O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Revista espírita — Ano VI — Março de 1863.

(Idioma francês)

A luta entre o passado e o futuro.

(Sumário)

1. — Como já nos havia sido anunciado, neste momento acontece uma verdadeira cruzada contra o Espiritismo. De vários pontos assinalam-se escritos, discursos e até atos de violência e de intolerância. Todos os espíritas devem regozijar-se, porque é a prova evidente de que o Espiritismo não é uma quimera. Fariam tanto barulho por causa de uma mosca que voa?

O que acima de tudo excita essa grande cólera é a prodigiosa rapidez com que a ideia nova se propaga, não obstante tudo quanto fizeram para detê-la. Assim, nossos adversários, forçados pela evidência a reconhecer que esse progresso invade as camadas mais esclarecidas da sociedade e, até mesmo, homens de ciência, estão reduzidos a deplorar esse arrastamento fatal, que conduz a sociedade inteira aos manicômios. A zombaria esgotou seu arsenal de piadas e sarcasmos, e esta arma, que se diz tão terrível, não conseguiu pôr os galhofeiros de seu lado, prova de que não há matéria para riso. Não é menos evidente que não desviou um só partidário da doutrina; longe disso: eles aumentaram a olhos vistos. A razão é muito simples: reconheceu-se prontamente tudo quanto há de profundamente religioso nessa doutrina, que toca as fibras mais sensíveis do coração, que eleva a alma ao infinito, que faz reconhecer Deus àqueles que o haviam desconhecido. Arrancou tantos homens do desespero, acalmou tantas dores, cicatrizou tantas feridas morais, que as anedotas estúpidas e vulgares a ela atiradas inspiraram mais repulsa que simpatia. Em vão os zombadores deitaram os bofes pela boca para provocar o riso à sua custa. Há coisas das quais sentimos instintivamente que não podemos rir sem cometer um sacrilégio.

Todavia, se algumas pessoas, não conhecendo a doutrina senão pelas facécias dos engraçadinhos, tivessem imaginado que não se tratava de um sonho vão, de lucubrações de um cérebro doentio, o que se passa é bem-feito para os desiludir. Ouvindo tanto discurso furibundo, devem dizer de si para si que é mais sério do que pensavam.

A população pode dividir-se em três classes: os crentes, os incrédulos e os indiferentes. Se o número de crentes centuplicou em alguns anos, só pode ter sido à custa das duas outras categorias. Mas os Espíritos que dirigem o Movimento acharam que as coisas não caminhavam bastante depressa. Ainda há, disseram eles, muita gente que não ouviu falar de Espiritismo, sobretudo no campo; é tempo de a doutrina ali penetrar. Além disso, é preciso despertar os indiferentes entorpecidos. A zombaria fez o seu papel de propaganda involuntária, mas esgotou todas as flechas de sua aljava; e os dardos que ainda lança estão rombudos; agora é um fogo muito pálido. É preciso algo de mais vigoroso, que faça mais barulho que os folhetins e que repercuta até nas solidões; é preciso que o último vilarejo ouça falar do Espiritismo. Quando a artilharia ribombar, cada um perguntará: O que há? e quererá ver.


2. — Quando fizemos a pequena brochura: O Espiritismo na sua expressão mais simples, perguntamos aos nossos guias espirituais que efeito ela produziria. Responderam-nos: “Produzirá um efeito que não esperas, isto é, teus adversários ficarão furiosos de ver uma publicação destinada, por seu baixíssimo preço, a espalhar-se na massa e penetrar em toda parte. Já te foi anunciado um grande desdobramento de hostilidades; tua brochura será o sinal. Não te preocupes; já conheces o fim. Eles se irritam em face da dificuldade de refutar teus argumentos.” – Já que é assim, dizemos nós, essa brochura, que deveria ser vendida a 25 centavos, sê-lo-á por dois sous. n O acontecimento justificou essas previsões e nós nos congratulamos por isso.


