O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Astronautas do Além — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Conflitos domésticos

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.


As nossas tarefas foram precedidas por várias observações de pais e mães que dialogavam no recinto. Eram amigos ou simpatizantes da Doutrina Espírita que nos visitavam procurando esclarecimento e reconforto, em vista dos conflitos domésticos que estão enfrentando. Conflitos sobretudo com os próprios descendentes.

No remate de cada conjunto de alegações só a ideia e a certeza da reencarnação davam lógica e entendimento aos assuntos em foco. Depois de várias conversações, todas elas proveitosas e oportunas, a nossa reunião foi iniciada e O Livro dos Espíritos nos ofereceu para estudo as questões 209 e 210 ( † ) que motivaram comentários preciosos sobre os temas da família consanguínea, aliados aos ensinamentos da reencarnação.

Ao término da reunião mais uma vez Emmanuel esteve presente complementando os estudos da noite. n


O PARENTE DIFÍCIL.

1 O parente que se te instalou no caminho por obstáculo dificilmente transponivel…

Abençoa-o e ampara-o, quanto puderes.

2 As leis de causa e efeito, tanto quanto os princípios de afinidade, não funcionam sem razão.

Observa.

3 O tempo segue rápido. Criaturas que viste na infância do corpo físico, quase que de improviso se transformaram e renteiam contigo nos caminhos da madureza.

4 Acontecimentos que rearticulas, a cores vivas, na memória, mostram a idade de muitos lustros.

5 Assim, no curso do tempo, as existências se intercambiam umas com as outras.

6 Os companheiros do passado voltam a nós, reclamando o trabalho ou a pacificação, o reajuste ou a assistência que lhes devemos.

7 Esse coração magoado e sofredor que nos compartilha a estrada do cotidiano na Terra é invariavelmente aquele mesmo espírito que nos fez o credor de maior ternura e mais ampla abnegação.

8 O filho rebelde, junto do qual te surpreendes hoje, é o irmão a quem prejudicaste ontem, com irreflexões que o atiraram para a teimosia ou para as sugestões de vingança;

  9 a filha menos submissa de agora é a jovem de antigamente em cujo sentimento plantaste desespero e revolta;

  10 o pai enigmático dos dias que correm é o companheiro que escravizaste aos próprios caprichos e de quem, no pretérito, comandavas as horas com violência e tirania;

  11 a genitora dominante é a irmã de outrora que tratavas sob os pés;

  12 o familiar portador de inquietação e de sofrimento é sempre a mesma pessoa que se desequilibrou à conta de nossos erros, em épocas transatas, e que exige reabilitação ao preço de nosso cuidado e devotamento, nas áreas da existência física.

13 É verdade que isso nem sempre ocorre na pauta de débitos nossos, ante a justiça. 14 O amor, onde surja, sabe sempre trazer a si aqueles a quem se consagra, convertendo empeços e provas em esperanças e alegrias, 15 à feição de Jesus que nos ama desde séculos imemoriais muito antes que o conhecêssemos, e nos sustenta a todos, na Terra, sem dívida alguma para conosco. 16 Ainda assim, recordemos: todo parente difícil é trabalho de amor ou rearmonização que a Divina Providência nos confia, a fim de que tenhamos o privilégio de transfigurá-lo em degrau de serviço e de luz, no rumo de nossa própria sublimação.


Emmanuel


A ALQUIMIA DO AMOR.


Para transformar as almas só existe um poder miraculoso: o amor. Sem ele, caímos, inevitavelmente, no cadinho do sofrimento, sob o fogo da dor. O amor é aquela energia misteriosa que os alquimistas procuravam, capaz de produzir a panaceia universal, remédio para todos os males, e revelar a pedra filosofal que transformava os metais comuns em ouro. A um toque de amor, as almas rudes e violentas se aprimoram e se abrandam. Por isso, ensina-nos Emmanuel que filhos e parentes difíceis não são enviados a nós apenas como inimigos do passado, mas também como criaturas queridas que perdemos nos descaminhos da vida. Nosso amor os atraí para transformá-los. Nesses casos de alquimia espiritual, os pais são sempre pacientes, abnegados, como os alquimistas medievais que se empenhavam em longas destilações e fundições em busca, de resultados impossíveis.

Em geral, pensamos que os alquimistas nada produziram nas suas loucas tentativas. Mas a verdade histórica, é bem outra. Da velha alquimia nasceu a Química, toda uma técnica de filtragem e mistura, de fusão de metais, com resultados positivos para a evolução científica do planeta. Assim, também na alquimia do amor, através das metamorfoses da reencarnação, os sacrifícios não são inúteis, os sofrimentos trazem os seus frutos. A mãe, que tudo perdoa e tudo esquece, acaba tocando o coração do filho e nele acende a chispa renovadora do amor. O pai, que suporta a rebeldia do filho em nome do amor paterno, dá-lhe a lição viva do exemplo que o libertará do passado negativo. Ai de nós se não fosse o amor, esse toque do espírito que, como a vara de Moisés, faz nascer da pedra a água para os sedentos! ( † )

Deus criou o mundo por amor, num ato de amor fez surgir o caos do nada e o cosmos do caos. Essas alegorias aturdem os espíritos positivos, mas quando encaramos a vida em suas transformações, vemos que a metamorfose é uma lei universal. Por toda parte, as coisas e os seres se transformam. Os educadores antigos usavam os castigos físicos para os alunos rebeldes, mas os pedagogos modernos verificaram que a verdadeira disciplina é a que nasce do coração do educando tocado pelo coração do mestre. Descartes descobriu que a ideia de Deus é inata no homem; Rousseau revelou a bondade natural da criatura humana e desde Pestalozzi sabemos que a educação é um ato de amor. Mas esse ato de amor não se realiza apenas na escola, começa no lar e prossegue pela vida afora. Os pregoeiros do ódio e da violência ainda infestam a nossa cultura, mas os conflitos e as fogueiras que acenderam se vão apagando ante a compreensão de que o amor é a única força capaz de modificar o mundo. Por isso, Jesus ensinou que devemos amar os nossos inimigos ( † ) e perdoar sempre. Filhos e parentes difíceis são pedintes de amor que o nosso amor atraiu para as nossas vidas. Não são provações, são apenas provas.


Irmão Saulo


[1] Os itens citados de O Livro dos Espíritos tratam precisamente da questão de pais bons com filhos maus, advertindo que estes são uma prova para os pais, e que o dever dos pais é melhorar o Espírito que lhes foi confiado, dando-lhe a orientação necessária.


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