O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IV — Setembro de 1861.

(Idioma francês)

Dissertações e ensinos espíritas.


Um Espírito israelita a seus correligionários.

Nossos leitores se recordam da bela comunicação publicada no número de março último, sobre a lei de Moisés e a lei do Cristo, assinada por Mardochée e recebida pelo Sr. R…, de Mulhouse.  †  Esse senhor recebeu outras, igualmente notáveis, do mesmo Espírito, e que publicaremos. A que damos a seguir é de um outro parente, falecido há alguns meses. Foi ditada em três ocasiões diferentes.


A TODOS QUE CONHECI.

I.


Meus amigos,

Sede espíritas, eu vos conjuro a todos. O Espiritismo é a lei de Deus; é a lei de Moisés aplicada à época atual. Quando Moisés deu a lei aos filhos de Israel, fê-la tal qual Deus lha dera, e Deus a apropriou aos homens daquele tempo. Mas depois os homens progrediram; melhoraram em todos os sentidos; fizeram progressos em ciência e moralidade; hoje, cada um sabe conduzir-se; cada um sabe o que deve ao Criador, ao próximo, a si mesmo. Hoje, pois, é preciso alargar as bases do ensino; o que a lei de Moisés vos ensinou já não basta para fazer avançar a Humanidade e Deus não quer que fiqueis sempre no mesmo ponto, porquanto, o que era bom há cinco mil anos já não o é hoje. Quando quereis que vossos filhos progridam e desejais dar-lhes uma educação um tanto mais esmerada, sempre os enviais à mesma escola, onde não aprenderiam senão as mesmas coisas? Não; vós os mandais a uma escola superior. Pois bem! São chegados os tempos, meus amigos, em que Deus quer ampliar o quadro dos vossos conhecimentos. O próprio Cristo, embora tenha feito a lei mosaica avançar um passo, não disse tudo, pois não teria sido compreendido, mas lançou sementes que deveriam ser recolhidas e aproveitadas pelas gerações futuras. Deus, em sua infinita bondade, vos envia hoje o Espiritismo, cujas bases estão, inteiras, na lei bíblica e na lei evangélica, para vos elevar e ensinar a vos amardes uns aos outros. Sim, meus amigos: a missão do Espiritismo é extinguir todos os ódios, de homem a homem, de nação a nação; é a aurora da fraternidade universal que se levanta; somente com o Espiritismo podeis chegar a uma paz geral e durável.

Levantai-vos, pois, ó povos! ficai de pé, porque Deus, o Criador de todas as coisas, envia os Espíritos de vossos parentes para vos abrirem um novo caminho, maior e mais amplo do que aquele que ainda seguis. Oh! meus amigos, não sejais os últimos a vos render à evidência, porquanto a mão de Deus pesará sobre os incrédulos, fazendo desapareçam da face da Terra os endurecidos, a fim de não perturbarem o reino do bem, que se prepara. Crede nas advertências daquele que foi e será sempre vosso parente e vosso amigo.

Que os israelitas tomem a dianteira! Que ostentem rapidamente e sem tardança a bandeira que Deus envia aos homens, para os congregar numa só família. Armai-vos de coragem e de resolução; não hesiteis; não vos detenhais diante dos retardatários que vos queiram reter os passos, falando-vos de sacrilégios. Não, meus amigos, não há sacrilégio; lamentai os que tentarem retardar a vossa marcha com semelhantes pretextos. Não vos diz a razão que neste mundo nada há de imutável. Só Deus é imutável; mas tudo quanto Ele criou deve seguir, e segue, uma marcha progressiva, que nada pode deter, porque está nos desígnios do Criador. Assim, não cuideis de impedir que a Terra gire!

