O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Maria Dolores — A própria


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Convite

  1 Se te vês nesta noite,
De alma desencantada e dolorida,
Concentrando a atenção na angústia que te invade,
Medita, coração,
Nos outros companheiros que se vão
Nos caminhos da vida,
Sob as pressões da prova e da necessidade.


  2 Regresso agora de estirado giro,
Para buscar-te aqui, em teu doce retiro,
A calma da oração,
Entretanto, alma irmã, se me permites,
Comentarei as dores sem limites,
Da multidão agoniada
Que encontrei na jornada.


  3 Com certeza, já viste
As trevas e aflições de tanto quadro triste,
Mas peço ainda o teu consentimento
A fim de relembrar-te
O vasto espinheiral do sofrimento
Que nos roga socorro em toda parte.


  4 Deixa, enfim, que eu te diga,
Alma fraterna e amiga,
Quanta amargura vi por onde andei…
Vi mães em catres de doença e luta,
Lançando petições que a Terra não escuta,
Pedindo, em vão, a xícara de leite
Para o filhinho semimorto
Agonizando à míngua de conforto…


  5 Vi outras nas calçadas,
Carregando no colo os anjos de ninguém,
Pobres irmãs abandonadas
Aspirando a escalar as alturas do bem.


  6 Acompanhei velhinhos,
Outrora moços de bonito porte,
Tão fatigados, tão sozinhos
Que pediam a Deus a compaixão da morte.


  7 Achei muitos irmãos enfermos e cansados
Em desespero imanifesto,
Sem pensar nas terríveis consequências
Que nascem, desse gesto.


  8 Vi crianças, ao léu, com febre e sono,
Relegadas à noite em penoso abandono…


  9 Visitei tanto lar vazio de esperança,
Tantas mansões em lágrimas ocultas
E tanta dor nas choças das favelas,
Que, de fato, não sei explicar, a contento,
Onde há mais solidão e onde há mais sofrimento
Se nas casas mais ricas e mais altas,
Ou nas outras mais tristes, mais singelas…
Por isso venho aqui, alma querida e boa,
Para pedir qualquer migalha,
Em favor de quem chora…


  10 Ama, ensina, trabalha,
Sofre, ajuda, perdoa…
Lá fora, um mundo novo nos espera
Por nossa fé sincera
Traduzida em serviço…


  11 Olvida a própria dor… Lembra-te disso:
Temos nós com Jesus a obrigação
De esquecer-nos e agir
Para que a paz do bem seja a paz do porvir.
Não te percas em lágrimas vazias
Pensa na força que irradias
Pela fé que Jesus já te consente
Deixa as tribulações e os pesadelos
Que te fazem chorar,
Reflitamos no amor sinceramente,
Anota as provações de tanta gente,
Sai de ti mesmo e vamos trabalhar!…


Maria Dolores


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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