3. — Aliás, tudo o que se passa foi previsto e devia ser para o bem da causa. Quando virdes uma grande manifestação hostil, longe de vos apavorardes, regozijai-vos, pois foi dito: o ribombar do trovão será o sinal da aproximação dos tempos preditos. Orai, então, meus irmãos; orai, sobretudo, pelos vossos inimigos, pois serão tomados de verdadeira vertigem…

Mas nem tudo ainda está realizado. As chamas da fogueira de Barcelona não subiram bastante. Se se repetir em algum lugar, guardai-vos de a extinguir, porquanto, quanto mais se elevar, mais será vista de longe, como um farol, e ficará na lembrança das idades. Não intervenhais, pois, nem oponhais violência em parte alguma; lembrai-vos de que o Cristo disse a Pedro que embainhasse a espada. Não imiteis as seitas que se entredilaceram em nome de um Deus de paz, que cada um invoca em auxílio de seus furores. A verdade não se prova pelas perseguições, mas pelo raciocínio; em todos os tempos as perseguições foram as armas das causas más e dos que tomam o triunfo da força bruta pela razão. A perseguição não é um bom meio de persuasão; pode momentaneamente abater o mais fraco; convencê-lo, jamais. Porque, mesmo no infortúnio em que tiver sido mergulhado exclamará, como Galileu na prisão: e pur si muove! n Recorrer à perseguição é provar que se conta pouco com a força da lógica. Jamais useis de represálias: à violência oponde a doçura e uma inalterável tranquilidade; aos vossos inimigos retribui o mal com o bem. Por aí dareis um desmentido às suas calúnias e os forçareis a reconhecer que vossas crenças são melhores do que eles dizem.


4. — A calúnia! direis. Podemos ver com indiferença nossa doutrina indignamente deturpada por mentiras? acusada de dizer o que não diz, ensinar o contrário do que ensina, produzir o mal, quando só produz o bem? A própria autoridade dos que usam tal linguagem não pode falsear a opinião e retardar o progresso do Espiritismo?

Incontestavelmente, eis o seu objetivo. Alcançá-lo-ão? É outra questão; e não hesitamos em dizer que chegarão a um resultado inteiramente contrário: o de se desacreditarem e à sua própria causa. Sem dúvida, a calúnia é uma arma perigosa e pérfida, mas tem dois gumes e fere sempre a quem dela se serve. Recorrer à mentira para se defender é a prova mais forte de que não se têm boas razões para dar, porquanto, se as tivessem, não deixariam de as fazer valer. Dizei que uma coisa é má, se tal for a vossa opinião; gritai-o de cima dos telhados, se for do vosso agrado: ao público cabe julgar se estais certos ou errados. Mas deturpá-la para apoiar o vosso sentimento, desnaturá-la é indigno de todo homem que se respeita. Na crítica das obras dramáticas e literárias muitas vezes se veem apreciações opostas. Um crítico elogia sem reservas o que outro expõe ao ridículo; é direito seu. Mas o que pensar daquele que, para sustentar a sua censura, fizesse o autor dizer o que não diz e lhe atribuísse maus versos para provar que sua poesia é detestável?

Assim acontece com os detratores do Espiritismo. Pelas calúnias revelam a fraqueza de sua própria causa e a desacreditam, mostrando a que lamentáveis extremos são obrigados a recorrer para a sustentar. Que peso pode ter uma opinião fundada em erros manifestos? De duas, uma: ou esses erros são voluntários e, pois, há má-fé, ou são involuntários e o autor prova a sua inconsequência, falando do que não sabe. Num e noutro caso ele perde todo o direito à confiança.

O Espiritismo não é uma doutrina que marche na sombra. É conhecido e seus princípios são formulados de maneira clara, precisa e sem ambiguidades. A calúnia, portanto, não poderia atingi-lo. Para a convencer de impostura basta dizer: lede e vede. Sem dúvida, é útil desmascará-la; mas é preciso fazê-lo com calma, sem azedume nem recriminação, limitando-se a opor, sem discursos supérfluos, o que é ao que não é. Deixai aos vossos adversários a cólera e as injúrias; guardai para vós o papel da força verdadeira: o da dignidade e da moderação.