As instituições, magníficas há cinco mil anos, hoje estão velhas; o objetivo a que se destinavam está superado; elas já não bastam à sociedade atual, assim como o antigo regime francês já não serviria à França dos nossos dias. Novo progresso se prepara, sem o qual todos os outros melhoramentos sociais ficam desprovidos de bases sólidas: o progresso da fraternidade universal, cujas sementes foram lançadas pelo Cristo e que germinam no Espiritismo. Seríeis, então, os últimos a entrar nessa via? Não vedes que o mundo velho está num trabalho de parto para se renovar? Lançai os olhos sobre o mapa, não digo da Europa, mas do mundo, e vede de que maneira, uma a uma, caem todas as instituições antiquadas, para jamais se levantarem. Por quê? É a aurora da liberdade que se ergue, banindo os despotismos de toda espécie, como os primeiros raios do Sol expulsam as trevas da noite. Os povos estão cansados de terem sido inimigos; compreendem que sua felicidade está na fraternidade e querem ser livres, porque não poderão melhorar e tornar-se irmãos enquanto não forem livres. Não reconheceis à frente de um grande povo um homem eminente, que desempenha uma missão assinalada por Deus e prepara os caminhos? Não ouvis o sombrio retumbar do Velho Mundo, que se desmorona para dar lugar a uma nova era? Logo vereis surgir na cátedra de São Pedro  †  um pontífice que proclamará os novos princípios, e esta crença, que será a de todos os povos, reunirá as seitas dissidentes numa só e mesma família. Estai prontos; içai a bandeira desse ensinamento tão grande e tão santo, para não serdes os últimos.

Israelitas de Bordeaux  †  e de Bayonne,  †  vós que marchastes à frente do progresso, erguei-vos; aclamai o Espiritismo, porque é a lei do Senhor, e bendizei-o, por vos trazer os meios de chegar mais prontamente à felicidade eterna, que está destinada aos seus eleitos.


II.


Meus amigos,

Não vos surpreendais ao lerdes esta comunicação. Ela vem de mim, Edouard Pereyre, vosso parente, vosso amigo, vosso compatriota. Fui eu mesmo que a ditei ao meu sobrinho Rodolfo, cuja mão seguro para fazê-lo escrever com minha letra. Dou-me a esse trabalho, fatigante tanto a mim quanto ao médium, a fim de melhor vos convencer, pois o medianeiro deve seguir um movimento contrário ao que lhe é habitual.

Sim, meus amigos, o Espiritismo é uma nova revelação; compreendei o alcance desta palavra em toda a sua acepção. É uma revelação porque vos desvenda uma nova força da Natureza, da qual não suspeitáveis e, contudo, é tão antiga quanto o mundo. Era conhecida na época de Moisés, pelos homens superiores de nossa história religiosa, e foi por ela que recebestes os primeiros ensinamentos sobre os deveres do homem para com o seu Criador; mas ela não deu senão o que era compatível com os homens daquela época.

Hoje, que o progresso está feito; que a luz se espalha nas massas; que a estupidez e a ignorância dos primeiros tempos começam a dar lugar à razão e ao senso moral; hoje que a ideia de Deus é por todos compreendida ou, pelo menos, pela maioria, dá-se uma nova revelação, que se produz simultaneamente entre todos os povos instruídos, revelação que todavia se modifica conforme o grau de adiantamento desses povos. Tal revelação vos diz que o homem não morre, que a alma sobrevive ao corpo e habita o espaço; está entre vós, ao vosso lado.

Sim, meus amigos; consolai-vos quando perderdes um ser que vos é caro, desde que só perdeis o seu corpo material; seu Espírito vive no meio de vós, para vos guiar, instruir e inspirar. Enxugai vossas lágrimas, sobretudo se ele for bom, caridoso e sem orgulho, porque, então, ele é feliz nesse novo mundo, onde todas as religiões se confundem numa só e mesma adoração, banindo os ódios e os ciúmes de seitas. Nós também somos felizes, quando podemos inspirar esses mesmos sentimentos aos homens, a quem estamos encarregados de instruir, e a nossa maior felicidade é vos ver entrar no bom caminho, porque, então, abris a porta pela qual vos juntareis a nós. Perguntai ao médium quais os sublimes ensinamentos que ele recebe de seu avô Mardochée; se segue o caminho que lhe é traçado, prepara para si um futuro de felicidade, mas se falta aos seus deveres após um tal ensino, arcará com toda a responsabilidade e terá de recomeçar até haver cumprido de modo aceitável a sua tarefa.

