O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Corações renovados — Familiares diversos


1


Família Cassanha

Ser acometido pelo desenlace do espírito da matéria, está na regra geral de vida evolutiva do ser vivente. Esta regra não visa escolher este ou aquele para a passagem real. Não existe idade, sexo ou posições que se identificam no plano terreno, como privilegiados.

Celso Cassanha, com os seus 69 anos, bem representados pela seriedade em que levou sua vida, demonstra essa verdade.

Contador formado por volta de 1933, desenvolveu sua vida profissional em várias empresas comerciais e, durante 35 anos, como funcionário exemplar no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários do Estado de São Paulo, onde aposentou-se com o seu dever cumprido.

Paralelamente ao seu trabalho, em 1957 com mais algumas almas beneméritas, tornou-se um dos fundadores da Instituição Beneficente LAR DO AMOR CRISTÃO, localizada à Rua 2 de Julho, no bairro do Ipiranga, São Paulo, ocupando nesta casa a função de Secretário Geral, sendo muito querido e respeitada pela contribuição fraterna, carinhosa e humana ao atendimento dos mais carentes que lá aportavam.

Com 42 anos de atividades na Doutrina Espírita levou, a muitas almas aflitas, a esperança e o valor da paciência em suas vidas.

Seu compromisso com a Terra chegou ao fim, quando acometido de fortes dores de cabeça, em viagem de férias, que fizeram regressar para internação imediata em casa Hospitalar para o diagnóstico necessário. Um tumor cerebral irreversível, leva-o de volta aos páramos espirituais três meses após.

Apesar de viverem e conviverem todos estes anos na Doutrina, a perda para a família foi irreparável.

Este ser querido abriu uma lacuna em seus corações como, também, o trabalho da caridade que o seu desprendimento fizera criar.

Os amigos, surpresos e inconsoláveis, não acreditavam no que acontecera. Ele nunca se queixara de qualquer mal físico.

Celso Cassanha posiciona o seu espírito após a desencarnação, em suas conjecturas de vida física. Achava-se forte e disciplinado para enfrentar os seus desígnios espirituais, mas, sentiu-se enfraquecido pelos laços que ainda o prendiam à família ao sentir-se incapacitado nas suas decisões.

Ler a sua mensagem será uma aula em nossa escola da vida, o que a sua experiência traz para alento e cuidados que precisamos no desempenho de nossas obrigações.

A família hoje, mais tranquila, apoia-se na imagem que Chico Xavier sempre lhes trouxe, desde a sua saudosa estada em Pedro Leopoldo, sua cidade natal, até os dias presentes.

Solidificou nesse grupo familiar a presença constante da esperança, do trabalho e da solidariedade humana que se completa com a alegria que a mensagem de Celso trouxe, configurada no amparo recebido quando diz:

“…Mãezinha Pia e outros amigos espirituais que são hoje, aos meus olhos, o prolongamento de nossa própria família…

Acácia Cassanha, sua esposa, recuperada, transfere esse sentimento de esperança às famílias enlutadas pela dor, que encontrem e entendam na Doutrina Espírita a Bondade de Deus, em forma verdadeira, o desamparo inexiste e a imortalidade da alma revela-nos que a vida continua para o reencontro futuro.


ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM ESPIRITUAL


CELSO CASSANHA: Nascimento: 01 de janeiro de 1916 — Desencarnação: 19 de novembro de 1985 — Idade: 69 anos.

ESPOSA — Acácia.

FILHOS — Celia Maria, André Luiz e Estela.

VOVÓ MARIA — Avó paterna, desencarnada.

MÃEZINHA PIA — Sogra, desencarnada.

NOSSO MACIEL — Sogro, desencarnado.

NORA — Lourdinha.

GENRO — Ararê.

SUA RESIDÊNCIA — Recanto da Dois de Julho.

