O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Retornaram contando — Familiares diversos


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Vencendo a solidão

PRIMEIRA CARTA DE MARCOS ROBERTO


1 Querida mãezinha Renata, abençoe-me.

2 O papai Caetano n e eu estamos aqui a pedir-lhe para viver.

3 Mamãe, o seu coração não está sozinho. Estamos juntos. Lembre-se, existem muitos Marcos quais eu mesmo, precisando de mães que os auxiliem a viver.

4 A vovó Artemízia n continua trabalhando pelos filhos Mário n e Nair, n que ainda se acham enfermos na Vida Espiritual. n
O vovô Ernesto n ainda precisa de cuidados.
E a vovó Cândida n está em refazimento. Estou quase com experiência de enfermeiro, pois o papai Caetano ainda necessita de adaptação ao novo ambiente.

5 Mãezinha Renata, fique conosco, tanto quanto estamos consigo e receba um beijo do seu filho sempre agradecido,


Marcos Roberto Vallini.




Esta pequena carta mediúnica, recebida pelo médium Chico Xavier, em reunião pública do GEP, em Uberaba, na noite de 21 de agosto de 1981, sintetiza todo o drama de D. Renata Bevilacqua Vallini, professora de piano, residente na Capital paulista, que se viu, quase que de um momento para outro, em solidão afetiva, ao perder todos os seus entes queridos.

Observa-se que o autor espiritual, o jovem Marcos, cita seis parentes, todos domiciliados no Além, que constituíam, na Terra, com o próprio Marcos (filho único), a constelação familiar de sua mãe, D. Renata, a única que permanece encarnada.

Os familiares citados são: Caetano, segundo esposo, que comparece ao lado do filho reforçando o apelo: “Estamos aqui a pedir-lhe para viver.” Artemízia, mãe, em trabalho constante de reerguimento espiritual de seus filhos Mário e Nair, ainda enfermos, vítimas de atitudes autodestruidoras. Ernesto, progenitor, e Cândida, sogra (mãe do primeiro esposo) e portanto, avó por adoção de Marcos, em pleno refazimento no Mundo Maior.

Também digno de nota é que cinco desencarnaram num período curto, de abril de 1979 a junho de 1980, sendo dois casos (Mário e Nair) de morte violenta.

Assim, neste amargo caminho de provação, D. Renata tem vencido obstáculos, superando ideias melancólicas, sustentada sempre por Benfeitores Espirituais, entre eles seus familiares queridos, já domiciliados no Lar Maior.

Testemunhando sua vitória ao longo destes últimos anos, ela afirmou-nos, em recente carta, datada de 20 de março de 1984: “Passei a frequentar o Centro Espírita Dr. Bezerra de Menezes, onde trabalho com muita felicidade. Hoje tenho todas as respostas e a alegria da resignação. (…) Gostaria de comentar que, em minha busca incessante, encontrei a tão almejada Paz no Espiritismo.”

Além da mensagem que abriu este Capítulo, D. Renata recebeu, em outras reuniões públicas do GEP, também pela psicografia de Chico Xavier, duas outras importantes cartas: a segunda do filho Marcos, em 30 de abril de 1982, e a primeira de sua mãe, D. Artemízia, em 12 de novembro de 1982, que transcreveremos a seguir, para a nossa meditação:




SEGUNDA CARTA DE MARCOS


Estamos lutando para vencer por dentro de nós tudo o que ainda seja sombra, para que, num dia, a luz nos transporte para além do horizonte visível na Terra…

1 Então, mãezinha Renata, aqui estamos.
Não suponha que eu viva longe.

2 Continuamos unidos. Aquelas suas esperanças de um filho robusto que a protegesse pelos caminhos da vida, que se lhe fizesse o braço amigo na travessia de qualquer obstáculo, não pode morrer. 3 O vovô deu a música ao seu coração e eu quero ser o amor dentro dela. É por isso que o seu carinho não sucumbiu, ante as provações que desabaram sobre a nossa casa, depois daquela nossa separação violenta.

4 A propósito, a fim de encerrar o assunto em que se configurou o episódio de minha volta à Vida Espiritual, n desejo contar-lhes que o amigo Alberto não teve culpa alguma no acidente. 5 Examinávamos juntos a arma e cuidadosamente passei a sobraçá-la, de maneira a instalá-la em lugar adequado quando o projétil se desprendeu do instrumento alcançando-me de modo tal no tocante à morte do corpo. 6 Senti um estremecimento e escutei o grito do companheiro; entretanto, num momento o silêncio me envolveu. Até hoje pergunto a mim mesmo pelo processo através do qual me apaguei, de uma vez.

7 Tudo em mim por fora e por dentro foi aquele torpor de que não voltei tão depressa.

8 Acordei, mais tarde, sob os cuidados de bisavós queridos que me guardaram como se cuida de um bebê nascente, tal qual o carinho com que me defenderam e resguardaram, despertando-me com cautela do marasmo em que caíra a fim de saber que eu era seu em outra parte da vida.