Sim, meus amigos; já vivemos corporalmente e viveremos ainda. A felicidade que desfrutamos é apenas relativa; há estados muito superiores àquele em que estamos e aos quais não se chega senão por encarnações sucessivas e progressivas em outros mundos. Não julgueis, portanto, que de todos os globos do Universo seja a Terra o único habitado. Pobre orgulho humano, que pensa ter Deus criado todos os astros apenas para deleitar a sua vista! Sabei, então, que todos os mundos são habitados e, entre eles, se soubésseis a posição que ocupa a Terra, não teríeis razão para vos glorificardes! Se não fosse para cumprir a missão que nos é dada, de vos inspirar e instruir, quantos de nós teríamos preferido visitar esses mundos e nos instruirmos nós mesmos! Mas nossos deveres e nossas afeições ainda nos ligam à Terra. Mais tarde, quando cedermos o lugar aos que chegarem por último, iremos tomar outras existências em mundos melhores, purificando-nos gradualmente até chegar a Deus, nosso Criador.

Eis o Espiritismo. Eis o que ele ensina, e isto é a verdade que hoje podeis compreender e que deve auxiliar a vos regenerardes.

Compreendei bem que todos os homens são irmãos, quer sejam negros ou brancos, ricos ou pobres, muçulmanos, judeus ou cristãos. Como, para progredir, devem renascer várias vezes, conforme a revelação feita pelo Cristo, permite Deus que aqueles que foram unidos em vidas anteriores pelos laços do sangue ou da amizade, se encontrem novamente na Terra, sem se conhecerem, mas em condições relativas às expiações que devem suportar por suas faltas passadas, de sorte que aquele que é o vosso servo pode ter sido vosso senhor em outra existência. O infeliz a quem recusais assistência talvez seja um dos vossos antepassados, do qual vos orgulhais, ou um amigo que vos foi caro. Compreendeis agora o alcance do mandamento do Decálogo: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”?  ( † ) Eis, meus amigos, a revelação que vos deve conduzir à fraternidade universal, quando for compreendida por todos. Eis por que não deveis permanecer imutáveis em vossos princípios, mas seguir a marcha do progresso traçado por Deus, sem jamais vos deterdes. Eis por que vos exortei a empunhar a bandeira do Espiritismo. Sim, sede espíritas, pois é a lei de Deus, e lembrai-vos de que neste caminho está a felicidade, porque é ela que conduz à perfeição. Eu vos sustentarei, eu e todos aqueles que conhecestes, os quais, como eu, agem no mesmo sentido.

Que em cada família se estude o Espiritismo; que em cada família se formem médiuns, a fim de multiplicar os intérpretes da vontade de Deus. Não vos deixeis desencorajar pelos entraves das primeiras provas; muitas vezes elas são cercadas de dificuldades e nem sempre isentas de perigo, pois não haverá recompensa onde não houver um pouco de esforço. Todos podeis adquirir essa faculdade; mas estudai antes de tentar obtê-la, a fim de vos premunirdes contra os obstáculos. Purificai-vos de vossas máculas; emendai o coração e os pensamentos para afastar de vós os maus Espíritos; orai, sobretudo, pelos que procuram vos obsidiar, porquanto é a prece que os converte e deles vos liberta. Que a experiência de v ossos antecessores vos seja proveitosa e vos impeça de cairdes nas mesmas faltas!

Continuarei minhas instruções.


III.


A religião israelita foi a primeira que formulou, aos olhos dos homens, a ideia de um Deus espiritual. Até então os homens adoravam: uns, o Sol; outros, a Lua; aqui, o fogo; ali, os animais. Mas em parte alguma a ideia de Deus era representada em sua essência espiritual e imaterial.

Chegou Moisés; trazia uma lei nova, que derrubava todas as ideias até então recebidas. Tinha de lutar contra os sacerdotes egípcios, que mantinham os povos na mais absoluta ignorância, na mais abjeta escravidão, e contra esses sacerdotes, que desse estado de coisas tiravam um poder ilimitado, não podendo ver sem pavor a propagação de uma ideia nova, que vinha destruir os fundamentos de seu poder e ameaçava derrubá-los. Essa fé trazia consigo a luz, a inteligência e a liberdade de pensar; era uma revolução social e moral. Assim, os adeptos dessa fé, recrutados entre todas as classes do Egito, e não só entre os descendentes de Jacó, como erroneamente tem sido dito, eram perseguidos, acossados, submetidos aos mais duros vexames e, por fim, expulsos do país, porque infestavam a população com ideias subversivas e antisociais. É sempre assim, toda vez que um progresso surge no horizonte e resplandece sobre a Humanidade. As mesmas perseguições e os mesmos tratamentos acompanham os inovadores que lançam sobre o solo da nova geração os germes fecundos do progresso e da moral. É que toda inovação progressiva, ao levar à destruição de certos abusos, tem, necessariamente, por inimigos todos quanto estão interessados na manutenção desses abusos.