LAR DO AMOR CRISTÃO — Instituição de amparo à criança, à rua Dois de Julho, 384, no Ipiranga, fundada em 6 de Janeiro de 1957 e da qual foi dedicado e querido colaborador em cargo de Diretoria, durante 28 anos, tendo sido um de seus fundadores.

Dr. BEZERRA DE MENEZES — Conhecido e venerado médico Benfeitor no Plano Espiritual.

VINÍCIUS — Grande orador e escritor espírita, desencarnado.

MISCIOTA — Esposa de Vinícius, desencarnada.

LUIZ MONTEIRO DE BARROS — Médico homeopata, trabalhador espírita, desencarnado.

BATUÍRA — Antônio Gonçalves da Silva Batuíra. Fundador da Instituição Cristã Beneficente “Verdade e Luz”, fundada em 25-12-1904, Benfeitor Espiritual.

AMÉRICO MONTAGNINI — Presidente da Federação Espírita do Estado de São Paulo, desencarnado.

PATRÍCIO DE MIRANDA — Primeiro Presidente da Federação Espírita do Estado de São Paulo.

LAR — Forma carinhosa com que se refere ao Lar do Amor Cristão.

NETOS — Juliana, Thiago, Mariana, Luiz Eduardo, Maria Beatriz, Maria Christina e Luiz Otávio.

CUNHADOS— Bily e Lucy.


Obs.: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação na leitura da mensagem espiritual.


CELSO CASSANHA


1 Acácia, minha querida Acácia, Jesus nos abençoe.

2 Querida Célia Maria e querido André Luiz, Deus nos abençoe e nos proteja.

3 Estou assim, à maneira de convalescente, quase inseguro, depois de tratamento longo. Venho até aqui com a mãezinha Pia e outros amigos espirituais que são hoje, aos meus olhos, o prolongamento de nossa própria família.

4 Muitas vezes imaginei que saberia facear os problemas espirituais após a desencarnação, com serenidade absoluta. Temperamento reservado, qual vocês sabem, os meus pensamentos a esse respeito nasciam e desapareciam em mim mesmo. 5 Sentia-me antecipadamente forte para viver sem emoções violentas os problemas que eu fosse impelido a enfrentar. 6 Tive conhecimento da moléstia inexorável que me corroia os centros de força orgânica, no entanto, acreditei que a fé raciocinada, segundo a nossa Doutrina Renovadora, seria suficiente para dissipar qualquer nuvem de saudade que me invadisse o espaço dos pensamentos. 7 Entretanto, Acácia, existem no homem energias recônditas que são chamadas a atuar em momentos precisos.

8 Em meu caso, as forças que me deviam garantir a separação da família, de certo modo, falharam quase que totalmente, porque eu dependia de você para assumir atitudes, em qualquer assunto de expressão mais difícil e, naquelas horas de novembro passado, via você, especialmente você e Célia ao meu lado e as lágrimas me vinham do fundo da alma, lágrimas que eu tentava engolir por dentro, a fim de que não aparecessem, agravando-nos as condições. 9 Ah! mas não é tão fácil desvincular-nos de tudo o que amamos, embora sabendo que a distância seria compensada pela presença espiritual incessante e que a ausência não seria um fantasma a interditar-nos o caminho do trabalho que para nós foi sempre sagrado. 10 Eu sei que você me examina pelos próprios exames que faz de você própria. A princípio, aquela disciplina que nos mantinha os olhos enxutos conquanto o coração nos doesse intensamente.

