O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Quem são — Familiares diversos


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Paciência ante os tropeços da vida

1 Querido Moacir, meu querido companheiro, venho pedir a sua calma e a sua coragem.

2 Estou recordando, era domingo, conversávamos, quando uma dor aguda, seguida de asfixia invencível, roubou-me todas as energias.

3 Quis falar, conversar ainda… Entretanto, a força que me subjugava era vigorosa demais, e não pude senão silenciar.

4 Num retrospecto que não sei descrever, vi toda a nossa vida em comum, como se um caleidoscópio me fizesse contemplar as nossas experiências…

5 Por fim me vi criança e dormi, mas dormi sob a imposição de um sono que não consegui dominar. Creia que Deus e você eram as ideias que tentava reter comigo; no entanto, tive que me render àquela indução, ao aniquilamento que me invadia de assalto.

6 Quanto tempo gastei nessa luta comigo própria, tentando raciocinar sem qualquer possibilidades de autocontrole, por enquanto não sei dizer…

7 Acordei num quarto de hospital, arejado e reconfortante, ainda na suposição de que me achava em algum recanto de recuperação e repouso a esperá-lo. Entretanto, a querida mãe Joanina, com a mãezinha Vicentina me aparecem quando as indagações me escaldavam a cabeça, e foi com muita dificuldade e muita lágrima que veio a tomada de consciência do ocorrido.

8 Em breve tempo o nosso irmão Iracy se reunia a nós e, conquanto reconfortada por tanto amor que me requisitava para a readaptação à vida, chorei muito ao me certificar de que a porta da nossa casa para mim, do ponto de vista físico, se fechava sem que me fosse facultado o regresso a tudo que ambos mais amávamos…

9 Tenho procurado melhorar o meu padrão de reajuste, mas ainda as suas saudades encharcadas de pranto oculto me buscam para reflexões difíceis e amargas, e por isso, querido Moacir, a você, que me cercou de felicidade, agora peço serenidade e força espiritual para vencermos.

10 Não pense na morte como meio de nos reencontrarmos. Isso seria desobediência grave, e não quero vê-lo em qualquer indisciplina perante as Leis de Deus.

11 Pense. Temos ainda os nossos filhos João Bosco e Sueli, que precisam de você, de seu carinho, além dos netos que ainda virão e que serão nossos filhos pequeninos.

12 Guarde paciência ante os tropeços da vida e creia que me sentirei sustentada em suas próprias forças. Ore e peçamos a Deus que nos fortaleça.

13 A mãe Vicentina está comigo e pede o seu carinho e bênção para nós duas. E não acredite na provação sem remédio.

14 Você está moço e forte, com amplas possibilidades para refazer o caminho… Você sabe que não é fácil renunciar… Entretanto, se a criatura amada está em perigo, aquela outra criatura que ama se dispõe a qualquer atitude que lhe resulte em reajustamento e renovação para a alegria.

15 Querido Moacir, lembre-se de que estamos sempre juntos. A morte do corpo não separa ninguém, e o amor, quando verdadeiro, ultrapassa todas as condições a fim de evidenciar-se e permanecer.

16 Não desejo interferir em seu livre arbítrio, mas prefiro ver você novamente sorrindo para a vida e para o mundo.

17 Você desejava receber notícias minhas. Aí as tem com o meu coração reconhecido.

18 Se voltei apressadamente, isso era esquema de desígnios imperiosos, muito além da minha vontade. No entanto, para nós que cremos em Deus, a submissão ao poder divino que nos governa é obrigação.

19 Sempre que possível, procure desligar-se das ideias de solidão e pessimismo. Tudo melhorará. Confiemos em Deus.

20 Agradeço todas as preces que o seu carinho me envia e as outras que encomendou em meu favor. São como flores que você me endereçou.

21 Estou saudosa, mas não infeliz.

22 É impossível não sermos gratos à Divina Providência pelas bênçãos que nos deu, que eram a própria vida. Agradeçamos ao céu e prossigamos em nossa caminhada para a frente.

23 De todas as providências que você resolva assumir para qualquer renovação, serei fiadora e pedirei a Jesus por sua felicidade, que em qualquer circunstância, será também minha.