Aliás, é preciso não exagerar as consequências dessas calúnias, que trazem consigo o antídoto de seu veneno e são, em última análise, mais vantajosas que prejudiciais. Elas provocam forçosamente o exame dos homens sérios, que querem julgar as coisas por si mesmos e a isso são animados em razão da importância que lhes é dada. Ora, longe de temer o exame, o Espiritismo o provoca e não lamenta senão uma coisa: é que tanta gente fale dele como os cegos das cores. Mas, graças aos cuidados que os nossos adversários tomam em torná-lo conhecido, em breve este inconveniente não existirá mais; isto é tudo o que pedimos. A calúnia que ressalta de um tal exame o engrandece, ao invés de diminuí-lo.

Espíritas, não lamenteis, pois, essas deturpações, porque elas não tiram nenhuma das qualidades do Espiritismo; ao contrário, fá-lo-ão sobressair com mais brilho pelo contraste e confundirão os caluniadores. É bem possível que tais mentiras possam ter o efeito imediato de iludir certas pessoas e, mesmo, afastá-las. Mas, o que é isso? Que são alguns indivíduos junto às massas? Vós mesmos sabeis quanto o seu número é pouco considerável. Que influência pode ter isto no futuro? Esse futuro vos está assegurado: os fatos realizados o respondem e cada dia vos trazem a prova da inutilidade dos ataques de nossos adversários. A doutrina do Cristo não foi caluniada, qualificada de subversiva e ímpia? Ele mesmo não foi tratado como velhaco e impostor? Inquietou-se por isto? Não, pois sabia que seus inimigos passariam e sua doutrina ficaria. Assim será com o Espiritismo. Singular coincidência! É apenas o retorno à pura lei do Cristo, e o atacam com as mesmas armas! Mas os seus detratores passarão; é uma necessidade à qual ninguém pode subtrair-se. A geração atual se extingue todos os dias e, com ela, vão-se os homens imbuídos dos preconceitos de outra época; a que surge é alimentada por ideias novas e, aliás, sabeis que ela se compõe de Espíritos mais adiantados que, enfim, devem fazer reinar a lei de Deus na Terra. Olhai, pois, as coisas de mais alto; não as vejais do ponto de vista acanhado do presente, mas deitai o olhar para o futuro e dizei: o futuro é nosso; que nos importa o presente? que são as questões pessoais? As pessoas passam, mas as instituições permanecem. Pensai que estamos num momento de transição, que assistimos à luta entre o passado, que se debate e puxa para trás, e o futuro, que nasce e empurra para a frente. Quem vencerá? O passado é velho e caduco – falamos das ideias – enquanto o futuro é jovem e marcha para a conquista do progresso, que está nas leis de Deus. Vão-se os homens do passado; chegam os do futuro. Saibamos, pois, esperar com confiança e nos congratulemos por sermos os pioneiros encarregados de desbravar o terreno. Se tivermos trabalho, teremos salário. Trabalhemos, pois, não por uma propaganda furibunda e irrefletida, mas com a paciência e a perseverança do trabalhador que sabe o tempo que lhe falta para aguardar a ceifa. Semeemos a ideia, mas não comprometamos a colheita por uma semeadura intempestiva e por nossa impaciência, antecipando a estação apropriada a cada coisa. Cultivemos, acima de tudo, as plantas férteis, que não pedem senão para germinar. Elas são bastante numerosas para ocupar todos os nossos instantes, sem consumir nossas forças contra os rochedos inamovíveis, que Deus se encarrega de abalar ou de remover quando chegar, o tempo, porque se Ele tem o poder de elevar montanhas, também tem o de as autor prova a sua inconsequência, falando do que não sabe. Num e noutro caso ele perde todo o direito à confiança.

O Espiritismo não é uma doutrina que marche na sombra. É conhecido e seus princípios são formulados de maneira clara, precisa e sem ambiguidades. A calúnia, portanto, não poderia atingi-lo. Para a convencer de impostura basta dizer: lede e vede. Sem dúvida, é útil desmascará-la; mas é preciso fazê-lo com calma, sem azedume nem recriminação, limitando-se a opor, sem discursos supérfluos, o que é ao que não é. Deixai aos vossos adversários a cólera e as injúrias; guardai para vós o papel da força verdadeira: o da dignidade e da moderação.