11 As primeiras horas, os amigos, as trocas de ideias e depois… foi a verdadeira desencarnação. 12 Estive em casa até os momentos últimos, em que comecei a divisar a presença da vovó Maria, da mãezinha Pia, de nosso Maciel. 13 Era preciso partir, e eu não pudera anestesiar-me com o sono repousante dos que são liberados do corpo físico agoniado e doente. 14 O conhecimento cultivado por nós em casa, dia por dia, me armara de resistência que não me foi tão favorável quanto julgava, porque me habituara a mentalizar os nossos entes queridos, já libertos da vida física, alimentando a ideia de que eles todos se nos faziam familiares. 15 A despedida seria unicamente um “até logo” temporário, entretanto, eles, os nossos que nos aguardam no Mais Além, me conheciam a formação. Aquela calma que para muita gente parecia frieza, era uma espécie de hábito na convivência com a verdade. Por dentro de mim, a fonte da sensibilidade era um mundo agitado de emoções que eu sabia conter e dominar.

16 Abracei a nossa Pia com extremado amor, beijei a fronte da vovó Maria com o equilíbrio que ela, de certo desejava de mim e retive o nosso Maciel em meus braços com o carinho de quem revia um pai e um amigo em viagem longa, no regresso ao lar. Foi a nossa Pia a lembrar-me que deveria seguir com eles, os nossos afetos do coração. 17 Não hesitei. Era noite alta… Aproximei-me de você e percebi que a força de sua fé lhe controlava os sentimentos, mas, ao despedir-me da nossa querida Célia, o pranto da separação se me desatou do peito, a cair através dos olhos que não mais conseguia governar. 18 Depois foi a despedida de nosso André e de Lourdinha com os filhos e a despedida de Estela e de nosso Ararê com as crianças. Quem disse que era um homem resistente a qualquer tipo de emoção?

19 Pedi aos amigos para voltar ao nosso recanto da Dois de Julho, e tornei a abraçá-la, notando que, embora sonhando, você também tinha lágrimas e voltei ao quarto de Célia para repetir a mesma cena de pranto que me lavava todo o espírito. 20 Era, porém, necessário deixar a nossa casa que amei e amo tanto, visitar o nosso querido Lar do Amor Cristão e finda essa romaria de saudade, Pia e Maciel me enlaçaram entendendo que minhas forças jaziam exaustas. 21 Viajei em companhia deles, qual se voltasse a ser criança, incapaz de interessar-me pelo caminho. O espírito reside onde tem preso o coração. E eu continuava preso a você, aos filhos e aos netos queridos…

22 Nosso amigo Maciel lembrou que seria importante para mim o apoio de algum calmante suave, que me foi ministrado. Realmente, consegui dormir de certa forma, no entanto, vinculado à nossa casa e à nossa família, meu sono foi rápido e impregnado das lembranças de tudo o que era a continuidade de nós mesmos. 23 Felizmente, a Bondade Infinita de Deus não nos deixa atirados a problemas irremediáveis. As conversações em família e as visitas de amigos me impeliam a refazer as próprias forças. 24 Na paisagem em que a nossa Pia organizou residência tive oportunidade de rever muitos amigos que, conscientes de minha inexperiência, me exortavam à confiança e ao bom ânimo. 25 Nesse particular passei a dever muitas atenções ao Dr. Bezerra de Menezes, ao nosso Vinícius e à esposa dele, a irmã Misciota, ao nosso Luiz Monteiro de Barros, ao querido Batuíra, ao Américo Montagnini, ao Patrício de Miranda e a todos os outros que se me fizeram credores do espírito mergulhado em saudades atrozes.

26 Compreendo que todos esses amigos tentavam me arrebatar à depressão de que me vi tomado quase totalmente. Esse foi meu período de convalescença no hospital doméstico, de vez que não tive necessidade de orientar-me para fora de mim… 27 Nossa Pia, no entanto, foi a mãezinha Pia a primeira a relembrar os meus casos e compromissos de pai e esposo desencarnado, dizendo-me que o trabalho cura todos aqueles que se encontrem decididos a trabalhar.

28 Com a devida permissão de nossos Mentores, tive a alegria de voltar ao nosso Grupo e tendo comparecido ao nosso trabalho, senti-me renovado para cooperar com os amigos do coração.

