O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Amor e Luz — 2ª Parte — Testemunhos diversos


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Alberto Ferrante Filho n

“Do gênio violento que eu tinha, passei a compreender melhor as coisas…”


Neste começo, perdoem-me os leitores, explicarei em rápidas pinceladas como encontrei Francisco Cândido Xavier.

Papai n era pintor sacro. Uma criatura por demais apegada aos filhos.

Recebia vários convites para pintar em igrejas fora de nossa cidade. Quando isso acontecia, sofria muito vendo-se longe da família. Certa feita, combinou com mamãe que não pintaria mais fora de Franca. Cumpriria somente o último compromisso. Quando voltasse, que mamãe escolhesse um bom presente e seria atendida. — “O maior presente que você poderá me dar quando voltar é levar-me para conhecer Francisco Cândido Xavier”, foi a resposta. Assim ficou combinado. Papai saiu, cumpriu seu compromisso e voltou.

Passaram-se uns dias e acertaram a viagem a Pedro Leopoldo.

Aconteceu, porém, que um ou dois dias antes da viagem, apareceram em casa alguns dos seus alunos, pois papai era professor de pintura, e o convidaram para pintar algumas paisagens no campo. Gostando muito desse tipo de pintura e devotado aos alunos, aceitou o convite.

Chegando nas proximidades da Usina de Peixoto Piçarra, um de seus alunos chamou-o e mostrou-lhe: — “Olhe, Senhor Ferrante, que paisagens lindas são aquelas montanhas!”

Papai levantou-se para olhar. Nesse momento, infelizmente, a camioneta em que viajavam entrou numa curva acentuada e papai caiu para fora do veículo.

Seus alunos acudiram-no e perceberam que o caso era muito grave. Estava desacordado perdendo muito sangue. Voltaram rapidamente e passaram pela cidade de Ibiraci, a procura de um médico. Esse facultativo deu-lhe toda a assistência, acompanhando-o até o hospital de Franca. Imediatamente formou-se uma junta médica para observar o caso.

Acontece, porém, que os médicos, em vista da gravidade do caso e no afã de recuperar papai e como ele não reagia, acharam por bem enviá-lo a São Paulo para ser examinado por especialistas.

Nesse ínterim, o Dr. Thomaz Novelino tomou conhecimento do acidente e sabendo da providência que a junta médica pretendia tomar, aconselhou mamãe não deixar que o fizessem, considerando que o carinho e a presença da família muito contribuiriam para o tratamento. Papai esteve em coma por dezoito dias consecutivos. Depois foi se recuperando e ficou em tratamento que se prolongou por muito tempo. Posso dizer, de seis a oito anos.

Completamente curado, voltou a pintar.

Nessa época, o Dr. Agnello Morato esteve em Pedro Leopoldo e fotografou vários pontos da cidade para que papai pintasse. Gostaria de presentear Chico com um de seus quadros.

Pediu a papai que escolhesse uma das gravuras e a transferisse para a tela. Da escolha resultou a que mostra a queda de uma cachoeira existente em um recanto cujo nome não me recordo. Depois de pintada, foi levada pelo Dr. Morato.

Chico, ao desembrulhar e deparar com a imagem, num gesto de muita alegria falou: — “Este quadro para mim é de grande valor. O artista escolheu exatamente a cachoeira onde Emmanuel apareceu-me pela primeira vez.”

Pouco tempo depois papai desencarnou. Era 23 de junho de 1955.

Um ano depois, consegui comprar uma camioneta e convidei mamãe para um passeio a Pedro Leopoldo. Aquele que papai não conseguira realizar.

Fomos quatro pessoas. Mamãe, Edera, minha irmã e Francisco Aguilar Algate.

Após dois dias de permanência em Pedro Leopoldo, não tínhamos conseguido ver Chico Xavier. Desanimados, pensamos em voltar.

No quarto do hotel, conversávamos. Bateram à porta chamando-nos e, gentilmente, a senhoria da casa nos informava da presença de Chico em frente ao prédio.

Saímos rapidamente, mas não conseguimos descer a escada em razão do excessivo número de pessoas. Estávamos bem atrás, nos últimos degraus. Chico, dentro de um veículo, avistou mamãe. Saiu do carro e, pedindo licença, foi subindo, aproximando-se dela. Chamou-a pelo nome, abraçou-a, apresentou-a às pessoas que ali estavam, como a esposa do artista Senhor Alberto Ferrante. Chamou-me pelo nome e depois convidou-nos para irmos ao seu encontro à noite. Precisávamos conversar. Era a primeira vez que o víamos e ele nos chamava pelo nome.

