O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Almas em desfile — Hilário Silva — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


1

A fama de rico

1 O Coronel Manoel Rabelo, influente fazendeiro no Brasil Central, fora acometido de paralisia nas pernas.

Vivia no leito, rodeado pelos filhos atentos. Muito carinho. Assistência contínua.

2 No decurso da doença veio a conhecer a Doutrina Espírita, que lhe abriu novos horizontes à vida mental. Pouco a pouco desprendia-se da ideia de posse.

Para que morrer com fama de rico?

Queria agora a paz, a bênção da paz.

3 Viúvo, dono de expressiva fortuna e prevendo a desencarnação próxima, chamou os quatro filhos adultos e repartiu entre eles os seus bens.

Terras, sítios, casas e animais, avaliados em seis milhões de cruzeiros, foram divididos escrupulosamente.

4 Com isso, porém, veio a reviravolta.

Donos de riqueza própria, os filhos se fizeram distantes e indiferentes.

Muito embora as rogativas paternas, as visitas eram raras e as atenções inexistentes.

5 Rabelo, muito triste e quase completamente abandonado, perguntava a si mesmo se não havia cometido precipitação ou imprudência.

Os filhos não eram espíritas e mostravam irresponsabilidade completa.

6 Nessa conjuntura, apareceu-lhe antigo e inesperado devedor. O Coronel Antônio Matias, seu amigo da mocidade, veio desobrigar-se de empréstimo vultoso, que havia tomado sob palavra, e pagou-lhe dois milhões de cruzeiros, em cédulas de contado.

Na presença de dois dos filhos, Rabelo colocou o dinheiro em cofre forte, ao pé da cama.

7 Sobreveio o imprevisto.

Os quatro filhos voltaram às antigas manifestações de ternura. Revezavam-se junto dele. Papas de aveia. Caldos de galinha. Frutas e vitaminas.

Mantinham cobertores quentes e fiscalizavam a passagem do vento pelas janelas.

Raramente Rabelo ficava algumas horas sozinho.

8 E, assim, viveu ainda dois anos, desencarnando em grande serenidade.

Exposto o cadáver à visitação pública, fecharam-se os filhos no quarto do morto e, abrindo aflitamente o cofre, somente encontraram lá um bilhete escrito e assinado pela vigorosa letra paterna, entre as páginas de surrado exemplar de “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

9 O papel assim dizia:


“Meus filhos,

“Deus abençoe vocês todos.

“O dinheiro que me restava distribuí entre vários amigos para obras espíritas de caridade. Lego, porém, a vocês, o capítulo décimo quarto de O Evangelho segundo o Espiritismo.”


10 E os quatro, extremamente desapontados, leram a legenda que se seguia:

“Honrai a vosso pai e a vossa mãe. — Piedade filial.” ( † )


Hilário Silva


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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