O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vida no Além — Familiares diversos


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Germano Sestini

GERMANO SESTINI nasceu em Cravinhos, no dia 25 de janeiro de 1895 e faleceu a 6 de abril de 1978, na Fazenda Pântano, município de Frutal — Estado de Minas Gerais.
Não era espírita.
Católico de formação.
Homem de altas virtudes.

Nas expressões de Germano Sestini, registramos a evidência de que todas as religiões conduzem a Deus.

Homem notável, com seus 83 anos bem vividos, ainda trabalhava. Desencarnou subitamente, quando se achava em serviço.

Na carta psicografada por Chico Xavier, Germano Sestini após saudar a esposa querida e os filhos que aliás nomeia pela ordem cronológica, do mais idoso ao mais jovem, não se esquecendo de nenhum de seus 7 filhos encarnados, rememora a maneira pela qual partiu para o Plano Espiritual: “sem dores, sem aflições”, acordando nos braços de sua mãe Santa.
Vejamos as expressões do comunicante:


MENSAGEM

Recebida por Francisco Cândido Xavier, em Uberaba - Minas, na noite de 13.05.1978.

1 Querida Mariquinha, querida Hilda, caro amigo Romeu, meu prezado amigo Carmelo e queridas irmãs de nossas almas, peço a bênção de Deus para nós todos.

2 Sei que não estou preparado para escrever, mas nosso Hilário animou-me a fazer isso colocando as mãos sobre as minhas.

3 Ainda não estou muito seguro de mim mesmo, no entanto, sou trazido até aqui para tranquilizar quanto seja possível, a companheira do coração, dizendo à nossa Mariquinha que estou bem, não tão bem como desejaria, mas tão bem como posso estar.

4 Não é fácil desvincular o Espírito que habitou um corpo terrestre por mais de oitenta anos. Quero dizer-lhes, porém, que as nossas ideias da doutrina com Jesus estão certas. Quero dizer a todos os meus filhos, à Martha, ao João, à Hilda, ao Alceu, ao Germano, ao Gérson e Maristela que o papai não está morto. n Compreendi tudo que se passava…

5 Quando me encontrei no carro com a nossa Mariquinha, n um sono estranho me abateu. Era como se eu estivesse sob o efeito de um narcótico poderoso. Queria acordar, mas não tinha forças. 6 Senti a inquietação da querida companheira a querer despertar-me e a aflição do nosso amigo motorista, mas parecia-me trazer uma barra de ferro sobre a cabeça. Sem dores, sem aflições. 7 Dormi contra meu gosto e quando regressei a mim, vi-me qual uma criança nos braços de minha mãe Santa, n que foi sempre minha santa mãe. 8 Meu espanto foi enorme. Parecia que estava retornando aos tempos de menino… Na mente, apareceu a paisagem de Cravinhos e tornei a ver meu pai João e minha mãe, acariciando-me e ensinando-me a rezar. 9 Não sei ainda se enxerguei mesmo ou se estavam em meu pensamento as imagens dos amigos, Professor João Nogueira e do Alves Guimarães. Vi-me perto do Scalabrini e tornei a me reencontrar em oração com minha mãe, na capela de São José do Bonfim. Depois, as impressões se emaranharam… 10 Comecei a reconhecer minha mãe e o meu filho Hilário a me falarem com brandura que a vida havia mudado para mim…

11 Sempre escutava em vocês, meus queridos filhos, Romeu e Hilda, em Mariquinha e em outros amigos, as referências à morte e ao depois da morte. Uma conversação construtiva é sempre uma aula proveitosa. 12 Num relâmpago de pensamento, compreendi que o corpo cansado me largara, mas ah! eu não me desfizera dele. Sentia-o comigo qual se estivesse na fazenda ou na cidade…

