O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vida e sexo — Emmanuel


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Desvinculações

«Pergunta. — A algumas pessoas a doutrina da reencarnação se afigura destruidora dos laços de família, com o faze-los anteriores à existência atual.»

«Resposta. — Ela os distende; não os destrói. Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consanguinidade.»

Item n.º 205, de «O LIVRO DOS ESPÍRITOS».


1 A desvinculação entre os que se amam com a necessidade de sanar os enganos e erros do amor assume habitualmente o aspecto de dolorosa cirurgia psíquica.

2 Por semelhante razão, a Divina Sabedoria concede às criaturas tempo e condições renovadas na preparação gradual do acontecimento.

3 Essa desvinculação, via de regra, se verifica numa constante digna de nota — a posição de pais e filhos, incluindo-se nela os pais e filhos adotivos —, de vez que, no enternecimento do lar, todos os jogos da ternura são colocados na mesa do cotidiano, revestidos de encantamento construtivo. 4 No fundo, porém, da personalidade paterna ou do maternal coração, descansam os remanescentes de grandes afeições, às vezes desequilibradas e menos felizes, trazidos de outras estâncias, nos domínios da reencarnação. 5 A libido ou o instinto sexual na forma de energia psíquica, tendente à conservação da vida, permanece, em muitos casos, na carícia dos pais, vestida em veludíneo manto de carinho e beleza, mas o amor é ainda, no ádito do espírito, qual fogo de vida que se nutre do próprio lenho. 6 Por sua vez, nos entes queridos que retornam à estação da esperança doméstica, essa mesma afetividade reponta, insopitável e genuína, conquanto metamorfoseada nos brincos da infância. 7 Os pequeninos, porém, recém-vindos da amnésia natural que a reencarnação lhes impôs, não conseguem esconder as próprias disposições no campo das preferências. 8 E surgem neles, de inopino, quase sempre, as inclinações descontroladas, nos caprichos com que se mostram, exigindo especial atenção de pai ou mãe, a revelarem, de modo claro, para que rumo se lhes dirigem os laços mais fortes. 9 Geralmente, com muitas exceções, aliás, as filhas se voltam para os pais e os filhos para as mães, patenteando a natureza das ligações havidas em existências passadas e prenunciando a obra de desvinculação que se executará, inevitável, no futuro próximo.

10 Óbvio que nem todos os filhos aparecem no lar categorizados à conta da desvinculação afetiva, porquanto milhões de Espíritos no corpo da Humanidade tomam a estrutura física, no desempenho de encargos simples ou complexos, valendo-se da colaboração dos pais, à maneira de amigos que se entreajudam, nas faixas da confiança e da afinidade recíprocas.

11 Referimo-nos, porém, ao lar como pouso de desligamento, porque, na Terra, as relações entre pais e filhos e, consequentemente, as relações de ordem familiar constituem clima ideal para a libertação de quantos se jungiram entre si, de modo inconveniente, nos desregramentos emotivos em nome do amor. 12 E assim que a sabedoria da Natureza faculta o reencontro, sob as teias da parentela, de quantos se desvairaram, em outro tempo, nos desmandos de ordem sexual, reencontro esse que persiste em condições mais íntimas e mais profundas, até que os companheiros do pretérito, reencarnados na posição de filhos, atinjam a juventude, na existência nova, elegendo novos parceiros para a sua vida afetiva, ante a presença ou a supervisão dos pais ou de familiares outros, nem sempre satisfeitos ou tranquilos com as escolhas que são obrigados a assistir ou a aprovar pela força das circunstâncias.

13 Pais que sofrem na entrega das jovens que o lar lhes confiou, aos companheiros que as requisitam para os misteres do casamento, quase sempre estão renunciando à companhia de antigas afeições que eles mesmos, no passado, mal conduziam, ao passo que as mães experimentam análogo fenômeno de dilaceração psíquica, em se separando de filhos que lhes recordam, embora inconscientemente, as ligações empolgantes ou menos felizes de tempos que já se foram.

14 E, através das lutas e adeuses em família, com a criação de núcleos diferentes na parentela, pela transferência habitual dos filhos, seja a noras e genros, ou a tarefas e experiências diversas das deles, os pais, sempre que respeitem as necessidades e resoluções dos seus rebentos, alcançam a vitória sobre si mesmos, no rumo da própria emancipação na imortalidade.


Emmanuel



Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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