada Nilda, nasceu surda-muda e mentalmente retardada, em consequência do trauma perispirítico experimentado na morte por envenenamento voluntário. 19 Inconsciente e atormentada nos refolhos do ser pelas recordações asfixiantes do passado recente, chora quase que dia e noite… Quanto mais sofre, porém, mais ampla ternura recolhe dos pais que a amam com extremados desvelos de compaixão e carinho… 20 A vida corria-lhes regularmente, não obstante atribulada pelas provas naturais do roteiro, quando, há meses, Jorge foi apartado para o leprosário, onde se encontra em tratamento. 21 Desde então, entre o esposo doente e a filhinha infeliz, Marina, em seu débito agravado, padece o abatimento em que a encontramos, martelada igualmente pela tentação do suicídio.

22 Silenciou o Assistente.

Achávamo-nos, eu e Hilário, assombrados e comovidos.

O problema era doloroso do ponto de vista humano, contudo encerrava precioso ensinamento da Justiça Divina.

23 Silas acariciou a moça prostrada e acentuou:

— Auxiliar-nos-á o Senhor para que se recupere e reanime.


4. Nesse instante, a irmã Luísa penetrou no recinto, entre deprimida e ansiosa.

Inteirou-se de todas as ocorrências e agradeceu, enxugando as lágrimas.

2 Silas, no entanto, interessado em conduzir o socorro até ao fim, administrou novos recursos magnéticos à mãezinha debilitada, e então presenciamos um quadro inesquecível.

Marina ergueu-se em Espírito sobre o corpo somático e pousou em nós o olhar vago e inexpressivo…

3 Nosso diretor, porém, como a despertar-lhe as percepções do Espírito, afagou-lhe as pupilas, com as mãos aureoladas de fluidos luminescentes e, de repente, à maneira do cego que retorna à visão, a pobre criatura viu a genitora que lhe estendia os braços amigos e carinhosos. Com lágrimas a lhe correrem dos olhos, refugiou-se-lhe no regaço, gritando de alegria:

— Mãe! Minha mãe!… Pois és tu?

4 Luísa acolheu-a docemente no colo afetuoso, qual se o fizesse a uma criança doente e, mal reprimindo a emoção, falou-lhe, triste:

— Sim, filha querida, sou eu, tua mãe!… Rendamos graças a Deus por este minuto de entendimento.

5 E, beijando-a com agoniada ternura, continuou:

— Por que o desânimo, quando a luta apenas começa? Ignoras que a dor é a nossa custódia celestial? Que seria de nós, Marina, se o sofrimento não nos ajudasse a sentir e raciocinar para o bem? Regozija-te no combate que nos acrisola e salva para a obra de Deus… 6 Não convertas o amor em inferno para ti mesma e nem creias consigas aliviar o esposo e a filhinha com a ilusão da fuga impensada. Lembra-te de que o Senhor transforma o veneno de nossos erros em remédio salutar para o resgate de nossas culpas… 7 A enfermidade de nosso Jorge e a provação de nossa Nilda constituem não somente o caminho abençoado de elevação para eles mesmos, mas igualmente para teu Espírito que se lhes associa à experiência na trama da redenção!… 8 Aprende a sofrer com humildade para que a tua dor não seja simplesmente orgulho ferido… Onde situaste o brio de mulher e do devotamento de mãe? Olvidaste o culto da oração que o lar te ensinou? Enganaste-te, assim tanto, para abraçar a covardia como glória moral? 9 Ainda é tempo!… Levanta-te, desperta, luta e vive!… Vive para recuperar a dignidade feminina que tisnaste com a nódoa da traição… Recorda a irmãzinha que partiu, acabrunhada ao peso do fardo de aflição que lhe impuseste, e paga em desvelo e sacrifício, ao pé da filhinha doente, a conta que deves à Eterna Justiça!… Humilha-te e resgata a própria consciência, com o preço da expiação dolorosa, mas justa… 10 Trabalha e serve, esperando em Jesus, porque o Divino Médico te restituirá a saúde do esposo, para que, juntos, possamos conduzir a pequenina enferma ao porto da necessária restauração. 11 Não penses estar sozinha; nas longas e ermas noites em que te divides entre a vigília e a desolação!… Comungamos os mesmos sonhos, partilhamos as mesmas lutas!… 12 Que paraíso haverá para os corações maternos que choram, além do túmulo, senão a presença dos filhos abençoados, embora esses, muitas vezes, lhes ocasionem aflitivos dias de angústia? Compadece-te de mim, tua mãe, por enquanto sentenciada ao sofrimento pelo amor com que te ama!…

13 Calou-se Luísa, pois que singultos incessantes lhe abafaram a voz.

Marina, agora ajoelhada e lacrimosa, osculava-lhe as mãos, clamando em súplica:

— Mãe querida, perdoa-me! Perdoa-me!…

14 Luísa ergueu-a com esforço e, dando-nos ideia dos calvários maternais que costumam prender as grandes mulheres, depois da morte, conduziu-a em passos vacilantes até à criança enferma e, acarinhando a fronte da pequenina, empapada de suor, implorou, humilde:

— Filha querida, não procures a porta falsa da deserção… Vive para tua filhinha, como permite o Senhor possa eu continuar vivendo por ti!…

15 A moça, renovada, rojou-se sobre a menina triste, mas, como se a emotividade daquela hora lhe sufocasse a mente desperta, foi repentinamente atraída pelo corpo de carne, como o grânulo de ferro pelo ímã, e vimo-la acordar, em pranto copioso, bradando, inconsciente:

— Minha filha!… Minha filha!…

16 O Assistente, respeitoso, despediu-se de Luísa e afirmou:

— Louvado seja Deus! Nossa Marina ressurge, transformada.

Afastamo-nos sem palavras.

17 Lá fora, no céu, nuvens distantes coroavam-se de luz aos clarões purpúreos da aurora e, de alma embriagada de reconhecimento e esperança, meditei na Infinita Bondade de Deus, que faz raiar, depois de cada noite, a bênção de novo dia.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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