13 Minha mãe, porém, cantou preces com que me embalava em criança e comecei a chorar, ignorando se morrera mesmo ou se estava doente! Recordei a Chácara Bela Vista, a bela Fazenda Felicidade, e quis ser moço outra vez! Queria recomeçar, carpindo a terra e depois caminhar pouco a pouco… 14 Mariquinha, revi tudo… A nossa felicidade… O nascimento dos filhos: Hilário, Martha, João, Hilda, Alceu, Germano, Gérson, Maristela… Os dias difíceis, o duro trabalho para melhorar… 15 Meu Deus, tudo passara tão depressa como se a existência de mais de oitenta anos não passasse de oito… 16 Hilário me pediu calma. Disse-me que eu sempre desejara não dar trabalho à família, voltar, de repente, sem demoras e sem sobressaltos para ninguém… E que havia desejado isso com tamanha fé que Jesus me concedera a bênção de sair da Terra sem maiores incômodos para os meus filhos e familiares, nos braços das duas mães que eu tive: Você, minha querida Mariquinha e minha mãe Santa, como se dormisse entre dois anjos da guarda… 17 Quando acomodei meus pensamentos agitados é que compreendi, com as informações de Hilário e de alguns amigos, que me achava em repouso na Santa Casa de Misericórdia, sobre a qual, há muitos anos, havia conversado muitas vezes com o Dr. Cenobelino n e com o Dr. Mendes Pereira. n 18 Reconheci velhos companheiros… Estariam vivos-mortos como eu ou se sentiam na condição de mortos-vivos em que deveria me reconhecer?… 19 Não pude conversar muito, pois era recomendado o repouso, a cada instante em meu benefício. 20 Vi amigos que me abraçaram de antigos tempos dos primeiros automóveis em São José do Rio Preto. Seriam o Jerônimo de Oliveira n e o João Garcia n que me consolavam, os amigos que se pareciam com eles e que ainda não pude identificar? Mas reconheci o Kalil Buchala n e abracei-o como se estivéssemos em carne e osso.

21 Tantas evocações me chegavam de improviso, mas o cérebro estava mais fraco do que hoje em que escrevo com o apoio de meu filho, após 37 dias de separação. Não sei se a conta está certa, mas isso é natural. 22 Dizem-me aqui que nos retomamos na memória total, muito pouco a pouco. Monsenhor Gonçalves n me auxilia muito e D. Avelina Diniz n já me visitou, oferecendo-me preces que me reconfortaram muito.

23 Quero dizer ao Carmelo que D. Elvira me amparou como se eu também lhe fosse um filho do coração. As orações de todos vocês me ajudaram e me ajudam muito. O Dr. Taufik n vem me tratando. 24 A morte é um acontecimento da natureza, mas não transforma a pessoa de um momento para outro. Venho até aqui com vocês, assistido por amigos, à maneira de um enfermo em ambulância. 25 Não tenho novidades para contar, senão que a transição muito rápida, quanto a que pedia a Deus, pelo menos a mim, obriga a ficar em tratamento minucioso para a restauração precisa. 26 Não desejo citar muitos nomes, porque para lembrar somente os dos queridos filhos, fiz muito esforço, mas genros, noras, netos e bisnetos estão em meu coração. Estou começando vida nova e espero restabelecer-me para ser útil a todos como eu puder e Deus permitir.

27 Mariquinha, amigos outros de que me lembro, são eles auxiliares dos nossos amigos médicos, Dr. Espiridião de Queiroz e Dr. Justino de Carvalho, n nomes sobre os quais eles me falam e muito respeitam.
Peço a você, e a todos os meus filhos, começando por Hilda e Romeu, que estão presentes, continuarem me auxiliando com as preces. 28 A prece é sempre uma bênção sobre nós, seja qual seja o lugar em que é feita com sinceridade e amor. 29 E se posso pedir aos meus filhos algum favor, e a você, minha Velha companheira, esposa e mãe, se lhes posso pedir alguma coisa, repito, lembrem-se do amor ao próximo. Façam o bem aos outros como puderem, dentro da consciência tranquila.

30 Enquanto estamos na Terra, o que fazemos é material que despachamos para Cá, na Terra Diferente em que me vejo, para construir a habitação em que vamos nos realizar em Espírito. Recordem que o edifício que sonhei levantar e que Deus me permitiu materializar vem a ser agora um recomeço da vida, iniciando do chão.

31 Fazer o bem, e pensar no bem, auxiliar a todos quanto pudermos e esquecer qualquer antagonismo são receitas de paz que estou aprendendo a conhecer, com mais segurança.

32 Mariquinha, e meus queridos filhos e amigos, vou terminar… Ainda estou com muito pouco preparo a fim de transmitir qualquer ideia.

