O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier inédito — Autores diversos — F. C. Xavier / E. C. Monteiro


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Os espíritas e a política

A década de 1930 foi especialmente agitada na política brasileira, conforme abordamos no capítulo anterior. A revolta de São Paulo em 1932; a nova Constituição promulgada em 1934; o Estado Novo em 1937, reflexo da situação internacional que favorecia governos totalitários de direita; o contragolpe fracassado e a extinção da Constituição foram alguns dos graves acontecimentos vividos naqueles anos, isso para não se falar da Segunda Grande Guerra, deflagrada em 1938. A toda essa ebulição política não podiam ficar indiferentes os espíritas. Independente de sua convicção religiosa, o espírita não pode se afastar de suas obrigações cívicas e nem deixar de exercer sua cidadania, tendo a obrigação de ser um formador de opinião, já que tem uma bagagem espiritual que deve ser exercida em sua plenitude, em face da responsabilidade que se impõe àquele que recebe essa dádiva do Criador.

Atento às necessidades de dar uma diretriz a essa importante questão, a FEB lançou, em 1934, o opúsculo “Espiritismo e Política — Modos de ver da Federação Espírita Brasileira”, no qual expõe sua opinião sobre a matéria e oferece sugestões ao movimento espírita de como proceder diante do problema.

Da mesma maneira, Chico Xavier também é instado a submeter aos Espíritos a matéria, e em várias ocasiões estes se manifestam, sendo mais conhecidas as mensagens contidas em “Palavras do Infinito”. Outras manifestações da Espiritualidade através do Chico podem ter ficado desconhecidas do grande público, como esta mensagem que aqui reproduzimos e que permanece atualíssima e atemporal. Destacamos um pequeno trecho para ilustrar nossa afirmativa: “Que os nossos irmãos, portanto, consultando a própria consciência, evitem a queda sob o chicote de novas ditaduras implacáveis, que constituiriam retrocesso da mentalidade humana; acima de todas as cogitações, convém que saibam que lhes compete defender, não as moedas dos bancos, as prerrogativas das classes e as falsidades de certos princípios sociais, mas a luz do santuário, a claridade divina que lhes foram confiadas, a fim de que o mundo não as perdesse, nestes tempos de desenfreado utilitarismo.”

A psicografia de Chico aconteceu em 30 de junho de 1937.




1 Dentro dos quadros do Espiritismo Evangélico no Brasil, algumas coletividades se levantam, buscando colaborar nos arraiais políticos, objetivando, com os seus nobres intentos conduzir as claridades do Evangelho às casas legislativas na Nação, a fim de norteá-las no caminho reto.

2 Esse propósito dos nossos irmãos espíritas é realizável. Como outros homens possuem também o direito de admissão a essas atividades, salientando-se que, em razão do seu esclarecimento espiritual, muito se lhes deverá pedir, em matéria de caridade, no seio da política administrativa.

3 Todavia, é preciso considerar que, se é lícito aos espíritas içarem bandeiras, em meio desses campos inimigos de sua sinceridade, da sua ânsia fraterna e da sua boa fé, não será ocioso chamar-lhes a atenção para os perigos da caminhada em perspectivas, a fim de afastarem dos desfiladeiros íngremes e escabrosos, onde perderão, fatalmente, a flâmula sagrada de seu idealismo. 4 Requer-se todo o zelo de suas preferências pessoais, nos quadros do partidarismo, procurando discernir a situação com clareza devida, evitando as ilusões perigosas que percorrem todos os departamentos das atividades do homem moderno.

5 O grande problema, por enquanto, ainda não é o de espalharem nossos irmãos pelos arraiais políticos desejando transformá-los sem o concurso do tempo, mas resume-se na questão simples e básica da necessidade de levar, cada um deles, através de exemplos e ensinos aos nossos semelhantes, os conhecimentos evangélicos para que os homens transformem a si mesmos para o bem.

6 Essa solução conduzir-nos-á à equação de todos os problemas da felicidade humana, porque todos os esforços dos pedagogos modernos, para serem construtivos, têm de ser efetuados no sentido de melhorar o homem. 7 Esclarecido esse, estará a sociedade reformada, pois bem sabemos que quase todas as tentativas de renovação exterior redundam sempre em tentativas inúteis, quando não constituem, em si mesmas, aquele “túmulo caiado”, ( † ) que não é símbolo morto.

8 Os espíritas podem perfeitamente integrar as fileiras do mundo político, mas que não desconheçam em todas as circunstâncias a magnitude dos seus deveres, em face mesmo dos princípios de fraternidade e de amor da doutrina que representam.

9 As místicas nacionalistas têm a sua beleza estrutural, como teorias de igualdade, mas, ficará no plano mitológico se continuarem desconhecendo os grandes princípios da solidariedade universal e da fraternidade humana, diante dos quais todos os homens são filhos de Deus e candidatos às mais elevadas posições na única vida verdadeira, que é a vida espiritual.

10 Que os nossos irmãos, portanto, consultando a própria consciência, evitem a queda, sob o chicote de novas ditaduras implacáveis, que constituiriam retrocesso da mentalidade humana; 11 acima de todas as cogitações, convém que saibam que lhes compete defender, não as moedas dos bancos, as prerrogativas das classes e as falsidades de certos princípios sociais, mas a luz do santuário, a claridade divina que lhes foi confiada, a fim de que o mundo não a perdesse, nestes tempos de desenfreado utilitarismo.

12 Que os nossos amigos ponderem sobre a necessidade de esclarecimento do homem. Desse esclarecimento advirá a regeneração compulsória das coletividades, porque Deus não poderia criar linhas divisoras na Terra, que é patrimônio da humanidade. 13 Franceses e hotentotes são seus filhos bem amados, e o que caracteriza a diversidade de posições dos homens sobre o mundo é a aplicação da justiça divina que se processa segundo os méritos de cada qual.

14 Os espíritas, pois, podem colaborar na política, mas entendendo sempre que a sua missão evangelizadora é muito mais delicada e muito mais nobre. 15 Concentrando possibilidades nesse labor, que aprendam com os padres católicos, os quais, se hoje não mais são os apóstolos humildes e desprotegidos do mundo, como viviam outrora e vivem na atualidade, cheios de poderes temporais e de expressões financeiras, não podem mais dizer ao paralítico, em nome do Senhor — “levanta-te e anda” ( † ) — porque, voluntariamente, desejaram trocar as posições celestes pelas posições terrestres e não souberam colher na árvore da Vida o fruto maravilhoso do mundo espiritual.


Emmanuel


Eduardo Carvalho Monteiro


Texto extraído da 3ª edição desse livro.

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