O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 6


Kleber Silveira de Souza


“MAMÃE, NÃO ERA A MOTO QUE EU AMAVA MAIS”

Órfão de pai desde os 2 anos de idade, o jovem Kleber, de 21 anos, era o filho único de Dª Zita, quando desencarnou em acidente de moto. Esse doloroso e inesperado desenlace ocorreu numa tarde de domingo, dia 10 de outubro de 1982, em Porto Alegre, RS, onde residia, deixando “um grande vazio, uma solidão plena de saudade” no coração da progenitora, conforme suas próprias palavras.

Dª Zita declarou-nos, ainda, que “apesar desse vazio imenso, de toda a minha dor pelo impacto do acontecimento, encontrei forças na minha fé e na certeza de que a vida continua. Esta certeza se fortaleceu quando compareci à reunião de Chico Xavier, em Uberaba, a 8 de setembro de 1984, e tive a graça de receber a mensagem de Kleber, muito linda e afetuosa. Ela é um Poema de Amor!”

Kleber era muito apegado à moto, mas ao ler sua carta chegaremos facilmente à conclusão de que, de fato, não era a moto que ele amava mais…




1 Querida mamãe Zita, peço a sua bênção.

2 As horas passam e os dias vão correndo no rio do tempo, mas, efetivamente, que força poderá separar-nos?

3 Mamãe, esta frase longa é para dizer-lhe que continuo mais unido ao seu coração hoje, mais do que em outro tempo. Ninguém me impediria de não esquecê-la. Por isso, a moto foi apenas uma desculpa a fim de que eu voltasse à Vida Maior.

4 Sofri muito nos primeiros dias de ausência e o meu pai Higino é testemunha disso. Sempre acreditei que viveria do seu lado, amando-a sempre, porque em seu carinho eu dispunha de todos os tesouros com os quais se pode sonhar.

5 Muitas vezes, quando me afastava para ver o poente no Guaíba, pensava em Deus, diante do Sol, iluminando as águas, e pedia a Ele não me retirasse a sua presença e o seu amor, de vez que sem eles, estaria plenamente desajustado para continuar vivendo.

6 Com a moto, o meu templo de fé sempre foi a Natureza, porque nas asas dela me via transportado para qualquer setor de nossa querida cidade de Porto Alegre.

7 Se via jardins, mentalizava-me a oferecer-lhe as flores mais lindas, ou se, à noite, fitasse as estrelas, mais longe da agitação e do movimento, deixava-me perder no desejo de colher alguma para brindar-lhe o coração.

8 Mamãe Zita, não era a moto que eu amava mais. Meu amor maior foi sempre o seu coração palpitando no meu.

9 Roguei tanto a Deus para que não a chamasse, deixando-me a sós com a vida; entretanto, os desígnios do Pai Celestial eram outros. Fui eu a voltar, sem a menor ideia disso.

10 Mas saiba que estou melhorando com a proteção de muitos amigos, que são companheiros de meu pai e do meu bisavô Silveira, de quem venho recebendo muita assistência e muito apoio. E, quanto mais consigo melhorar-me, estarei mais perto de sua presença a fim de não interrompermos a nossa felicidade.

11 Peço-lhe alegria e esperança. Existem muitos outros jovens com nomes diferentes do meu, no entanto, iguais a mim na necessidade de carinho e compreensão.

12 Mãe, não permita que a tristeza lhe bata à porta. Considere quão felizes somos em nossa confiança em Deus e coloquemos essa bênção em nossos corações de maneira positiva, trabalhando e servindo aos que se encontram em dificuldades maiores do que as nossas.

13 Em nosso recanto da Avenida Bento Gonçalves estamos sempre juntos. Fale-me em nossas lembranças de sua alegria, para que seu filho esteja mais alegre, e recorde que Deus está presente em nosso afeto, balsamizando-nos a vida. 14 Não creia que perdi o endereço: n Avenida Bento Gonçalves, 2199, no recanto número 231. Veja que a minha memória está funcionando em sintonia com a minha saudade.

15 Sei dos sacrifícios que fez para vir até aqui; no entanto, peço a Jesus para que esses sacrifícios sejam abrilhantados pela alegria e pela esperança. Um dia, quem sabe? poderei escrever-lhe de novo, talvez aqui mesmo. E até que isso aconteça, conforme os meus anseios, conserve em seu coração querido os muitos beijos do seu filho, sempre o seu companheiro do coração,


Kleber

Kleber Silveira de Souza.


Notas e Identificações

1 - Mamãe Zita — Dª Zita Silveira de Souza, residente em Porto Alegre, à Avenida Bento Gonçalves, nº 2.199, apartamento 231.

2 - Meu pai Higino — Higino Silveira de Souza, desencarnado em Porto Alegre, a 24/01/1964.

3 - Guaíba — A capital gaúcha situa-se à margem do rio Guaíba.

4 - Meu bisavô Silveira — Amândio Silveira, desencarnado em Lagoa Vermelha, RS, há mais de 60 anos.

5 - Nossa querida cidade de Porto Alegre. (…) Avenida Bento Gonçalves, 2199, no recanto número 231. — Endereço corretíssimo.

6 - Kleber Silveira de Souza — Nasceu em Porto Alegre aos 18/8/1961. “Meu filho tinha muito amor à vida e buscava todas as emoções que ela oferece.”


Hércio Marcos C. Arantes



[1] [Nota do Organizador referindo-se a um fac-símile existente no livro impresso:] Da Carta psicografada de Kleber Silveira de Souza esta é a página de número 16, que diz: “Avenida Bento Gonçalves, 2199, no recanto número 231. Veja que a minha memória está funcionando em sintonia com a minha saudade. Sei dos sacrifícios (…)”


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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