Aliás, é preciso não exagerar as consequências dessas calúnias, que trazem consigo o antídoto de seu veneno e são, em última análise, mais vantajosas que prejudiciais. Elas provocam forçosamente o exame dos homens sérios, que querem julgar as coisas por si mesmos e a isso são animados em razão da importância que lhes é dada. Ora, longe de temer o exame, o Espiritismo o provoca e não lamenta senão uma coisa: é que tanta gente fale dele como os cegos das cores. Mas, graças aos cuidados que os nossos adversários tomam em torná-lo conhecido, em breve este inconveniente não existirá mais; isto é tudo o que pedimos. A calúnia que ressalta de um tal exame o engrandece, ao invés de diminuí-lo.

Espíritas, não lamenteis, pois, essas deturpações, porque elas não tiram nenhuma das qualidades do Espiritismo; ao contrário, fá-lo-ão sobressair com mais brilho pelo contraste e confundirão os caluniadores. É bem possível que tais mentiras possam ter o efeito imediato de iludir certas pessoas e, mesmo, afastá-las. Mas, o que é isso? Que são alguns indivíduos junto às massas? Vós mesmos sabeis quanto o seu número é pouco considerável. Que influência pode ter isto no futuro? Esse futuro vos está assegurado: os fatos realizados o respondem e cada dia vos trazem a prova da inutilidade dos ataques de nossos adversários. A doutrina do Cristo não foi caluniada, qualificada de subversiva e ímpia? Ele mesmo não foi tratado como velhaco e impostor? Inquietou-se por isto? Não, pois sabia que seus inimigos passariam e sua doutrina ficaria. Assim será com o Espiritismo. Singular coincidência! É apenas o retorno à pura lei do Cristo, e o atacam com as mesmas armas! Mas os seus detratores passarão; é uma necessidade à qual ninguém pode subtrair-se. A geração atual se extingue todos os dias e, com ela, vão-se os homens imbuídos dos preconceitos de outra época; a que surge é alimentada por ideias novas e, aliás, sabeis que ela se compõe de Espíritos mais adiantados que, enfim, devem fazer reinar a lei de Deus na Terra. Olhai, pois, as coisas de mais alto; não as vejais do ponto de vista acanhado do presente, mas deitai o olhar para o futuro e dizei: o futuro é nosso; que nos importa o presente? que são as questões pessoais? As pessoas passam, mas as instituições permanecem. Pensai que estamos num momento de transição, que assistimos à luta entre o passado, que se debate e puxa para trás, e o futuro, que nasce e empurra para a frente. Quem vencerá? O passado é velho e caduco – falamos das ideias – enquanto o futuro é jovem e marcha para a conquista do progresso, que está nas leis de Deus. Vão-se os homens do passado; chegam os do futuro. Saibamos, pois, esperar com confiança e nos congratulemos por sermos os pioneiros encarregados de desbravar o terreno. Se tivermos trabalho, teremos salário. Trabalhemos, pois, não por uma propaganda furibunda e irrefletida, mas com a paciência e a perseverança do trabalhador que sabe o tempo que lhe falta para aguardar a ceifa. Semeemos a ideia, mas não comprometamos a colheita por uma semeadura intempestiva e por nossa impaciência, antecipando a estação apropriada a cada coisa. Cultivemos, acima de tudo, as plantas férteis, que não pedem senão para germinar. Elas são bastante numerosas para ocupar todos os nossos instantes, sem consumir nossas forças contra os rochedos inamovíveis, que Deus se encarrega de abalar ou de remover quando chegar o tempo, porque se Ele tem o poder de elevar montanhas, também tem o de as rebaixar. Deixemos a figura e digamos claramente que há resistências que será supérfluo tentar vencer, e que se obstinam mais por amor-próprio ou por interesse do que por convicção. Seria perder tempo procurar trazê-las a nós; elas só cederão perante a força da opinião. Recrutemos os adeptos entre gente de boa vontade, que não falta; aumentemos a falange com todos os que, fatigados pela dúvida e aterrorizados com o nada materialista, pedem apenas para crer, e logo seu número será tal que os outros acabarão por se render à evidência. Já se manifesta o resultado; esperai, pois em pouco vereis em vossas fileiras aqueles que só esperáveis no final.



[1] N. do T.: Antiga moeda de cobre ou de níquel; corresponderia a cerca de cinco centavos de franco francês.


[2] N. do T.: A expressão italiana correta é: e pur si muove, embora no original esteja move.


Abrir