O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Pai nosso — Meimei


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O pão nosso de cada dia dá-nos hoje

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1. O pão nosso de cada dia não é somente o almoço e o jantar, o café e a merenda.

É também a ideia e o sentimento, a palavra e a ação.

Para que reine a saúde com alegria, em torno de nós, precisamos de nossas refeições, mas necessitamos também de paz e esperança, de fé e valor moral.

Com os nossos modos de agir, operamos sobre os outros.

Conversando, distribuímos nossos pensamentos.

Nossos atos influenciam os que nos cercam, segundo as nossas intenções.

Por isso, também os outros nos alimentam com as suas atitudes.

Se estimamos as conversações deprimentes, se buscamos a leitura de natureza inferior, depressa nos vemos alterados e perturbados, sem disso nos apercebermos.

As nossas companhias falam claramente de nós.

Nossas leituras revelam nosso íntimo.

Procuremos, desse modo, o pão espiritual que nos garanta a harmonia interior, que conserve o nosso caráter firme sobre os alicerces do bem, que nos guarde contra a maldade e que nos ajude a ser exemplos de compreensão e fraternidade.

Em Jesus temos o pão que desceu do Céu. ( † )

E, ainda hoje, o Mestre continua alimentando o pensamento da Humanidade, por intermédio de um Livro, — o Evangelho Divino, — em que ele nos ensina, através da bondade e do amor, o caminho de nossa felicidade para sempre.




2. A necessidade do esforço

Conta-se que, no princípio da vida terrestre, o alimento das criaturas era encontrado como oferta da Divina Providência, em toda parte.

Em troca de tanta bondade, o Pai Celeste rogava aos corações mais esforço no aperfeiçoamento da vida.

O povo, no entanto, observando que tudo lhe vinha de graça, começou a menosprezar o serviço.

O mato inútil cresceu tanto, que invadia as casas, onde toda a gente se punha a comer e dormir.

Ninguém desejava aprender a ler.

A ferrugem, o lixo e o mofo apareciam em todos os lugares.

Animais, como os cães que colaboram na vigilância, e aves, como os urubus que auxiliam nas obras de limpeza, eram mais prestativos que os homens.

Vendo que ninguém queria corresponder à confiança divina, o Pai Celestial mandou retirar as facilidades existentes, determinando que os habitantes da Terra se esforçassem na conquista da própria manutenção.

Desde esse tempo, o ar e a água, o Sol e as flores, a claridade das estrelas e o luar continuaram gratuitos para o povo, mas o trabalho forçado da alimentação passou a vigorar como sendo uma lei para todos, porque, lutando para sustentar-se, o homem melhora a terra, limpa a habitação, aprende a ser sábio e garante o progresso.

Deus dá tudo.

O solo, a chuva, o calor, o vento, o adubo e a orientação constituem dádivas d’Ele à Terra que povoamos e que devemos aprimorar, mas o preparo do pão de cada dia, através do nosso próprio suor e da nossa própria diligência, é obrigação comum a todos nós, a fim de que não olvidemos o nosso divino dever de servir, incessantemente, em busca da Perfeição.




3. O exemplo da árvore

Dizem que quando a primeira árvore apareceu na Terra, trazia do Pai Celestial a recomendação de alimentar o homem e auxiliá-lo, em nome do Céu, por todos os meios que lhe fosse possível.

Resolvida a cumprir a ordenação do Senhor, certo dia foi visitada por um ladrão, perseguido pela Justiça.

Ele sentia fome e, por isso, furtou-lhe vários frutos.

Em seguida, decepou-lhe muitos galhos, deles fazendo macia cama para descansar e refazer-se.

A árvore não se agastou com o assalto. Parecia satisfeita em ajudá-lo e até se mostrava interessada em adormecê-lo, agitando harmoniosamente as folhas, tangidas pelo vento.

