O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vozes da Outra Margem — Familiares diversos


CAPÍTULO 10


Vítima da imprudência

Desde a desencarnação inesperada de Marcos Emanuel Teixeira Santos, jovem de 23 anos, em final de curso de Engenharia Química, ocorrida em 12 de setembro de 1982, seus familiares, além da dor natural da separação entre seres amados, sofriam uma dúvida atroz quanto à causa mortis do filho: suicídio ou homicídio?

No dia do fato, Marcos encontrava-se sozinho em sua residência, na cidade de Arcoverde, interior pernambucano, e seus pais estavam em Recife.

A dúvida, que se arrastava há quase quatro anos, só foi desfeita recentemente, aos 7 de fevereiro de 1986, quando o médium Chico Xavier psicografou esclarecedora carta do jovem, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece. Nessa mensagem ele se apresenta ainda como convalescente, apesar do longo tempo transcorrido, em virtude da forma pela qual ele transpôs a barreira da Vida Espiritual, onde foi considerado vítima da imprudência.

Eis sua carta-narrativa, que revela preciosa experiência para todos nós:


CARTA DE MARCOS EMANUEL


1 Querida mãezinha Edite e meu querido pai José Nunes, n abençoem-me perdoando o trabalho que lhes dei.

2 Não devo pormenorizar a minha situação, diz a vovó Severina, n que está em minha companhia, para não reavivar a ferida mental que está cicatrizada, mas cicatrizada levemente. n

3 A solidão daquela noite triste talvez tenha colaborado para que eu caísse na cilada armada por mim mesmo.

4 Quando recebi o recado que me enviaram do Recife para lhes enviar a encomenda que haviam esquecido no quarto, decidi-me verificar o material que me competia despachar e encontrei o revólver que jazia entre os pertences que passariam à minha responsabilidade.

5 Tomei a arma com o intuito de estudá-la porque já ouvira diversos colegas falar em roleta russa em Campina Grande. n

6 Com o revólver na mão direita, fitei o retrato da noiva, com quem havia desmanchado os meus compromissos numa hora de conflito entre nós e o quarto me pareceu tão grande que me parecia o mundo grande a que supus não mais pertencer.

7 Naquele silêncio de Arcoverde, para evitar o desejo de morrer, que estava começando dentro de mim, pensei em tomar qualquer condução para Caruaru n ou para Campina Grande, na ideia de fugir de mim mesmo.

8 O revólver, porém, me fascinava. Não queria praticar o suicídio, sinceramente digo isso, mas perguntava a mim próprio como seria o suicídio se viesse a praticá-lo.

9 Deitado, encostei o cano da arma em meu ouvido, mas notei que a peça me dobrara a orelha e procurei fazer o movimento preciso para recolocar a minha orelha em posição natural; entretanto, nisso aconteceu o inesperado. Ao voltar-se o pavilhão de meu ouvido para a condição natural, o gatilho sensível funcionou de repente e o projétil me atravessou a cabeça.

10 Num gesto quase desesperado para pedir socorro a quem me pudesse escutar, não mais encontrei a palavra ao meu dispor e, na tentativa de soerguer-me, o revólver caiu de leve de minha mão para acolher-se entre as minhas pernas.

11 Esta é a realidade do que me sucedeu. Lamento a minha intenção indébita de conhecer a arma encostada em minha cabeça, mas não estou racionalizando e sim expondo a verdade aos queridos pais.

12 A polícia poderá reconstituir o que me aconteceu e verificará que a arma descera de leve da mão para o corpo que não mais conseguiu se levantar.

13 Encontrei em minha avó Severina uma benfeitora maternal e peço me perdoarem a leviandade de rapaz sob o desapontamento de uma ligação desfeita.

14 Envio abraços aos meus irmãos e agradeço à mãezinha Edite quanto vem fazendo para auxiliar-me em espírito.

15 Estou na posição de um convalescente que se encontra na Vida Espiritual, fichado na posição de vítima da imprudência.

16 Daqui para diante, dar-me-á Jesus o amparo que eu preciso na correção do que fiz por merecer.

17 Envio muitas lembranças para Leninha n e peço aos queridos pais José Nunes e Edite n perdoarem o filho que lhes promete trabalhar para lhes receber a bênção, com mais esperança, no entanto, com o amor sempre maior de meu coração.

18 Sempre o filho reconhecido,


Marcos Emanuel Teixeira Santos.


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Edite e José Nunes — Edite Teixeira Nunes e José Nunes Santos, seus pais, residentes na Praça da Bandeira, 23, Arcoverde, PE.

2 — vovó Severina — Severina Teixeira de Lima, avó materna, desencarnada a 17/12/1970.

3 — ferida mental que está cicatrizada, mas cicatrizada levemente. (…) estou na posição de um convalescente que se encontra na Vida Espiritual, fichado na posição de vítima da imprudência. — Como observamos, Marcos sofreu sérias consequências de sua imprudência, que o levou à morte física prematura, caracterizando um suicídio indireto, carecendo ainda de tratamento médico no Mundo Maior. (Ver Nosso Lar, André Luiz, cap. 4 e Religião dos Espíritos, Emmanuel, cap. 48, ambos de F.C. Xavier, FEB.)

4 — Campina Grande — Cidade paraibana onde ele cursava Engenharia Química.

5 — Caruaru — Cidade pernambucana onde reside a família materna.

6 — Leninha — Noiva.

7 — Em resposta ao nosso pedido de incluir as palavras de Marcos nesta obra, o Sr. José Nunes escreveu-nos, em atenciosa carta datada de 17/4/1986: “Estamos anexando à presente a mensagem que nos trouxe um pouco de paz interior, pois tínhamos dúvidas sobre o ocorrido, se suicídio ou homicídio. Não se levantou forte suspeita de homicídio porque não foram encontrados vestígios de violência, nem houve roubo. E suicídio, ninguém acreditava, pois nosso filho era uma criatura que gostava muito da vida: bom filho, estudioso, esportista de várias modalidades, motoqueiro, cercado de grande círculo de amizades. (…) Chico Xavier nos proporcionou a Verdade e nos confortou com palavras amigas e fraternas. O Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, que passamos a frequentar com assiduidade, o Evangelho no Lar e apoio dos irmãos também contribuíram. Já estamos em condições de levar esse conforto, que o Espiritismo de Kardec nos deu, a outros pais que passam pela mesma dor e querem sentir a Verdade.”


Hércio Arantes


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