O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Carmelo, ele mesmo — Mensagens familiares de Carmelo Grisi


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De coração aberto

1 Ei, minha gente de Votuporanga! Estou bem, ao vê-los tranquilos.

2 Estou ciente de que temos aqui muitos candidatos ao lápis mediúnico. Nos dois lados. Estou vendo os que desejam trazer notícias e os que anseiam recebê-las. Mas sou eu mesmo a falar. Eu mesmo não sei porque, pois não desejo escamotear a posição de ninguém. O nosso caro Dr. Orlando considera justo que me comunique, decerto para matar saudades e desinibir-me um tanto…

3 Os amigos daqui não se inclinam muito para os diálogos em torno das situações na Terra e o que sucede é que em nós aumenta a curiosidade de buscar as pessoas queridas para algum comentário, que, por aqui me recomendam, se faça tão simples e tão inofensivo quanto possível. Notem que a censura deste lado é de amargar.

4 Os mentores de nossa paz e renovação não apreciam favoravelmente as queixas e as reclamações e, por isso, vou seguindo. Coitada da Elvira que me adotou por filho. Faz o máximo para me aperfeiçoar a postura e a linguagem, no entanto, há quem diga que pau nascendo torto até a cinza se faz torta. Com o espírito deve acontecer o mesmo, porque estou sem muitas alterações.

5 Quanto a nós, Romeu, em Votuporanga, o serviço é de lascar. Aí no Plano físico, tanta gente, mesmo entre os espíritas, se declara sem tempo a fim de estudar ou servir nas campanhas do bem, no entanto, não posso contar os amigos que encontro dormindo a sesta do meio dia até a noite, enquanto que outros se dedicam aos papos longos de estourar qualquer saco.

6 Se a palavra, de certo modo assusta, isso é problema de quem me interprete com malícia. Trabalhei muito suportando sacos de arroz, feijão, pedras, cal e, muitas vezes, o saco estourado se fazia problema de solução difícil.

7 Mas vocês estejam certos de que o trabalho na Terra é verdadeira micharia. A pessoa diz que se cansa e se esfalfa por isso ou por aquilo, mas faz o que bem entende sem dar satisfação a ninguém.

8 Eu não sei se vocês já pensaram nas tramas da fiscalização. Eu pelo menos só conheci fiscais para a arrecadação de impostos ou agentes credenciados para surpreender clandestinidades e taxar multas. Nunca vi fiscais para verificar velhacarias, ou para marcar os pontos da preguiça mental em que também vaguei por aí, imaginando-me cansado e inapto para qualquer tarefa extra.

9 Aqui, a mudança me alarma. Horas para exercício de renovação espiritual, tempo certo para colaborar em tarefas e comissões de socorro, às vezes, até para quem nos recusa a presença, horários para a demonstração de proveito dos conhecimentos adquiridos no mundo e designações constantes para socorro de emergência.

10 Isso é dose para um Dr. Orlando, para um Frei Arnaldo, n até mesmo para um Dominguinhos que não encontrava pausa para se distrair, sempre agarrado ao trabalho, como erva de passarinho quando acerta a árvore.

11 Para mim, isso tudo é um aceleramento de atividade, para o qual ninguém me preparou. Quando começo a relacionar as minhas dificuldades para atender a tudo o que me indicam, em matéria de serviço, é um amigo ou outro a me lembrar conselhos que já conheço de longa data.

12 A luta é muito grande e se morrer fosse caso para arrependimento, não me incomodaria de voltar à existência física de qualquer modo. Realmente, ninguém nos obriga a trabalhar, mas se estou situado entre tantos obreiros, não quero ser o vagabundo das histórias policiais. E enfrentar o dever e aguentar os pesos.

13 Há pouco tempo, anotando os meus contratempos, a nossa generosa Elvira me falou se eu não desejava regressar à reencarnação. Tantos amigos nossos, tanta gente boa podendo ajudar! Mas falei da minha necessidade de prestar assistência constante à nossa querida Cida e não me convinha entrar num serviço de mamadeira para esquecer as minhas obrigações para com ela.

14 Romeu, a sua mãe é sempre aquele colosso de compreensão e de bondade. Depois de me ouvir, em meio daquela criançada toda, ela sorriu e me disse: “É verdade Carmelo, tudo na vida tem preço. Ou você permanece aqui em serviço, voltando a alegria de amparar a nossa Cida ou então você não reclame, de vez que outros amigos nossos poderão talvez promover a sua volta ao corpo físico”.

15 Sem vocês e sem a nossa Cida, Deus me livre de semelhante calamidade! Aceitei com mais calma os meus encargos e procuro não ser o chorão fora de tempo. Estou mais decidido a permanecer em trabalho duro na pedreira que me arranjaram, mas quero e preciso cumprir a minha promessa de auxiliar a nossa querida Cida, aos filhos e netos e também a todos vocês que em Votuporanga continuam sendo a minha família do coração.

16 Tenho experiência e consentimento para falar-lhes, como faço agora, para que vocês se cuidem. Por aí, vocês todos usufruem sono calmo, ainda que se abatam na cama sob a influência de tranquilizantes; escolhem os pratos que desejam, especialmente na refeição principal do dia; usam excelentes ventiladores no verão e grossas blusas de lã no tempo frio; passeiam nos fins de semana, se revoltam contra o bicho da inflação, segundo vocês mesmos afirmam; entretanto povoam os campos de futebol, recheiam as casas de diversões e entopem carros e ônibus, segundo o paladar de cada um e desfrutam de outras vantagens mais; no entanto, aqui, preparem mãos para as picaretas, se quiserem permanecer auxiliando alguém.