9 A breve tempo o papai Caetano n se uniu a mim e fomos surpreendidos com os fatos repletos de dor que se projetaram sobre os nossos caminhos. 10 Acompanhamos a sua amargura com a desencarnação da vovó Artemízia n que tanto se propunha a conservar a sua paz. 11 Seguimos a sua perplexidade com a queda da tia Nair n que não conseguiu resistir ao trauma da altura grande até o piso, em que foi recolhida por nós. 12 E depois vimos o seu sofrimento ao ver o tio Mário n desertar da vida com um tiro certeiro que lhe transplantou a existência.

13 Falo em tudo isso, mãezinha Renata, não só para confirmar-lhe que não está sozinha, mas também porque estamos numa reunião de amigos e desejo apresentar-lhes, com o orgulho santo do meu coração de filho, a valorosa mãe a quem Deus me confiou.

14 Tendo perdido a meu pai e a mim, os meus avós, e os irmãos quase todos em provas difíceis de vencer, sempre a vi no pesar justo, que passou a morar conosco, mas sempre confiando em Deus e procurando viver para ser fiel à Divina Providência. 15 Acompanho suas aulas de música e me oculto entre aqueles companheirinhos que lhe ouvem as lições.

16 Estamos lutando para vencer por dentro de nós tudo o que ainda seja sombra, para que, num dia, a luz nos transporte para além do horizonte visível na Terra…

17 Não se interesse em qualquer processo de angústia. Mãezinha Renata, o tempo não se repete. Os dias são novos para nós.

18 Ainda que mesmo entre lágrimas, olhe a vida em torno de nós e recorde o imenso bem que pode fazer.
Outros filhos do coração a esperam, onde estejam crianças que sofrem.

19 O vovô Ernesto e a vovó Cândida, n a vovó Artemízia e muitos outros corações nos apoiam e sempre que o frio lhe imponha a ideia de solidão, sinta as minhas mãos nas suas. 20 Recorde que nenhuma força da Terra poderá separar-nos, porque Deus nos uniu para sempre e não desejaria, por certo, separar-nos, agora que nos pertencemos um ao outro. 21 O papai Caetano recomenda-me que a siga, pedindo a Jesus lhe abençoar os passos.

22 E nessa viagem para a frente na estrada dos caminhos, quero ser sempre o seu Marcos menino, tentando retribuir ao seu amor materno, tudo o que a sua dedicação criou em meu benefício.

23 Mãezinha querida, com a vovó Artemízia estou me retirando… Mas isso é simbólico, porque na realidade estaremos unidos no mesmo ar que nos alimenta a vida. 24 Todos os nossos daqui lhe pedem não pensar em morte, e nem nesse ou naquele capítulo de tristeza negativa, supondo que deva fazer isso porque a maioria dos familiares aqui se encontra.

25 A sua existência é preciosa para Deus e para nós na Terra, e por isso contamos com a sua alegria e com a sua confiança em Deus e no Grande Amanhã.

26 Querida mãezinha, não tenho palavras para dizer-lhe quanto a amamos. Por isso pense em mim, como quando me recostava pequenino em seu colo para encontrar a paz. Sinta-me com os braços ainda estreitos enlaçando-a com o meu coração de encontro ao seu e saberá ouvir todo o carinho e toda a gratidão do seu filho, sempre o seu


Marcos

Marcos Roberto Vallini. n




CARTA DA MAMÃE ARTEMÍZIA


Por tudo isso passou você ou passamos nós duas, mas desejo que você saiba que a morte não existe para as mães.

1 Querida Renata, minha querida filha, Deus nos abençoe.

2 Não fosse a minha inquietação de mãe por você e não estaria aqui exigindo ocasião para me fazer percebida por você, a pedir-lhe nos auxilie.

3 Não desejo subtrair os minutos dos amigos que compõem a reunião em que nos achamos, mas para que me desculpem, desejo que todos saibam de minhas razões de mãe.

4 Sei que você, tão moça e com tantas possibilidades de fazer o bem está sentindo a diminuição da sua capacidade de resistência, diante do que você considera solidão. 5 Não pense na morte, à feição de um escape, a fim de reencontrar-nos. n Você e eu já sofremos o suficiente para aprender a esperar.

6 Compreendo a sua tortura íntima. Nós duas vimos a desencarnação de nossa avó Cândida; a morte do querido Ernesto; vimos amarguradas o falecimento do nosso Marcos Roberto, tombado sob um projétil que casualmente lhe exterminou a vida física; seguimos de perto a desencarnação de nosso estimado Caetano, n que foi um companheiro paternal para você, mais do que marido; depois, foi a minha vez. 7 Deixei-a em pranto porque o corpo fatigado não tinha condições para me resguardar. E você sabe que pranteamos juntas aquela pesada separação.

8 Depois foram dois choques que nos desequilibraram as emoções. Ver a nossa Nair a se atirar de grande altura para deformar-se no chão e saber que o nosso Mário atirou sobre si mesmo, desertando do mundo, foram problemas que, realmente, me imporiam outra morte se eu pudesse morrer outra vez.

