O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Coração e vida — Maria Dolores


8


A promoção

  1 Resplendia o jardim celeste em pleno Espaço.

  Era o maravilhoso dia

  De alto deslumbramento

  Do encontro de união e de alegria

  Dos que haviam servido, passo a passo,

  Nas tarefas do amor sem recompensa

  Na Terra, onde o egoísmo

  Tanta vez se condensa.


  2 Era uma nesga azul de solo rarefeito

  Matizada de flores

  Bordadas de arabescos multicores

  Onde podia respirar apenas

  Quem já pudesse irradiar

  As vibrações serenas

  Da fé sublime alçada ao bem perfeito.


  3 Não eram muitos os conquistadores

  Daquela posição de excelsos resplendores;

  Quarenta e dois Espíritos somente,

  Todos eles modelos de bondade,

  Eram ali o escol da Humanidade,

  Em atitude calma e reverente

  Esperando a sonhada promoção

  Que constaria

  Do poder de elevar-se à próxima ascensão.


  4 Na luminosa e ilustre confraria

  Estavam sacerdotes de renome,

  Filósofos, notáveis pensadores,

  Nobres mulheres, santas heroínas,

  Monges mostrando frontes peregrinas,

  Jovens que haviam sido vencedores

  De tentações terríveis…

  Todos trocavam frases de altos níveis…

  Somente alguém, ali, em meio a tudo,

  Que era festa de brilho e de beleza,

  Parecia um mendigo triste e mudo,

  Era o irmão Jonaquim,

  Desconhecido entre os demais…

  Vestia-se com peles de animais,

  Remarcadas de lama…

  Na expressão rude e feia,

  Exibia sinais de sangue, lodo e areia;

  Jazia ele a um canto, humilde e pensativo,

  Enquanto o grupo conversava em festa.


  5 Chegara o instante, enfim,

  Da nobre promoção;

  Aquele dos presentes que tivesse

  O menor peso espiritual

  Seria alçado à frente

  Do caminho esplendente

  Para mansões mais altas e mais belas

  Da Vida Universal.


  6 Vieram ao recinto os dois encarregados,

  Ambos chamados Anjos da Balança,

  E os candidatos sem qualquer despeito,

  Deixaram-se pesar num instrumento perfeito

  Que lhes patenteava

  A evolução imensa…

  E o peso em cada um

  Era leve, tão leve,

  Que não se via quase

  Uma pequena base

  Para que se notasse a diferença…


  7 O recatado Jonaquim

  Ficou de longe, muito ao longe,

  E sendo o último no exame

  Foi chamado por fim.


  8 Ele veio acanhado,

  Pés descalços no apoio de um bordão,

  E um dos dois mensageiros perguntou:

  — Jonaquim, meu irmão,

  Dizei: qual foi na Terra a vossa religião?

  Precisamos aqui de vossos dados

  Para serem por nós

  Devidamente revisados.


  9 No entanto, Jonaquim, humilde, respondeu:

  — Anjo bom, sou sincero… Crede!… Eu

  Não tive sobre a Terra a fé pregada,

  Acreditei, como acredito agora

  Na presença de Deus que nos guarda e aprimora,

  Entretanto,

  Por mais que eu desejasse procurar

  Um templo ou algum lugar

  Para aprender como se adora a Deus,

  Nunca pude sair,

  Da choça em que morei, ao pé de antiga estrada

  Onde os que sofrem eram irmãos meus…

  Era um deserto a terra em que vivi…

  Despendi muito tempo

  A transportar crianças e doentes

  Que ansiavam por água em solos diferentes…

  Minha estreita choupana

  Era uma porta aberta à desventura humana…

  Ouvi a confissão de míseros velhinhos

  Que clamavam, em vão, pelos parentes,

  Agonizando, desvalidos,

  E aguardando, debalde, os próprios descendentes…

  De quantos eu cerrei, na morte, os olhos baços

  Não saberei o número por certo…

  Só Deus sabe os que vi morrendo nos meus braços

  E os que enterrei, a sós, na penúria sem nome,

  E as crianças sem apoio que me buscavam,

  Sentindo sede e fome…

  Deus me perdoe se nunca fui às crenças

  Para estudar a fé e entender diferenças…

  Ouvi dizer, na Terra, que houve um homem

  Que nunca descansou, fazendo o bem,

  Que amou aos bons e aos maus sem ferir a ninguém!…

  Ah! como desejava tê-lo visto!…

  Dizem que se chamava Jesus-Cristo;

  Nunca lhe ouvi, no mundo, os lúcidos ensinos

  E ouvi também dizer que por serem divinos

  Ele morreu na cruz…


  10 A pequena assembleia

  Escutava, expectante e enternecida

  Aquele que soubera amenizar a vida.

  E os Anjos da Balança

  Puseram Jonaquim, sob o exame preciso,

  Em nome de Jesus…

  Depois anunciaram num sorriso

  Que o velho Jonaquim tinha o peso da luz.


Maria Dolores


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