24 Querido esposo e amado amigo, tenho a sua presença em meu coração.

25 Deus abençoe os nossos filhos queridos e nos proteja, para podermos realizar o que seja mais certo.

26 E com os agradecimentos que a sua dedicação cultivou em minhalma, rogo a você receber todas as melhores esperanças no carinho de sempre da sua


Titina

Conceição Interlando Neto


MENSAGEM DO ALÉM COMOVE O ATEU E PROVOCA CONVERSÃO


Da excelente reportagem que a Sra. Elsie Dubugras publicou na seção “Fronteiras do Desconhecido”, da revista Planeta, n de agosto de 1980, destacamos o capítulo anterior, a que denominamos “Paciência Ante os Tropeços da Vida”, trasladando para o presente capítulo, praticamente todas as palavras da ilustre jornalista, cujos trabalhos têm sempre repercussão internacional, tomando a liberdade, tão somente, de abrir parágrafos, principalmente na mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, com vistas a tornar a leitura do texto mais fácil:

Já na página de rosto da aludida revista, sob a foto de D. Titina, esta expressiva chamada:

“Uma mensagem psicografada colocou o homem ateu em contato com sua esposa falecida, fazendo-o crer no Espírito eterno.”

E mais estas, à página 59:

“A morte da mulher amada levou o sofrimento natural ao esposo, que entrou em estado de depressão e incontrolável saudade.

Tratava-se, porém, de um ateu.

Mas a lembrança da esposa o levou a Uberaba, onde, com descrença e até certo deboche, entrou na fila para consultar-se com Chico Xavier.

Aí, a surpresa: sua querida “Titina”, a esposa, mandou-lhe uma mensagem.

Em lágrimas, passou do ateísmo à fé no Espírito eterno.”


Vejamos, sem mais delongas, o admirável trabalho de D. Elsie Dubugras:

“Em princípios de 1980, Moacir e sua esposa Conceição Interlando Neto, de Mato Grosso do Sul, resolveram começar bem o ano: reservaram um dia só para visitar toda sua numerosa família.

A data escolhida foi 10 de fevereiro, o segundo domingo do mês.

Naquele dia, logo cedo, eles iniciaram a ronda de visitas. Foi um dia alegre e festivo, pois a família era unida e todos se davam bem.

Mas nem por isso deixou de ser cansativo.

Ao chegar em casa, às 22 horas, o casal resolveu se recolher imediatamente.

Estavam se aprontando quando Conceição, queixando-se de falta de ar, correu para o terraço do quarto; ali permaneceu de pé, encostada ao batente da porta.

Como ela sofresse de insuficiência cardíaca, Moacir correu para apanhar seu remédio e um copo de água.

O remédio, contudo, não fez em Conceição o efeito desejado, provocando-lhe fortes dores no peito.

Ela começou a cambalear.

Moacir tentou ampará-la, mas seu corpo amoleceu e, desfalecida, Conceição escorregou, caindo ao chão.

Estava morta.

O desespero de Moacir foi grande.

Casados há muitos anos, davam-se extremamente bem.

Tinham filhos, mas o solteiro morava em outra cidade e a filha era casada.

Agora ele estava sozinho em sua enorme casa.

A solidão era marcante, pois Conceição não fora só uma esposa admirável: fora uma excelente e hospitaleira dona-de-casa, sua amiga, companheira, sempre pronta a seguir o marido a qualquer lugar.

A situação de Moacir era ainda mais dolorosa, pois, como ele mesmo disse, era ateu e, não acreditando em Deus nem em Sua bondade, não tinha a quem recorrer nas horas difíceis.

Moacir adoeceu e o médico proibiu-o de dirigir, temendo que desmaiasse ao volante.

De um homem independente, Moacir agora via-se forçado a confiar na boa vontade dos outros, e assim tudo foi se acumulando, calando em seu íntimo.

Até que um dia ouviu falar de Chico Xavier e resolveu consultá-lo.

Apesar da dificuldade em chegar até perto de Chico — milhares de pessoas vêm de todas as partes do País para assistir às sessões onde ele psicografa —, Moacir conseguiu entrar na “fila dos 60”, ou seja, a fila das sessenta pessoas a quem o médico permite falar com Chico.

Quando chegou sua vez, Moacir contentou-se em pedir notícias da esposa falecida.

Em seguida, voltou ao galpão, aguardando a hora da sessão, que começaria às 18 horas.

A espera foi longa, pois os trabalhos só tiveram início às 23 horas.

Naquela noite, Chico Xavier escreveu mais de 500 consultas.

