O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Chico Xavier pede licença — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Brasil


Castro Alves

  1 Brasil, o Mundo a escutar-te

  Pergunta hoje: “O que é?”

  Ah! Terra de minha vida,

  Responde às Nações de pé!

  Das montanhas altaneiras,

  Dentro das próprias fronteiras,

  Alonga os braços — Sansão!…

  Sem prepotência ou vanglória,

  Grava no Livro da História

  Novo rumo à evolução!


  2 Contempla a sombra da guerra,

  Dragão de lodo a rugir

  Envenenando a Cultura,

  Ameaçando o Porvir!…

  Fala — assembleia de bravos

  Aos milhões de homens escravos,

  Sábios, loucos Prometeus…

  Do píncaro a que te elevas

  Dissolve os grilhões das trevas

  Na Fé que te induz a Deus!…


  3 Brada — gigante das gentes

  Proclama com destemor

  Que o Cristo aguarda na Terra

  Um novo Mundo de Amor!…

  Ante as grandezas que estampas

  Os mortos voltam das campas

  Sublimando-te a visão…

  Ao Progresso, Fernão Dias!

  O Dever mostra Caxias,

  Deodoro a renovação!…


  4 Dos sonhos de Tiradentes,

  Que se alteiam sempre mais,

  Fizeste Apóstolos, Gênios,

  Estadistas, Generais…

  De todos os teus recantos

  Despontam palmas de santos,

  Augustos pendões de heróis!…

  Astros de brilhos tamanhos,

  Andrada, Feijó, Paranhos

  Em teus céus brilham por sóis!…


  5 Desde o dia em que nasceste,

  Ao fórceps de Cabral,

  O Tempo se iluminou

  Na Bahia maternal!…

  Hoje, que o Mundo te espera

  Para as leis da Nova Era,

  Por Brasília envolta em luz,

  Que em ti a vida se integre,

  De Manaus a Porto Alegre,

  No Espírito de Jesus!…


  6 Ao resguardar o Direito,

  Mantendo a Justiça e o Bem,

  Luta e rasga o próprio peito,

  Mas não despreza ninguém…

  Levanta o Grande Futuro,

  Ergue, tranquilo e seguro,

  A Paz nobre e varonil!…

  A Humanidade que chora

  Clamando: “Senhor… e agora?”

  O Cristo aponta: “Brasil!…” n


O poeta se identifica


Irmão Saulo


O poema de Castro Alves que encerrou o “Pinga Fogo” do Canal 4, na noite de 20 de dezembro de 1971, com o médium Francisco Cândido Xavier, oferece todos os elementos de identificação do poeta.

Composto em estrofes de dez versos setissílabos, tem a forma poética de “O Livro e a América” e o mesmo estilo épico, a mesma garra condoreira, o mesmo ímpeto místico-telúrico daquele poema. O que mais devia impressionar aos que desejarem analisá-lo é a conotação de contemporaneidade entre eles. Em “O Livro e a América” o poeta coloca o Novo Mundo em face do Velho Mundo como um prolongamento deste, mas também como um passo evolutivo no desenvolvimento do Planeta. Na segunda estrofe faz os Andes — como braços levantados — apontarem para a amplidão. No poema “Brasil”, faz o Cristo apontar ao mundo, em desespero, a vastidão brasileira.

O tema é quase o mesmo. Num, a América é a esperança de paz e cultura que surge diante do materialismo guerreiro da Europa. Noutro, é o Brasil que rasga uma perspectiva espiritual para os insanáveis conflitos de sangue e fogo em que se perdem as velhas nações da Terra.

As metáforas condoreiras se assemelham e se equivalem, apenas atenuadas no poema de agora pela ternura evangélica. Há felizes conotações de imagens, como a que se nota, por exemplo, entre as figuras de Briaréu, no primeiro poema, e a de Sansão no segundo. É ainda mais expressiva a conotação entre os braços dos Andes apontando a amplidão e montanhas altaneiras, dentro das próprias fronteiras, alongando-se como braços para assinalar novo rumo à evolução.

Outra consideração de importância fundamental a fazer-se é a de que o poema “Brasil” representou uma síntese poética dos momentos culminantes do “Pinga Fogo”, quando foram postos em foco os problemas da atualidade brasileira. O poema brotou espontâneo, escrito a jato, na velocidade característica da psicografia, revelando a presença espiritual e emocional do poeta nos diálogos que se travaram. Impossível negar, diante desse conjunto de elementos favoráveis e de um pouco de conhecimento dos problemas espíritas, a legitimidade dessa mensagem mediúnica.



[1] Esta mensagem também foi publicada  em 1972 pela FEESP e é a 32ª lição do livro “Chico Xavier, dos hippies aos problemas do mundo


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