O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Jesus no lar — Neio Lúcio


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O educador conturbado

1 Comentava André, o apóstolo prestativo, as dificuldades para afeiçoar-se às verdades novas, quando Jesus narrou para a edificação de todos:

2 — Um homem, singularmente forte, que se especializara em variados serviços de reparação e reajustamento, foi convidado por um anjo a consertar um aleijado que aspirava ao ingresso no paraíso e aceitou a tarefa.

3 Avizinhou-se do enfermo, de martelo em punho, e, não obstante os gritos e lágrimas que a sua obra arrancava do infeliz, aprimorando-o, dia a dia, cumpriu o prometido.

4 O mensageiro divino, satisfeito, rogou-lhe a contribuição no aperfeiçoamento de uma velha coxa que desejava ardentemente a entrada na Corte Celeste.

5 O trabalhador robusto, indiferente aos gemidos da anciã, impôs-lhe a disciplina curativa e, gradativamente, colocou-a em condições de subir às Esferas sublimes.

6 O ministro do Alto, jubiloso, solicitou-lhe o concurso no refazimento de um homem chagado e aflito que anelava a beatitude edênica.

7 O consertador não hesitou.

Absolutamente inacessível aos petitórios do infortunado, queimou-lhe as úlceras com atenção e rigor, pondo-o em posição de elevar-se.

8 Terminada a tarefa, o anjo retornou e requisitou-lhe a cooperação em benefício de um jovem perdido em maus costumes.

9 O restaurador tomou o rapaz à sua conta e deu-lhe trabalho e contenção, com tamanho tirocínio, que, em tempo breve, a tarefa se fazia completa.

10 E, assim, o emissário de Cima pediu-lhe colaboração em diversos casos complexos de reestruturação física e moral, até que, um dia, o emérito educador, entediado da existência imperfeita na Terra, implorou ao administrador angélico a necessária permissão para seguir em companhia dele, na direção do Céu.

11 O embaixador sublime revistou-o, minuciosamente, e informou que também ele devia preparar-se com vistas ao grande cometimento; mostrou-lhe os pés irregulares, os braços deficientes e os olhos defeituosos e rogou, dessa vez, reajustasse ele a si mesmo, a fim de elevar-se.

12 O disciplinador começou a obra de autoaprimoramento, esperançoso e otimista; entretanto, o seu antigo martelo lhe feria agora tão rudemente a própria carne que ele, ao invés de consertar os pés, os braços e os olhos, caiu a contorcer-se no chão, desditoso e revoltado, proferindo blasfêmias e vomitando injúrias contra Deus e o mundo, quase paralítico e quase cego.

13 Ele mesmo não suportara o regime de salvação que aplicara aos outros e o próprio anjo amigo, ao reencontrá-lo, com extrema dificuldade o identificou, tão diferente se achava.

14 Findo o longo exame a que submeteu o infortunado, o mensageiro do Eterno não teve outro recurso senão confiá-lo a outros educadores para que o reajustamento necessário se fizesse, com o mesmo rigor salutar com que funcionara para os outros, a fim de que o notável consertador se aperfeiçoasse, convenientemente, para, então, ingressar no Paraíso.

15 Diante da estranheza que senhoreara o ânimo dos presentes, o Senhor concluiu:

— Usemos de paciência e amor em todas as obras de corrigenda e aprendamos a suportar as medidas com que buscamos melhorar a posição daqueles que nos cercam, porque para cada Espírito chega sempre um momento em que deve ser burilado, com eficiência e segurança, para a Luz Divina.


Neio Lúcio


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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