29 Você note, Acácia, que estou lutando contra as ondas emocionais que me tomam de assalto e não mais perdi os meus raciocínios.

30 Passei a compreender o lado avesso de nossa organização e espantei-me com a extensão dos sofrimentos daqueles que nos procuram o concurso no “Lar”

31 Nos primeiros dias notei que as consultas eram boas, sem o conhecimento da parte omissa que comumente conservavam a distância de nós. Você compreende, não podia insurgir-me, se os Espíritos Sábios e benevolentes tudo constatam por amor aos que sofrem e, por respeito à nossa casa, não cabia a mim proclamar o que via no íntimo de cada um, antes que os próprios esforços lhes externasse.

32 Começou para mim a nova escola em que me sinto novamente integrado na máquina de nossas obrigações. Mas, falar disso seria demais fantasioso e quero dizer a você e aos nossos filhos que eu continuo comungando a nossa casa. Felizmente, você me auxiliou a manter a mesma ordem e as nossas tarefas continuam. Perdoem-me haver me referido com tamanha insistência ao meu caso pessoal.

33 Acontece que eu não poderia esquivar-me das saudades de você e da família, que continuam comigo em regime de regressão, e a Célia concordará comigo que essa desinibição se me fazia necessária. Tenho muita necessidade de questionar a querida filha quanto aos problemas da vida e, habitualmente, a procuro para novos diálogos, pensamento a pensamento. 34 Querida Célia, continue. A psicologia em suas mãos é diferente. Você sabe descobrir as verdades do ser que sofre com a bênção da esperança e isso é muito importante. 35 Querida filha, quanto puder, cultive o otimismo nas criaturas. Se Deus não perde a esperança e a paciência, por que motivo seríamos nós os derrotistas das expectativas necessárias? Isso, porém, é assunto para um grande capítulo recheado de longas conversas.

36 Ao nosso André e Lourdinha desejo paz e segurança no trabalho e na criação da família. Nossa Juliana e os queridos irmãos Thiago e Mariana, tanto quanto Luiz Eduardo, Maria Beatriz, Maria Christina e Luiz Otávio, com a Estela e o Ararê, continuam em meu entranhado amor.

37 Acácia, trabalhe como sempre. Não se sinta fatigada ou sozinha. A nossa união prossegue acima de quaisquer circunstâncias e o Lar é a nossa lavra de fé e serviço ao próximo. Você terá sempre a intuição e as diretrizes de nossos Maiores. Note você que minhas frases estão agora curtas. É que a mãezinha Pia nos fala de outros irmãos que esperam algumas palavras de amor e não posso ser um devorador de papel e lápis.

38 André, abrace os meus netos com o amor em que sempre fomos unidos e peça por mim, o mesmo à Estela e ao Ararê. Peça à Estela que não chore com inquietações imaginárias quanto à vida dos filhos queridos. Isso não nos auxiliará para que possamos auxiliá-la.

39 Célia, os nossos diálogos continuam e você pode escrever à vontade o que pensa e, através de você mesma, escreverei as minhas respostas. Não admita a tristeza entre os seus convidados para a meditação. Alegre-se, filha, diante da vida e ouça o cântico de beleza que palpita em todas as forças que nos cercam. O pai amigo não morreu. Estou mais vivo e mais unido a você do que antes.

40 Querida Acácia, estas palavras não me retratam a emoção profunda ao dizer-lhe “até depois”. Compreendo que o ponto final é uma figura inexistente no campo do espírito. Impossível terminar o intercâmbio entre os que se amam, mesmo através de um simples bilhete. Minhas lembranças ao Bily e à Lucy, com muito carinho a todos os nossos.

41 E retirando-me em companhia do nosso Maciel, já que o relógio nos compele a isso, peço a você receber o amor imenso e as imensas saudades do esposo e amigo, companheiro e servidor reconhecido de sempre. Sempre o seu,


Celso

Celso Cassanha


Rubens S. Germinhasi


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