O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vozes da Outra Margem — Familiares diversos


CAPÍTULO 11


Diálogos íntimos

Após um acidente de automóvel, Marco Antônio da Silva foi hospitalizado numa Clínica Cirúrgica do Rio de Janeiro, onde se submeteu a delicada cirurgia de crânio, mas não evoluiu bem, vindo a falecer cinco dias depois, aos 11 de abril de 1984, de parada cardíaca.

A sua desencarnação deixou esposa, pais e demais familiares inconsoláveis. Porém, transcorridos nove meses, seu pai, Sr. José Maria Campos da Silva, estimulado pela filha Áurea, que na época era a única simpatizante do Espiritismo na família, dirigiu-se a Uberaba, e nessa primeira viagem reencontrou-se com o filho querido, pela psicografia de Chico Xavier, ao participar de uma reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 25 de janeiro de 1985.

Com carinhosa e elucidativa carta, Marco conseguiu levantar o ânimo de toda a família, revelando-se unido a todos, espiritualmente, na luz da fé em Deus. Em poucos meses, ele já havia superado as grandes e habituais dificuldades iniciais de adaptação, mostrando-se muito conformado e confiante.

E em cartas subsequentes, datadas de 16 de maio e 31 de agosto de 1985, como veremos adiante, sentindo-se mais à vontade com o correio mediúnico, ele adentra com muita naturalidade em questões pessoais e familiares, integrando-se mais e mais com seus entes queridos, em proveitosos e fraternais diálogos íntimos.


PRIMEIRA CARTA


1 Meu querido pai José Maria, lembrando-me da mãezinha Eunice, n peço-lhes para que me abençoem.

2 Papai, venho até aqui com o meu avô Camilo n e com a vovó Maria Campos, n para dizer-lhes que tudo segue comigo na luz da fé em Deus.

3 Maria Creuza e a nossa Camilinha estão em meu pensamento e lastimo a parada cardíaca que me liberou da experiência física, porque tanto desejava prosseguir com a família; no entanto, meu avô Camilo me faz refletir nas Leis Divinas que escolhem o melhor para nós e não tenho razão para me queixar.

4 Não sabia que a Bondade Celeste me reservaria afeições tão queridas deste outro lado da existência, mas vejo que em Capelinha n tesouros de amor nos estão endereçados, com os meus avós e parentes queridos. Isso não me faz esquecer os meus deveres de filho, esposo e pai; no entanto, sinto-me mais corajoso para enfrentar os dias que hão de vir.

5 Peço-lhe, meu pai, reconfortar a nossa estimada Creuza e proteger a nossa pequenina, n tanto quanto isto se lhe faça possível. Sei que o senhor não se descuidará desse amparo que vem a ser amparo a mim próprio e agradeço-lhe, pedindo a Jesus o recompense.

6 Meu intuito é apenas o de tranquilizá-los e rogo a Maria Creuza fé em Deus e confiança na vida, na certeza de que Deus nunca falha. Com a esperança em dias melhores, o ambiente que ainda persiste, com a nossa separação temporária, se fará mais claro e promissor.

7 Pai querido, com o meu beijo à filhinha e todo o meu amor à esposa querida, envio lembranças ao Carlos Henrique n e, reunindo a sua bondade com a bondade da mãezinha Eunice, beija-lhes, reconhecidamente, as mãos, o filho agradecido, muito agradecido de sempre, n


Marco Antônio da Silva. n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — pai José Maria e mãezinha Eunice — Seus pais, José Maria Campos da Silva e Eunice Salerno da Silva, residentes na Av. Suburbana, 1496, Bloco 3, Entrada B, Apart. 304, Bairro Benfica, Rio de Janeiro, RJ.

2 — avô Camilo — Camilo Antônio da Silva, avô paterno, desencarnado em 03/4/1978.

3 — vovó Maria Campos — Maria Campos, avó paterna, desencarnada em 27/5/1926.

4 — Capelinha — Cidade mineira, berço natal da família paterna.

5 — Creuza e nossa pequenina — Maria Creuza de Andrade da Silva, esposa, e Camila Andrade Silva, com um ano e três meses de idade na época da desencarnação de seu pai.

6 — Carlos Henrique — Carlos Henrique da Silva, irmão.

7 — Marco Antônio da Silva — Nasceu em 13/4/1955. Era subgerente de grande laboratório farmacêutico. Contou-nos seu progenitor que Marco, embora católico, gostava de ler livros espiritualistas, inclusive espíritas. Esses livros foram encontrados em sua biblioteca, atrás de outras obras, pois o filho os escondia para não contrariar seu pai, que condenava tal leitura. “— Pela minha formação religiosa eu não os aceitava” — afirmou-nos Sr. José Maria, nas dependências do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba. “— Só mudei de opinião com o recebimento das cartas mediúnicas. Eu vim pela dor.”

8 — Para melhor entender o tema central dá Segunda Carta, é útil esclarecer que o irmão Carlos Henrique, Carlinhos na intimidade, achou que Marcos havia se esquecido de seus irmãos, não os mencionando na Primeira Carta, pois interpretou a frase: lembranças ao Carlos Henrique como um recado dirigido a um amigo, gerente de Banco.


SEGUNDA CARTA


1 Meu querido pai José Maria e querida mãezinha Eunice, estas minhas páginas não possuem qualquer reclamação.

2 Desejo apenas esclarecer ao meu querido irmão Carlinhos que não me tornei desmemoriado diante da morte. As mudanças são muitas nesta vida diferente a que as circunstâncias me trouxeram, mas não me esqueci dos familiares queridos.