33 Com minha mãe e com meu filho Hilário deixo-lhes todo o meu coração de esposo, pai, companheiro e amigo.


Germano Sestini


COMENTÁRIOS

Estudo da mensagem de Germano Sestini, recebida 37 dias após seu falecimento.

Podemos avaliar a indescritível emoção que envolveu o comunicante ao rever tudo o que lhe era caro, vinculado à infância recuada: a genitora, o pai, a terra natal e os amigos da meninice; João Nogueira, Alves Guimarães e Scalabrini.

As reminiscências de Cravinhos documentam de modo positivo as realidades da sobrevivência. Senão vejamos: GERMANO SESTINI deixou a cidade em 1918, indo morar em Rio Preto. Os nomes citados há muito desapareceram da lembrança das gentes de Cravinhos, pois são ligados à própria formação da cidade, no princípio do século.

João Nogueira, ou João Evangelista Nogueira, tem seu nome inscrito no Grupo Escolar da cidade e também dá nome a linda praça em Cravinhos. Faleceu em 1915.

João Alves Guimarães Júnior foi, juntamente com João Nogueira, fundador do Município de Cravinhos e João Scalabrini era grande amigo de Germano Sestini; possuía um armazém de secos e molhados, tendo desencarnado há muito tempo; aliás não conseguimos precisar a data da desencarnação.

A capela de São José do Bonfim ainda existe, na Praça Anita Garibaldi, antigo Largo da Matriz Velha e desde 1904 foi substituída pela Igreja Matriz para os ofícios religiosos.

Interessante notar que Germano se refere à Chácara Bela Vista de seus dias de juventude em Cravinhos e à Fazenda Felicidade que lhe foi marco inicial na vida em São José do Rio Preto.

Além dos fatos esclarecidos, salientamos as notas seguintes:


NOTAS E INFORMAÇÕES


1 — Filhos, citados em ordem cronológica:
— Martha Sestini dos Santos
— João Durvalino Sestini
— Hilda Sestini Grisi
— Alceu Sestini
— Germano Sestini Filho
— Gérson Sestini
— Maristela Sestini

Mais adiante, na mensagem, Germano Sestini repete a citação, incluindo o primogênito, Hilário Sestini, já desencarnado.


2 — Sua esposa, D. Maria Perini Sestini.


3 — Santa — sua genitora. Santa Botan Sestini.


4 — Dr. Cenobelino — Cenobelino de Barros Serra, médico atuante na Santa Casa de Misericórdia de Rio Preto. Faleceu a 14 de novembro de 1953, aos 63 anos.


5 — Dr. Mendes Pereira — José Mendes Pereira, médico, também muito ligado à Santa Casa. Desencarnou na capital Paulista, aos 78 anos, no dia 7 de janeiro de 1969.


6 — Jerônimo de Oliveira — Amigo de Germano, motorista de praça há muito tempo desencarnado.


7 — João Garcia — Amigo, cuja identificação ainda carece de elementos.


8 — Kalil Buchala — Comerciante em Rio Preto, já desencarnado.


9 — Monsenhor Gonçalves — Joaquim Manoel Gonçalves, Vigário Geral da Paróquia de Rio Preto. Deixou o Plano Físico em 1944.


10 — Avelina Diniz — Avelina de Seixas Gonçalves Diniz, benemérita dama da sociedade riopretense. Faleceu em 1967.


11 — Dr. Taufik — Taufik Rahd - médico libanês, farmacêutico conceituado em Rio Preto. Faleceu em 1950.


12 — Espiridião de Queiroz e Justino de Carvalho, já falecidos - Espiridião de Queiroz Lima foi médico em Rio Preto na década de 1920. O Dr. Justino de Carvalho foi médico e Vice-Cônsul de Portugal em Rio Preto.


Podemos observar na mensagem, além da lembrança de familiares queridos, encarnados e desencarnados, a homenagem a Cravinhos, sua terra natal, com apontamentos que já comentamos e a reverência a Rio Preto, sobretudo ao Rio Preto de sua mocidade e das suas primeiras iniciativas comerciais. Muitos nomes são alinhados, todos desconhecidos do médium, que igualmente ignorava o nome dos filhos do comunicante e muito menos a ordem cronológica do nascimento de cada um.


Caio Ramacciotti


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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