Sentados à outra ponta da mesa tínhamos uma perfeita visão do médium, que cobria os olhos com a mão esquerda, enquanto a direita escrevia com uma velocidade inacreditável.

Logo depois de iniciar a psicografia, vimos lágrimas escorrendo pela sua face, que mostrava profunda tristeza.

Assim Chico prosseguia até 2h40 da madrugada.

Depois disso, saindo do transe mediúnico, separou as mensagens que começaria a ler.

Ao pegar a segunda, virou-se para a presidente da mesa, que gritou um nome: Moacir.

Ninguém respondeu.

Novamente chamaram o mesmo nome.

Os assistentes olhavam para todos os lados e no galpão alguém repetiu o nome.

Então, empurrando os que estavam na porta, entrou um senhor de cabelos grisalhos, que perguntou: “Moacir de quê?” Chico respondeu: “Moacir Neto”.

O estranho imediatamente respondeu: “Sou eu. Sou Moacir Neto.”

Chico, sem se perturbar, perguntou se ele conhecia alguém com o nome de “Titina”.

Moacir, com o rosto contraído pela dor, disse que era sua falecida esposa, e, pela voz fraca e rouca do médium, ouviu as palavras de carinho daquela que morrera a 10 de fevereiro.”


Depois de transcrever a mensagem psicografada pelo médium Xavier, prossegue a distinta jornalista e escritora:

“Ao término da leitura, Chico entregou a mensagem ao viúvo, que se retirou da sala.

No dia seguinte, procuramos Moacir Neto para saber de suas impressões:

Moacir Neto, quer nos falar sobre suas impressões quanto à mensagem assinada por Titina, que, segundo soubemos, é o apelido de sua falecida esposa?


A conversão do ateu


Ainda estou aturdido. Não consegui conciliar o sono. Nunca me ocorreu que receberia uma mensagem por escrito da minha falecida esposa.

Não conhecia Chico Xavier pessoalmente, nunca estive antes em Uberaba, e mais: não sou espírita.

Em verdade, você poderia me chamar de ateu, pois não acreditava em Deus.

Mas como estava preocupado e triste, resolvi vir a Uberaba. Tencionava procurar Chico para pedir notícias de minha mulher, para saber se ela estava bem, se precisava de alguma coisa rezas, missas, etc.

Aliás, quando entrei na “fila dos suplicantes”, foi justamente isso que pedi. Só notícias.


Mas você não sabia que Chico por vezes recebe mensagens por escrito de pessoas falecidas?

Sim, mas o fato é que eu estava do lado de fora, no galpão, conversando — e caçoando — com as pessoas que aguardavam notícias ou mensagens.

Cheguei a dizer a algumas pessoas que se elas não recebessem o que esperavam, que viessem ter comigo!

Eu daria as mensagens que elas queriam.

Veja só.

Duvidava da psicografia.

Então, como estivesse ficando tarde, revolvi ir embora.

Foi quando ouvi alguém chamando meu nome.

Esperei e, quando chamaram pela segunda vez, aproximei-me da porta da sala onde estavam fazendo a sessão e pergunte: “Moacir de quê?”

Quando deram meu sobrenome, vi que era eu mesmo.

O que é que você sentiu?

Um choque seguido de uma terrível saudade, especialmente quando o Chico começou a ler a mensagem tão carinhosa e quando Titina falou da presença de sua mãe, o irmão e minha própria mãe, todos falecidos.


Você não duvidou que a mensagem era mesmo de sua esposa?

Não poderia duvidar.

Tantas provas, começando pelo nome que eu usava para ela — Titina —, as referências aos membros da família, os nomes dos nossos filhos, a forma com que ela me trata na carta, idêntica à que usava em vida, na intimidade, além da descrição que fez de sua morte, não difere do que aconteceu, pois ela morreu de angina.


Esta mensagem modificou-o em seu íntimo?

Uma coisa é certa: não vou mais caçoar de nada e de ninguém.

Sei agora que Chico Xavier é um grande médium.

Depois da mensagem, eu mudei.

Sou um soldado para brigar com quem caçoar, como eu fazia…”


Nota: A Autora da reportagem informa, entre parênteses, no corpo da mensagem, que mãe Joanina e mãezinha Vicentina são, respectivamente, sogra e mãe de Moacir.


Elias Barbosa



[4] Planeta, Número 95, Agosto 1980, pp. 3; 59-61.


Texto extraído da 7ª edição desse livro.

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