Erguendo-se, fortalecido, o pobre homem ouviu o ruído dos acusadores que o buscavam e, angustiado, sem saber que rumo tomar na várzea deserta, notou que o nobre vegetal, em silêncio, como que o convidava a asilar-se em seus ramos.

Imediatamente, à maneira de um menino, o infeliz escalou o tronco e escondeu-se na copa farta.

Os guardas vieram e, desistindo de encontrá-lo em razão da busca infrutífera, retiraram-se para lugarejo distante.

Foi então que o desventurado desceu para o solo, impressionado e comovido, reparando que se achava à frente de humilde mensageira do Céu.

Roubara-lhe os frutos e mutilara-lhe as frondes; entretanto, oferecera-lhe, ainda, seguro abrigo.

O homem infeliz começou a meditar no exemplo da árvore venerável, incumbida por Deus de cooperar na distribuição do alimento de cada dia na Terra, e, nela reconhecendo verdadeira emissária do Céu, que lhe saciara a fome e lhe dispensara maternal proteção, abandonou o mal em que se havia mergulhado e passou a ser outro homem. n




4. O alimento espiritual

O professor lutava na escola com um grande problema.

Os alunos começaram a ler muitas histórias de homens maus, de roubos e de crimes e passaram a viver em plena insubordinação.

Queriam imitar aventureiros e malfeitores e, em razão disso, na escola e em casa apresentavam péssimo comportamento.

Alguns pronunciavam palavrões, julgando-se bem-educados, e outros se entregavam a brinquedos de mau gosto, acreditando que assim mostravam superioridade e inteligência.

Esqueciam-se dos bons livros.

Zombavam dos bons conselhos.

O professor, em vista disso, certo dia reuniu todas as classes para a merenda costumeira, apresentando uma surpresa esquisita.

Os pratos estavam cheios de coisas impróprias, tais como pães envolvidos em lama, doces com batatas podres, pedaços de maçãs com tomates deteriorados e geleias misturadas com fel e pimenta.

Os meninos revoltados gritavam contra o que viam, mas o velho educador pediu silêncio e, tomando a palavra, disse-lhes:

— Meus filhos, se não podemos dispensar o alimento puro a benefício do corpo, precisamos também de alimento sadio para a nossa alma. O pão garante a nossa energia física, mas a leitura é a fonte de nossa vida espiritual. Os maus livros, as reportagens infelizes, as difamações e as aventuras criminosas representam substâncias apodrecidas que nós absorvemos, envenenando a vida mental e prejudicando-nos a conduta. Se gostamos das refeições saborosas que auxiliam a conservação de nossa saúde, procuremos também as páginas que cooperam na defesa de nossa harmonia interior, a fim de nunca fugirmos ao correto procedimento.

Com essa preleção, a hora da merenda foi encerrada.

Os alunos retiraram-se cabisbaixos.

E, pouco a pouco, a vida dos meninos foi sendo retificada, modificando-se para melhor.




5. Notas

Há saúde do corpo e saúde da alma. Ambas devem estar juntas.

Deus concede-nos recursos mil, cada dia, para alimentar-nos o espírito com as melhores emoções.

Absorvemos os pensamentos uns dos outros.

Auxilia a produção útil da Natureza e estarás cooperando com a Providência Divina.

Cede ao próximo o pão que sobra em tua mesa e o Senhor te enriquecerá de bom ânimo e alegria.

Atendendo a Deus, a Terra gasta milhões de vidas, cada dia, a fim de sustentar-nos.

Falar mal dos outros, ao invés de ajudá-los, é o mesmo que envolver nossos sentimentos em lama invisível, ao invés de fazê-los brilhar.

Os frutos que te deliciam são os resultados do esforço daqueles que passaram no mundo, antes de ti. Prepara a sementeira de agora para os que virão no futuro.

Planta uma árvore amiga e ajudarás aos que te ajudam.




  6. Quem lança a boa palavra

  De amor e consolação,

  Espalha por toda a Terra

  Os dons do Divino Pão.


Meimei



[1] [Vide também: “A árvore útil.”]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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