9 Por tudo isso passou você ou passamos nós duas, mas desejo que você saiba que a morte não existe para as mães e que eu não trocaria o Céu pelo recanto onde estou assistindo ao reajuste de seus irmãos. 10 Não me suponha descansando, porque o nosso Mário e a nossa Nair, de todos os nossos, são os que mais sofrem por haverem criado angústia de consciência, para eles mesmos, no suicídio a que se entregaram, inexperientes e inconformados.

11 Agora, filha, venho esmolar a sua fortaleza para que não me enfraqueça. Por amor a Deus, não admita a possibilidade de também provocar a sua saída violenta do corpo. Há muito por fazer no que se refere aos que amargam provações que desconhecemos. 12 Não conserve em seu poder arma alguma e nem líquido algum capaz de acenar-lhe com tentações, nas quais reflito amedrontada. 13 Oraremos juntas e o Senhor lhe organizará trabalho em que você se esqueça, pelo menos um tanto, para continuarmos cumprindo o que as Leis Divinas esperam de nós.

14 Ninguém deve e nem precisa provocar a morte do corpo, de vez que não existe pessoa alguma na Terra capaz de afastá-la, quando vem na sequência natural dos acontecimentos da vida.

15 Espere-me como a espero, com a certeza de que o Sol de Deus a todos nos ilumina e de que, pelo pensamento e pela oração, nunca estaremos separadas.

16 O Roberto veio em minha companhia e beija-lhe com carinho o coração de mãe, e confiando em você no que lhe peço nesta noite de paz, rogo a você aconchegar-se ao meu colo como fazia quando em criança, e sinta o meu coração pulsando com o seu nos mesmos movimentos de fé em Deus, conservando a certeza de que terá sempre em mim, a sua velha mãe que deve tanto à sua dedicação, sempre a sua mamãe


Artemízia Bevilacqua.




NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 - Caetano — Caetano Faustino Vallini, pai de Marcos, desencarnado em 10/06/1980.

2 - Artemízia — Artemízia Bevilacqua, avó materna de Marcos, desencarnada em 12/04/1979, aos 81 anos de idade.

3 - Mário — Mário Bevilacqua, irmão de D. Renata, solteiro, suicidou-se em 11/05/1980, 19 dias após a morte de sua irmã Nair, com quem residia.

4 - Nair — Nair Graça Plena Mora, irmã de D. Renata, suicidou-se em 22/04/1980, ao atirar-se da janela do edifício onde residia. Nesta época, estava muito enfraquecida, sob tratamento de grave leucemia.

5 - Ainda se acham enfermos (Mário e Nair) na Vida Espiritual — A literatura espírita é rica de informações a respeito dos graves prejuízos futuros para quem põe fim, deliberadamente, à vida física. O suicídio, séria transgressão à Lei Natural ou Divina, ocasiona traumas espirituais e perispirituais, sempre requerendo tratamento prolongado, inclusive reencarnações regenerativas para completarem a terapêutica. Dentre as numerosas obras que tratam do assunto, podemos citar: O Evangelho Segundo o Espiritismo , Allan Kardec, Cap. 5, Q. 14 a 17; O Livro dos Espíritos, A. Kardec, Q. 943 a 957; O Céu e o Inferno (ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo), A. Kardec, Segunda Parte, Cap. 5; Memórias de um Suicida , médium Yvonne A. Pereira, FEB, Rio; Religião dos Espíritos , Francisco C. Xavier, Emmanuel, Cap. 48, FEB; Nosso Lar , F. C. Xavier, André Luiz, Cap. 4, FEB.

6 - Ernesto — Ernesto Bevilacqua, pai de D. Renata, foi violoncelista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Desencarnou em 07/12/1967, aos 75 anos.

7 - Vovó Cândida — Cândida Ferreira Cunha, avó por adoção de Marcos, faleceu em 15/02/1980.

8 - A fim de encerrar o assunto (…) desejo contar-lhes que o amigo Alberto não teve culpa alguma no acidente. — A narrativa de Marcos coincide, perfeitamente, com o depoimento de Alberto na Justiça. Na época do fato, em 1971, como houvesse suspeita de crime, a família de D. Renata contratou um advogado. Porém, em 1974, atendendo a um pedido do próprio Marcos (Espírito), que se comunicou por uma médium psicofônica de um Centro Espírita de São Paulo, inocentando seu amigo, D. Renata suspendeu a ação na Justiça.

9 - Marcos Roberto Vallini — Desencarnou a 19/06/1971, em São Paulo, quando cursava o 3º ano de engenharia eletrônica da Faculdade Mauá.

10 - Não pense na morte, à feição de um escape, a fim de reencontrar-nos. — Contou-nos D. Renata, em entrevista fraterna, que até o recebimento da mensagem materna, acreditava, em certos dias, que seria mais útil à família residir no Plano Espiritual, chegando a pedir, em preces, a sua passagem para o Além. Seria até, diz ela, uma atitude nobre… Mas as palavras da mamãe Artemízia foram convincentes e tocaram profundamente em seu coração, despertando-a para a realidade maior de suas responsabilidades com a própria Vida. Com sua visão ampliada, vencendo ideias depressivas, D. Renata começou a perceber que tinha muitas amizades sinceras, outros familiares, embora mais distantes, e não mais rezou para partir…


Hércio Arantes


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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