O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano I — Janeiro de 1858.

(Idioma francês)

O Livro dos Espíritos. n

(Sumário)

CONTÉM


Os Princípios da Doutrina Espírita.


Sobre a natureza dos seres do mundo incorpóreo, suas manifestações e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade.


ESCRITO DE ACORDO COM O DITADO E PUBLICADO POR ORDEM DOS ESPÍRITOS SUPERIORES.


Por ALLAN KARDEC.


Esta obra, como o indica seu título, não é uma doutrina pessoal: é o resultado do ensino direto dos próprios Espíritos sobre os mistérios do mundo onde estaremos um dia, e sobre todas as questões que interessam à Humanidade; eles nos dão, de algum modo, o código da vida, ao nos traçarem a rota da felicidade futura. Não sendo este livro fruto de nossas ideias, visto que, sobre muitos pontos importantes tínhamos uma maneira de ver bem diversa, nossa modéstia nada sofreria com os nossos elogios; preferimos, no entanto, deixar falar os que estão inteiramente desinteressados por esta questão.

O Courrier de Paris,  †  de 11 de julho de 1857, publicou sobre este livro o seguinte artigo:


A Doutrina Espírita.


O Editor Dentu acaba de publicar uma obra deveras notável; diríamos mesmo bastante curiosa, mas há coisas que repelem toda qualificação banal.

O Livro dos Espíritos, do Sr. Allan Kardec, é uma página nova do grande livro do infinito, e estamos persuadidos de que um marcador assinalará essa página. Ficaríamos desolados se pensassem que acabamos de fazer aqui um anúncio bibliográfico; se pudéssemos supor que assim fora, quebraríamos nossa pena imediatamente. Não conhecemos absolutamente o autor, mas confessamos abertamente que ficaríamos felizes em conhecê-lo. Aquele que escreveu a introdução que inicia O Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres.

Aliás, para que não se possa suspeitar de nossa boa-fé e nos acusar de tomar partido, diremos com toda sinceridade que jamais fizemos um estudo aprofundado das questões sobrenaturais. Apenas, se os fatos que se produziram nos causaram admiração, pelo menos jamais nos levaram a dar de ombros. Somos um pouco dessas pessoas que se chamam de sonhadores, porque não pensamos absolutamente como todo o mundo. A vinte léguas de Paris, à noite sob as grandes árvores, quando não tínhamos em torno de nós senão choupanas esparsas, pensávamos naturalmente em qualquer coisa, menos na Bolsa,  †  no macadame dos bulevares  †  ou nas corridas de Longchamp.  †  Diversas vezes nos interrogamos, e isto muito tempo antes de ter ouvido falar em médiuns, o que haveria de passar no que se convencionou chamar o Alto. Outrora chegamos mesmo a esboçar uma teoria sobre os mundos invisíveis, guardando-a cuidadosamente para nós, e ficamos muito felizes de reencontrá-la quase por inteiro no livro do Sr. Allan Kardec.

A todos os deserdados da Terra, a todos os que caminham e caem, regando com suas lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede O Livro dos Espíritos; isso vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que pelos caminhos só encontram os aplausos da multidão ou os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o; ele vos tornará melhores.

O corpo da obra, diz o Sr. Allan Kardec, deve ser reivindicado inteiramente pelos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente classificado por perguntas e por respostas. Algumas vezes, estas últimas são sublimes, e isto não nos surpreende; mas, não foi preciso um grande mérito a quem as soube provocar?

Desafiamos a rir os mais incrédulos quando lerem este livro, no silêncio e na solidão. Todos honrarão o homem que lhe escreveu o prefácio.

A doutrina se resume em duas palavras: Não façais aos outros o que não quereríeis que vos fizessem. Lamentamos que o Sr. Allan Kardec não tenha acrescentado: e fazei aos outros o que gostaríeis que vos fosse feito. O livro, aliás, o diz claramente e a doutrina, sem isto, não estaria completa. Não basta não fazer o mal; é preciso também fazer o bem. Se apenas sois um homem de bem, não tereis cumprido senão a metade do vosso dever. Sois um átomo imperceptível desta grande máquina que se chama mundo, onde nada deve ser inútil. Sobretudo, não nos digais que se pode ser útil sem fazer o bem; ver-nos-íamos forçados de vos replicar por um volume.

