O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Militares no Além — Autores diversos


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A esperança não é perfeita sem a paciência e a conformação

24/01/1945


1 Meus amigos, boa noite com os meus votos a Deus pela paz de todos.
Venho cumprir meu dever convosco, apresentando-vos a minha gratidão pelos serviços prestados ao meu nobre Clóvis, nestes tempos difíceis de luta, tempos de trabalhos purgatoriais, em que somente as almas verdadeiramente amigas sabem oferecer os tesouros da cooperação fiel. n

2 Muito me constrange o coração de um pai a análise das situações melindrosas de família, mormente quando esse pai, pelas imposições da morte, não mais integra o quadro doméstico. Entretanto, apesar do meu sofrimento moral ante as dificuldades em curso, valho-me de todos os ensejos ao alcance de minhas possibilidades restritas para retribuir ao filho doente pelo menos uma pequenina parte do quanto lhe fiquei a dever. 3 Infelizmente, as lutas agravaram-se para o seu organismo combalido. As forças de reação foram reduzidas ao mínimo e o nosso pobre enfermo foi obrigado a capitular. É a prova útil, meus amigos, prova que compreendeis muito mais que eu mesmo, embora as nossas diferenças de Plano. É que o meu velho coração apenas atualmente começa o serviço de alfabetização espiritual.

4 Lembro-me da profunda renúncia de Clóvis por mim, de suas noites de vigília e sacrifício e, em lágrimas, rogo a Deus lhe atenue os padecimentos. É uma dolorosa noite a paisagem mental em que ele se movimenta. Dolorosa porque a sua inconsciência completa é imaginária. O pai, o esposo, o filho, o homem do dever estão vivendo dentro dele, dilacerados, oprimidos, sofredores! 5 Como é triste acompanhar uma enfermidade sem o poder de curá-la! E como são ditosos os homens obscuros, que aprenderam no anonimato a ciência sublime da resignação! Para mim, habituado às determinações de serviço harmônico, dentro da minha esfera pessoal, desde os tempos da mocidade, o choque tem sido francamente cruel. 6 Tendes convosco armas espirituais que ainda não possuo. Minha antiga espada foi um padrão de serviços e disciplina, mas agora reconheço que não forjei certas armas indispensáveis do coração. Desprevenido de semelhantes recursos, muito me dói observar o filho em tão longo período de incertezas e vacilações! 7 Quando me aproximo de Aurélia, dedicada esposa convertida em enfermeira, falo-lhe espiritualmente de minhas esperanças, de minha nova fé, imprimindo-lhe forças novas ao espírito, mas a vós, meus amigos, a quem devo uma solicitação de desculpas por tantos dissabores familiares, confesso meu verdadeiro estado de alma, na condição de um pai lutador, que em débito para com um filho muito querido não lhe tem podido fazer o mesmo bem. 8 Sei que devemos esperar em Jesus e que, de qualquer modo, não temos outro caminho. Entretanto, esperar também é uma arte que nem todos aprenderam. A esperança não é perfeita sem a paciência e a conformação. E em vista disso devo revelar-me tal qual sou, sem exibir, diante de vós, expressões espirituais que ainda necessito edificar no coração.

9 Lamento que os meus outros filhos não se mostrem bastante compreensivos nos trabalhos em curso, mas, impossibilitado de exprimir-me como em outros tempos, resta-me agradecer-vos pelo bem que tendes ministrado a todos nós. Aurélia merece todos os vossos sacrifícios. 10 Coração devotado ao bem de todos, e espírito colocado em dolorosas provações de fé pelas qualidades espirituais que já adquiriu, ela bem merece esse grande amor no culto familiar. Ajudemo-la com as nossas forças mais puras! Suas necessidades espirituais são bem grandes, pela surpresa da prova. Nós estamos cooperando e fazendo quanto nos é possível e contando com as vossas desculpas aguardamos a continuidade de vosso devotamento. Infelizmente, o enfermo não demonstra melhoras senão ligeiras e inconstantes, contrariando-nos os melhores desejos. Esperemos, porém. 11 Meu pobre filho, além de trazer consigo pesada bagagem de lutas, em vista do passado espiritual, segundo me informam os Espíritos superiores, criou antes da união matrimonial certos laços fortes e indesejáveis no domínio das forças menos edificantes. Muito grande é a luta dele, mas ensinam-me aqui que a Providência Divina é maior!

12 Assinalo, pois, aqui o meu pedido de desculpas pelos aborrecimentos pesados que se abateram sobre todos vós. Entretanto, Clóvis Foi tão bom para mim que considero um dever de minha parte falar-vos com humildade na presente situação para que sejamos perdoados. O futuro há de trazer-vos suas compensações. Aguardo as bênçãos do Altíssimo para este caso, que a todos nos feriu e compeliu a fortes preocupações e tristezas amargas. Auxiliai Aurélia quanto estiver ao vosso alcance e que Deus vos recompense. Ela tem sido para mim, nestes tempos de sombra, uma filha devotada cuja dedicação jamais poderei pagar.

13 Boa noite, meus amigos. Que continueis cultivando a paz divina são os votos do velho amigo,


Feliciano



[1] Nota da Organizadora: Relembrando, o Marechal Feliciano Mendes de Moraes era pai de Clóvis, marido de Aurélia, filha do vovô Aurélio. Clóvis, nesta encarnação, padeceu de distúrbios neurológicos e esteve, por longo tempo, em dolorosa prova de alienação mental.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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