3 O Carlos Henrique, que mencionei em meu comunicado, é ele mesmo. Carlinhos é sempre Carlinhos e não devemos esquecer isso. Escrevendo para a família numa sala repleta de gente simpática, mas efetivamente desconhecida, coloquei, em meu noticiário de afetivos, gestos que me tomaram um tanto cerimonioso, sem necessidade. Agora mais integrado neste grupo fraterno, posso chamá-lo pelo nome familiar de meu irmão Carlinhos, embora sem desprezar o nosso amigo Carlos, do Banco.

4 Informo ainda ao estimado mano que temos quatro irmãs que nomearei na pauta da nossa intimidade. A gordan por trazer algum peso a mais; a amarelan porque traz consigo traços das flores amareladas; e a Áurea e Janete n que recusaram os nossos apelidos.

5 Certidão de Identidade, o Carlinhos poderá consultar em nossa casa mesmo; e não preciso agora esclarecer que estou vacinado, porque o corpo não me permite atualmente. E como deixei aí a nossa querida Maria Creuza e a nossa Camilinha, esposa e filha sempre queridas, não preciso reportar-me à maioridade.

6 Isso não vale por repreensão, mesmo de leve, porque somos irmãos de alma e coração, sem qualquer nuvem prevendo rixas.

7 Acontece que, em me comunicando aqui pela primeira vez, era eu recruta inexperiente, desejando demonstrar algum traço de educação e de inteligência.

8 Agora, espero que ficaremos novamente em paz um com o outro, muito embora as nossas vidas em Planos diferentes. Desejo ao Carlinhos muito progresso nas tarefas que abraçar e conto com ele para que a nossa Camilinha possa crescer tão bem como sempre desejávamos.

9 Querido papai José Maria e querida mãezinha Eunice, com a minha querida esposa, recebam o abraço muito saudoso do filho que lhes pertence em nome de Deus,


Marco Antônio da Silva.


IDENTIFICAÇÕES


9 — A gorda — Sua irmã, Maria das Graças.

10 — a amarela — Sua irmã Sandra.

11 — Áurea e Janete — Irmãs.


TERCEIRA CARTA


1 Meu querido pai José Maria e querida mãezinha Eunice, muito grato pelo carinhoso cuidado com que me vestiram as ideias e as palavras n para conhecimento dos irmãos de trabalho e de ideal. O salmo 23 de David foi sempre o meu recanto predileto nas letras bíblicas, e a inclusão dessa peça em minhas pobres notícias foram para mim motivo de muita alegria e bom ânimo para trabalhar.

2 Prossigo para a frente, não mais fixando a memória naquelas horas de expectativa que me antecederam a desencarnação. Aquele piso de corredor que me fizera uma antecâmara de amargar, mas, por fim, a cirurgia que me antecipou o passaporte para a grande viagem foi um barato de vinte e cinco mil mangosn que poderiam ter sido aproveitados na educação de nossa Camilinha, quando o cheque e o tempo adequado fariam a realização dos meus sonhos de ver a filha querida com amplo domínio nas matérias que lhe farão a cultura da inteligência.

3 Entretanto, o que foi não mais será e aqui estou para reafirmar os meus votos de felicidade à Maria Creuza, a esposa dedicada, e à filhinha, que se desenvolve com os encantos da flor humana que eu tanto desejava acompanhar. Apesar disso, procuro segui-la e auxiliar-lhe os passos iniciantes na vida, tanto quanto mantendo o otimismo e a esperança na companheira querida.

4 Não vou escrever muito, porque a turma está sem tempo de fazer um tempo igual ao de ontem à noite, quando me retirei do fim da fila, n e todas as caudas de filas são pontos de incerteza em que o “sim” e o “não” se misturam a cada hora que se escoa.

5 Desejava trocar as nossas saudades e isso creio que esta carta nos fará o obséquio de realizar. Saudades aliviadas, voltam a crescer e doer no dia seguinte a cada reencontro entre os que se amam e por isso, esperemos o amanhã para vermos como isso é uma verdade patente.

6 A gente fala e ouve, e depois quer ouvir mais e falar amplamente. Por isso fico por aqui, com o meu carinho à nossa querida Maria Creuza e à nossa Camilinha, e lembranças ao Carlinhos, meu irmão, e um abraço para a Gorda e para a nossa estimada Amarela, junto de Áurea e Janete.

7 Aqui me perguntaram porque apelidei a Maria das Graças com o nome de Gorda e apelei para o humor, afirmando que todas as pessoas pertencentes às graças da vida não podem ser magricelas; e se nomeio a Sandra com o apelido de Amarela, é porque a querida irmã traz no peito um coração de ouro amarelo, qual derivado da luz solar. Creio que me saí bem, porque as irmãs queridas são todas notáveis pelo carinho e pela bondade de sempre.

8 Meu querido pai José Maria, não considere esta carta um noticiário estreito, porque senão cansaremos em demasia os amigos que nos acolhem e receba, com a mãezinha Eunice, o amor imenso, com as imensas saudades do filho que pede a Jesus os conserve sempre mais unidos e mais felizes, sempre o filho e companheiro muito grato,


Marco Antônio da Silva.


NOTAS


12 — carinhoso cuidado com que me vestiram as ideias e as palavras — Refere-se à impressão gráfica das suas duas primeiras cartas mediúnicas. No preâmbulo da Segunda foi colocado o Salmo 23 de David, ( † ) por sugestão da esposa, página que ele sempre lia à noite.

13 — vinte e cinco mil mangos — Marco sempre usava a gíria mango para se referir a dinheiro. Na época, a Clínica cobrou 25 milhões de cruzeiros (vinte e cinco mil cruzados) pela cirurgia realizada.

14 — ontem à noite, quando me retirei do fim da fila — Naquela época, havia reunião pública às sextas-feiras no GEP, quando ele não conseguiu redigir sua carta.


Hércio Arantes


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