Mas Deus Todo-Poderoso, que conduz com infinita sabedoria os acontecimentos de onde deve surgir o progresso, inspirou Moisés; deu-lhe um poder que homem algum havia tido e, pela irradiação desse poder, cujos efeitos feriam os olhos dos mais incrédulos, Moisés adquiriu uma imensa influência sobre uma população que, confiando cegamente em seu destino, realizou um desses milagres, cuja impressão deveria perpetuar-se de geração em geração, como lembrança imperecível do poder de Deus e de seu profeta.

A passagem do mar Vermelho  †  foi o primeiro ato da libertação desse povo. Mas sua educação estava por fazer; era preciso domá-lo pela força do raciocínio e por milagres muitas vezes repetidos; era preciso inculcar-lhes a fé e a moral, ensinando-lhes a pôr a força e a confiança num Deus criador, ser imaterial, infinitamente bom e justo. Os quarenta anos de provações passados no deserto, em meio de privações, sofrimentos e vicissitudes de toda ordem, e os exemplos de insubordinação tão severamente reprimidos por uma justiça providencial, tudo contribuiu para desenvolver nele a fé nesse ser Todo-Poderoso, cuja mão, ora benfeitora, ora severa, punia quem O desafiasse.

No Monte Sinai ocorreu esta primeira revelação, este notável mistério, que surpreendeu o mundo, o subjugou e espalhou sobre a Terra os primeiros benefícios de uma moral que libertaria o Espírito das garras da carne e de um despotismo embrutecedor; que colocou o homem acima da esfera dos animais, dele fazendo um ser superior, capaz de elevar-se, pelo progresso, à suprema inteligência.

Os primeiros passos desse povo, que havia confiado seu destino ao homem de Deus, foram entravados por guerras, cujo efeito devia ser o germe fecundo de uma renovação social entre as populações que o combatiam. O judaísmo tornava-se o foco da luz, da inteligência e da liberdade, e irradiava um brilho extraordinário sobre todas as nações vizinhas, provocando ódio e hostilidade. Este resultado imediato estava nos desígnios de Deus; sem isso, o progresso teria sido muito lento. E, ao mesmo tempo que essas guerras fecundavam os germes do progresso, eram uma ficção para os judeus, cuja fé reavivavam.

Esse povo; liberto de um outro e confiando irrefletidamente na conduta de um homem, que o surpreendera em virtude de um poder miraculoso, tinha uma missão; era um povo predestinado.

Não é sem razão que foi dito: cumpria uma missão de que não se dava conta, nem ele, nem os outros povos; ia às cegas, executando sem compreender os desígnios da Providência. Essa árida missão foi cheia de fel e de amargura; seus apóstolos sofreram todas as humilhações possíveis, foram perseguidos, oprimidos, lapidados e dispersos, embora trouxessem consigo essa fé viva e inteligente, essa confiança em seu Deus, cujo poder haviam medido, cuja bondade haviam experimentado e cujas provas aceitavam, sobretudo as que deviam trazer à Humanidade os benefícios da civilização.

Eis os vossos apóstolos obscuros, ridicularizados, desprezados; eis os primeiros pioneiros da liberdade. Terão sofrido bastante, da sua saída do Egito até os nossos dias?

A hora da reabilitação não tardará a soar para eles, e não está longe o dia que haverá de saudar esses primeiros soldados da civilização moderna, com reconhecimento e veneração; far-se-á justiça aos descendentes dessas antigas famílias que, inabaláveis em sua fé, a levaram como dote a todas as nações onde Deus permitiu que fossem dispersados.