Lendo as admiráveis respostas dos Espíritos na obra do Sr. Kardec, dissemos a nós mesmos que haveria um belo livro a escrever. Bem depressa reconhecemos que nos havíamos enganado: o livro já está escrito. Apenas o estragaríamos se tentássemos completá-lo.

Sois homem de estudo e possuís a boa-fé, que não pede senão para se instruir? Lede o Livro Primeiro sobre a Doutrina Espírita.

Estais colocado na classe dos que só se ocupam consigo mesmos e que, como se diz, fazem os seus pequenos negócios muito tranquilamente, nada vendo além dos próprios interesses? Lede as Leis Morais.

A desgraça vos persegue com furor, e a dúvida vos envolve, por vezes, com o seu abraço gelado? Estudai o Livro Terceiro: Esperanças e Consolações.

Todos vós que abrigais nobres pensamentos no coração e que acreditais no bem, lede o livro do começo ao fim.

Se alguém nele encontrasse matéria para zombaria, nós o lamentaríamos sinceramente.

G. Du Chalard.


Entre as numerosas cartas que nos têm sido dirigidas desde a publicação de O Livro dos Espíritos, apenas citaremos duas, porque de certo modo resumem a impressão que este livro produziu, e o fim essencialmente moral dos princípios que encerra.


Bordeaux,  †  25 de abril de 1857.


Senhor,

Submetestes minha paciência a uma grande prova pela demora na publicação de O Livro dos Espíritos, há tanto tempo anunciado; felizmente, não perdi por esperar, porquanto ele ultrapassa todas as ideias que eu havia feito, de acordo com o prospecto. Impossível descrever o efeito que em mim produziu: assemelho-me a um homem que saiu da obscuridade; parece que uma porta, fechada até hoje, acaba de ser subitamente aberta; minhas ideias se ampliaram em algumas horas! Oh! Como a Humanidade e todas as suas preocupações miseráveis se me parecem mesquinhas e pueris, ao lado desse futuro de que não duvidava, mas que para mim estava de tal forma obscurecido pelos preconceitos que o imaginava a custo! Graças ao ensino dos Espíritos, agora se apresenta sob uma forma definida, compreensível, maior, mais bela e em harmonia com a majestade do Criador. Quem quer que leia esse livro meditando, como eu, encontrará tesouros inesgotáveis de consolações, pois que ele abarca todas as fases da existência. Em minha vida sofri perdas que me afetaram vivamente; hoje, não me causam nenhum pesar e toda minha preocupação é empregar utilmente o tempo e minhas faculdades para acelerar meu progresso, porque, para mim, agora, o bem tem uma finalidade e compreendo que uma vida inútil é uma vida de egoísta, que não nos permite avançar na vida futura.

Se todos os homens que pensam como vós e eu – e os encontrareis muito, assim espero, para honra da Humanidade pudessem se entender, reunir-se e agir de comum acordo, de que força não disporiam para apressar essa regeneração que nos é anunciada! Quando for a Paris, terei a honra de vos ver e, se não for abusar de vosso tempo, pedir-vos-ei algumas explicações sobre certas passagens e alguns conselhos sobre a aplicação das leis morais a certas circunstâncias que me são pessoais. Recebei, até lá, eu vos peço, Senhor, a expressão de todo o meu reconhecimento, porque me proporcionastes um grande bem ao apontar-me a rota da única felicidade real neste mundo e, além disso, quem sabe? um lugar melhor no outro.

Vosso todo devotado.

D…, capitão reformado.   


Lyon,  †  4 de julho de 1857.


Senhor,

Não sei como vos exprimir todo o meu reconhecimento pela publicação de O Livro dos Espíritos, que sinto depois de o ler.