17 Quero dizer à Hilda e Martha que o nosso Hilário n vai bem. Se ele guarda opiniões iguais às minhas, não sei. Às vezes puxo o fio dos apontamentos, no entanto, ele me fala dos sofrimentos do Cristo para nos elevar os corações.

18 Escuto os argumentos do amigo e embarco para outras atividades, porque respeito, mas respeito de todo o meu coração a nosso Senhor Jesus Cristo, mas nunca ouvi alguém dizer que Ele reside na Terra ou nos círculos espirituais de trabalho ao redor da Terra, para um diálogo conosco. 19 Às vezes, penso que Ele estará farto de tantos desacertos nossos, de criaturas humanas encarnadas e desencarnadas e escolheu algum endereço em que não seja incomodado tão diretamente por nossos desequilíbrios e petições. O negócio dá que pensar, embora a gente saiba que ninguém está abandonado pela proteção d’Ele, nosso Senhor e Mestre.

20 O nosso Dr. Orlando me diz que já estou escorregando e não posso cair em lamúrias sem razão. Agora é voltar com os amigos para encontrar o nosso amigo Frei Arnaldo e seguir adiante para cooperar no socorro a doentes que estão esperando o sossego da noite para a oração mais livre de cortes vibratórios, a fim de receberem o apoio de que se fazem necessitados ou credores.

21 E a vida continua. Tenho dó de todos os que procuram as portas do suicídio para se libertarem do corpo. Eles não sabem o que fazem. O melhor é ficarmos todos no lugar que a Divina Providência nos marcou para vivermos por determinado tempo.

22 Quando falo em rigor das disciplinas daqui, o Dr. Orlando me recomenda observar os caminhões na banguela. Sem a ordem diz ele, tudo é risco. Não sei, vamos adiante. As explicações chegarão. É preciso plantar para colher. Tenhamos paciência.


Carmelo Grisi

(15.01.1983)     


ELUCIDAÇÕES


O fato de ser um dos escolhidos a dar mensagem naquela concorrida noite teria motivos relevantes. O que pudemos perceber, é que a extensa mensagem de Carmelo trazia, além das notícias suas, ensinamentos dirigidos àquela assembleia, alguns inadiáveis, a pessoas desejosas de partir deste mundo pela porta ilusória da autoeliminação, o que atingiria apenas o corpo físico.

Em toda a missiva mostra-nos o pouco que se faz na condição de encarnado, quando se goza de uma liberdade que lá não há para quem se disponha a estar bem acompanhado, porque existem regras rígidas, horários que se impõem, exercícios inadiáveis.

Para aquele que não cultiva hábitos disciplinares, torna-se realmente muito difícil assumi-los de chofre para não ficar na retaguarda indesejável no mundo espiritual. É disso que Carmelo nos fala, com a maneira espontânea e peculiar de se expressar, fazendo suas comparações e ilações jocosas.

Seus diálogos com Hilário sobre os exemplos do Cristo demonstram a intenção de desmistificar a falsa ideia de que ao chegarmos no Além poderemos estar ao lado de Jesus, como apregoam as religiões tradicionalistas.

Visando os irmãos presentes à reunião, Carmelo coloca o Mestre muito acima de nossas inferioridades e limitações, sem endereço conhecido, mesmo nas esferas espirituais próximas da crosta planetária, embora afirmando que Ele esteja velando por todos nós.

Uma de suas tarefas, na ocasião em que nos deu esta 5ª mensagem, era acompanhar Frei Arnaldo Maria [Frei Arnaldo Maria de Itaporanga] no socorro aos doentes.

O capuchinho que fora vigário em Votuporanga durante muitos anos tem o temperamento semelhante ao de Carmelo. Quando encarnados foram amigos. Frei Arnaldo era muito extrovertido e conhecido de todos na região; contava inclusive com grandes amigos na comunidade espírita da cidade. Desencarnou em 1976, com 48 anos de idade, vítima de acidente automobilístico.


Pelo amor à Cida se submete a nadar contra a correnteza das dificuldades, a fim de poder ajudá-la. A reencarnação para ele, proposta por Elvira, é-lhe algo muito distante ainda porque não quer se afastar dos familiares encarnados e dos amigos do Além. A solução é seguir estes em suas tarefas na condição de mero aprendiz, sem direito de tomar resoluções: apenas obedecer e reprimir as críticas.

Não é fácil aceitar tal posição; necessita treinamentos de humildade e submissão. Porém, ao lado de tantos obstáculos é-lhe concedido algo raro entre milhões de espíritos nas suas condições: fazer alguns desabafos dirigidos ao mundo dos encarnados; ter a quem contar suas experiências, ser ouvido e compreendido por pessoas que pensam como ele talvez tenha pensado e adverti-las sobre o futuro.


Gerson Sestini



[7] Hilário Sestini, irmão de Hilda e Martha. E co-autor espiritual do livro “Vida no Além”, de Francisco Cândido Xavier/Caio Ramacciotti — Ed. GEEM.


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