Minha alegria era imensa. Para aguardar até a noite, estava se tornando uma eternidade. Meu desejo de estar junto dele crescia de minuto a minuto.

Chegamos ao Centro. Iniciadas as tarefas fomos convidados a fazer parte junto das pessoas que integravam a mesa, processando-se a reunião dentro das disciplinas que a regiam. Fiquei impressionado de ver o grande número de receitas naquela primeira parte do trabalho.

Terminado o receituário, fomos brindados com a mensagem de Emmanuel. Em seguida, percebi a fisionomia de Chico alterar-se completamente e grossas lágrimas correrem-lhe pela face. A emoção tomou conta de todos e percebemos que naquelas linhas chegava alguma mensagem comovedora. Terminada a psicografia, encerrou-se o trabalho. Chico pediu licença à mamãe se poderia ler aquela carta a nós dirigida. Achava-a linda e emotiva, gostaria que os presentes conhecessem o seu conteúdo.

Acompanhamos com muita emoção a leitura. Trazia no seu texto o nome de todos os filhos, genros e outros assuntos de nosso conhecimento. Entregou-me logo após os originais e foi para a livraria atender as solicitações de autógrafos em alguns dos seus livros.

Notei na mensagem a ausência do nome de minha irmã Lourdes. Acreditei ter havido alguma razão para tal. Minha irmã Edera aproximou-se e em particular, pediu-me que colocasse o nome da irmã. Também notara sua falta. Recusei, dizendo-lhe que aguardássemos. Continuou insistindo e, resoluto, respondi-lhe uma vez mais que esperasse.

Nesse momento, uma das pessoas presentes chama-me: “O Chico quer falar consigo”.

Atendi-o prontamente. Chico com todo carinho pediu-me a mensagem de volta dizendo:

— “Seu paizinho, ainda presente, disse que na hora da psicografia, muito emocionado, deixou de colocar o nome de sua filhinha Lourdes.”

Perguntou-me também se conhecia os Senhores Arnulfo de Lima e Dr. Ulisses Paiva. O Sr. Arnulfo havia conhecido e o Dr. Ulisses só de nome. Mas mamãe, em seguida, confirmava tê-lo conhecido. Esclareceu-nos que no momento que papai escrevia, estava sendo auxiliado por esses dois abnegados companheiros, que seguravam sua mão para que pudesse marcar sua presença.

Convidou-me para a peregrinação do dia seguinte. Foi daí que nasceu a ideia de iniciar em Franca aquele tipo de assistência, mantido até hoje, graças a Deus. Em homenagem a papai, esse trabalho recebeu o seu nome.

Dessa data em diante passei a frequentar mais assiduamente Pedro Leopoldo, viajando a cada dois meses. Com esses encontros fui sedimentando cada vez mais meu conhecimento na Doutrina e aplicando-o na estrutura do trabalho assistencial em Franca, com todo amor e carinho. Hoje contamos com assistência médica, dentária, alimentar e moradias para viúvas que são visitadas todos os sábados.

Ao mudar-se para Uberaba, numa noite, Chico fazia um telefonema para seus familiares em Pedro Leopoldo. Enquanto aguardávamos a ligação, viu papai e informou-nos de sua presença. Estava pedindo que transmitisse um recado à minha irmã Rute: queria terminar alguns quadros que deixara inacabados. E o faria por seu intermédio. Ela deveria pegar sua caixa de tintas e pincéis. Ele se faria notar e usaria suas mãos.

Apesar de nunca ter pegado um pincel, ela aceitou a incumbência e os quadros foram terminados.

Até agora recebemos quatro mensagens. Numa delas papai cita o nome de vários Espíritos de francanos que estavam no trabalho com ele. Perdoem-me não citá-los. Precisaríamos de muito espaço.

Amigos, depois que conheci Chico, minha vida transformou-se por completo. Do gênio violento que eu tinha, passei a compreender melhor as coisas, dedicando-me mais aos necessitados. Sim, ali estava o verdadeiro sentido, o exemplo vindo do Evangelho aplicado. Para os que o conhecem há muito tempo, veem nele sempre o mesmo exemplo de conduta moral, de amor, de trabalho, de tolerância, na humildade que gostaríamos de exemplificar em nossa vida.


Alberto Ferrante Filho



[28] Av. Presidente Vargas, 956. Franca — Est. De São Paulo.


[29] ALBERTO FERRANTE — Nascimento: 15/11/1901 — Desencarnação: 23/06/1955.


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