O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier pede licença — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Não suportaram

Emmanuel


AS QUEDAS MORAIS — Ao enviar-nos a mensagem abaixo, informa-nos Chico Xavier que ela foi psicografada em reunião de estudos em Uberaba, da qual participavam numerosos visitantes de outras cidades. E esclarece:

“Antes das tarefas habituais, o problema das quedas morais foi o tema dominante das conversações dos nossos visitantes. Alguns casos de suicídio e criminalidade preocupavam grande parte dos amigos e perguntas diversas surgiam sobre o assunto. Por que o abandono de compromissos solenemente assumidos por pessoas claramente instruídas ou claramente normais do ponto-de-vista humano? Por que existem filhos que fogem dos pais e vice-versa? Por que certas criaturas começam com tanto entusiasmo o serviço do bem e, de um momento para outro, deixam a obra iniciada, sem maior consideração para com os outros? Por que o suicídio de pessoas indiscutivelmente respeitáveis?”

“Depois de aberto o horário para os nossos estudos e após a prece inicial, “O Livro dos Espíritos”, consultado ao acaso, ofereceu-nos a questão n.º 171 em conexão com o assunto dominante, e no término da reunião o nosso caro Emmanuel nos deu a página “Não suportaram”, intitulada por ele, que passo às suas mãos, pois muitos dos nossos companheiros externaram o desejo de vê-la com os seus comentários.”


1 Mal, será sempre engano, erro, desequilíbrio, desajuste. E para recuperar-lhe convenientemente as vítimas, a primeira atitude é a do entendimento que nasce da compaixão.

2 Assim sucede porque a queda moral, no fundo, significa extravasamento da carga de emoções e ideias negativas que criamos em nós.

3 Quando anotes a presença de companheiros caídos em perturbação, reflete, sobretudo, no esforço imenso que despenderam para suportar a pressão dos próprios conflitos na intimidade da cela carnal em que provisoriamente residem.

4 Este reencarnou para resgatar antigos débitos perante inimigos de outras épocas, cuja convivência lhe cabia tolerar por alguns poucos decênios. Entretanto, por algum tempo, aguentou em si próprio o impacto das vibrações contrárias que o contato difícil lhe causava e, embora sem razão, volveu ao campo da ofensa, reincidindo na culpa.

5 Aquele tornou à Terra a fim de reajustar-se em ambiente de penúria material, de modo a corrigir tendências à dissipação e ao desmando. Todavia, carregou o fardo de obstáculos em certo trecho do caminho, até que, sem motivo justo para rebeldia, derivou para a deserção e remorsos consequentes.

6 Outro veio de novo ao Plano Físico a fim de operar a própria desvinculação de hábitos infelizes, após solicitar situações regenerativas em auxílio de si mesmo. No entanto, depois de algum trabalho em autorreeducação, admitiu-se portador de imaginário cansaço e retornou aos costumes lastimáveis de outros tempos, adquirindo arrependimentos de longo prazo.

7 Outros ainda pediram graves provas na Terra para se afastarem das induções ao suicídio, em cujas sombras se demoraram em estâncias do pretérito. Mas, finda certa quota de aflições, impacientam-se com o peso dos problemas com que sº oprimem e destroem o próprio corpo inutilmente, retomando trevas e lágrimas de que muito dificilmente lograrão se desvencilhar.

8 Quando observes o mal, compadece-te daqueles que lhe aguentam as investidas. Entretanto, compadece-te mais ainda de todos aqueles que o praticam.

9 Os que sofrem de consciência tranquila estão ampliando o campo da alegria e da bênção nos domínios da própria alma.

10 Os que estendem o mal, porém, não suportaram a si mesmos. E, como que fazendo explodir os conflitos que acumularam por dentro deles próprios, aniquilam benditas possibilidades da vida para cujo reajustamento serão necessariamente compelidos a lutar e recomeçar.


A explosão da caldeira


Irmão Saulo


Note-se a estrutura didática dessa mensagem. Primeiro, a colocação do problema do mal e de como devemos encará-lo. Depois, a definição da responsabilidade dos culpados e a advertência de que eles caíram sob a explosão da caldeira interna dos conflitos psíquicos, vencidos na batalha moral para sufocá-los, merecendo portanto a nossa compaixão e a nossa ajuda. A seguir, os exemplos concretos que nos ajudam a melhor compreender o problema. E, por fim, a lembrança de que devemos compadecer-nos dos que praticam o mal, pois são as vítimas de si mesmos, destruidores das oportunidades que a vida lhes oferece em cada existência.

Se acrescentássemos às escolas de Psicoterapia dos nossos dias a dimensão espírita — como já o estão fazendo alguns especialistas eminentes — a causa dos desequilíbrios mentais e passionais tornar-se-ia mais acessível aos métodos de cura. O conceito espírita do corpo carnal como verdadeira cela em que o espírito se acha encerrado, segundo vemos nesta mensagem, implica naturalmente o conceito da reencarnação. Mas a limitação existencial das escolas psicológicas, agravada pelos preconceitos e pela vaidade profissional, impede essa penetração nas profundidades do espírito.

Os traumas e os recalques da alma, presentes e atuantes até mesmo nas pessoas aparentemente mais equilibradas, são comprimidos no interior da cela do corpo que se transforma numa caldeira perigosamente explosiva. Se não colocarmos nessa caldeira a válvula da humildade, para que ela possa aliviar a sua pressão através de uma visão mais ampla da vida, a explosão ocorrerá, fatalmente, mais cedo ou mais tarde. O intelectualismo vaidoso é uma espécie de resíduo que entope a válvula natural da intuição espiritual e apressa o momento fatal. Nossos instintos animais, nossas ambições desmedidas, nosso orgulho ferido, nossas pretensões de supremacia aceleram dia a dia o ritmo da pressão interna.

E quando caímos ante a explosão que devíamos evitar, não somos nada mais do que as vítimas de nós mesmos. Os que culpam a Deus, o destino, a má sorte são vítimas teimosas, renitentes, que mesmo depois do desastre se recusam a reconhecer-lhe as causas reais. Pobres seres esmagados sob o peso do próprio orgulho, dos quais devemos compadecer-nos e pelos quais precisamos orar.


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