O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Astronautas do Além — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Comportamento verbal

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.


Precedendo a nossa reunião pública, as opiniões em torno da palavra assumiam várias características. Principalmente no trato das criaturas que nos cercam, como seria melhor o nosso comportamento verbal? Assim diziam muitos dos nossos irmãos presentes. E as respostas diferenciadas iam surgindo.

Companheiros muitos afirmavam que é preciso destacar o mal a fim de extingui-lo, mostrando-lhe as cores agressivas. Outros asseveravam que é necessário dar ao palavrão liberdade completa para que a pessoa se desiniba. Outros diziam que a criatura deve alijar qualquer pensamento que lhe nasça no cérebro em forma de palavras, para descartar-se das impressões de que se veja objeto. E outros ainda optavam pelo controle de nossas possibilidades verbais a fim de nos educarmos para a vida.

Iniciada a reunião O Livro dos Espíritos nos deu para estudo a questão 918. ( † ) E o nosso amigo espiritual Albino Teixeira, na fase final, esteve presente com sua mensagem. n


AUTORRETRATO.

1 Sempre que a nossa palavra:

  censura;

  justifica;

  levanta;

  rebaixa;

  deprecia;

  louva;

  depreda;

  restaura;

  complica;

  auxilia;

  apoia;

  fere;

  abençoa

  ou condena

  seja a quem for,

   estamos fazendo o nosso próprio retrato. 2 E isso acontece porque sendo as atitudes, os pensamentos, as ideias, as emoções, os planos e as intenções dos outros, realidades dos outros — cujas origens autênticas não conseguimos penetrar — 3 toda vez que nos referimos aos outros estamos sempre efetuando a projeção parcial ou total de nós mesmos.


Albino Teixeira


MARTELADA FINAL.


Albino Teixeira não perdeu tempo. Diante das confusões do diálogo humano sobre a palavra deu um aparte rápido, desfechou a martelada final. Nada mais disse nem lhe foi perguntado. A mensagem incisiva acertou no meio do alvo. A palavra é projeção da alma. A gente fala do que o coração está cheio, diz o provérbio. ( † ) Emmanuel, no seu livro Pensamento e Vida, explica a mecânica da palavra: que vai da percepção à sensação, desta à emoção e desta ao pensamento e à expressão verbal. Como se vê, a sabedoria popular está certa, pois a palavra nasce do coração. Pensamos o que sentimos e falamos o que pensamos.

Santo Agostinho diz, na sua resposta a Kardec, que Deus colocou os inimigos ao nosso lado como espelhos, pois eles dizem o que sentem a nosso respeito sem o disfarce piedoso dos amigos. ( † ) Albino Teixeira considerou a palavra como autorretrato parcial ou total. Ambos mostram-nos a importância da palavra como forma de revelação do que somos. Os inimigos dão-nos o seu próprio retrato nas ofensas que nos dirigem, mas como refração do retrato pessoal que lhes demos em nossas palavras.

O palavrão empregado como catarse, como desabafo, não é apenas isso. É também confissão das sujeiras que trazemos por dentro. E confissão não basta para limpar a alma. Não podemos esquecer que as modernas teorias da desinibição partem de psicólogos materialistas que nada entendem dos problemas da alma, que consideram os problemas psíquicos em termos de reflexos orgânicos. A própria Parapsicologia atual condena essas psicologias sem alma que perderam o seu objeto, como lembrou o Prof. Rhine, classificando-as como simples ecologias, estudos da relação entre sujeito e meio.

No outro extremo do assunto temos o farisaísmo da palavra fingida, adocicada a ponto de dar enjoo. Nem tanto ao sal, nem tanto ao açúcar. No meio é que está o certo, a dosagem correta. Por isso ensinou Jesus: ( † ) “seja o teu falar sim, sim; não, não”. Nossa palavra tem de ser sincera, mas evitando os extremos. Mesmo porque a palavra tem força. Se nos habituarmos às más palavras elas nos arrastarão na enxurrada deixando-nos cada vez piores. Se nos habituarmos às palavras boas, sensatas e firmes, elas consolidarão o que temos de bom e nos ajudarão a melhorar.


Irmão Saulo


[1] A pergunta 919 de O Livro dos Espíritos refere-se ao meio mais eficaz de nos melhorarmos. A resposta é dada por Santo Agostinho que encarece a importância de nosso exame diário de consciência sobre o que fizemos e dissemos durante o dia.


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