O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vozes da Outra Margem — Familiares diversos


CAPÍTULO 16


Médica em novos campos de aprendizagem

Logo após terminar o curso da Faculdade de Medicina do ABC, de Santo André, SP, em 1979, a jovem médica Dra. Wânia Nunes Russo foi acometida de grave enfermidade, que abalou profundamente toda a sua florida e dinâmica programação de vida: fazer residência em Pediatria e casar-se, pois estava noiva de um rapaz, igualmente médico, que já havia montado um consultório para trabalharem juntos.

Apesar de todos os tratamentos realizados, a doença, chamada Hodgkin, evoluiu inexoravelmente, levando-a à desencarnação, aos 17 de outubro de 1980, em São Paulo, onde residia.

A meiga e simpática Wânia partia para o Além deixando dolorosa saudade nos corações de seus entes queridos… saudade só atenuada pelas bênçãos da mediunidade, que une a Terra ao Céu…

Primeiramente, a amiga e médium Tereza serviu de correio fraterno, transmitindo pela psicografia suas carinhosas notícias aos pais inesquecíveis. Logo depois, em Uberaba, MG, na madrugada de 6 de fevereiro de 1981, apenas três meses após a desencarnação, ela escreveu longa carta, retratando suas primeiras impressões do Mundo Maior.

Vendo-se em novos campos de aprendizagem, sem poder ainda aprofundar em observações, teceu, em seu afetuoso noticiário, pelo lápis de Chico Xavier, interessantes considerações em torno da Medicina terrena e dos princípios espirituais que regem a Vida, revelando-se, também, liberta do escravizante amor possessivo, como veremos a seguir:


CARTA DE WÂNIA


1 Querida mãezinha e querido papai, recebam com a nossa Wanise os meus melhores pensamentos de carinho e reconhecimento nas preces com as quais rogo a Deus nos envolva em Sua Bênção.

2 Estou ainda muito surpreendida com o que me vem acontecendo desde outubro passado, a fim de expressar me na segurança que desejo.

3 A princípio, no fim do corpo que me competia deixar, foi a luta para auscultar-me e compreender-me.

4 Os conflitos, porém, não se dissolveram em minhas indagações. Debati-me até que me rendesse à evidência, pela qual admiti a expressão deficitária dos conhecimentos que se adquirem aí no Plano Físico, em matéria de corpo e vida orgânica, célula e ciência de curar.

5 Certamente, não menosprezo a escola em que me formei para servir. A Medicina ainda não atingiu a verdade, mas está sempre em caminho certo, de vez que não aceita afirmações que as suas próprias experiências não conseguem provar no terreno das observações, repetidas e confirmadas tantas vezes quantas julgue precisas, para aceitar determinada conclusão.

6 Entretanto, pais queridos, eu seria demasiado ingênua se não tentasse observar as ocorrências da vida em mim mesma. Ainda assim, não obtive maiores esclarecimentos que concederia a mim própria se ainda estivesse por aí, experimentando aprender sempre mais.

7 Não escapei da vida e vovó Thereza, aqui em minha companhia, que o diga, porquanto se não lhe recebi o carinho sem agradecimentos, também não deixei de azucriná-la com perguntas, que ela buscou solucionar com a fé.

8 Dentro dessa fé, procurei reencontrar-me e renovar-me. Aliás, não passei de aprendiz, sem maiores incursões na prática do que se me fizera um longo e laborioso currículo de lições.

9 Não consegui tratar de qualquer assunto nosso, do lado de Cá, na base de explicações racionais, fora dos princípios da fé religiosa, porque o meu objetivo primordial era o de reconfortá-los, informando-lhes aos corações quanto à continuação da vida.

10 Saber alguma coisa não me evitou o mergulho no banho das lágrimas, e dessas lágrimas apenas consegui me libertar, confiando na grandeza da vida, que nos lembra a presença invisível de Deus, em toda parte.

11 Procurei manifestar-me pela sensibilidade e pelas mãos de nossa querida Tereza, a querida irmã pelo coração, que, de tanto se magoar ante as minhas despedidas, me deixou uma porta aberta no coração, para que eu lhe falasse.

12 Felizmente, ela e eu conseguimos muito, porque todos vocês começaram a refletir com mais acerto e eu me via necessitada de algum diálogo com a nossa Wanise e com o nosso Roberto.

13 Graças a Deus, pude cortar o epicentro de nosso desespero recíproco. Peço-lhes auxiliar-me na pacificação do Roberto, ainda desajustado perante a situação. Com o amparo das Bênçãos Divinas, ele viverá e será feliz, tanto quanto merece.