Quando Jesus-Cristo apareceu, era ainda um enviado de Deus; como Moisés, era um novo astro que surgia na Terra, retomando sua missão para dar-lhe continuidade, desenvolvê-la e adaptá-la ao progresso realizado. O próprio Cristo estava destinado a sofrer essa morte ignominiosa, cujas vias os judeus haviam preparado, desencadeando as suas circunstâncias, e cujo crime foi cometido pelos romanos. Deixai, porém, de considerar a história dos povos e dos homens como a haveis considerado até hoje. Em vosso orgulho, imaginais que foram eles que provocaram os acontecimentos que mudaram a face do mundo e esqueceis que há um Deus no Universo, regendo essa harmonia admirável, cujas leis suportais, imaginando que a impondes vós mesmos. Olhai, assim, de um ponto mais elevado a História da Humanidade; abarcai um horizonte mais vasto e notai que tudo segue um sistema único; a lei do progresso em cada século, e não em cada dia, vos leva a dar um passo.

Jesus-Cristo foi, pois, a segunda fase, a segunda revelação, e seus ensinamentos levaram dezoito séculos para se espalharem e se vulgarizarem. Por aí julgai quanto é lento o progresso e o que deveriam ser os homens quando Moisés trouxe ao mundo admirado a ideia de um Deus Todo-Poderoso, infinito e imaterial, cujo poder se tornava visível para esse povo, para quem sua missão trouxe tantos espinhos e tantas perturbações. O progresso não se realiza sem dificuldade; é à sua custa, é por seus sofrimentos e cruéis vicissitudes que a Humanidade toma consciência do objetivo do seu destino e do poder daquele a quem deve a existência.

Portanto, o Espiritismo foi o resultado da segunda revelação. Mas essa doutrina, cuja sublime moral o Cristo havia trazido e desenvolvido, tem sido compreendida em sua admirável simplicidade? De que modo é praticada pela maior parte dos que a professam? Nunca a desviaram de seu objetivo? Jamais abusaram dela, para que servisse de instrumento ao despotismo, à ambição e à cupidez? Numa palavra, todos os que se dizem cristãos o são conforme o seu fundador? Não! Eis por que eles também deviam passar pelo alambique da infelicidade, que tudo purifica. A História do Cristianismo é por demais moderna para contar todas as suas peripécias; mas, enfim, o objetivo está perto de ser alcançado, a nova aurora vai despontar e, por meios diferentes, vai fazer com que marcheis a passo mais rápido neste caminho, onde levastes seis mil anos para chegar.

O Espiritismo é o advento de uma era que verá realizar-se esta revolução nas ideias dos povos, uma vez que haverá de destruir essas prevenções incompreensíveis, esses preconceitos imotivados, que acompanharam e seguem os judeus em sua longa e penosa peregrinação. Compreender-se-á que sofressem um destino providencial, do qual eram os instrumentos, assim como aqueles que os perseguiam com seu ódio o faziam impelidos pelo mesmo poder, cujos secretos desígnios deviam realizar-se por caminhos misteriosos e ignorados.

Sim, o Espiritismo é a terceira revelação. Revela-se a uma geração de homens mais adiantados, portadores das mais nobres aspirações, generosas e humanitárias, que devem concorrer para a fraternidade universal. Eis o novo destino assinalado por Deus para os vossos esforços; mas esse resultado, da mesma forma que os já atingidos até hoje, não será obtido sem dores e sem sofrimento. Que se ergam os que se sintam com coragem de ser seus apóstolos; que levantem a voz, falem alto e claro e exponham suas doutrinas; que ataquem os abusos e mostrem o seu objetivo. Esse objetivo não é a brilhante miragem que em vão perseguis; é real e o atingireis na época fixada por Deus. Talvez esteja distante, mas lá está determinada. Não temais; ide, apóstolos do progresso, marchai corajosamente, a fronte erguida e o coração resignado. Tendes por sustentáculo uma doutrina completamente isenta de mistérios, que faz apelo às mais belas virtudes da alma e oferece essa certeza consoladora de que a alma não morre nunca, sobrevivendo à morte e aos suplícios.

Eis, meus amigos, o objetivo desvendado. Perguntareis: Quais os apóstolos? Como os reconheceremos? Deus se encarrega de vo-los tornar conhecidos, por missões que lhes serão confiadas e que haverão de realizar. Reconhecê-los-ei por suas obras, e não pelas qualidades que se atribuam. Os que recebem missões do alto as cumprem, mas não se glorificam, porque Deus escolhe os humildes para difundir a sua palavra, e não os ambiciosos e orgulhosos. Por estes sinais reconhecereis os falsos profetas.

Edouard Pereyre.


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