Como é consolador para nossa pobre Humanidade o que nos fizestes saber! De minha parte confesso-vos que estou mais forte e mais corajoso para suportar as penas e os aborrecimentos ligados à minha pobre existência. Compartilho, com vários de meus amigos, das convicções que hauri na leitura de vossa obra: todos estão muito felizes; agora compreendem as desigualdades das posições sociais e já não murmuram contra a Providência; a certeza de um futuro mais feliz, caso se comportem bem, os consola e encoraja. Gostaria de vos ser útil, senhor; sou um simples filho do povo que obteve certa posição com o seu trabalho, mas a quem falta instrução por ter sido obrigado a trabalhar desde menino; entretanto, sempre amei muito a Deus e fiz tudo quanto pude para ser útil aos semelhantes; é por isso que procuro tudo o que possa ajudar na felicidade de meus irmãos. Vamos nos reunir, vários adeptos que estavam dispersos; envidaremos todos os esforços para vos secundar: levantastes a bandeira, cabe a nós seguir-vos; contamos com vosso apoio e vossos conselhos.

Sou, senhor, se ouso vos chamar de confrade, vosso todo devotado, C…


Muitas vezes já nos dirigiram perguntas sobre a maneira por que foram obtidas as comunicações que são objeto de O Livro dos Espíritos. Resumimos aqui, com muito prazer, as respostas que temos dado a esse respeito, pois que isso nos ensejará a ocasião de cumprir um dever de gratidão para com as pessoas que, de boa vontade, nos prestaram seu concurso.

Como explicamos, as comunicações por pancadas, ou tiptologia, são muito lentas e bastante incompletas para um trabalho alentado; por isso jamais utilizamos esse recurso: tudo foi obtido através da escrita e por intermédio de vários médiuns psicógrafos. Nós mesmos preparamos as perguntas e coordenamos o conjunto da obra; as respostas são, textualmente, as que foram dadas pelos Espíritos; a maior parte delas foi escrita sob nossas vistas, algumas foram tomadas das comunicações que nos foram enviadas por correspondentes ou que recolhemos para estudo em toda parte onde estivemos: a esse efeito, os Espíritos parecem multiplicar aos nossos olhos os motivos de observação.

Os primeiros médiuns que concorreram para o nosso trabalho foram as senhoritas B ***, cuja boa vontade jamais nos faltou: este livro foi escrito quase por inteiro por seu intermédio e na presença de numeroso auditório que assistia às sessões e nelas tomava parte com o mais vivo interesse. Mais tarde os Espíritos recomendaram a sua completa revisão em conversas particulares para fazerem todas as adições e correções que julgaram necessárias. Essa parte essencial do trabalho foi feita com o concurso da senhorita Japhet, n que se prestou com a maior boa vontade e o mais completo desinteresse a todas as exigências dos Espíritos, pois eram eles que marcavam os dias e as horas para suas lições. O desinteresse não seria aqui um mérito particular, visto que os Espíritos reprovam todo tráfico que se possa fazer de sua presença; a senhorita Japhet, que é também sonâmbula notável, tinha seu tempo utilmente empregado, mas compreendeu, igualmente, que dele poderia fazer um emprego proveitoso, consagrando-se à propagação da Doutrina. Quanto a nós, temos declarado desde o princípio, e nos apraz reafirmar aqui, jamais pensamos em fazer de O Livro dos Espíritos objeto de especulação, devendo sua renda ser aplicada às coisas de utilidade geral; por isso seremos sempre reconhecidos aos que se associarem de coração, e por amor do bem, à obra a que nos estamos consagrando.


Allan Kardec.



Paris. — Typ. de COSSON et Comp., rue du Four-Saint-Germain, 43.  † 


[1] 1 vol. in 8º em 2 col., 3fr.; Livraria Dentu, Palais-Royal  †  e na Redação do jornal, Rua e Passagem Sainte-Anne,  †  59 (antiga Rua dos Mártires,  †  nº 8.)


[2] Rua Tiquetonne, 14.  † 


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