14 Mãezinha, aqui o amor se amplia consideravelmente. A meu ver a ideia da posse desaparece. Queremos, acima de tudo, a felicidade das pessoas que amamos, sem qualquer propósito de escravizá-las, mesmo de leve, ao nosso modo de ser. A noiva se funde na confiança fraterna e se transforma em irmã nessa química de amor, a que me reporto.

15 Nosso caro Roberto será guiado por Deus à felicidade e creiam vocês, os familiares queridos, que me sentirei realizada em matéria de alegria com a alegria dele e com aquela alegria outra que eu possa ver em nossa casa.

16 Tudo vai bem, porque entre nós, não existe qualquer mal que devamos lastimar. Que causa física me haverá fornecido passaporte para Cá, sinceramente, não sei.

17 A etiologia das moléstias, por aqui apresentam severas limitações, porque esbarramos em outros princípios e por estes outros princípios, eu tive de regressar à nossa moradia espiritual em outubro findo e não antes e nem depois.

18 Fiquemos, assim, debitados à nossa fé, já que a ciência encontra igualmente muros que não lhe cabe atravessar antes do tempo justo.

19 Agradeçam por mim à nossa Tereza, enquanto manifesto os meus agradecimentos à vovó Thereza, que tem sido minha nova professora de autodescoberta.

20 A Wanise querida, receba o meu habitual carinho.

21 Mãe, não me retenha bagagens. Elas pesam excessivamente sobre o nosso nome. Guarde as nossas fotos e basta. Pertencemos-nos mutuamente e isso chega.

22 Por agora, devo terminar, reunindo os três e todos os nossos em meu carinho.

23 Sou a filha sempre reconhecida,


Wânia Nunes Russo.


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Mãezinha e papai — Casal João Russo e Isabel Nunes Russo, residente em São Paulo, Capital, à rua Aimberê, 803, Perdizes.

2 — Wanise — Wanise Nunes Russo, irmã.

3 — desde outubro passado — Mês de sua desencarnação.

4 — vovó Thereza — Thereza Sapienza Russo, avó, desencarnada em 9-8-1952.

5 — Tereza, a querida irmã pelo coração, que de tanto se magoar ante as minhas despedidas — Maria Tereza Tavares, amiga íntima, não se encontrava em São Paulo quando de seu desencarne, daí ter ficado muito magoada.

6 — Roberto — Dr. Roberto Francisco Soares Ricci, noivo.

7 — Mãe, não me retenha bagagens. — Explicou-nos sua genitora: “Desorientei-me tanto que não encontrava forças para pegar em suas roupas. Deixei seu armário fechado para evitar maior sofrimento. Depois de receber a mensagem pelo Chico fiquei com mais coragem e dei todas as suas coisas.”

8 — No Centro Espírita Perseverança, em São Paulo, a 27/3/1983, seus pais receberam confortadora carta de Wânia, psicografada pelo saudoso médium Eurícledes Formiga, assim redigida:


“Querido papai, querida mamãe.

Novamente com permissão de Deus, venho às suas presenças, mais diretamente através da escrita, quando renovo minha gratidão e minha alegria, sempre que estou perto de vocês.

Hoje venho mais alegre do que habitualmente.

As notícias que me chegam são alentadoras, são boas para o meu coração. O casamento de nossa querida irmã Tereza, que nem por isso bloqueará o caminho mediúnico, por meio do qual sempre nos falamos. Que Deus ilumine sua nova estrada na vida, concedendo-lhe a felicidade que merece.

Outra notícia, por sinal, a bem dizer o motivo principal de nossa carta de hoje, é a renovação do ideal de felicidade no coração do nosso Roberto. Confesso que auxiliada ainda uma vez por vovó Thereza e outros amigos espirituais, tenho colaborado na medida do possível para que se concretizasse o sonho que nasceu na alma do nosso inesquecível irmão. Tudo correrá bem, se Deus quiser. Estou feliz pelo acontecimento, é o que posso afirmar.

Quanto a mim, depois de determinado período de aprendizado indispensável, acho-me integrando equipe de trabalho em organização hospitalar no Mundo Maior, prosseguindo assim os estudos interrompidos na Terra.

Muito me servem as orientações e as experiências nesse campo, adquiridas aí na Escola e no convívio com mestres e alunos, no abençoado terreno da Medicina.

Deixo para Wanise, como sempre, meu beijo muito carinhoso.

Para vocês, todo carinho da filha reconhecida,


Wânia Nunes Russo.”


Hércio Arantes


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